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História Kilig - Capítulo Único


Escrita por: girassoldegaveta

Notas do Autor


OLÁ, AMORES! A lu estava louca para escrever um universo cross-dresser bem simples. Espero que gostem. <3

NOTAS RÁPIDAS:

一 Sugiro que pulem para as notas finais para terem uma boa noção da imagem do Taehyung. Os links de todas as roupas, peruca e afins estão lá;
一 Taehyung e Jeongguk têm a mesma idade;
一 Taehyung de saia e peruca sim;
一 Taehyung oppa da Nayeon sim;
一 Amendôas (brincadeirinha, gente); amo vocês.

Dedico essa fanfic ao ser maravilhoso e iluminado que é a minha unnie Lari! (xkookv) <3 Te amo, unnie! Você é a minha inspiração, nunca se esqueça disso. *¬*

Boa leitura, amoras! ;)

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Kilig - Capítulo Único

K i l i g¹

 

(s.) Borboletas no estômago.

 

K i l i g²

 

(adj.) 1. De uma pessoa: extasiado por uma experiência excitante ou romântica; emocionado; exultante; gratificado.

2. Induzir ou expressar uma onda de excitação ou euforia; emocionante; fascinante; cativante.

(s.) Exultação ou euforia causada por uma experiência excitante ou romântica; como exemplo deste; uma emoção.

 

K i l i g  como uma manifestação física:

 

Borboletas no estômago;

Coração derretido;

Arrepios na espinha;

Ruídos irreprimíveis na boca;

Sorriso incontrolável;

Um conflito interno entre a esperança de algo desejado e a realidade.

 

 

 

*.

 

 

Taehyung se considerava um garoto sociável; deveras sociável. Fizera amigos com facilidade durante o jardim de infância, destoando das outras crianças que choravam e imploravam para que suas mães continuassem ali e não soltassem suas mãos.

Ele não encontrava dificuldades para se soltar de sua genitora e correr para perto das crianças. Nunca exigia esforço da mulher.

Seu método social perseverou pelos próximos anos, e ele adquiriu a simpatia de alunos da escola elementar e secundária. Quiçá o segredo de sua amabilidade fosse seu adorável sorriso retangular — que parecia reluzir sempre que o exibia ante a um repuxar de lábios singelos — ou as duas pérolas acastanhadas incorporadas em seus olhos grandes. Elas sempre seriam um ponto de fascínio; o lampejo das estrelas que foram furtadas para dar vida a sua essência ímpar.

Taehyung era toda uma essência de particularidades infindáveis; um adorável bebê num corpo de adulto, e uma adorável criança refletida nos olhos intensos demais.

Bem como alguém que se assemelhava a uma tempestade resistente; uma noite de tormenta abundante, febril e profunda.

Tudo no Kim era profundo e apaixonante além da conta.

Nunca ligou para a colocação de garoto mais popular do colégio. Apreciava amizades duradouras; elaborar conversas astutas com qualquer estranho e torná-lo seu amigo.

Talvez seja por isso que ele se tornou o melhor amigo de Jeon Jeongguk, o garoto de fios escuros e seu atual — e, segundo o próprio Jeon, eterno — colega de apartamento.

Recordava-se da noite em que o conhecera.

Chovia como se os céus fossem despencar sobre a Terra; penosas rajadas de vento e gotas similares a agulhas. Com o auxílio de um guarda-chuva vermelho, ele caminhava apressadamente rumo ao prédio de pouco mais de 15 andares após comprar os malditos medicamentos que Sra. Jeon lhe pediu. Não era correto deixar que a velhinha viúva transitasse em uma noite nublada apenas para buscar cápsulas coloridas que ela não notara já estarem ultrapassando o prazo de validade.

Taehyung sentia prazer em ajudar adoráveis senhoras de vestido rendado; todavia, atravessar um temporal estava fora de cogitação em sua lista de afazeres noturnos. Dera sorte de Sra. Jeon ter lhe emprestado um guarda-chuva de seu acervo, enquanto lhe murmurava que sua boníssima intuição dizia que choveria bastante naquela noite. Ela não poderia comprar os medicamentos na manhã seguinte; se não tomasse seu remédio contra hipertensão dentro de algumas horas, correria o risco de ter crises hipertensivas ou um acidente vascular cerebral.

Os tênis brancos do Kim absorviam a água das poças onde pisava; suas jeans completamente encharcadas pela chuva torrencial que, a todo o momento, mudava de rota e seguia as correntes de vento. Elas levavam as gotas de chuva para a direção que quisessem.

Foi somente após virar a esquina de uma lanchonete qualquer que Taehyung notou estar sendo seguido — ou assim sua mente paranóica constatava.

Passos pesados acompanhavam seu ritmo sôfrego numa sincronia que beirava ao irritante. Certificou-se da recente presença ao diminuir drasticamente suas passadas, ouvindo as da figura desconhecida partirem os círculos d’água sobre a calçada. Ao senti-la próximo de sua zona de conforto, ele retrocedeu a andar rápido como antes, desviando dos postes de luz e das latas de lixo no caminho. Repudiava os pensamentos de que quanto mais rápido andava, mais distante se sentia de seu apartamento. Droga!

Nunca foi alguém que media seus atos; sequer possuía noção. O esperado era que uma pessoa comum corresse até perder o último fôlego. Taehyung não era uma pessoa comum, porém.

Por duas vezes, ele respirou fundo antes de se virar em direção aos passos perturbadores naquela tempestade. — Pare de me seguir! — Vociferou.

O som se findou.

Observou a imagem de um alto e pálido garoto de touca preta a poucos metros. Como Taehyung, o desconhecido segurava um guarda-chuva vermelho e estava quase ensopado da cabeça aos pés. Não trazia um bom semblante no rosto de feições joviais.

 — Você é louco? — A voz rouca o  questionou ceticamente. — Por que diabos eu seguiria você?

Petulante.

 — Se você não estava me seguindo, então por que não me ultrapassou de uma vez?

 — Eu até tentaria, se você escolhesse apenas um lado da calçada para transitar! Como as pessoas aguentam andar ao seu lado? Elas também não conseguem caminhar normalmente em apenas um lado da calçada?

Mil vezes petulante.

Viu-se partindo os lábios em resposta, mas não disse nada. Sentia-se sem argumentos contra as palavras ríspidas do moreno, ainda que, com apenas 16 anos na época, já desfrutasse de respostas deveras ácidas na ponta da língua. Nem mesmo sua mãe escapava de suas artimanhas orais, contudo, Taehyung resolveu deixar para lá.

Engoliu os palavreados grosseiros, observando o garoto passar ao seu lado e caçoar de seu aparente desconcerto com um sorriso presunçoso. Comprimiu a pequena sacola de medicamentos entre os dedos, rolando os olhos cor de avelã, conforme caminhava para casa.

O garoto malcriado andava a sua frente, impassível; como se a chuva gélida não ferisse sua pele.

Naquele momento de distração, onde Taehyung desencadeava olhos observadores demais para cima do desconhecido, as rajadas de vento usurparam o controle de seu guarda-chuva, levando-o para longe de seu alcance.

Viu-o voar alguns metros e se fragmentar no meio do asfalto; o tecido rubro e as ligas de metal drapejando para lados opostos.

