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História Just Another Way - Dançando em círculos


Escrita por: 4sevendevils

Capítulo 30 - Dançando em círculos


Fanfic / Fanfiction Just Another Way - Dançando em círculos

A luz está baixa e a música ambiente. São seis horas da tarde. Estou deitada em minha cama há um bom tempo, preparando-me para a viagem. Viro-me para o lado da cama, empurro a máquina de escrever a minha esquerda e pego o meu celular no criado mudo. Andrea me enviou algumas fotos da gravação no deserto, abro a galeria de imagens e vou passando uma por uma, analisando-as. Sou exigente demais com as minhas coisas, gosto de me envolver em cada passo dos processos artísticos, tenho uma ótima equipe, mas nada melhor do que observar você mesmo, tudo de perto. Não parece, mas os pequenos detalhes fazem mesmo a diferença, pois as grandes ideias nascem sempre dessas pequenas particularidades. 

Deslizo o visor do aparelho e observo as fotografias mais antigas no final da galeria. Há algumas imagens de Florence que tirei sem que ela percebesse durante alguns de nossos encontros. Gosto de suas fotos espontâneas, especialmente as de Santa Mônica. A luz do sol a deixa ainda mais bonita, se é que isso é possível... Ajeito a minha cabeça no travesseiro, cubro-me com o edredom, deixando os meus braços para fora, e fecho os meus olhos pensando no rosto dela.  Ela tem um maxilar tão definido e apesar de pouco expressivos, seus olhos sempre falam o que a sua timidez omite. Pensar em seu corpo me causa uma leve excitação repentina, instintivamente as minhas mãos passam a se mover por debaixo de minhas roupas.

Acaricio os meus seios, tocando os meus mamilos com a ponta dos dedos, ainda de olhos fechados, imaginando as suas mãos gélidas e macias que sempre me apalpam com força nessa região do meu tronco. Ela é tão forte. Lembro-me de Seus braços largos que me domam com uma facilidade impressionante e desço uma das mãos até a minha barriga, o que me causa arrepios. Estico a coluna sobre a cama e abro as minhas pernas devagar enquanto desabotoo o botão de minha calça. Minha respiração torna-se mais densa.  Esfrego a palma da mão em minha virilha e encaixo-a em meu sexo imaginando o queixo de Florence que se enquadra tão bem nesta parte do meu corpo. Toco-me imaginando a sua boca. Seus lábios finos e rosados que me chupam com vontade enquanto sua língua áspera e quente me penetra. 

Pressiono os meus dedos com força para dentro. Os meus toques não são tão precisos quanto os dela, mas imaginá-la me causa uma sensação parecida com a sua presença, porém com menos intensidade. Contorço-me sobre a cama e esfrego uma perna na outra. Estou com calor. Minhas mãos estão molhadas. Estoco-me de maneira rápida ao pensar nos detalhes de seu corpo... Em seus seios rígidos, em seu cheiro marcante e o gosto de sua saliva. Sinto tanta falta dela...

As lembranças percorrem a minha mente na medida em que eu me toco. Aperto-me com força e mordo os meus lábios respirando ofegantemente enquanto os meus dedos dançam em círculos dentro de mim. Não quero abrir os olhos e nem deixar de pensar nela. Suas curvas, sua voz, seus cabelos... No ápice de meu desejo, sua presença é quase tão real quanto a minha saudade. Estou quase chegando lá. Esfrego os dedos em meu clitóris estimulando-o rapidamente enquanto chamo pelo nome dela com dificuldade. Tapo a minha boca para conter-me e no mesmo instante sou tomada por um fogo incontrolável que impulsiona o meu corpo em espasmos. 

Solto um gemido aliviado, abro os olhos e nesse momento sou surpreendida pelo barulho da porta que se abre. É a minha mãe. Ela entra no quarto e me encara apoiando-se sobre a parede. Abaixo a minha camiseta, ajeitando-a e recomponho-me:

 

– Mamãe – digo voz alta – Precisa aprender a bater na porta!

– O que está fazendo? – ela me indaga. 

