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História Just one more drink - Vamos pensar no amanhã?


Escrita por: valeriahaner

Capítulo 27 - Vamos pensar no amanhã?


Fanfic / Fanfiction Just one more drink - Vamos pensar no amanhã?

Você só aceita realmente o fim de um relacionamento quando olha a pessoa com quem você estava, com outro. Sempre foi assim, você se sente traído, com ciúmes, quer morrer e chorar ao mesmo tempo, é uma montanha russa de sentimentos, mas nada que você possa descrever com clareza.

Aquela foto de Marjorie só me fez pensar, e acreditar que realmente estava tudo acabado entre nós dois, quer dizer, o que pode ser pior do que um ex na sua vida? Você tem inúmeras formas de superar um relacionamento que não deu certo, mas esfregar na cara do seu atual ex seu ex ex é a pior delas, uma traição dupla, não faz muito sentido, quer dizer, você confirma que aquele seu ex que era ruim acaba sendo melhor do que você, entrar numa lata de lixo e chamar de casa doeria menos.

Todas as minhas roupas, objetos pessoais, tudo o que é de bagunça está jogado em cima da cama, daqui à pouco o pessoal da mudança vai cuidar de tudo isso e em breve a nova família que comprou o apartamento se muda pra cá. Lembro-me muito bem de como ela escolheu cada detalhe daqui, de como tínhamos todos os planos para ser o apartamento dos sonhos, ainda quando eu estava na reabilitação, foram momentos difíceis mas foram bons momentos e agora abrir meu celular e não encontrar nada relacionado à ela é o que mais dói, pior ainda é o pessoal perguntando o que houve, cadê todo aquele amor e coisas relacionadas ao fim de um relacionamento, acredito fielmente que as pessoas não sabem como isso machuca os recém feridos sentimentos de uma pessoa, como eu, como o que aconteceu comigo.

A chuva mais forte de todas as chuvas derrubou uma arvore no meio da rodovia, enquanto os bombeiros tentam retira-la forma-se um engarrafamento enorme, e por incrível que pareça, dentro do carro dá para ouvir somente o barulho da chuva caindo, sem todo aquele caos causado por engarrafamentos, eu estava voltando para casa, não havia vendido meu apartamento em HB, era algo que eu não tinha me desfeito mas ninguém notava que eu ainda o mantinha, talvez no fundo eu ainda soubesse que havia sim probabilidades desse relacionamento não dar certo.

 

Recife/PE

Olhos e-mails, desbloqueio o celular, olho os e-mails, abro site de fofocas, olho o celular, abro um site de passagens, faço simulação de uma compra, olho os e-mails, olho o celular, repito tudo infinitas vezes.

-... e então eu acabei pedindo demissão e voltei pra cá, quer dizer, a vida lá era boa mas não era aonde eu queria passar o resto da minha vida, você me entende, saiu de lá primeiro do que eu, ficou sete anos rodando entre Campinas, Califórnia, quase não voltava lá.

Eduardo falava e falava, e falava há horas, eu que não prestava muita atenção no que ele dizia. Fiz um súbito esforço para não dar para perceber que eu estava em outro mundo. Pisquei duas vezes com força, sorri fraco para ele e pigarreei.

- Ah desculpa – ele falou sorrindo – eu falo demais, parece que estou sozinho na maioria das vezes, quer falar algo?

Sua mão tocou a minha e com um leve tremor, levantei da cadeira, ele me olhava assustado.

-É que está tarde – menti – tenho que ir, estou esperando uma ligação, alguém da minha família – menti de novo – eu tenho realmente que ir, foi um prazer Eduardo, quem sabe a gente se encontra por ai de novo e ...

Droga, ele percebeu.

Eduardo se levantou com calma, colocou os dedos no passador do cinto da calça, olhou para o céu, olhou para o chão e depois olhou para mim, suspirou fundo e fez uma cara de quem pergunta “mas que porra é essa?”

-Então você nunca vai me perdoar? – foi a única coisa que me disse.

De repente pensei em tudo o que ele havia feito e se ele não houvesse feito tudo isso, talvez a gente ainda estivesse junto, e eu não teria passado por um mundo de coisas que eu só vim saber depois que abandei sua “segurança”.