Ele ouviu a risada libertina do garoto de fios escuros, sorvendo o teor de gozação sobre a voz juvenil. O moreno se manteve parado, analisando sua medíocre situação até que lhe desse as costas e andasse para longe.

O Kim desejou chorar, mas engoliu o bolo amargo e prosseguiu com sua jornada até o apartamento no final da rua. Sentiu seu corpo congelar enquanto se aproximava do hall de entrada e, mais dificultoso que qualquer outro sintoma maligno, sentiu seu sangue ferver ao ver o mesmo moreno cumprimentar o porteiro e adentrar o elevador que também foi ocupado por Taehyung.

Ambos se olharam com desdém. O de fios castanhos preferiu ignorar o assombroso fato de o outro apertar o botão de seu andar, retirando o mínimo acumulo de água da sacola plástica e espirrando com infortúnio, quase como se sua caixa torácica fosse se partir ao meio.

O garoto que ocupava espaço no outro lado da caixa de metal o fitou com estranheza, refletindo sobre seus olhos avermelhados e sobre o suor frio que parecia escorrer de suas têmporas outrora secas com a manga do casaco fino.

Outro espirro, e os olhos negros repousaram sobre os medicamentos que carregava.

 — São seus? — O desconhecido perguntou, encostando-se a parede de metal.

Taehyung negou com a cabeça, caminhando apressadamente pelo corredor no momento que o elevador se abrira.

O moreno acompanhou o garoto, até que o visse dando alguns toques na porta de seu próprio apartamento; o apartamento de sua avó — que, no início daquela manhã, passou a dividi-lo com o neto.

 — Taehyung, querido! — A senhora se espantou com o estado caótico do vizinho, fitando o moreno por sobre os ombros dele. — Jeongguk! Eu não imaginava que sua aula de canto fosse demorar tanto, meu bem.

 — Meu professor de canto se atrasou, vovó. Eu te enviei uma mensagem avisando, pensei que tivesse visto.

 — Acho que desliguei o aparelho sem querer, querido. Não faço a mínima ideia de como ligá-lo. Ainda não estou habituada com tal modernidade.

 — Vovó... — Jeongguk riu delicadamente, aproximando-se da pequena senhora e beijando sua testa coberta pelos fios de cabelo acinzentado.

O outro observou a adorável cena por mais tempo, recordando-se que ainda segurava os medicamentos recém-comprados na farmácia. Soltou uma tosse seca. — Aqui estão seus medicamentos, Sra. Jeon. Tome-os corretamente, okay?

 — Obrigada, querido. Eu não sei se suportaria uma noite sem esses remédios.

 — A senhora é forte, Sra. Jeon. — Taehyung buscou pela mão miúda e enrugada, beijando-a com ternura. — Eu não consegui evitar que o vento levasse seu guarda-chuva, mas prometo recompensá-la mais tarde.

Jeongguk olhou para o garoto, logo desviando seus olhos para a avó. — O que é isso, vovó? Pensei que a senhora tivesse várias dessas cartelas no armário.

 — Estão todas vencidas, Jeongguk. Culpe a minha idade. — A idosa sorriu. — Eu não consegui te ligar porque o celular de repente... morreu. Então pedi para que Taehyung, seu novo vizinho, comprasse meus remédios. Ele foi um rapazinho muito gentil e me trouxe as cartelas.

 — Vovó! — O moreno cruzou os braços, e ambos os parentes se voltaram para Taehyung quando ele espirrou uma última vez.

O suor frio voltou a brotar em sua testa, têmporas e nuca. — Me chame sempre que precisar, Sra. Jeon. Eu tentarei dormir agora, tenham uma boa noite. — A voz fraca então se despediu. O de fios castanho ignorou os chamados gentis da mulher de idade — que havia o convidado para tomar alguns remédios caseiros que serviriam para amenizar os primeiros sintomas de seu resfriado —, adentrando seu apartamento e se jogando no sofá retrátil de sua sala de estar. Esforçou-se apenas para lavar o corpo com água quente, trajar um infantil pijama de ursinhos e se aninhar entre os lençóis de sua cama solitária.

Naquela noite, Jeongguk se preocupou com o repentino resfriado de Taehyung, culpando-se por não ter sido suficientemente gentil para lhe oferecer uma pequena brecha de seu guarda-chuva vermelho. Era uma criança egoísta; uma infantil e tremendamente estúpida criança egoísta.

Na manhã seguinte, não reclamou de acordar cedo, tampouco desistiu de permanecer plantado em frente à porta do apartamento do Kim até que o mesmo garoto de fios castanhos a abrisse e fosse puxado de volta para cama.

O Jeon cuidou do vizinho emancipado dos pais; deu-lhe canja e o obrigou a engolir xaropes e medicamentos de gosto duvidoso. Papeou com o Kim sobre leões marinhos e o interessante ciclo de vida das mariposas lunares até que o ressonar do morador abraçado ao travesseiro acalmasse os batimentos de seu coração.

Jeongguk permaneceu ao lado de Taehyung, afagando os fios cor de chocolate e ponderando sobre os assuntos que daria seguimento no instante que o outro despertasse. Pensou que seus dias, semanas e meses se resumiriam ao florescimento de seu ódio mortal pelo vizinho, porém, a casualidade do universo lhe mostrou o contrário no momento que o moreno se sentiu desenvolvendo uma consideração incomum pelo Kim.

Ele não imaginava que, após completar 17 anos e ingressar na mesma faculdade que Taehyung, tornar-se-ia tão dependente da presença de seu colega de apartamento, quase como se o Kim fosse seu entorpecente vetado; quase como se já não pudesse respirar longe de sua presença.

 

 

 

Taehyung gostava de pensar que seus amigos confidentes se sentiam bem ao seu lado; que se sentiam confortáveis em lhe confiar todas as turbulências ou mares de rosas pelos quais passavam. Por conseguinte, sempre estava a disposição para guiá-los de modo que estivesse ao seu alcance — e também fora dele.

Como se saboreasse o desprazer em sua própria existência, tal regra também se aplicava a Jeon Jeongguk.

A inconsequente criança grande demais que, naquele instante, prostrava-se ajoelhado diante a ele. Um idiota completo.

O moreno abraçava suas pernas enquanto choramingava aleatoriedades. Seus olhos escuros se  focavam no rosto impassível do melhor amigo, caçando algum ponto de distração pela feição jovial que franziu o cenho ao acolher um pouco do pó da estante que limpava com um espanador.

 — Se você pensa que eu vou vestir uma saia e sujar minhas mãos apenas para iludir o seu pai, você está muito enganado. — O Kim murmurou, empurrando o garoto com os pés e se encaminhando à área de serviço. — Eu não te mandei mentir para o tio Jeon.

 — Qual é, Taehyung? Sempre que menciono arranjar algum tempo para visitar meus pais em Londres, minha mãe automaticamente desembesta a dizer o quanto será bom me apresentar para a filha de alguma amiga. Eu detesto quando ela diz isso, quando tenta ludibriar meu pai. Eu não tive outra escolha senão mentir e dizer que engatei um namoro qualquer com sua prima.

 — Minha prima, Jeongguk?! Ela só tem cinco anos!

 — E é por esse motivo que você precisa me ajudar. — Jeongguk voltou a abraçar as pernas acobreadas do outro, salpicando beijinhos por sua pele.

 — Por favor. — Ergueu-se quando Taehyung ameaçou chutá-lo outra vez, selando sua bochecha enrubescida e esfregando seu nariz ali. — Eu te imploro!