– Massagem – sento-me na cama – Meu professor de Yoga me ensinou alguns pontos nos membros superiores que aliviam as dores. 

– Que ótimo! – ela ri – precisa me ensinar onde ficam esses pontos...

 

Mamãe observa as minhas malas sobre o chão. Ainda estou com uma certa dificuldade para respirar, mas disfarço bem. É constrangedor demais ser flagrado pelos pais em uma situação tão íntima com o próprio corpo, eu deveria ter me certificado de que a porta estava trancada. Mas eu nem se quer tinha intenção... Ninguém controla os pensamentos e Florence se tornou uma lembrança cotidiana em minha mente desde que se foi há uma semana. Não nos falamos muito durante esse tempo, pelo menos não do jeito que eu gostaria e talvez seja esse o motivo da minha saudade. Pode aparentar carência, mas eu gosto do contato, de estar perto, do corpo a corpo, de sentir a pele. Detesto ter de lidar com a distância e sinto a falta dela todos os dias, mas não quero assustá-la e nem parecer exagerada, por isso tento não importuná-la demais com as minhas perguntas, ainda mais por telefone. Aliviar-me é a maneira mais apropriada para estar perto dela, a imaginação é um recurso incrível quando aprendemos utilizá-la.     

 

– Vamos para sala! – mamãe puxa o edredom – Sua música tocará pela primeira vez na rádio em poucos minutos. Não está ansiosa? 

– Claro! 

Levanto-me, troco-me de roupa e em seguida acompanho mamãe até a sala. A maioria de minha equipe está em casa, preparando as coisas para o lançamento. O som está ligado. Sobre a mesa de centro há duas garrafas de champagne e uma de Whisky. No sofá estão Bobby, Ashley, Ruth, Andrea e meu pai. Todos aguardando o anúncio de Perfect Illusion. Confesso que também estou ansiosa, há tempos não ouço uma música minha tocar nas rádios americanas. É quase uma mistura de euforia e preocupação. Não sei o que as pessoas irão dizer, nem se os meus fãs irão gostar, é um álbum diferentes dos que eu já fiz e isso me causa um certo receio em lançá-lo, ainda mais depois dos problemas que enfrentei no disco anterior... Mas a indústria fonográfica anda tão cheia de mesmices que eu me sinto na obrigação de tentar algo novo, nem que seja para me auto satisfazer.

– Suas coisas da viagem já estão arrumadas – Ash diz – Como está se sentindo? Está animada?

– Não sei – sorrio – Estou com um pouco de medo. 

– Medo? – papai entra na conversa – Querida, já fez isso tantas vezes, não há o que temer.

– Dessa vez é diferente, pai. Faz tanto tempo que eu não... E se as pessoas não gostarem? 

– Por que não gostariam? 

 

É uma pergunta difícil de ser respondida. O gosto tem um aspecto individualista, o que torna a arte relativa, sobretudo a música, por isso é tão difícil agradar a todos. Mas eu tento. Todos tentam. O que seria da vida se não tentássemos? A tentativa é um risco necessário quando se trata de sucesso. Existem sim uma série de fatores que poderão fazer com que as pessoas não gostem do meu trabalho, mas há um propósito nele, algo que vem de dentro para fora, com intuito e finalidade; e tudo que é feito a partir de uma essência deveria ao menos ser respeitado. As críticas não construtivas são complicadas porque, em sua maioria, são desanimadoras demais. Passamos tanto tempo pensando, idealizando conceitos e concepções instrutivas da arte que chega a ser doloroso ouvir certos tipos de coisas, da maneira como elas são geralmente ditas. Infelizmente as pessoas nunca medem as palavras quando o objetivo é denegrir alguém. 

Sento-me no chão, apoiando-me em uma das pernas de Ashley. 

– Já está pronta? – questiono-a – Alguém precisa ficar com os cachorros. 

– Eu iria me oferecer – Andrea me olha – Mas vou com vocês

– Por que? – indago-a.

– De lá pegarei um avião. Preciso pegar algumas coisas em meu estúdio.

