História Just Like Fire《Suga》 - Minha vida é mais sincronizada que um relógio

_________ Miller

O maldito som do despertador soava tão alto que eu quase achei que estavam bombardeando meu apartamento.

Abri os olhos com relutância e fitei o teto.

Levante, _______!

Juntei todas as minhas forças e levantei. Desliguei a porcaria do despertador e me arrastei para o banheiro. Enquanto a água quente relaxava meu corpo cansado eu pensava em minha noite passada. Meus treinos estão cada vez mais pesados e isso estava acabando comigo.

Após terminar meu banho, higiene pessoal e etc, me arrumei e peguei minha bolsa. Assim que olhei no relógio meus olhos se arregalaram.

-Meu Deus, ja são 7:50! -corri em direção a cozinha, peguei uma maçã e sai as pressas-

Foi por pouco mas consegui pegar o ônibus da escola.
Como sempre me sentei no fundo e fiquei calada. Meus fones de ouvido eram meus bons amigos e minha mente me fazia escapar daquela realidade.

{...}

-Violência é um problema que não pode ser ignorado. -o professor Steve andava de um lado para o outro na sala. Era engraçado seu jeito manco de andar mas não nos atreviamos a rir disso na cara do velho rabugento professor- E em prol disso quero que façam uma redação e me entreguem. O tema é, como combater a violência.

-________ deve saber professor. -a voz enjoativa de Lisa soava no ar- Diga para nós ________, tem experiência com violência não é? Ja que veio do Brasil...

Todos os alunos me olharam e começaram a rir.

Droga de escola cheia de riquinhos mimados.

Eles faziam questão de jogar na minha cara todo o santo dia que eu só estava ali pois havia ganhado uma bolsa, eu nunca poderia pagar aquela escola. Não moro naquele bairro como eles. Não sou como eles.
Me mexi desconfortável na cadeira.

-Lisa, que comportamento é esse? -Senhor Steve disse cortando as risadas- Vai ter um encontro com o diretor mais tarde.

O sorriso maldoso de Lisa se desfez e ela me lançou um olhar ameaçador como se a culpa fosse minha.
Ignorei os comentários baixos na sala e foquei na lição.
Tudo o que eu queria era que batesse o sinal para que eu pudesse sair dali.

A aula seguiu normalmente e assim que o sinal bateu guardei meu material e me levantei. Quando eu estava chegando perto da mesa do professor Lisa passou o pé na minha frente o que me faz cair.
O resto dos alunos que ainda estavam na sala riram passando por mim sem ao menos ajudar.
O professor se virou e estendeu a mão para mim e eu a peguei para me levantar.

-________, por que não conta ao diretor sobre isso?

-Está tudo bem senhor Steve, são adolescentes mimados e desprezíveis. Não me importo com eles. -Abaxei a cabeça- Enfim, preciso que me passe os trabalhos da próxima semana.

-Não acha que está estudando de mais? Você já está um mês na frente da classe, e olha que as aulas acabam em uma semana.

-Por favor Hyung, eu preciso colocar tudo em ordem.

O professor me olhou de cima a baixo como se pensasse no porque do meu estudo ser tão intenso. Claro que eu precisava disso se quisesse entrar na faculdade, algo que aqueles riquinhos não se preocupavam.

-Está bem senhorita Miller. -Ele pegou um de seus papéis na mesa e me entregou- está ai seu último trabalho desse ano.

-Obrigada. -sorri de lado- até amanhã.

-Até, ________.

Saí da sala apressada, não tinha tempo a perder ou chegaria atrasada ao trabalho.
Corri para o ponto de ônibus onde eu iria direto para a lanchonete.

{...}

-________, finalmente chegou! -Luke sorriu ao me ver-

-Luke, me perdoe. -Entro prendendo o cabelo- o ônibus quebrou e tive que vir a pé.

-Tudo bem, pequena. -Ele pega minha bolsa- está pesada, Não me diga que...

-Sim, mais alguns livros. Peguei meu último trabalho hoje e logo estarei com tudo certo.

-________, pega leve mocinha. Não acha que são muitas responsabilidades?

-Eu consigo. -sorri- agora vai preparar as comidas, vou servir algumas mesas.

-Você é inacreditável. -Ele sorri-

Luke era filho do senhor Minjee, o dono da lanchonete, e ele sempre fica ali comigo depois da aula. Acho que posso considera-lo como meu único amigo. Eu servia as mesas, atendia clientes e etc. Era bem cansativo e sempre que eu tinha intervalos eu os usava para adiantar meus trabalhos de escola.

O dia começou a ser tomado pela noite, hora de encerrar meu expediente.

-Hey, _______! -Luke me chama enquanto eu pegava minha bolsa-

-Oi Luke. -Me virei para ele-

-Sabe, se não for fazer nada hoje...poderíamos sair e comer.

-Trabalhamos em uma lanchonete. -ri-

Ou pelo menos eu trabalho, ele apenas ia me fazer companhia. Ele nem se quer precisava trabalhar, não com o dinheiro que seu pai ganhava com todas as lanchonetes espalhadas pela Coreia do Sul.

-Mas você me entendeu. -Ele soltou um riso-

-Me desculpe Luke, podemos deixar para outro dia. Eu vou treinar hoje e...