O gigantesco abismo que possuía pelo garoto de fios chocolate não era mistério. Não fazia questão de escondê-lo dos amigos incomuns, tampouco do próprio Taehyung, que era ciente de todas as batidas descompassadas que causava em Jeongguk.

O moreno não compreendia a neutralidade com que o melhor amigo manejava seus sentimentos. Era certo que o Kim não desfrutava da mesma espécie de emoção — mesmo que outrora tenha adorado arrepiar os pelos corporais de Taehyung. Aproveitava-se do fato de o rapaz possuir pontos sensíveis — como as pernas — para lhe bagunçar fisicamente. Aquele era o único modo de se ver mais próximo do outro.

Jeongguk era apaixonado por Taehyung, contudo, o hyung-por-alguns-meses — tinham a mesma idade, sendo o Jeon dois meses mais novo que o amigo — desenvolvia o primórdio de um relacionamento com a colega de faculdade.

Repudiava Im Nayeon, mas, ao contrário dele, o melhor amigo a adorava.

Contudo o moreno se sentia devidamente confortável em saber que o Kim o amava, e que — ainda que discordasse — o ajudaria quando seu pai chegasse a Seoul apenas para conhecer sua namorada de mentirinha.

Dono de empresas turísticas estrangeiras, Jeon Woojin não via problemas em deixar sua liderança sobre as mãos do filho mais velho e seguir viagem a Coreia do Sul para se encontrar com o filho mais novo. A esposa viajaria a capital francesa e compareceria a primeira reunião complementar com assessores recém-chegados.

 — Jeongguk... — O hyung assumiu uma postura dez vezes mais defensiva, agarrando-se aos seus braços quando ele o prendeu contra seu corpo. — Há um tempo, eu telefonei para os meus pais antes de eles liderarem outra viagem internacional e mencionei a Nayeon. Eles não interromperam tudo apenas para conhecê-la.

O Jeon revirou os olhos. Taehyung sempre usaria o pai piloto de avião e a mãe aeromoça como dois exemplos que seus progenitores jamais seguiriam. A ansiedade sempre fazia parte da cota de características dos Jeon’s, e isso não mudaria. Não possuía culpa se seus pais demonstravam entusiasmo demais por qualquer tópico relacionado ao filho caçula.

Eu detesto a felicidade.

 — Você sabe que os meus pais não são como os seus, TaeTae. Por favor, eu estou te implorando há horas.

O Kim observou os olhos nebulosos, questionando-se o porquê de sempre ceder às malditas idéias do melhor amigo. Jeongguk demonstrava adorar colocá-lo em enrascadas terríveis, todavia, seu próprio espírito sempre seria o mais equivocado da história ao sorrir após cumprir cada situação difícil.

Sua vida parecia fazer high five com Lúcifer.

 — Você conhece muitas garotas, tem muitas amigas. Por que não pede para uma delas te ajudar?

 — Porque eu quero que você me ajude, Taehyung. Eu não confiaria meus problemas a nenhuma dessas garotas. Nenhuma delas faria comigo uma dupla tão perfeita quanto só você faz. Você é a pessoa mais esperta e astuta que conheço. Vai tirar o plano de letra.

Taehyung se soltou de seu abraço, deixando o espanador jogado ao lado das vassouras. — Acha que pode me convencer com esses papinhos motivacionais? Eu não sou uma garota para vestir saia e usar lacinhos, Jeongguk.

O moreno bateu os pés. Por um momento, deixou que seus olhos perambulassem pelos ponteiros do mediano relógio acoplado a sala de estar.

Um traço da natureza petulante do mais velho era sua relutância imutável. Fazê-lo ceder aos seus desejos era uma missão quase impossível, mas o moreno odiava perder o que quer que estivesse em jogo. Dessa forma, aproveitava-se de qualquer carta guardada na manga para obrigá-lo a lhe dizer sim ou sim.

Taehyung não dispunha de muitas escolhas quando o propósito em questão era seu desprezível colega de apartamento.

 — Ainda guardo as fotos de quando tínhamos dezessete anos e você usava aqueles pijamas ridículos de ursinhos coloridos. Em prol da sua própria sanidade, TaeTae, é melhor que colabore comigo.

O garoto o fitou com incredulidade. — Você não seria capaz! Eu posso fazê-lo voltar a morar com a sua avó se você apenas cogitar fazer isso, Jeongguk!

Tão insuportavelmente resistente.

 — Se você me ajudar, eu faço tudo o que você quiser. — Era ciente de que se arrependeria posteriormente, mas o relógio e a conversa sem resultados o incitavam a se rebaixar perante o rapaz.

O Kim sorriu presunçoso. Cruzou os braços rentes ao peito, enquanto a barra de sua camiseta branca escorria pelos shorts pretos que trajava. — Tudo, Gukkie?

Ele adora ter minha palavra.

 — Tudo. — Exprimiu entre dentes, recebendo um delicado afago em suas mechas escuras antes de ouvir os toques sutis na porta do apartamento.

 — Você convidou Jin hyung para algum programa hoje à noite? — Taehyung perguntou, conforme espionava a imagem do Kim mais velho pelo olho mágico da madeira. Seokjin lhe soava entusiasmado enquanto carregava algumas sacolas coloridas.

Constatou que o Jeon aprontava algo quando o mesmo engoliu seco e sorriu forçadamente.

Estreitou os olhos, girando a maçaneta. — Olá, Jin hyung!

 — Olá, Tae-ah! Gukkie me explicou sobre o plano que te envolve usando saia e me pediu ajuda para arrumá-lo como uma verdadeira garota. Quando começamos?

Taehyung sentiu sua boca tremer enquanto observava as maçãs coradas do garoto mais jovem.

Jeongguk já esperava que ele cedesse às suas chantagens medíocres.

O colega de apartamento mentiu sobre a chegada do pai — qual o Kim achou que chegaria apenas na próxima semana —, deixando explícito nas entrelinhas que o homem surgiria naquela mesma noite.

Adicionaria mais algumas práticas de tortura a sua singela lista que consistia em formas instigantes de matar Jeongguk lenta e dolorosamente.

 — Jeon Jeongguk, você morrerá antes de se encontrar com o tio Jeon!

 

 

 

Taehyung nunca foi alvo de muitas chacotas em sua adolescência estrondosa. Um tombo inconveniente ou comentários inadequados foi o máximo que já vivenciou. Deixava para que Hoseok — o hyung da ala de medicina — fosse o principal alvo de olhares curiosos quanto às suas danças excêntricas e seus risos escandalosos, contudo, o rapaz não dava qualquer importância aos olhares reprovadores enquanto exalava uma poção eterna de esperança e felicidade. Isso era o que mais causava orgulho no dongsaeng de fios castanhos.

Pensar no amigo lhe restabeleceu um pouco da confiança que abandonou próximo ao batente de seu quarto quando permitiu que Seokjin lhe banhasse com sais perfumados — e acabasse com os míseros pelos corporais que possuía com o reforço da cera quente de alguma marca que desconhecia.

Não duvidava que Jeongguk estivesse zombando de seus gritos desesperados. Maldito.

O hyung de fios rosados deslizou uma meia-calça simples por suas pernas acobreadas; o tecido transparente era estampado com a face de dois gatinhos acima dos joelhos, e inúmeras estrelas, laços e corações flechados sobre cada centímetro das pernas. Imitavam uma pele tatuada.

