História Just Friends - A Formatura

BECCA ON

Dia da formatura.

Eram mais ou menos duas da tarde e todas as meninas estavam reunidas no salão. E com "todas" eu quero dizer: Eu, Mayra, Sofia, Vanessa, e até a Melissa. Os comentários da vez eram sobre a invasão na piscina da escola ontem a noite.

— Mano, a pior parte foi o Sam correndo da tia da limpeza hahahahah - Mayra exclamou. 

— Velho, e quando ele gritou "tu não vai me pegar não, véia!" - Vanessa disse e todo mundo começou a rir junto.

Era tão engraçado ver todas nós reunidas mesmo depois de tudo. Só faltava a Isa pra completar. Ela com certeza estaria falando sobre o Nash e em como os dois iriam arrasar hoje à noite. Meu pensamento tava indo muito longe enquanto as meninas conversavam. Pensei em falar alguma coisa sobre a faculdade, ou sobre a viagem de formatura mas na real eu não tava tão feliz com tudo isso. Pela primeira vez na minha vida eu não estava preocupada com o futuro, e talvez fosse por que o Jack não fosse fazer parte dele. Entender que ele vai realmente viajar pra longe de mim, longe de tudo é bem chato. Eu sei que foi eu quem disse que não sentia mais nada, mas ainda assim é horrível ter que aceitar. A verdade era que eu queria que a nossa história fosse uma dessas mal resolvidas, daquelas que a gente se encontra pelos corredores da faculdade daqui uns anos e resolve tomar um café juntos. Depois a gente transa e só se encontra de novo casualmente.

— Eu mal consigo acreditar. - Melissa encarava o espelho.

Ela estava usando um vestido cinza, que ia num corte reto até seus pés e carregava algumas pedras de cristal na saia. Seu cabelo, assim como o da Mayra estava num coque alto com a franja solta.

— É realmente o fim do ensino médio. - ela continuou. — Depois de hoje é cada um por si. 

— Não vão mais acontecer as colas coletivas... - Sofia sorriu. 

— É. Nem as tardes na pista depois da aula. - completei.

Mayra, que estava quieta enquanto sua maquiagem era feita, resolveu entrar no assunto. A maquiadora estava finalizando um tipo de esfumado azul e preto, mas isso não a impediu de dizer:

— Qual é, galera. Nós esperamos tanto por isso. Faculdade, independência, carteira de motorista... A gente tá vivendo um sonho. Eu a Becca e a Sof vamos pra faculdade, a Vanessa vai... Sei lá, ganhar dinheiro postando foto no Instagram e a Melissa conseguiu um estágio na Vogue.com. Essa tem tudo pra ser uma das melhores fases da nossa vida. 

— Eu concordo com Mayra. - Vanessa disse enquanto colocava seus sapatos. — E já que hoje é pra ser o "último dia", vamos aproveitar com estilo. 

— Exato. - Mayra se levantou e tirou o celular do bolso. — Vamos postar uma foto.

Ela estendeu o celular na frente, e todas nós nos reunimos pra aparecer na selfie. Eu fiz careta, a Vanessa e a Melissa mandaram beijo, a Sofia só sorriu e a Mayra fez carão.

My Pretty Girls. Im gonna miss u.

JACK ON

— CARALHO JHONSON! EU TAVA... 

— Sem choro, Sammy. Próximo. 

— Você tá roubando. 

— Próximo.

Sammy soltou o controle no sofá e se levantou todo bravinho.

— Não tô afim de jogar não. Passa pro Nash. - falei enquanto colocava uns pares de meia dentro da mala.

O Nash, que tava me ajudando a dobrar umas camisetas se levantou e foi pro sofá.

Os dois começaram a jogar outra partida de Mortal Kombat, mas tava na cara que o JJ ia ganhar de novo.

— Mano, não acredito que tu vai mesmo pra terra do hambúrguer. - Sammy sentou do meu lado. 

— É. Nem eu. E tu? 

— Que que tem? 

— Vai pra faculdade? 

— HAHAHAHAH, tá loco? Meu pai é rico. Eu vou é achar alguma empresa dele por aqui e trampar meio-período. Aí eu ganho dinheiro o suficiente pra aproveitar as baladas mais fodas da vida. Tô falando, eu ainda vou rodar o mundo só pra ir em have. 

— Hahaha, aí sim, mano. Queria ter essa sorte. 

— Não é sorte. É dinheiro. 

— Ah, nossa, desculpa aí se eu não sou filhinho de papai igual a você.

Ele me olhou com uma cara engraçada, mas não respondeu. Ele sabia que era verdade.

— A Melissa também vai pra Nova Iorque. - ele mudou de assunto.

— Ah é? 

— Aham. Parece que ela pegou um estágio numa revista ou algo assim. 