- Perdoar pelo que Eduardo? Não estamos mais juntos, cada um seguiu sua vida e é assim que os adultos fazem.

-Acabei de passar no vestibular, acho que vou embora

Era o mês de julho e a melhor temporada para vestibulares, eu havia ganho uma bolsa para engenharia elétrica.

-Vai me abandonar?

Estávamos na casa de Eduardo, deitados na cama dele, ele passava suas mãos em meus cabelos e eu juro que não trocaria aquela segurança por nada.

-Não vou te abandonar, só que vai ser melhor pra mim.

-Eu te entendo, calma, vamos ver no que tudo isso vai dar.

-Eduardo, entenda – respirei fundo e continuei – quando eu me envolvi contigo, eu era muito nova mas fui muito magoada, eu gostava muito de ti e tu não teve um mínimo de consideração por mim, muito menos pelo que eu sentia por ti, passamos muito tempo longe um do outro e o fato de estarmos nos vendo agora e de ter ido tudo bem até certo ponto não significa nada, não significa um retorno, você sabe muito bem disso. Eu amo o Brian, e ia me casar com ele, eu conheci um mundo diferente daquele que eu estava acostumada, um mundo aonde infelizmente não tem espaço pra ti, e nem para uma reconciliação. Eu mudei, voltei melhor, voltei mais independente, voltei outra pessoa, mas não vou jogar tudo isso fora voltando pra ti.

Sem esperar resposta, eu apenas meu virei e sai dali, aquele ar me sufocava e a única coisa que eu queria era respirar, não estava dando certo.

Comecei à acelerar meu passo e corri, lágrimas enchiam meus olhos, tudo era um borrão na minha frente e eu não conseguia enxergar nada, mas continuava correndo, com a ameaça de minhas pernas fraquejarem à qualquer momento.

De repente, um som.

Uma buzina, um clarão, um estrondo.

Acordei desnorteada, era como se o impacto da queda tivesse sido todo transferido para mim, levantei-me e olhei as pessoas em volta, eram muitas pessoas e era um ônibus enorme. Eu havia sido atropelada em uma rodovia, provavelmente por falta de atenção minha. Mas quando eu me levantei ninguém pareceu dar atenção, sendo que eu era a única vítima.

De repente um choque me paralisou, eu chamava pelas pessoas mas ninguém me ouvia por que estavam todos dando atenção ao meu corpo jogado no chão. Eu estava suja de sangue, meus joelhos estavam ralados, meus pés virados ao contrário do tornozelo para baixo, meus braços estavam cortados e sujos de asfalto, meu cotovelo esquerdo foi parar no ombro, meu braço estava deformado, havia sangue em tudo, minha clavícula do lardo direito se partiu, o osso estava pra fora, perfurando a pele. Saia sangue do meu nariz, meus olhos estavam fechados, minha pele de um branco quase cadavérico e meus lábios em um tom arroxeado assustador. Eduardo estava ao meu lado, seu rosto coberto pelas lagrimas e as mãos sujas de sangue, ele me gritava desesperadamente

-Eduardo, sou eu, estou aqui, eu to bem!

Eu gritava em vão, era sem resposta. Cada vez mais pessoas ficavam ao meu lado, mas elas não me viam. De repente as luzes vermelhas de uma ambulância ofuscaram a minha visão

-Você é o que dela? – ouvi um paramédico perguntando para Eduardo enquanto eu era removida em uma maca como uma boneca sem vida.

-Sou, eu sou, sou amigo dela, o único amigo dela nessa cidade – Eduardo engasgava entre o choro, com as duas mãos na cabeça quase arrancando os cabelos.

-O senhor poderia nos acompanhar? Seu nome completo? – o tom do paramédico era frio mas eu sabia a gravidade da situação. Em anos estudando medicina nunca pensei fazer o meu próprio diagnostico um dia.

-É, é, Edu... Eduardo Albuquerque Tavares, ela vai ficar bem?

-Vamos fazer o possível mas o estado é grave, entre na ambulância.

Durante todo o trajeto ele segurava minha mão, eu não podia ler seus pensamentos mas podia ouvir uma voz.