O garoto tardou a se acostumar com o recente tecido. Os fios miúdos pinicavam sua pele, aguçando o tremelique de seus dedos que reprimiam o impulso de rasgá-los com as unhas; todavia, o desconforto daquelas meias se tornou medíocre perante o incômodo de vestir um sutiã branco de tiras. Os fios adicionais seguiam a curvatura do bojo liso da peça íntima, comprimindo-se abaixo da linha de suas clavículas salientes e contornando o fecho do sutiã.

 — Você usará um cropped branco de alcinha por cima do sutiã de tiras. Mulheres detestam mostrar a alça do sutiã, mas as inúmeras tiras desse modelo devem ser mostradas. Você tem um colo lindo, Tae. As ligas brancas vão destacar a sua cor de pele.

Ele franziu o nariz, crispando os lábios ao que Seokjin ajustava a alça da peça íntima. — O que diabos é um cropped?

 — Uma blusa curta, ou um top. — O mais alto retirou uma peça da sacola, mostrando-lhe a blusa branca de alças finas.

Taehyung arregalou os olhos Não achava que ela fosse tão curta quanto o amigo dizia. — Então eu vou a esse encontro apenas de sutiã, porque não vejo diferença nenhuma entre ele e essa blusa ridícula. Veja o tamanho disso, hyung? Mal cobre minha barriga.

Seokjin suspirou pesadamente. Enfeitar o dongsaeng se mostrava uma tarefa fatigante; tão fatigante quanto à vez que vestira Yoongi e Jimin de maid numa aposta movida a álcool que ambos perderam.

Jeongguk teria de pagá-lo muito bem por aquele serviço.

Ele demonstrava tremenda paciência enquanto obrigava o Kim a vestir a saia de cós alto azul bebê — que rodava ao redor das coxas acobreadas —, engolindo os múltiplos palavrões que arranhavam sua língua, à medida que passava a blusa branca pela cabeça alheia e dobrava as mangas do cardigan vinho de crochê na altura dos cotovelos, deixando a peça de roupa desabotoada sobre o peito de Taehyung.

Em nenhum momento, o mais novo deixou de reclamar da atual condição. Não mediu esforços para irritar o amigo, que decidiu compactuar com as malandragens de Jeongguk. Correu pelo quarto, ignorando as súplicas para que ficasse quieto; jogou os pincéis e estojos de maquiagem para longe, atingindo a cota máxima de paciência do rapaz, que o arrastou pela orelha em direção a cama de solteiro e ameaçou estrangulá-lo com o fio do secador se ele ousasse desobedecê-lo outra vez.

Até mesmo o Jeon surgiu para prestar auxílio, dando alguns toques na porta e os questionando se tudo corria conforme o planejado. Seokjin dispensou sua ajuda, mandando-o voltar à sala de estar. O moreno não se atreveu a violar a ordem do hyung, retornando ao sofá enquanto ainda era capaz de ouvir algumas lamúrias abafadas pela porta. Ele deve estar tendo muito trabalho. Taehyung é um pestinha quando deseja.

O de fios castanho aguardava o retorno do Kim mais velho — que foi em busca de algo no quarto de Jeongguk. Ele brincou com as pintinhas de seu braço direito, formando, como gostava de nomear, um elefantinho na pele comprimida. Contou o número de corações em sua meia-calça, tentando ignorar o sentimento bizarro ao olhar para a maldita saia rodada e de cor enjoativa que descansava sobre suas coxas. Ridícula.

Não gostaria de pensar na reação que o melhor amigo teria quando o visse naquele estado. Ele zombaria de si; rolaria sobre o carpete enquanto lhe apontaria o dedo e lhe diria estar parecendo um maníaco de saia.

Farei jus a esse papel se ele ousar rir da minha cara, ele pensou pretensioso, cruzando os braços e matutando sobre os estranhos sentimentos alimentados pelo moreno.

Fazia o possível para manter uma saudável barreira entre si e o colega de apartamento; deixava claro suas intenções com Nayeon, mesmo que seu coração correspondesse às batidas desenfreadas do moreno.

Repudiava ter se apaixonado por Jeongguk desde o primeiro “feliz aniversário” que o garoto lhe desejara após longos meses desde o excêntrico encontro debaixo da tempestade. Todavia, empenhava-se em mascarar suas emoções, dando brechas para que a garota de fios escuros invadisse seu espaço e tentasse edificar um relacionamento amoroso com ele — ainda que ela não fosse Jeon Jeongguk.

Seu medo surgiu há cerca de dois anos, quando, numa noite de folga dos progenitores, seu pai comentara sobre o quanto se sentira desconfortável ao encontrar um casal gay pouco depois de pousar em Berlin.

Eles se beijavam de uma forma tão...”.

Essas foram às palavras que Kim Minjae usara, antes de gesticular o que não lhe cabia em palavras. A esposa rira, bebericando a taça de vinho e encontrando graça nas palavras indelicadas do companheiro.

Taehyung não gostaria de desestabilizar a relação confortável que possuía com eles se assumisse gostar de outro rapaz. Eles discutiriam consigo; perderiam a linha e usariam sua emancipação como razão para lhe virarem as costas e o deixarem sozinho a mercê do mundo mortífero. Perder o amor e admiração dos pais estava fora de questão.

Faria qualquer coisa para manter aquilo que prezava como primeiro lugar em sua vida, varrendo os sentimentos por Jeongguk para debaixo do tapete. Era ciente que machucava o parceiro negando os sentimentos que adoraria corresponder, como também tinha ciência que o rapaz compreenderia seu lado se apenas se confessasse.

Ele não estaria ali se Jeongguk não sentisse receio de dizer aos pais que gostava do garoto e que nunca olhou para nenhuma garota. Mais do que simplesmente desfazer as persistentes investidas da mãe — que tentava lhe empurrar para diversas garotas —, Jeongguk enxergava naquela ideia uma forma de sair imune da série de ofensas que cogitava receber dos pais.

O Kim bufou, deitando-se sobre o colchão macio e abraçando o travesseiro com estampa de kumamon que Yoongi lhe deu no Natal passado. Se o Min estivesse ali, ele lhe daria alguns cascudos e murmuraria que deveria amar quem desejasse amar e lidar com a dor de não ser aceito pelos pais.

Ser infeliz pelo resto da vida? Tem certeza de que é isso o que quer para você, Tae-ah?”.

Recordou-se também das palavras de Jimin. O segundo amigo em comum que possuía com Jeongguk.

Vocês poderiam namorar escondido; firmarem um trato em segredo. Eu sempre estarei aqui para apoiá-los”.

Confiava o suficiente no amigos de fios laranjas lhe contar às intimidades que guardava em seu âmago. Embora Jimin fosse amigo de ambos, ele nunca abriu a boca para falar ao Jeon que sua paixão era correspondida pelo colega de apartamento. Prometeu ao Kim que jamais contaria, tal como Namjoon e Hoseok fizeram.

Você deveria conversar com ele, Taehyung, ou só perceberá a besteira que está fazendo quando for obrigado a deixá-lo partir. Namjoon tocara em seu ombro, deslizando seus dedos pela curvatura de sua nuca e deixando um ameno carinho ali”.