— Legal. 

— Mano, será que pega mal aparecer de vans no prom? 

— Pra você não. 

— Pode crer.

(Prom: Formatura)

Fiquei olhando pra mala pensando se eu não tava esquecendo alguma coisa. Será que a Becca cabe aqui?

Para.

Toalhas. Sabia.

Levantei e fui até o banheiro. Abri uma das gavetas do armário e peguei três toalhas, duas da mesma cor e uma do Batman. Voltei pra arrumação das malas e coloquei as três lá, seguidas de uns jeans que seriam úteis.

— Você viu meu cardigan preto?

Kora apareceu na porta do quarto só de calcinha e regata. Os moleques que tavam no quarto pararam na hora que a viram, e ficaram secando ela de cima a baixo. Que nojo. Se fosse a uns meses atrás eu com certeza babaria junto, mas eu meio que aprendi a vê-la só como minha irmã. O que me deixava muito puto só de imaginar um deles querendo transar com ela.

— Não vi não. - falei me levantando.

Cheguei perto dela e a segurei pelo braço saindo da visão da porta.

— Tu não pode aparecer assim dentro do meu quarto. - falei tentando ser paciente. — Principalmente quando meus amigos tiverem aqui. Odeio eles olhando pra você como se tu fosse um pedaço de carne.

Ela só deu uma risadinha em pedido de desculpa e entrou no quarto dela.

Voltei pro meu também e terminei de arrumar o que faltava.

— Aí guys, eu preciso ir lá pra casa. - JJ falou. 

— Já, mano? Tu vai fazer chapinha, por acaso?

Nem preciso dizer que isso foi uma frase do Sam.

— Ah, claro. Pra tua mãe me achar mais bonitinho. 

— HAHAHAAH 

— Então vamo, cara. - Nash disse. 

— Ah, vamo todo mundo nessa porra. - Sam soltou um bichinho de pelúcia que ele tava brincando na minha cama e foi saindo do quarto junto com todo mundo.

Dei um tchau rápido e disse que os via no prom.

Olhei pro meu guarda roupa, que tava praticamente vazio. Ver como tudo tava mudando rápido era uma sensação estranha. Uma mistura de tristeza, com ansiedade e euforia. Eu não sabia o que ia acontecer daqui pra frente, mas isso era bom. Eu não tinha o que esperar, nem expectativas sendo criadas. Eu realmente achei que voltar pra Sharks pudesse ser realizador, mas o que poderia ser uma nova história, não passou da continuação de algum capítulo enrolado e chato.

Mas agora é isso. Nova Iorque vai ser uma nova chance de fazer as coisas darem certo. Esperei dar sete horas, tomei um banho, vesti aquele terno preto, ajeitei o cabelo e desci pra encontrar o motorista da limusine.

— Meu garoto. - escutei a voz do meu pai atrás de mim. 

— Ah. Oi, pai. 

— O terno ficou bom em você. 

— Valeu.

A sala ficou coberta por um silêncio irritante.

— Eu... Sei lá. É tarde de mais pra te pedir desculpa por tudo?

Fiquei olhando aquela cena por uns segundos me perguntando se era real. Meu pai me pedindo perdão? Sério?

— Tu não precisa pedir desculpa. - respondi reservadamente. 
— Não, cara. Eu nunca fui um bom pai. Tu também não era um filho muito exemplar, mas eu ainda sinto que fiquei devendo mais apoio pra você.

Um flash de momentos em que ele não me apoiou passou na minha cabeça. Quando eu disse que queria ser produtor de eventos, quando eu disse que não queria fazer faculdade, quando eu disse que tava gostando de verdade da Rebecca...

— É, você tá certo. 

— Tu é praticamente um homem. E eu to te deixando ir pra NY pra tentar uma vida nova. 

— É. 

— Eu achei que você fosse querer ficar. Mas só queria que você soubesse que independente de tudo eu ainda sou seu pai. E... Pode parecer difícil, mas eu vou te apoiar em tudo daqui pra frente. Você vai direto da festa pro aeroporto? 

— Não, eu ainda volto aqui pra pegar as malas. 

— Tudo bem.

Olhei pra ele o confortando, e ele subiu as escadas de volta.

— Boa festa. - gritou lá de cima.

"Tô saindo de casa agora. Me espera no hall.

Jack."

Mandei essa mensagem pra Becca e peguei as flores que eu havia comprado pra dar pra ela. Rosas brancas, como ela sempre gostou. Encarei aquela limusine branca e comecei a montar discursos prontos de despedida.

Que essa noite seja perfeita. - pensei comigo mesmo, e entrei no carro.

Observei o caminho até a o condomínio da Rebecca com ansiedade. Mal podia esperar pra vê-la toda arrumadinha, coisa que não acontece muito.

