Capítulo II
A manhã posterior ao assassinato do deputado foi como Johnny já estava acostumado, telejornais exibiam reportagens sobre o homicídio, tentando entender e explicar o evento traumático. Johnny estava tranquilo quanto à investigação do crime. Ele sempre pesquisava com antecedência sobre o edifício que seria usado como ponto de vantagem para os disparos, sempre investigando se haviam câmeras de segurança ou porteiros distraídos. Os peritos em criminalística estavam estarrecidos por tamanha violência e profissionalismo envolvidos no ataque e os jornalistas cogitavam até um atentado terrorista. O homicídio compartilhava semelhanças com outros quatro que aconteceram no último mês: os alvos eram políticos culpados por corrupção que receberam a oportunidade de cumprir pena em regime domiciliar. Durante a noite, uma coletiva de imprensa foi convocada pelo investigador Almeida, um perito em balística que assumiu o caso. Almeida tinha quase 60 anos, baixinho e acima do peso fumava e bebia bastante, mesmo nas horas de serviço. Ele era um homem que passou a vida toda solucionando casos dos mais violentos aos mais simples e devido à sua fama no ramo investigativo, foi convocado para solucionar os recentes assassinatos misteriosos que ocorreram no último mês.
– O assassino certamente age a mando de algum rival político das vítimas. – Iniciou Almeida de maneira arrogante. – Ele deve receber ordens de partidos rivais e elimina publicamente os alvos para intimidar a oposição. Provavelmente se trata do mesmo assassino ou do mesmo grupo responsável pelos quatro homicídios cometidos nos últimos vinte dias. – falou o investigador roliço enquanto apontava para imagens exibidas por um retroprojetor. – Os disparos foram efetuados com precisão e não foram encontrados nenhum resquício de pólvora ou cápsulas deflagradas nos prédios adjacentes, impossibilitando determinar com exatidão a localização do atirador. Investigamos as gravações do circuito interno de segurança de todos os edifícios, casas , ruas e avenidas dentro de um raio de três quilômetros e nada suspeito foi encontrado, mas a investigação continua e nós não descansaremos até prender esse terrorista.
– Senhor investigador, As vítimas sempre apareciam nos noticiários relacionados à casos de lavagem de dinheiro e corrupção. O senhor não acha que esse indivíduo atua em nome da justiça? Como uma espécie de vingador? O que o senhor acha disso? – Indagou uma repórter de um jornal local.
– Independente da motivação, homicídio é crime e esse indivíduo está infringindo a lei e deverá ser punido com as medidas cabíveis. Ninguém pode sair por aí fazendo justiça com as próprias mãos, nós temos as Polícias Civil, Militar e Federal para nos proteger de criminosos como este indivíduo – Rebateu Almeida.
– Senhor, nas redes sociais, existem alguns grupos que se mostram a favor do indivíduo que pratica esses crimes. Eles o intitulam de O Justiceiro. Esses grupos afirmam que em apenas um mês o Justiceiro misterioso já fez mais pela população do que a Justiça Federal em todos esses anos. Eles também afirmam que...
– Não interessa o que esses grupos acham! – Almeida interrompeu a pergunta com as veias do pescoço saltando – Se unir ao vigilantismo também é crime. A sociedade deveria entender que casos assim nunca são motivados pela justiça em si, com certeza devem existir motivações pessoais obscuras do assassino que não agradarão à todos. Sempre que motivações pessoais são postas em jogo, quem perde é a sociedade. – Declarou enquanto enxugava o suor que teimava em escorrer pela testa protuberante. – E eu declaro encerrada esta coletiva! – Explodiu Almeida.
Após encerrada a coletiva de imprensa, o investigador Almeida saiu da sala e dirigiu-se ao terraço para fumar. Enquanto acendia o cigarro, foi surpreendido por sua assistente.
Tâmara Souza era uma negra estonteante. Sua pele cor de jambo exalava uma fragrância que continha o doce aroma de jasmim com suaves notas de amora, um perfume que trazia à tona os instintos mais primitivos dos homens ao seu redor. Ela trazia nos cabelos pretos um penteado que ressaltava o orgulho da sua raça e ostentava hipnotizantes olhos castanhos combinados com lábios carnudos que causavam tanto desejo que nem precisavam de batom para exercer o seu poder místico. De altura mediana, a deusa mulata era dona de um corpo delineado e bem torneado, conquistado através anos de ciclismo, uma atividade que ela adorava desde os seis anos de idade e hoje, com vinte e três anos, estava no auge da forma física. Mesmo trajada como executiva, usando um simples vestido preto com abertura nas costas e salto alto, Tâmara despertava olhares por onde quer que passasse. Ela aproximou-se do investigador Almeida, trazendo com ela uma pasta repleta de arquivos.
– Senhor Almeida, os relatórios da investigação estão prontos. – Relatou Tâmara, entregando os arquivos. – Como o senhor já sabe, o projétil encontrado na cena do crime possui uma numeração que está em sequência com os outros quatro casos anteriores. Parece que o assassino está contando as vítimas como uma demonstração de poder. – falou ela, pensativa.
– Não quero nem ver esses relatórios que não relatam nada. Esse filho da mãe é esperto e possui muitos recursos financeiros. – Ela percebeu o tom de medo contido na voz dele. – Não é possível disparar projéteis de 21 milímetros silenciosamente. Apesar desse tipo de armamento ser de uso restrito do Exército, a versão das Forças Armadas não permite a adaptação de silenciadores. Além disso, a versão do assassino permite disparos de distâncias que superam os três quilômetros proporcionados pela versão do Exército.
– Esse caso é o mais complexo que já eu já peguei nesses cinco anos como sua assistente. Ele não deixa nenhum rastro, parece um fantasma! – falou ela, tentando demonstrar que sentia o mesmo medo que Almeida.
– Nesses cinco anos?! Eu trabalho como investidor há mais de quarenta anos e nunca vi algo parecido. – Falou ele, estarrecido. – Não existe crime perfeito. Nós pegaremos esse canalha cedo ou tarde. Quando eu solucionar este caso, posso pedir minha aposentadoria. Leve esses relatórios para a minha sala, amanhã eu irei analisá-los e ver se há alguma informação útil. Pode ir para casa, você trabalhou muito hoje.
– Certo, muito obrigada. Até amanhã. – Ela despediu-se com um sorriso amigável e partiu.
Ao deixar o seu superior no terraço, Tâmara desceu pelo elevador e se dirigia à garagem, trazendo consigo um sorriso malicioso de quem sabia muito mais do que deixava aparentar.
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