Joonie tem razão, criança. Hoseok segurara suas mãos. Eu não quero vê-los perderem a esperança de se amarem como desejam”.

A conversa de todos os amigos se embaralhou em sua cabeça, causando-lhe uma temporária dor de estômago.

Diferente das borboletas coloridas que sentia sempre que colocava os olhos em Jeongguk, a dor que vivenciava soava mais como um tempestuoso furacão, ou como uma nevasca que gelava a ponta de seus dedos. Pensar nos olhos do melhor amigo lhe causava vertigens.

O problema era esse.

Jeon Jeongguk era seu melhor amigo.

Embora não se importasse, Taehyung sabia como alguns relacionamentos amorosos — que aconteciam por culpa de dois amigos que se apaixonavam — nem sempre eram sinônimo de sucesso. Taehyung sabia, mas preferia ignorar aquilo. 

Sorria diante a ideia de amar o melhor amigo. Era algo instigante.

Ele encolheu-se contra o acolchoado, soltando um gemido pesaroso antes que Seokjin entrasse no quarto carregando um par de botas mostarda da coleção de Jeongguk.

  Calce isso. O hyung lhe entregou as botas, alcançando uma sacola cor-de-rosa apoiada sobre a penteadeira. E eu colocarei isso em você. Em sua mão, a peruca castanha e repleta de mechas cor-de-rosa se tornou o ponto de extrema observação do dongsaeng.

O Kim mais novo observou a raiz acastanhada da peruca, averiguando os fios rosados que iniciavam um pouco acima da altura da nuca tingindo algumas mechas da franja média e findavam no último milímetro dos fios.

Seu corpo tremeu. Uma fúria repentina do Jeon o atingindo de súbito. Eu não vou usar essa droga!

  Você vai sim! Ou espera enganar alguém com esse cabelo curto? Você pode até ter traços suaves, Taehyung, mas não vai se parecer com uma garota sem essa peruca e maquiagem.

  Por que raios eu aceitei participar dessa maldita farsa? Sussurrou para si mesmo, enfiando seus pés dentro das botas mostarda nunca antes usadas pelo moreno. Elas ainda possuíam a etiqueta da loja.

Em outras circunstâncias, importar-se-ia com a fúria que o Jeon sentiria ao ter uma de suas botas recém-compradas desvirginadas por outros pés, todavia, aquela seria sua vingança por se subordinar às vontades do garoto.

Maldito seja Jeon Jeongguk.

  Porque você faria qualquer coisa pela pessoa que ama. É simples. Jin exprimiu com naturalidade, tratando de amarrar os cadarços do sapato por ele. O quê? Eu por acaso estou mentindo?

Taehyung quase se esqueceu que o rapaz também fazia parte da lista de amigos confidentes que possuía. Repudiava o modo como ele falava com tamanha modéstia consigo, como se tivesse conhecimento acerca de cada mísera emoção que brincava em seu espírito; como se soubesse da quantidade de tempo que ele desperdiçava pensando em Jeongguk.

E, de fato, Seokjin sabia.

Eu sou tão previsível.

  Fale mais alto, Jin hyung. Talvez o outro lado do mundo não tenha conseguido te ouvir!

  Não exagere, Tae. Jeongguk está muito ocupado ouvindo qualquer playlist enjoativa da IU para prestar atenção numa conversa que está acontecendo do outro lado do apartamento. O de fios rosados preparava os cabelos do mais novo para receber a peruca feita com fios humanos; à chamada peruca full lace. De acordo com o rapaz, em nenhuma circunstância seria capaz de arranjar uma peruca tão cara quanto aquela se não tivesse uma irmã cabeleireira e criadora de perucas.

Taehyung silenciou o assunto, mencionando qualquer outra bobagem que não fosse sua complicada relação com o maknae.

O hyung notou o desconforto alheio, engatando em assuntos que interessavam para ambos enquanto colava a peruca em volta do contorno cabeludo do outro. Esforçava-se para fazê-lo rir da situação, desejando não ter de presenciar a expressão desolada de sua criança. O Kim tinha limites; Jin os respeitaria a risca, até que o garoto desejasse o calor de seu abraço e cogitasse consertar as burradas que cometia.

Seu dongsaeng poderia resolver todos os infortúnios que o perseguiam se apenas tomasse coragem para seguir em frente.

O mais velho sorriu melancolicamente. Nada é perfeito.

 

 

 

Após pouco mais de duas horas dentro do quarto um tanto abafado, Taehyung finalmente respirava como seus pulmões decretavam, sem se importar com o ar quente que lambia suas pernas.

Em frente a parede de espelhos acoplada a simples tintura branca do cômodo, ele analisava o traje que seria adorável se posto numa garota legítima. Não aceitava a ideia de parecer bonito de saia e lábios rosa degradê nos olhos, grossas camadas de rímel, contorno de lápis e sombra prata.

Dedilhou a pequena coroa com flores brancas e rosas em sua cabeça; o objeto contrastava com os fios naturais da peruca e cobria o contorno de seu couro cabeludo.

Franziu o cenho.

  Você está perfeito. Seokjin deu alguns tapinhas em seu traseiro, limpando os resquícios de suor que deslizavam por suas têmporas. Eu fiz um ótimo trabalho.

  Eu... não quero que Jeongguk me veja assim.

  Mas ele vai ver e você não vai se abater. Agora vamos. O mais velho segurou nas mãos perfumadas de creme hidrante, avaliando as unhas pintadas uma última vez antes de empurrá-lo até a porta e encaminhá-lo em direção a sala.

Jeongguk se mantinha estirado sobre o sofá; seus dedos batucando o ritmo de alguma canção que ecoava pelos fones. Ele trajava jeans claras com gancho mais baixo o tecido sendo mais justo na área dos tornozelos ; a camisa branca e dobrada sobre a linha dos cotovelos era ligeiramente transparente e possuía os dois primeiros botões abertos; nos pés, as mesmas botas mostarda que Taehyung se enjoava de ver mas que, no momento, também calçava.

  Retorne a realidade, Gukkie-ah. Jin retirou um de seus fones, sobressaltando o mais novo que se sentou de repente e soltou o ar pela boca.

  Que merda, hyung! Não me assuste dessa forma!

 Eu só estou aqui para te avisar que o Taehyung está pronto para seja lá o que for que você vai aprontar essa noite.

Os olhos cor de pedras ônix rapidamente caçaram o amigo pelo ambiente, encontrando-o parado ao lado da pequena estante de livros que outrora espanava. De repente, sentiu-se transpirando; uma espécie de suor quente que queimava sua pele e concentrava a circulação sanguínea em suas bochechas pálidas. Suas mãos se prenderam ao tecido jeans de suas calças, conforme se demorava fitando os adoráveis rabiscos nas pernas acobreadas e a mínima porção de pele exposta entre a saia azul bebê e o cropped branco.

  Taehyung tem um belo colo, abdômen liso e cintura fina. Eu sabia que ele ficaria perfeito vestido nessas roupas. Você não concorda, Jeongguk?

  Sim. Sua voz escapou um tanto sufocada pelo desejo de gritar aos sete ventos que, sim, Taehyung parecia lindo, mesmo com ombros largos demais. Sua confirmação possuía outras simbologias, e Taehyung notou isso.

Ele desviou os olhos para a porta, enquanto o Jeon ainda associava o fato de o Kim ficar estupendo bem com suas botas mostarda e cabelos compridos.