Quando cheguei lá, pra minha surpresa, ela já estava do lado de fora da portaria, conversando com a Sierra. Conforme a limusine foi chegando mais perto ela tirou os olhos da Sierra me encarou como se tivesse visto um unicórnio.

— EU NÃO ACREDITO! - gritou colocando as mãos na boca.

Ela atravessou a rua vindo na minha direção, então eu sai da limusine e fiquei de pé esperando que ela chegasse mais perto.

— Caralho, tu tá muito gata. - falei e dei um abraço nela.

Naquele momento eu não sabia se prestava atenção no seu perfume, na sua cintura que ficou ainda mais fina com aquele vestido preto, ou nos seios dela que encostaram com força no meu peitoral.

A afastei um pouco de mim, e a analisei de cima abaixo enquanto a segurava pela cintura. Não sei explicar bem, mas o vestido dela era curto e bem apertado na parte de cima. A "saia" dele era bem estufada, e ia até antes da metade da sua coxa. O cabelo dela tava solto e liso como sempre fica, mas dessa vez sua franja estava presa pra cima com um acessório que parecia uma coroa.

Que linda, mano. Fiquei olhando pra ela por mais um tempo, só observando a carinha de vergonha que ela fazia.

— Tu alugou mesmo uma limusine? - ela pergunta. 

— Aham. Qual é, é a nossa última noite juntos. Queria que fosse inesquecível.  

— Começou bem. - ela sorriu e tentou abrir a porta. 

— Não, não, não! - falei antes dela encostar. — Eu faço isso.

Ela fez uma cara de surpresa, com as sobrancelhas arqueadas.

— Tá bem. - respondeu meio receosa. — Tão cavalheiro. 

— Tão gostosa. 

— Besta. 

— Você adora. 

— Nuca reclamei.

Me sentei do lado dela, e abri uma das garrafas de champanhe que tinha lá.

— Eu nem acredito que a gente tá indo pra nossa festa de formatura. 

— É, cara. Ta tudo acontecendo tão rápido.

Ela só concordou e deu um gole no champanhe.

— Você passou em alguma universidade? - perguntei. 

— Não, Jack. Esses assuntos não. Vamos falar sobre alguma coisa divertida. Algo que não seja o futuro, ou que me faça esquecer que tu vai embora. 

— Beleza, sem conversas sobre o futuro. Quer falar sobe o que então? Passado? 

— Que tal um jogo da verdade?

— Pode ser perigoso. 

— Bem perigoso. Mas eu quero. 

— Tem certeza? 

— É, tenho. A Sofia beija bem?

Aquela pergunta me assustou.

— Tu acha que eu lembro?

— Acho. 

— Tá errada. Eu não lembro. Minha vez de perguntar. 

— Cuidado... 

— O sexo do Sam é melhor que o meu? 

— Depende da posição.

Torci a língua dentro da boca.

— Já tô me arrependendo. - falei. 

— Hahahah 

— Sua vez. 

— Hmmm... Um momento entre nós que você nunca vai esquecer. 

— Sacanagem. Tudo o que a gente passou foi bem marcante. 

— Escolhe só uma coisa. 

— Quando eu percebi que te amava. Pela primeira vez.

Ela fez um olhar curioso, só esperando eu terminar a frase.

— Minha vez de perguntar... 

— O que?! Não, de jeito nenhum. Quando foi isso? 

— Que eu percebi que te amava? 

— É. 

— Não vou falar não.

— Jack! 

— É sério. 

— Se você falar eu também falo. 

— Proposta interessante. Bom, foi aquele dia que a gente tava na escola pintando a parede da sala de química.

Ela só olhava pra mim, toda bonitinha com aquele jeito compreensivo dela.

— Eu sujei teu moletom inteiro. 

— Eu guardo ele até hoje. - dei uma pausa. — Você tava tão linda. Toda brincalhona, falando da vida. De regata preta, jeans rasgado. Foi por aquela garota que eu me apaixonei.

O momento ficou meio tenso depois disso. Que merda, por que é que conversar com a Becca me deixa tão... Vulnerável?

— Agora você. - falei. — Quando tu percebeu que tava na merda? 

— Hahahahah, não vou falar. 

— Rebecca. 

— O que? Vai ficar querendo saber. 

— Mano, que mancada.

Ela deu aquela risadinha de Becca e desceu da limusine.

Não preciso nem dizer que eu fiquei puto com ela, mas a acompanhei mesmo assim.

O motorista tinha parado na rua de trás da escola, em frente ao portão do ginásio que era onde aconteceria a festa. Assim que nós ficamos de pé eu consegui ter uma visão melhor do que tava acontecendo lá. O jardim era bem reto e tinham várias mesas com umas quatro cadeiras em cada. O tema que a Mayra e o resto do Grêmio tinham escolhido era Inverno. Ela preferia chamar de Winter Prom, mas dessa vez o nome luxuoso fez jus a decoração prateada e cintilante.

