Caleb.
Cheguei em casa transtornado, já imaginando o cenário de guerra que encontraria em minha casa.
Por que aquele desgraçado havia voltado para cá? Eu o odiava! Não queria vê-lo perto da minha mãe ou dentro de nossa casa novamente.
Encontrei à casa no maior dos silêncios, meus passos faziam barulho na madeira do chão enquanto eu caminhava para a cozinha.
Minha mãe estava preparando um café, enquanto meu pai estava sentado à mesa, fuçando no notebook dela.
- O que você pensa está fazendo? - perguntei logo que pus os pés na cozinha.
- Apenas verificando meus e-mails. Algum problema pivete? - Hélio, sim, meu pai tinha o nome mais horroroso do mundo.
- Mas que porra cara, você só foi homem pra me fazer e não pra me criar, então não pense que tem o direito de me chamar assim! - cuspi a palavras, quase gritando.
Minha mãe me olhou, em seus olhos eu pude ver a dor, ela não queria meu pai ali tanto quanto eu, mas não tinha coragem para manda-lo embora.
Me virei e sai da cozinha, eu não iria ficar naquela casa com Hélio presente.
- Vou sair, eu volto quando esse babaca tiver indo embora. - gritei da porta de entrada e sai.
Vi Chloe parada na porta dos Montgomery e resolvi ver o que estava acontecendo.
Parei ao lado de Clô e olhei para dentro da casa, era uma casa muito bonita.
Mas a cena que eu via era um tanto estranha: Jackie e Matthew correndo desesperadamente de um lado para o outro, arrastando móveis contra às janelas e portas, como se a terceira guerra mundial fosse começar em minutos.
- Jackie, você trancou a porta do sótão? - Matthew perguntou.
- Sim, mas vou lá verificar de novo. Coloque alguma coisa na frente dos dutos de ar, ela pode entrar por eles. - Jackie respondeu e subiu as escadas correndo, ela tinha uma bela bunda.
Me senti um babaca por pensar isso.
Olhei para Chloe, que assim como eu não estava estendendo nada.
- O que está acontecendo aqui? - perguntei.
- Uma tal de Ângela está na cidade. - ela respondeu, sem me olhar.
- O que vocês estão fazendo aí parados? Entrem de uma vez! - Matthew falou e nos puxou pra dentro, depois fechou a porta e trancou. - Caleb, me ajuda à arrastar o sofá pra cá.
E então arrastamos o sofá contra a porta.
Jackie desceu às escadas pulando e depois me olhou, ela estava linda, descabelada, mas linda.
- Será que dá pra explicar agora? - Chloe perguntou, cruzando os braços.
Matthew e Jackie trocaram olhares, como se estivessem pensando na mesma coisa.
- Bom, Ângela, é a ex namorada do Matt. - Jackie explicou.
Gargalhei.
- Tudo isso por causa de uma ex namorada?
- Você não entendeu, Ângela, é absurdamente louca. Quando a gente terminou, ela jogou meu celular no fogo, por que achou que eu estava com outra menina. E durante meses ela entrava no meu quarto de madrugada carregando uma motosserra e dizendo "volte pra mim", e depois saía correndo.
Ri mais ainda.
- Não é engraçado! Ela cortou meus cabelos MUITO CURTOS por que dizia que eu era bonita demais e Matthew gostava mais de mim do que dela. - Jackie passou as mãos pelo cabelo ainda meio curto e rebelde.
Olhei para Chloe, ela parecia estar com ciúmes. Incrível a capacidade dela de ter ciúme de uma ex namorada louca.
- Vamos comer Poutine? - Matthew falou e foi para cozinha.
Agora que a casa estava toda blindada eu não tinha muitas opções à não ser jantar com eles.
Todos nós fomos para a cozinha e sentamos no balcão. Aquela cara era incrivelmente bonita e grande, com chão de mogmo, (que pelo o que eu sabia era bem cara), as paredes em branco e a cozinha decorada em granito branco.
Jackieline pegou seu celular do bolso e começou a mexer nele, em seguida nos mostrou uma foto de uma mulher loira, com olhos esverdeados.
Ela era bonita, mas parecia ter uns trinta anos.
- Essa é a Ângela. - Jackie nos explicou, depois seu celular tocou com uma notificação e ela puxou ele pra si para verificar. Fiquei curioso.