 Você... está deslumbrante de saia, se me permite dizer.

  Só abra a boca quando estivermos falando com o seu pai. Taehyung lhe apontou o dedo, sentando-se de modo pesado sobre o sofá retrátil.

Jeongguk riu docemente, ligando para o homem que lhe enviou uma mensagem de texto dizendo que havia chegado há pouco mais de uma hora na capital. Sentou-se sobre o braço do sofá, conforme o aparelho chamava, roubando uma pequena mecha da peruca alheia e a enrolando em torno do seu dedo.

O mais velho se sentiu afetado pelo toque repentino, afastando a palma fria de seus falsos cabelos e sendo obrigado a ouvir outra risada diabética do companheiro. Tão doce.

O moreno expelia bom-humor naquele momento, mas se calou no instante que ouviu a respiração branda do pai.

  Filho? Eu estava esperando que me ligasse, sua criança insolente! O tom brincalhão aqueceu o peito do garoto.

  Oi, pai! Eu liguei para dizer que a  minha... Por um momento, seus olhos mergulharam nos tão enraizados do outro, colhendo uma muda permissão das íris cor de avelã. ... Minha namorada está livre para o passeio.

  Ótimo! Eu vou adorar conhecê-la, e tenho certeza que sua mãe também iria se estivesse aqui.

O filho sorriu. Eu sei que iria. E não fale como se ela estivesse morta, ela só está viajando a França, pai. E a negócios! Você é um velho deplorável. Sorriu de canto.

Taehyung e Seokjin preservaram o momento que o Jeon se detinha a desfazer um pouco da saudade que sentia de Woojin, até que a ligação fosse finalizada e um sorriso satisfeito estampasse a face charmosa do dongsaeng. Meu pai pediu para nos encontrarmos no Rio Han daqui uma hora. Acha que consegue manter uma voz feminina por mais de duas horas?

  Eu ainda te farei engolir sua própria língua. O Kim ameaçou estapeá-lo, contudo, ocupou o colo do melhor amigo com seus cabelos cor-de-rosa, sentindo a ação de dedos gentis sobre o couro falso. Eu estou desconfortável, Gukkie. E se o seu pai não gostar de mim?

A questão atraiu a atenção do moreno. Ele olhou para a face infantil do amigo deitado em suas pernas; os orbes cheios de preocupação e os lábios rosados emoldurando um bico adorável. Não se preocupe, TaeTae. Ele vai gostar de você.

 Mas não da minha parte masculina. Eu espero que ele não descubra. O outro voltou a se sentar. Você ainda pode desistir dessa ideia maluca e confessar ao seu pai que não tem nenhuma namorada.

  A merda já está feita, eu não vou desistir agora.

 Tão orgulhoso. Taehyung empurrou seu ombro.

  Tão honesto. Jeongguk beliscou a coxa acobreada.

  Não discutam outra vez, crianças. Seokjin tentava acalmar os ânimos, mas a troca de farpas durou até que o mais novo se levantasse e dissesse que deveriam encontrar seu pai.

Os três amigos caminharam em direção à porta enquanto opinavam sobre o tom de voz que mais se encaixaria na atual imagem do Kim mais novo.

 Primeiro as damas. O dongsaeng debochou, à medida que oferecia passagem ao melhor amigo.

  Se continuar me tratando como uma garota, você amanhecerá sem pênis.

  Estou pagando para ver. A garota aqui é você.

O de fios rosados evitou se intrometer outra vez, deixando que ambos discutissem dentro do elevador até se aproximarem do carro de Jeongguk. Boa sorte para vocês. Irão precisar.

  Eu faço a minha própria sorte, hyung! O moreno disse, observando-o lhe dar as costas e acenar languidamente.

De súbito, o clima carregado pareceu se expandir quando os dois amigos se entreolharam. O Jeon ainda admirava o perfil alheio, enquanto o Kim procurava por qualquer fragmento que esclarecesse o significado daquele olhar.

Jeongguk varria seu rosto; seu corpo. Varria sua alma de modo que Taehyung não pudesse evitar um ingênuo ofego e o impulso de acertá-lo com a bolsa que segurava. Vamos logo, Gukkie, ou acabaremos nos atrasando. Sua menção de abrir a porta de passageiro foi interrompida pelas rápidas mãos do mais novo, que realizou a ação em seu lugar. .

O hyung revirou os olhos. Que parte do “eu não sou uma garota de verdade” você não entendeu, Jeongguk? Eu tenho mãos.

 Me deixe entrar no personagem, TaeTae. Eu preciso ser um namorado atencioso com a  minha bela garota.

  Que seja. Ele deu um tapa fraco na boca que despontava um sorriso zombeteiro.

Taehyung se acomodou no banco de passageiro, colocando o cinto de segurança e jogando a bolsa da irmã de Seokjin nos bancos traseiros. Não desejava vê-la tão cedo; não até o momento que necessitasse colocá-la em seu ombro outra vez para fingir uma imagem que não lhe pertencia.

Ainda mataria o melhor amigo.

E o desejo de sangue apenas aumentou, conforme sentia a textura gélida de um anel ser encaixado no dedo anelar de sua mão direita. A peça prateada reluzia sob a luz natural, e o garoto se pegou observando o delicado adorno por tempo demais.

  O que diabos é isso, Jeongguk?

O moreno riu cinicamente, como se sua questão fosse deveras absurda para ele. O rosto infantil piscava uma gigante placa em neon que guardava os dizeres “você só pode estar brincando comigo”.

Contudo, era Taehyung quem se sentia numa tremenda brincadeira de mau gosto.

  É um anel, Taehyung. O dongsaeng apontou para o dedo anelar da própria mão direita, onde um anel de igual aparência o enfeitava. Você deve saber, não? Alianças de compromisso e tudo o que envolva um casal de namorados. Exprimiu sarcasticamente. Se vamos fazer isso, então que façamos direito. Não foi isso o que nossos pais sempre nos ensinaram? Devemos fazer tudo bem feito.

  Eu já entendi. Não preciso que me explique tudo como se eu fosse uma criança de cinco anos. O de mechas rosadas descansou a cabeça contra a janela do automóvel. Como nos tornamos melhores amigos mesmo? Seu senso tão sarcástico quanto o alheio se perdeu entre um bocejo e outro. Seus olhos se fecharam por um momento, e ele se aproveitou do ruído de partida para cochilar por alguns minutos.

Os últimos testes falsos da faculdade tiraram seu descanso. Ele passara as duas últimas noites estudando como um louco, e esperava que seu exagerado esforço lhe rendesse uma boa pontuação. Ao contrário de si, Jeongguk não possuía crises de ansiedade.

O garoto era suficientemente bom para tirar ótimas notas sem arrancar os cabelos como o melhor amigo fazia.

Sorriu ao notar a frieza da mão do moreno sobre a  sua. Recordou-se de que era sempre o Jeon quem invadia seu quarto de madrugada, levando-o até a cama e o cobrindo com os lençóis escuros. Ele o  deixava um beijo na testa e desejava uma boa noite de sono e quase sempre amanhecia em sua cama, agarrando-se a sua cintura. Como um bebê.

  Durma um pouco, TaeTae. Você está cansado.

E ele fez, sonhando com um tipo de sala cor-de-rosa.