– Vai para Londres? – encaro-a – Bom... Quer dizer, ótimo. Vi as fotos que você me mandou, todas muito boas.

– Que bom que gostou! Buscarei alguns equipamentos e o meu computador, precisamos organizar a ilha de edição e separar as fotografias dos vídeos.   

 

– Posso ficar com os cachorros – mamãe nos interrompe – Vou levá-los para Nova York... Natali cuidará deles. 

– Ótimo! – sorrio – Eu vou ligar para ela mais tarde.

 

Ao ouvir o locutor anunciar o meu nome, papai aumenta o volume da rádio. A música começa a tocar. É uma sensação incrível me ouvir desta maneira, tento prestar atenção em tudo: equalização, voz, instrumental, mixagem. Todas as minhas canções são pensadas, desde a letra até o produto final. Existem aspectos técnicos que ajudam a transmitir a mensagem do som. Essa por exemplo, é simples, mas explosiva, num ritmo de 126 batimentos por minuto, em uma progressão básica de acordes. Michael a classificou como uma grande música de rock dançante. Talvez seja pelo rifle de guitarra inicial, ou pelo tom impetuoso, mas eu sinto uma adrenalina eletrizante toda vez que a ouço e desta vez não é diferente, apesar da enorme carga emocional. Conforme os minutos vão passando eu consigo me lembrar do momento exato em que a escrevemos: estávamos no estúdio. Juntamos algumas frases, mudamos a melodia e então eu me sentei ao piano. Kevin estava na guitarra e Mark no baixo. Foi divertido.

Não faço questão de conter a emoção e deixo que as lagrimas rolem. Quando a música acaba Bobby puxa uma das garrafas de champagne e a estoura, entregando-me uma taça. Todos me abraçam e me cumprimentam animados.

– Já está disponível em todas as plataformas – Bobby diz – E nós viajamos daqui a meia hora. 

Despeço-me de minha mãe e de Ruth e volto para o meu quarto, para buscar as minhas bagagens. São poucas coisas, não pretendemos passar muito tempo por lá, assim que a entrevista terminar devemos voltar, a não ser que Bobby arrume outro compromisso. Estou entusiasmada para iniciar essa era, quero saber o que as pessoas acharam até agora, a opinião dos meus fãs, da crítica. Perfect Illusion não foi uma escolha minha, na verdade foi uma exigência da gravadora, eles a acharam chamativa e a tornaram carro chefe, eu gosto da música, mas queria ter escolhido outra, uma que revelasse melhor o verdadeiro significado deste álbum para mim e para a minha família.

Puxo algumas de minhas anotações sobre a estante e guardo-as em meu bolso. Em uma das gavetas guardei o livro que Florence esqueceu, penso em mandá-lo por Andrea   –  provavelmente não conseguirei ir até Londres e aposto que ela não se importaria em entregar para mim –, mas acho melhor não... Andrea gosta dela, sente atração por ela e eu não acho difícil querer tentar alguma coisa, quem não tentaria se tivesse a oportunidade? Qualquer um. Por via das dúvidas é melhor deixar quieto.

 Papai me ajuda a colocar as malas no carro e seguimos para o aeroporto. Durante o trajeto acompanho de perto a repercussão do lead single na internet: “É um retorno à era ‘Just Dance’: uma faixa pop simples, contagiante e para estádios”, Alice Vincent, do jornal The Daily Telegraph. Devo concordar com ele. Talvez a gravadora tenha razão, a música tem mesmo um ritmo dançante e chamativo. Jess Denham, do The Independent, disse que o meu vocal lembra o de Bruce Springsteen, que honra, não? É um dos meus cantores de rock favoritos. Um álbum nesse estilo faz parte de um dos meus projetos futuros, um conceito mais pesado, diferente da delicadeza que este carrega. Mas estes são planos que ainda preciso amadurecer. 

Bobby e Andrea conversam animados ao meu lado, no banco de trás. Como sempre ele carrega dois celulares e troca mensagens a todo momento com assessores de vários lugares, tanto dos Estados Unidos, quanto da Europa. 