“Querido Deus, eu sei que é demais para mim, sei que ando em dívida com o Senhor mas olhe o estado da minha foguetinha, a única pessoa que eu amei um dia. Aquela aprendiz pequenininha, aquela mocinha tímida que não falava com ninguém, que tinha um olhar discreto mas era uma pessoa excelente, a pessoa mais preocupada, mais competente que eu conheci. Sei que fiz muito mal à ela mas não deixa que ela se vá, é muito cedo, ela ainda tem muito o que viver aqui e se para pagar a estadia dela aqui eu tiver que deixa-la viver com outra pessoa, eu não me importo, desde que ela esteja bem e...”

-Parece estranho né?

Pela primeira vez desde esse acidente alguém parece falar se dirigindo à mim.

Virei-me com um susto e uma luz me cegou, James Owen Sullivan, ou The Rev.

-The Reverend? – foi a única coisa que me susto me perfimitiu balbuciar.

-Não, pra você eu sou Jimmy, James, Jimbo, Stallion Duck, qualquer coisa depois de ir para a cama com meu amigo por sete anos, também me sinto intimo seu.

-Espera, eu morri? -  comecei a ficar desesperada, Jimmy estava sentado ao meu lado, e eu não sabia o que fazer.

-Não morreu, você está na sala de espera.

-Sala de espera? Isso é o purgatório? Eu vou morrer?

-Calma, você quer morrer?

-Lógico que não. – cocei a cabeça confusa, um bolo se formou em meu estomago.

-Então, você tem que achar coisas que te façam ficar aqui.

-E o Brian?

-O que tem ele? – Jimbo tinha os olhos fixos na minha imagem congelada, quase morta, deitada em uma maca

-Posso vê-lo? Ele já sabe?

 De repente outro clarão me cega, a conta de luz desse povo deve sair alta. Conheço a rua em que estamos, estamos em Campinas, dentro de um carro, está tudo escuro, chove e somente as luzes do painel estão acesas.

De repente em cima do banco do passageiro, o celular de Brian, que está distraído demais para perceber começa à vibrar, fazendo o eco estrondar por todo o carro.

Jimmy e eu observamos tudo atentamente no banco do passageiro e...

-Matt? O que foi?

-Brian, cuidado, acho melhor você se preparar, eu estava aqui no hotel em Campinas, me preparando para irmos embora quando...

Brian estava impaciente e odiava quando Matt fazia seus rodeios.

-Fala logo porra.

-O irmão de Meggie me ligou, ela foi atropelada por um ônibus e está quase morta.

As palavras atropelada, ônibus, quase e morta  caíram como um peso em cima de Brian, ele deixou o telefone cair e Matt continuou chamando-o na linha, até que por fim desligou, ele mantinha os olhos vidrados na frente, não se movia, apenas olhava e piscava. De repente ele abriu a porta do carro e começou à correr, correr, correr, correr, correu como nunca havia corrido em toda a sua vida.

Desnorteado, ele olhava de um lado para outro, lágrimas escorriam de seus olhos e então ele gritou.

Já estávamos dentro do hospital novamente, Eduardo me olhava pelo vidro e eu, quer dizer, meu corpo era colocado na máquina de ressonância, eu odiava aquilo. Tudo indicava que haviam serias lesões e se eu sobrevivesse seria um milagre, mas eu queria e iria ficar viva.

Campinas/SP

A fila se amontoava no aeroporto, Vallary, Matthew, as crianças, Kelly, Brooks, Johnny, Lacey e meu corpo vagávamos como zumbis pela fila de embarque, todos incrédulos com o que tinha acontecido.

Foram as horas mais desconfortáveis de toda a minha vida, o tempo demorava à passar, um bolo que só crescia dentro da minha garganta, um nó que ficava cada vez mais pesado e quanto mais eu chorava mais piorava.

Recife/PE

O hospital era frio, as meninas foram ao hotel fazer os registros e deixar as coisas, Matt e Johnny foram comigo até ela, eu ainda estava em choque e não sabia como reagir. Quantas vezes mesmo ela já tinha feito aquilo por mim? Por causa das minhas atitudes bestas? Os tatuados que me acompanhavam não emitiam nenhum som e eu apenas respirava por que era obrigatório, pois nem meus pés obedeciam aos meus comandos. Sentei-me em uma das cadeiras da enorme sala de espera. Sim, eu já tinha feito aquilo muitas vezes, mas quando ia busca-la em seus plantões e agora que ela era a paciente, tudo havia mudado.