- Ela é bonita. - Chloe resmungou.
- Claro, com um monte de plásticas eu também fico bonita. - Jackie ironizou.
- Ela parece ter uns 30 anos. Matthew, você pegava as coroas? - ri, e Matthew se virou, me encarando feio.
- Ela tem 23!
- E você tem...? 18?
- 21!!! Me respeita garoto, eu sou mais velho que você. E mais alto. - Ele riu e continou cozinhando.
Jackie deu um risadinha, olhando para o celular.
E Chloe estava pensativa. E eu nem sabia o que estava fazendo ali.
Depois da janta, ajudei Jackie à lavar à louça. Fizemos todo o trabalho em silêncio, afinal eu não sabia o que dizer e acho que ela também não.
Assim que terminamos, fui caminhando até à porta da frente, mas a voz de Jackie me fez parar:
- Aonde vai? - perguntou, arqueando uma das sombrancelhas.
- Ahn... Pra casa? - respondi, me apoiando na parede.
Ela se aproximou de mim com passos curtos e rápidos, quando estava próxima o suficiente para que eu pudesse sentir seu perfume, ela sussurrou:
- Se você sair, Ângela entra. E eu realmente tenho medo dela. - ah o perfume dela era muito bom.
Olhei para Jackie, pensando. Se eu nao poderia sair, então teria que passar à noite ali?
- Eu vou ter que dormir aqui?.
- Vai. - ela sorriu maliciosa e depois riu. - Não se preocupe, eu não vou te estrupar.
- Ah que pena. - olhei pra ela com o mesmo sorriso.
- Vou te mostrar meu quarto. - e sem mais nem menos ela agarrou meu braço e me arrastou escada à cima.
Todo o corredor era branco, exceto o chão de madeira polida. Ficava me imaginando quem limparia aquela enorme casa.
Fomos para o último quarto do corredor, e Jackie abriu a porta e me puxou pra dentro, ligando a luz logo em seguida.
As paredes eram e roxo e azul, com várias janelas e portas de vidro para a sacada, todos trancados.
Em uma parede estava uma enorme estante com livros e câmeras profissionais.
Ela tinha uma escrivaninha nos pés da cama com várias canetas, agendas e cadernos e um computador.
Um banheiro, um closet...
Mas o que mais me impressionou foi a parede da esquerda, um skate normal, um longboard, dois tipos de patins que eu não soube identificar, um taco de baiseboll e um violão muito bonito.
- Pelo visto você tem vários hobbies... - falei, caminhando pelo quarto.
- Aham, sempre arranjo tempo para todos. - ela falou sorrindo. - Quais são os seus hobbies?
Olhei para Jackieline, tendo que baixar o rosto para encara-la.
- Por que quer saber?
A garota me fuzilou com os enormes olhos azuis.
- Por que não quer me contar nada sobre você?
Me sentei na cadeira giratória e dei uma voltinha sorrindo de canto.
- Gosto de ser misterioso.
Jackie deu um sorriso convencido.
- Isso não é ser convencido, isso é ser babaca.
Aquilo me deixou sem palavras, era difícil encontrar uma garota que me enfrentasse desse jeito.
Apenas resolvi ficar quieto para não fazer nenhuma besteira.
- Vamos, me conte seus hobbies. - Jackie pulou sobre sua cama, deitando de bruços e apoiando o rosto nas mãos, me encarando.
- Eu jogo basquete. - falei meio contra a vontade.
- Que legal! Eu também! - ela sorriu, balançando os pés.
Não consegui segurar a gargalhada.
- Você?
- Sim, por que? - ela perguntou, em dúvida.
- Com esse tamanho?
A garota fechou a cara e se levantou, cruzando os braços.
- Qual seu problema com meu tamanho? Prefere líderes de torcida com 1,75 e com pernas de aranha? - ela falou, com um olhar de quem estava prestes à me matar. - Pois posso lhe garantir, sou melhor do que elas em todos os sentidos. E talvez até melhor do que você no basquete!
Fiquei imaginando o que ela quis dizer com "em todos os sentidos" mas não tive tempo de perguntar, pois ela já estava indo para o closet.
Quando voltou, carregava um cobertor e um travesseiro. Colocou tudo sobre meus braços e me empurrou para fora do quarto.
- Tenha uma boa noite no sofá! - ela gritou e bateu a porta na minha cara.
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