 – Já é primeiro no iTunes em vários países – ele diz – Seus fãs são rápidos.

 

Os charts nunca me interessaram, sempre priorizei o meu público e a minha vontade a cima de tudo, mas voltar ao primeiro lugar tem um gosto especial, principalmente por ter sido tão massacrada em meu álbum anterior. Não fico relembrando muito essa época, não foram bons tempos, porém serviram-me de aprendizado, devemos aprender a cair também, a vida é feita de altos e baixos.  

 Chegamos no aeroporto antes do anoitecer. O saguão está vazio. Bobby vai na frente, Andrea e Ashley caminham observando as lojas e meu pai atrás de mim, conversando com um de meus seguranças. Meu celular toca em meu bolso. É uma ligação de Mark.     

– Alo? 

– Acabei de ouvir a música na rádio – ele diz eufórico – Você ouviu? 

– Claro! – solto uma gargalhada – Estou indo para a Berlim agora mesmo ddivulgá-la.

  – Sério? Também estou de malas prontas!

   – Vai para onde? – indago-o

  – Londres! É o casamento de Maire, deveria passar lá, foi convidada, não?

    – Sim, fui. Mas acho que não vou conseguir...

    – Bobby ainda está no seu pé? – ele ri.

   – De certa forma – suspiro – Mark, pode me fazer um favor?

     – Claro, o que quer?–

   – Florence esqueceu um livro no hotel e eu guardei lá em casa. Pode devolver para ela? Mamãe ainda está lá e o livro está na primeira gaveta da estante do meu quarto. 

  – Tudo bem, mas porque não devolve você mesma uma outra hora? 

 – É que ela é apega nessas coisas e eu disse que devolveria, mas se não puder eu...

 – Não – ele me interrompe – Eu entrego para ela... Quer que eu diga alguma coisa?

  – Não precisa. Obrigado! Preciso ir, boa viagem! 

 – Para você também! E de um jeito de aparecer por lá...

            

Desligo o telefone guardando-o em minha bolsa, encontro o resto de minha equipe e seguimos para o meu avião particular. Não sei se fiz bem em pedir isso a Mark, mas é quase certeza que não poderei ir até ela e eu confio nele para isso. Eu poderia sim devolver um outro dia, no entanto quero mostrar para ela que me interesso pelas suas coisas, que sei das suas necessidades e além do mais será bom para que ela sinta a minha presença, apesar da distância.  

O trajeto é longo. Durmo a maior parte do tempo no colo de Ash. Quase 11 hora de viagem até chegarmos em Tegel, aeroporto de Berlim. Me arrumo ainda no avião, ajeito os cabelos, maquiagem, roupa. Iremos daqui direto para a rádio. São quase duas horas da tarde. Mamãe mandou algumas mensagens perguntando-me se foi tudo bem, respondo-a e ligo para minha irmã em Nova York: 

   –Você chegou rápido! – ela atende.

  – Nat, mamãe está levando os meninos para ficar com você.

     – Gustav também? Achei que fosse levar ele.

     – Eu bem que gostaria, mas ele é um filhote e aqui vai ser muito corrido.

     – Vai encontrar alguém? – ela pergunta em tom de malícia.

      – Por que? Quem eu encontraria?

      – Talvez uma tal de Floren...

      – O que? – interrompo-a – Como sabe que... quem te disse sobre ela?

   – Ninguém – ela ri – Eu li a carta que ela te escreveu. Muito apaixonada, não?

      – Olha não pode contar isso a ninguém, ok? Muito menos para mamãe.

      – Relaxa – Natali solta uma gargalhada – Não vou contar... Mas quem é ela?

       – Uma amiga... Gravamos juntas.

        – Por que não me apresentou?

        – Como? Você ainda estava em Nova York.

    – Interessante – ela parece pensativa – Estou procurando o nome dela na internet... Ela é bonita.

 

   – Stef, precisamos ir – Bobby sinaliza para mim.

 

  –JÁ ESTOU INDO – grito para ele e em seguida volto-me para o telefone – Natali preciso desligar e por favor não conte a ninguém sobre a... 