Trajava um vestido de mesma tonalidade; em seu pescoço, um extravagante colar de pedras lhe pesando. Seus orbes vasculharam a sala silenciosa, dando de cara com o modelo bizarro de uma estátua grega.

A estátua, rosa como o resto do ambiente, possuía uma faixa de tinta branca nos olhos e uma mediana estrela arroxeada pregada numa das bochechas. Estranhamente, ele desejou se aproximar e tocar nos lábios de pedra, como Seokjin fez em sua última peça de teatro, onde interpretou o papel de um humano que caía em tentação. O hyung incorporou algumas metáforas e passagens do livro Demian, produzido pelo escritor alemão Herman Hesse e o qual Taehyung lera por indicação de Namjoon, que dera vida ao teatro referente à dualidade ou sua total inexistência.

Sua boca pintada de roxo se aproximava da estátua. Tanto sua pele doentiamente pálida quanto o objeto exalavam um aroma de confeito.

Repentinamente, ouviu uma voz ressoar no fundo de sua mente, chamando-o com cuidado. Franziu o cenho ao sentir uma quente respiração colidir contra a carne de seus lábios.

Taehyung abriu os olhos ao que seu estômago revirava, fitando a imagem luxuriosa de Jeongguk, que se aproximou um pouco mais e tocou em suas mechas rosa pastéis presas num coque desleixado. A estátua havia sido trocada por sua presença vigorosa.

Os lábios cor de pêssego se roçaram aos seus, e ele chamou por seu nome.

  Taehyung!

O garoto acordou no mesmo segundo, olhando para a figura casual do melhor amigo, que ainda usava camisa branca e jeans claras, divergente do seu sonho pomposo, onde ele trajava uma camisa de tonalidade azul estampada com luas e estrelas. O Jeon do seu sonho era a única coisa que se diferia do mundo cor-de-rosa de Taehyung.

Os olhos se conectaram como sempre acontecia.

O moreno se arrastou para perto, tirando o cinto de segurança do garoto e dedilhando a bochecha pintada com um blush sutil. Você acabou sonhando, e parecia muito perturbado. Teve um pesadelo?

  N...Nada fora do comum. Ele quase perdeu as palavras. As íris trevosas o perturbavam e engoliam qualquer resquício de seu oxigênio.

Desviando os olhos e analisando ao redor, percebeu que já se encontravam no local do encontro. Suas mãos voltaram a suar friamente, enquanto Jeongguk o abraçava de modo desajeitado. O mais novo sabia quando ele tendia a perder o controle da própria mente, e dispunha da melhor terapia contra seu empecilho.

Bastava que abrisse os braços e lhe abrigasse num abraço confortável, como fazia naquele momento.

Taehyung sentia a carga do mundo lhe dando adeus quando o melhor amigo permanecia ao seu lado; silencioso e repleto de afeição.

Deixou que sua cabeça tombasse contra o ombro alheio, massageando os braços que lhe apertaram quase que imperceptivelmente. Você terá de fazer muitas tarefas para me recompensar por tudo isso, está me ouvindo?

  Estou, capitão. O Jeon murmurou, quebrando o contato para que ambos pudessem sair do automóvel. Ele deu a volta pela lataria, estendendo sua mão ao Kim à medida que sorria pequeno. Pronto?

Taehyung lhe devolveu o sorriso. Mesmo tempestuoso e contrariado e apenas Jeongguk sabia o quanto o garoto repugnava ser contrariado —, não negaria que sua missão se tornava divertida a cada minuto percorrido. Esperava que aquilo valesse a pena.

  Vamos ferrar com tudo de uma vez. Ele entrelaçou sua mão a menor, rezando silenciosamente para que Woojin não notasse a diferença quase imperceptível de tamanho. Por um momento, agradeceu por ter dedos mais finos que os do amigo, o que lhe ajudava a acobertar a magnitude de suas mãos.

O dongsaeng o conduziu à margem do rio, buscando pela adorável imagem do pai em uma das pontes. Suas íris capturaram o andar sincronizado que Taehyung e ele compartilhavam. Gostou do modo como as botas mostarda faziam um par perfeito — era ciente de que o amigo calçava as botas novas de sua coleção, todavia, não se importava; não se apenas aqueles pés que tanto adorava tocassem em seus sapatos.

Tentou controlar o sorriso fácil, que surgia com frequência em sua face, sempre que uma ou outra senhora — e até mesmo outros casais — que caminhavam pela pista de passeio interrompiam sua conversa com o mais velho para lhes dizer que faziam um belo casal de namorados — embora algumas senhora mais atrevidas parassem apenas para dar algumas dicas de emagrecimento a Taehyung. Segundo elas, o Kim tinha ombros largos demais e um pescoço muito grosso para uma jovem garota.

 — Eles berrariam e nos chamariam de doentes se soubessem que eu sou um garoto.

O moreno riu com o comentário impertinente do Kim, mas não teve tempo de respondê-lo quando viu o pai lhe acenando ao longe. O homem se levantou do banco onde estava sentado, caminhando em direção ao filho.

O Jeon sentiu o aperto em sua mão se intensificar. Passou confiança ao garoto, devolvendo-lhe o aperto e murmurando que tudo correria bem. — Eu estou aqui para guiá-lo. Não se preocupe demais, TaeTae, e faça como combinamos. Finja que está resfriado e force uma voz rouca e adoentada. Se lembra de como a voz da Momo estava no dia que ela ficou de cama?

O mais velho se recordou da amiga japonesa de Nayeon; a adorável garota de cabelos loiros que conquistou ele e o melhor amigo com tremenda rapidez. Jeongguk vivia lhe dizendo o quanto preferia que ele saísse com Momo ao invés de alimentar os sentimentos de Nayeon.

Eu preferia te ver sozinho, mas não posso controlar suas decisões. Eu gosto da Momo, ela é uma boa garota. Também é melhor que Nayeon”.

 — Tudo bem. — Ele inspirou uma última vez, sorrindo o retângulo que todos adoravam quando Woojin tocou suas mãos e se reverenciou.

Os pequenos olhos escuros e adornados por óculos de grau examinaram cada partícula de seu rosto angelical, demorando-se em seus olhos avelãs e investigando qualquer coisa que ele desentendia.

Observou as íris líquidas do homem reluzirem um brilho agradável após varrerem seu corpo, conforme lhe entregava um grande sorriso.

 — Então você é a famosa Kim Hyuna? Jeongguk me falou muito de você!

Estava na hora do espetáculo.

 — S-Sim! É um prazer poder finalmente conhecê-lo. — Forçou uma voz aguda e debilitada, ao mesmo tempo que tentava deixá-la no tom mais natural que lhe cabia; o mais natural possível. — Me desculpe pela voz horrível, mas acabei contraindo um resfriado.

 — Sua voz não me incomoda, querida. Você continua bela… e alta. — As mãos um tanto enrugadas tocaram em suas bochechas, logo as abandonando e puxando Jeongguk para um abraço apertado.

Observou o melhor amigo erguer o pai do chão e rodopiá-lo como se a criança em questão fosse o próprio homem. Seu coração se encheu de saudade. Gostaria que seu pai estivesse ali para guiá-lo e opinar sobre a farsa que cometia.

Era certo que o progenitor sentiria vergonha dele. Talvez.

Imaginar a reação do mais velho lhe arrepiava. Preferia que Minjae continuasse sem saber que gostava de outro garoto e que se vestiu de mulher para ajudar numa farsa. Papai me mataria.