-Marjorie Louise Bernardes?

Foi o que ouvi Matt dizendo à recepcionista que após digitar algo no computador provavelmente o mandou sentar comigo, pois ele fez imediatamente isso e ficamos esperando ansiosos o médico que cuidava do caso. Do outro lado da sala um cara de um pouco mais de 1.60 de altura, cabelos negros, pele branca e barba por fazer estava com expressão de poucos amigos e os olhos escuros inchados de tanto choro, era Eduardo, eu sabia que era, aquele rosto eu reconheceria mesmo que perdesse a memória.

Então uma médica enfim veio até nós, seu rosto era tenso mas não sabia se era pela notícia ou pelo cansaço.

-São os familiares de Marjorie Louise? – ela falou dirigindo-se à Eduardo e Matt.

-Somos amigos e ele é o noivo. – Eduardo levantou-se e falou apontando para mim.

O clima ficou ainda mais pesado, ela parecia procurar palavras.

-Bom, foi um acidente gravíssimo, levando em conta as condições corporais dela e o choque contra o ônibus – ela respirou fundo e olho pro chão – foram muitas lesões, seus ossos quase todos foram danificados, houveram hemorragias, traumatismo craniano e diversas perfurações em órgãos vitais, acredito que é só questão de tempo, não podemos fazer muito, apenas preparar vocês para esta perda.

Dito isso ela apenas saiu, fiquei olhando ainda sem entender o que estava acontecendo, Matt veio e me abraço, aquilo era real?

As lagrimas escorriam pelos meus olhos, como se minha mente soubesse o que estava acontecendo e pudesse se expressar mas o meu corpo não sabia como agir com essa situação. De novo não, eu não iria saber lidar com a perda tantas vezes. Estava perdido, desnorteado, eu não sabia o que fazer, não sabia como agir, a pessoa que havia me segurado tanto tempo, que havia me dado tudo de si para me ver bem agora estava morta e eu não podia fazer nada para reverter isso.

Aproveitei a tristeza e a distração de todos e sai andando lentamente entre os quartos e as uti’s, ninguém me viu passar, então fui aos quadros mais graves e achei ela.

Seu corpo pequeno e branco descansava como um anjo, com imensos tubos e monitores controlando cada suspiro seu, não havia mais cabelo, apenas uma faixa branca rodeava sua cabeça, sentei-me na cama e toquei sua mão.

Um toque gelado arrepiou minha pele, eu queria poder voltar, mas não podia. Me sentia cada vez mais fraca, como se à cada segundo meu corpo perdesse um pouco mais de mim.

Brian me olhava com o mesmo olhar que eu tinha para ele, nas inúmeras vezes que fui vê-lo nos hospitais, era triste ver essas situações se revertendo. Eu estava em pé ao seu lado, ele apenas chorava como uma criança, soluçava alto e se perguntava o que iria fazer com tanta dor. Jimmy sentava no canto do quarto, assim como eu, ele também não falava nada, não sabia o que fazer, não havia nada à ser feito. Andei pelo quarto, sentei-me na pequena poltrona que estava ali, ao lado dos monitores, então ouvi um barulho conhecido.

Era o solo de Victim, meu solo favorito, Brian sabia disso e quando olhei para cima, ele havia colocado os fones em meus ouvidos no volume mínimo mas ainda sim dava para ouvir. Minha vontade era de correr para dentro do corpo e acordar, era de fazer tudo aquilo virar apenas um sonho e voltar para quem eu amava, era pôr um fim nesse teste de resistência, mas era tarde demais. Meu coração ficava cada vez mais fraco, minhas batidas iam morrendo, meus órgãos iam parando e eu ficava cada vez mais apagada.

Brian ficou desesperado, apertou inúmeras vezes o botão da enfermaria e então um esquadrão de médico e enfermeiros entraram no quarto, assustado ele saiu e ficou apenas olhando do lado de fora. Havia chegado a minha hora.

-Hora da morte, 2:13 da manhã.



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