 – "Vocalista e compositora de uma banda britânica de indie-rock" – ela lê – UAU! Você está ficando boa nisso.

  – Tchau, Nat!

  Acompanho Bobby e o meu pai até o carro que nos levará ao estúdio da rádio. Andrea, Ash e o resto da equipe vão para o hotel em que passaremos a noite. Saber que Natali descobriu sobre Florence me preocupa, não por ela – porque sei que ela nunca contaria – mas pela facilidade de alguém descobrir... Ela deve ter fuçado os meus bolsos já que a carta estava lá, mas poderia ter sido a minha mãe ou até mesmo Bobby e então eu enfrentaria um grande problema, talvez isso seja um sinal para que eu tome mais cuidado, eu realmente desaprendi a ser discreta.

Observo atentamente o caminho, apesar de já ter passado por aqui várias vezes durante a minha carreira. É uma cidade agradável. Schöneberg é um bairro boêmio, embora sua população seja mais velha. David Bowie morou aqui por três anos na década de 70, ele adorava essa mistura moderna e despreocupada das ruas do país. Não sei se é devido ao seu passado histórico, mas os alemães apesar de um pouco ríspidos, costumam ter mente aberta a novidades. Chegamos rapidamente na rádio. Por incrível que pareça está calor. Visto uma camiseta estampada e um short preto desfiado, nada de tão extravagante, mas nem tão simples. Vários fãs já me aguardam na portaria, tento atender todos eles, distribuo autógrafos e tiro dezenas de fotos. Eles são uma parte importante do meu trabalho, devo o meu sucesso a eles e por isso penso neles em todas as decisões que tomo. Gosto de poder ajudá-los e de ser parte de suas histórias, é extremamente gratificante saber que a minha arte é capaz de mudar suas vidas.

 

Depois de alguns minutos entro com Bobby. A rádio é enorme, possui um estúdio cheio de fotografias de famosos na parede e um enorme quadro branco lotado de assinaturas e dizeres, suponho que seja dos artistas que já passaram por aqui. O assessor cumprimenta Bobby com um beijo no rosto e em seguida a mim.

– Eu sou Franz. É um prazer conhecer você.

– Igualmente! – sorrio para ele.

– Deseja alguma coisa? Uma água, um café? – ele oferece – Posso providenciar.

– Um café, por favor.

– Café não faz muito bem para a voz – Bobby me interrompe.

– Querido não seja chato – Franz lhe toca no braço – Eu vou trazer um para você também. 

 

O rapaz deixa o cômodo animado. Também noto uma certa animação em Bobby e o indago:

– Anda saindo com os assessores agora?

– De onde tirou isso? – ele me pergunta.

– “Querido” – digo em tom irônico – De onde o conhece?

– Las Vegas – ele ri – Ele passou um tempo por lá... Nos divertimos bastante

– Quanto profissionalismo, Bobby – solto uma gargalhada – Se fosse eu...

– Acontece que isso não interfere na sua carreira, muito pelo contrário, esses contatos nos ajudam, facilitam as coisas.

– Entendo...  

– Já sabe, não? – ele me encara – Não diga muita coisa sobre o álbum, seja sucinta, sem dar muitos detalhes, não se esqueça que é a sua primeira entrevista de muitas.

 

Franz volta acompanhado do apresentador, nos apresenta, me entrega o café e se retira, encostando-se na área de controle da rádio, ao lado de Bobby. O locutor me pergunta sobre as minhas influências, minhas inspirações, se o resto do álbum se parece com Perfect Illusion, mas nada de muito profundo. Tento seguir o conselho de Bobby, mas acabo revelando uma coisa ou outra. A entrevista dura cerca de 40 minutos. Depois tiramos algumas fotografias, eu assino no quadro e deixamos a rádio. No caminho para o hotel, Bobby recebe uma ligação de Franz, parecem comemorar a audiência do programa. Eles combinam de tomar um drink mais tarde e ele desliga o aparelho aos risos. Acho que Franz mexe com ele, o rapaz é bonito, um típico alemão: alto, loiro, olhos azuis, não faz o meu tipo, mas o de Bobby com certeza faz.