— A Mayra arrasou. - Becca falou tirando meu foco da decoração e me lembrando do vacilo dela. 

— Tu não vai falar mesmo?

Ela nem respondeu e saiu caminhando na minha frente.

Resolvi ignorar. Aquela era nossa última noite, então quero de verdade que corra tudo bem. Não vou deixar minha curiosidade atrapalhar isso.

Caminhamos até a entrada do ginásio, e encontramos um painel muito louco, com uma paisagem de um céu rosa, azul e roxo. Na nossa frente tinham outros dois casais pousando na frente desse painel pra um fotógrafo ruivo, que aparentava ter uns 30 anos.

Quando chegou a nossa vez de tirar foto, o fotógrafo só disse: Finjam que se amam!

Que escroto, pensei. Fingir um amor que já existe é babaquice.

Na hora que nós dois nos posicionamos, ela só ficou do meu lado e sorriu sem mostrar os dentes. Qual é, a gente consegue fazer melhor que isso.

— Calma aí, olha aqui. - falei pra ela.

No momento em que ela olhou, eu segurei a sua cintura e a deixei bem de frente pra mim. Encarei aqueles olhos esverdeados dela, e apertei seu quadril fazendo cócegas. Ela começou a dar risada, e enquanto ainda nos olhávamos senti flash cobrindo minha visão. Essa foto sim deve ter ficado bonita.

— Olha só se não é o meu casal favorito no mundo!

Quando eu olhei, vi a última pessoa que eu esperava. Era a Isabela. Ruiva, alta, peituda e sorridente. Tava usando um vestido branco, e um penteado no alto da cabeça.

— Isa, mano! - falei e a abracei.

A Becca fez o mesmo, e nem preciso dizer que elas começaram a tagarelar sobre mil coisas.

— Na verdade eu só vim pra acompanhar o Nash. O Canadá é sensacional! Eu conheci um... 

— Tem problema se eu deixar vocês conversando aqui? Vou procurar os moleques. 

— Não, tudo bem. - Becca sorriu pra mim.

Soltei a mão dela e sai andando olhando tudo em volta. Notei pela primeira vez que a música tocando era One Dance, do Drake. Mandaram bem na playlist. Andando mais um pouco consegui ver a Vanessa conversando com o Aaron e a Melissa. Ela tava muito linda naquele vestido cor de rosa, mas era bom olhar pra ela e não sentir mais nada. Parece que depois de tanto tempo as coisas estão finalmente no lugar. A Melissa, em compensação, ainda acelerava meus batimentos cardíacos com aquela bunda enorme. Não acredito que vou sair do ensino médio sem ter dado uns pegas nela, mas se aquilo que o Sam disse sobre ela também ir pra NY for verdade, eu me viro depois.

Fui pro "bar" que tinham montado lá, mas não tinha nenhuma bebida que prestasse. Acabei pedindo uma lata de coca cola, e continuei andando enquanto curtia a música.

Aos poucos o ginásio foi enchendo, e eu encontrei o Sam junto com o Nash, o JJ, o Carter e mais uns outros amigos. Ver todo mundo de terno era uma raridade.

— Alá o vacilão. - escutei o Sam me zoando de longe. — Cara de cu! 

— Vai se foder. - falei dando risada.

— É impressionante, nossa formatura, a gente nunca mais vai ver a escola depois disso, e a cara de mau humor do Jack não muda nunca hahahahah - Nash encheu o saco. 

— Eu tô suave, tio. 

— Mano, quanta mina gostosa. - Sam falou.

— São as mesmas que a gente viu o ano todo. 

— Que seja. Cadê a Sofia? 

— Tu não veio com ela, imbecil? 

— Vim, mas aí ela viu a Isabela e... 

— E começaram a falar sem parar. Mesma coisa comigo. 

— Mano. Esse baile tá muito parado. - JJ reclama. 

— CONCORDO! - o grito do Sam me assusta, pra variar. — Vamo animar essa porra. Se eu pedir pra tocar Thriller vocês dançam? 

— HAHAHAH Thriller do Michael Jackson? 

— Exatamente HAHAHAHAH 

— Duvido que o DJ coloca. - falei. 

— Quase cinco anos de amizade e você ainda duvida de mim.

O Sam nem falou mais nada e saiu correndo pra onde tava o DJ tatuado. Ele conversou com o cara por seis segundos e depois votou pra perto da gente, saltitando.

— Vamo lá pro centro do ginásio. - falou com um puta sorriso no rosto. — A gente vai parar esse caralho de festa!!!

Continua...

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