-________, você trabalha muito. Merece se divertir.

Pensei um pouco. Luke tinha razão mas eu tinha uma rotina e não podia deixa-la de lado, não com as coisas prestes a dar certo.

-Me desculpe Luke, deixa pra próxima...

Luke sorriu cabisbaixo. Ele era um loiro tão bonito. Seu pai havia casado com uma americana então Luke não era 100% coreano o que o deixava com uma beleza mista.

-Até mais. -sorri sem mostrar os dentes e saí da lanchonete-

Quase esbarrei em uma garota quando eu saía. Levantei os olhos e vi que era Lisa.

-Me desculpe. -coloquei o cabelo atrás da orelha-

-Garçonete estúpida. -ela revira os olhos- O Luke está ai?

-Es..está.

-Ótimo. Melhor eu me apressar para ver o MEU namorado.

Eu não ia responder, nem tinha o que responder. Lisa era a garota mais bonita da escola. Era rica e chamava muita atenção. Tinha tudo para conquistar o Luke e como uma boa amiga eu ficava feliz por ele.

A porta se abriu e Luke apareceu.

-_______, Que bom que ainda está aqui! Não quer que eu te leve? -ele me olhava e então percebeu a presença de Lisa- Lisa?

-Luke amorzinho. Percebi que não foi para escola hoje.

-É...eu tinha muita coisa para fazer.

-Bem, ja vou indo. -Digo querendo sair logo dali-

-Espera, não quer que eu te leve?

-Não precisa. -coloquei as mãos nos bolsos da calça- Lisa veio até aqui só para te ver.

-Mas você mora do outro lado da ponte.

-Tudo bem. Não tem problema.

-É Luke, deixe ela. -Lisa se entromete-

-Então está bem.

Lisa o puxou pelo braço o fazendo ir em direção da entrada da lanchonete com ela. Luke olhou por cima do ombro.
Dei um tchauzinho tímido e ele sorriu.
Dei as costas e fui em direção ao metrô.
Eu ia precisar para ir para a academia de ballet.

{...}

Eu andava pelos corredores da academia enquanto outras bailarinas passavam por mim já indo embora.
Entrei na última sala do corredor, no quinto andar. Eu amava aquela sala. Suas janelas de vidros tinham uma maravilhosa vista para a cidade. As luzes me davam inspiração.
Corri ao banheiro e me troquei, colocando minha roupa de ballet.
Podem me chamar de estranha mas eu não gostava da roupa rosa normal, a minha era preta, eu achava mais legal e mais viva.
Voltei para a sala onde soltei a música em meu celular e comecei a me aquecer.
Logo eu já dançava na ponta dos pés.

Ballet era minha paixão. Me fazia sentir livre de tudo.
Cada passo que eu dava era um abraço que eu ganhava da dança. Era um jeito novo de voar.

-Você é muito boa.

Me assusto a ouvir uma voz.
Me viro e vejo uma pequena menina, devia ter uns 13 anos. Tão fofa, seus olhinhos puxados me olhavam atentos.

-Você acha mesmo? É muito gentil.

-Por que não treina com as outras bailarinas? Está tarde.

-Eu prefiro chegar agora quando sei que estão todos saindo...Não me dou muito bem com as pessoas. -sorri desconfortável-

-Deveria se inturmar. É bonita e dança bem, as meninas iam gostar de você.

-Muito obrigada. -sorri-

-Jisoo! -alguém grita-

-É minha mãe. -a garota revira os olhos- tenho que ir. -ela se vira e sai correndo pelo corredor-

Bonita e dança bem.

Tão gentil. Pena que as pessoas não são todas assim.

Voltei a focar na dança.
Na ponta dos pés eu ia viajando. Era como tocar as nuvens.

Eu amava treinar então não dava a mínima de perder umas três ou duas horas dançando.
No fim de todos os treinos eu me sentava em frente aquela linda janela de vidro e olhava as luzes da cidade.
Comecei a tirar minha sapatilha.

Qualquer outra pessoa que visse os pés naquele estado ficaria desesperada mas eu já estava acostumada.
Meus pés vermelhos, com feridas que estavam prestes a sangrar.
Não era para menos.
Meu dia era corrido e eu nem descansava e já partia para um treino de 3 horas. Isso era muita coisa.

Suspirei e fui trocar de roupa.
Assim que já estava pronta sai andando pela academia vazia.
O dono da academia confiava em mim então ele me deixou com uma cópia da chave.
Eu sempre ficava ali sozinha.

Tranquei a academia e fui andando pelas ruas de Seul. Parei para comprar comida e fui para meu apartamento que não era longe dali.

Chegando em casa eu estava exausta mas não podia dormir.
Me sentei na cama e comecei a fazer meu trabalho.
Quando finalmente terminei vi que já iam dar 23:00.  Tomei um banho quente e coloquei meu pijama.
Deitei na cama e olhei o celular. Sem mensagens, como sempre, e sem nada.
Fechei os olhos e imaginei se seria assim se eu estivesse no Brasil, com meus pais...os mesmos que me abandonaram como se eu fosse um nada.

Apenas 2 anos de idade...

Fechei os olhos e fugi para a terra dos sonhos.
Lugar que eu tanto amava.