 

– Vai sair hoje à noite? – pergunto-o.

– Sim, algum problema?

– Nenhum... – sorrio – Quando voltamos?

– Ainda não sei, estou planejando algumas coisas.

 

Ele volta para o celular e sorri observando as mensagens que recebe. Ótimo que Bobby esteja se distraindo, talvez assim ele me deixe respirar um pouco. O transito é lento, mas não demora muito para chegarmos ao Westin Grand Hotel, um dos mais luxuosos da região, localizado na movimentada Rua Friedrichstrase. O lobby e as escadarias são impressionantes, há um piano de calda no salão principal e tudo é muito elegante, desde os quartos espaçosos até o sofisticado serviço no estilo americano. Papai passa um tempo observando a estrutura do lugar e em seguida sobe para descansar, deve estar exausto da viagem. Ash e Andrea estão no bar, aproximo-me com Bobby. Elas conversam e soltam altas gargalhadas enquanto dividem uma garrafa de vinho branco.

 

– Do que estão falando? – indago-as

– And está me contando sobre um filme – Ash responde – Um cara reencontra o seu grande amor no meio da segunda guerra mundial, fugindo de nazistas. Que coisa mais clichê, não?

Casablanca? – sorrio para ela – É um clássico.

– Não sabia que se interessava por filmes antigos.

– E não me interesso – solto uma gargalhada – Mas todo mundo conhece esse filme.

– Bom, Ash não conhecia – Andrea diz – E ainda ri disso.

– É clichê demais – Ashley me oferece uma taça de vinho – Por que as pessoas gostam dessas coisas?

– Porque é um romance – sento-me ao lado dela – É bonito de se ver.

– Nem todo mundo gosta de romance – Bobby entra na conversa – Algumas pessoas preferem sexo.

– Os homens preferem sexo – olho para ele – As mulheres não...

– Nem sempre – Andrea nos encara – Eu já conheci mulheres com um apetite sexual muito aguçado.

– Mas os homens certamente ganham – Ash a contraria – Não é Bobby?

– Acho que sim – Ele reponde com malícia – Namorei um homem que dizia se masturbar três vezes por dia pensando em mim.

–  Todos os dias? – Ash parece admirada – Nossa!

– Por isso que eu prefiro as mulheres – Andrea ri – Não ficam contando os detalhes.

– Mas eu gostava de saber – ele sorri – Era excitante.

– E quem não faz isso? – levanto-me – As pessoas sentem falta uma das outras e se tocam, isso é normal, não há problema nenhum.

– Mas três vezes? – Ashley me pergunta inconformada.

– Exageros à parte... – dou de ombros – Mas todo mundo faz, é hipocrisia dizer que não, Ash.

– Você faz quantas vezes? – ela continua, aos risos.

– Sei lá! – solto uma gargalhada alta – Não fico contando essas coisas. Você está bêbada?

– Ashley é fraca demais – Andrea a observa – Não bebeu quase nada e já está nesse estado.

– Eu vou subir – despeço-me – Preciso deitar um pouco.

Deixo o bar e vou para o meu quarto sozinha. Falar sobre essas coisas me faz lembrar de Florence. Estou com vontade daquele corpo. Talvez eu devesse ligar para ela, pelo menos para saber como ela está. Pego o meu celular na bolsa e lhe mando uma mensagem: “Posso ligar para você?”. Ela demora alguns minutos, mas me responde: “Deixa que eu te ligo”. Pouco tempo depois, meu celular vibra outra vez, uma chamada de vídeo dela. Corro até o espelho e me ajeito, nem acredito que vou vê-la novamente, preciso ao menos arrumar os meus cabelos. Em seguida sento-me na cama, arrumo o travesseiro em minhas costas e atendo o telefone.

– Olá! – ela acena para mim sorrindo.

– Oi – sussurro –  como você está?

– Bem – ela esfrega os olhos – E você?

– Acho que melhor agora.

– Para! – ela ri – Aonde está?

– Berlim, estava dando uma entrevista.

– Eu ouvi a sua música... Várias vezes.

– E gostou?

– Eu sempre gosto – ela abaixa a cabeça – Gosto da sua voz.

– Sei... – sorrio – Eu pensei bastante em você.

– Pensou?

– Uhum. E fiz... algumas coisas também – esboço um sorriso malicioso – coisas boas.

– Que tipo de coisas?

– Quer mesmo saber?

– Meu Deus! – ela ri cobrindo o rosto com as duas mãos – Você me deixa muito sem graça.

– Você fica tão bonita tímida desse jeito – encaro-a – Mas e você? O que tem feito?

– Nada demais...

– Todo mundo faz alguma coisa, Flo. Me fala do seu dia, eu quero saber.

– Eu só ajudei Maire com os preparativos do casamento, li um livro e cuidei do jardim, nada demais. Você vai vir amanhã para a cerimônia, não vai?

– Acho que não vou conseguir... – suspiro –  Queria poder estar ai com você.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas trocando olhares, até que ela puxa conversa outra vez:

– Fecha os olhos?

– Para que?

– Depois você vai saber – ela diz – Fecha, vai?

– Tudo bem! – a obedeço – Estão fechados. O que é?

Ela não responde.

– Florence? Já posso abrir?

– NÃO! – ela grita – Ainda não.

Tento observá-la de olhos semiabertos, mas não a vejo na tela do meu celular, então volto a fechá-los novamente e a espero.

– Pode abrir! – ela diz em tom de euforia – O que acha?

Ela está linda, usa um vestido longo, de cor branco acinzentado, cheio de detalhes na altura do tronco. Possui um caimento diferenciado na altura dos punhos e uma linha de botões que o divide, expressando um chamativo decote que ela cobre com os fios ruivos de seu cabelo.

– Você está... Muito linda! – Admiro-a.

– Vou usar no casamento. Eu sou madrinha, acredita?

– Chamará mais atenção que a noiva – sorrio – De verdade.

– Acha que eu devo trocar? – ela pergunta em tom sério.

– Não, de forma alguma. Você está linda, maravilhosa.

– Acha que eu devo usá-lo desta maneira? – ela aponta para a região dos seios, abrindo ainda mais o vestido.

– Eu acho que... É... – passo as mãos no cabelo sem tirar os olhos dela – Ficará linda de qualquer jeito.

Ouço uma voz feminina chamar pelo seu nome e ela então se despede:

– Bom, eu preciso ir, Maire precisa de mim.

– Tudo bem! Bom casamento.

Ela me joga um beijo com as mãos e encerra a vídeo chama. Sorrio comigo mesma na cama. Como é bom falar com ela novamente, sentir a sua presença. Deito-me e passo a imaginar o que ela deve estar fazendo agora, seu corpo naquele vestido... ela trocando de roupa... um pedaço do paraíso... Pena estar tão longe de mim agora.

O barulho da porta atrapalha os meus pensamento.

– Stef, posso entrar? – Bobby diz.

– Claro!

– Tenho boas notícias – ele entra no cômodo – Consegui uma entrevista na BBC1, no Reino Unido.

– Londres? – pergunto surpresa – Quando?

– Daqui dois dias. Ficaremos aqui e depois seguimos para lá.

– Isso é ótimo! – sorrio – Eu adoro Londres.

– Eu sei do que você adora – ele me encara desconfiado – Eu vou sair, para encontrar o Franz. Acho que Ash vai precisar de ajuda mais tarde, ela bebeu demais.

– Ficaremos bem. Divirta-se no seu encontro.

Bobby sai do quarto animado. Eu permaneço na cama, pensando no que ele acabara de me dizer. Não conseguirei ir ao casamento, mas estarei lá em dois dias, poderei tocá-la, abraçá-la outra vez, tudo o que eu mais queria. Penso em lhe mandar uma mensagem contando a novidade, mas acho melhor fazer surpresa, acho que ela gosta de ser surpreendida, todos gostam, não?       



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