E, enquanto pensava na fraqueza que deu brechas a Jeongguk embaralhar seu dia, acompanhou pai e filho até um dos cafés-observatórios localizado em uma das pontes. Os dedos do Jeon fizeram sua mão formigar e ele se sentiu derretido quando um singelo beijo foi deixado sobre ela.

 

 

 

Separados por uma mesa divisória de acentos, Taehyung olhava para os dois homens sentados em frente a ele. Ambos murmuravam sobre as manias impertinentes da esposa de Woojin; gargalhavam alto quando Jeongguk fazia algum comentário pitoresco.

Via-se atraído pela boa áurea, compartilhando do mesmo assunto com os dois homens e rindo do modo como podia. Não estava em seus planos deixar que o Jeon mais velho soubesse de sua verdadeira identidade. Ele jamais o perdoaria; jamais perdoaria Jeongguk.

Imaginá-los se afastando e criando uma familiar barreira invisível lhe causava mal estar.

Tocou em seu milkshake de morango, dedilhando a grande taça de vidro e brincando com um pouco do chantilly disposto no topo. O sabor doce se desmanchou em seu paladar, enviando-lhe correntes elétricas de torpor.

Suspirou prazenteiro, notando o olhar do falso-namorado pesar sobre ele. Aventurou-se a sustentar o peso das órbitas meninis, arrancando um sorriso adorável do amigo de cabelos escuros.

Woojin apoiou seu queixo sobre uma das mãos, retendo para si a extrema química que ambos exalavam. A cena o fez se lembrar da esposa; por longos anos de namoro, ele olhou daquela forma para a mulher, e o olhar cúmplice e repleto de amor apenas se intensificou após o casamento.

Fazem um belo casal.

 — Gosto da forma como se olham. — Disse, carregando um singelo sorriso e atraindo a atenção dos mais novos. — Oh, não olhem para mim. Podem continuar com essa troca furiosa de olhares, eu não me importo.

As bochechas do Kim enrubesceram minimamente. Ele descobriu que os vocábulos de Woojin eram tão atrevidos e embaraçosos quanto os de Jeongguk. Beliscou um pouco da fatia de torta de brigadeiro que o homem fez questão de pagar, contemplando a vista do rio pela janela; o rio límpido que um dia já foi lamentosamente poluído.

 — Você já me falou sobre você, sobre os seus pais... — O mais velho ajeitou seus óculos de graus.

O de mechas rosadas tentava mentir o mínimo possível. Assumiu fazer o mesmo curso que Jeongguk, mas mentiu dizendo que sua universidade era outra. Foi sincero ao dizer que seus pais mal tinham tempo de vê-lo como deviam, mas mentiu a respeito da profissão que exerciam.

Kim Hyuna não devia ser tão semelhante a sua versão masculina.

Endireitou-se na espuma da poltrona, mostrando-se educada ao oferecer total atenção as falas do homem.

 —... Mas ainda não me falou sobre Jeongguk. O que você sente por ele é verdadeiro, linda criança?

Verdadeiro?

O garoto sorriu docemente. Naquele instante, sentia como se sete bilhões de pares de olhos estivessem se voltando para seu gesto de brincar com os próprios dedos.

Apaixonou-se por Jeon Jeongguk, e assumir aquilo não era algo que lhe dizia respeito; não mais.

Não quando se mutilava ao fingir não perceber os olhares quentes e toques enamorados do melhor amigo para cima de sua presença; não quando tudo o que mais desejava era beijar os lábios bonitos e dizer que as emoções eram um par idêntico.

Talvez o moreno já tivesse desistido dele, pois não ousou olhá-lo enquanto as palavras saiam de forma deveras natural de sua boca.

 — Eu me apaixonei por Jeongguk, tio Jeon. Eu juro que tentei evitá-lo de todas as maneiras possíveis, mas eu não tinha direito de impedi-lo de usar todas as artimanhas para me ganhar e tentar o que quisesse; nunca tive. Me apaixonar por Jeongguk não estava em minha lista de metas perfeitas, nunca esteve... Mas ele se tornou tudo o que um dia eu jamais imaginei precisar.

Sentiu um terrível bolo se formar em sua garganta, conforme, de súbito, as vistas febris do dongsaeng pareciam tentar perfurar sua pele e tocar seu coração. Aquele gesto sempre o faria se arrepiar como se dormisse em meio a uma noite de outono; sempre lhe arrancaria tudo o que o moreno quisesse — ainda que Taehyung demonstrasse isso com gestos contrários, afastando-o para apenas envolvê-lo em seu amor camuflado de amizade outra vez.

 — Me desculpe se eu nunca te deixei claro, Gukkie. — Ele tocou na mão pálida. — Você merece bem mais do que eu posso te oferecer.

 — Cale a boca, noona. — O mais novo agarrou sua mão, apertando-o com força e colando os dedos. — Eu te amo e jamais te deixarei. Apenas aceite que eu sou o cara certo para você. — Ele sorriu ladino. — E obrigado por, sabe, dizer que é apaixonada por mim; isso esclarece muita coisa.

Até mesmo suas orelhas se tornaram quentes quando Jeongguk beijou a ponta de seus dedos e Woojin bateu palmas — como se assistisse a uma peça romântica inestimável.

 — Hyuna é adorável, filho. Não a perca de vista.

 — Eu não a perderei, papai.

O garoto quase o mandou se engasgar com a própria língua, todavia, a aproximação repentina de uma das garçonetes o fez continuar em silêncio.

 — Peço licença aos senhores. — A jovem garota depositou um prato de porcelana em sua frente. Sobre a peça, havia uma generosa fatia de bolo de sorvete sabor napolitano. — Esse é o nosso principal prato da casa. Costumamos chamá-lo de Serenade, já que muitos casais partilham desse bolo enquanto desfrutam da nossa hospitalidade. Foi um gentil rapaz quem nos pediu para lhe enviar esse bolo como um singelo gesto de admiração.

Ele olhou para o bolo, logo analisando a face incomodada de Jeongguk. Uma das sobrancelhas alheias estava arqueada; os braços cruzados numa ação que indicava completo desprazer.

Não sabia o que fazer.

Cobriu-se um tanto mais com o suéter vinho, sentindo-se, de repente, abundantemente exposto sob o olhar de qualquer pessoa.

O moreno olhou para as costas da garçonete antes de retornar seu olhar ao bolo. Desdenhou dos confeitos sobre a camada generosa de creme; a camada de chocolate não lhe era nem um pouco atrativa com seu aspecto de terra e sabor ainda pior.

Suas íris flamejantes se voltaram para cada face masculina presente naquele café, só então notando o número de homens que veneravam Taehyung como se o garoto fosse uma divindade intocável. Até mesmo rapazes acompanhados se arriscavam a fitá-lo de esguelha.

Seu sangue borbulhou.

Levantou-se de seu assento, jogando-se ao lado do garoto de peruca e abraçando sua cintura com possessão. Puxou-o para perto de seu peito até que não sobrasse uma única lacuna entre seus corpos.

O Kim não fez qualquer menção de afastá-lo.

Aquilo despertou um gostoso frio na barriga de Jeongguk, enquanto ele se se permitia aconchegar contra o corpo esguio e mascarar sua face entre as tênues linhas do pescoço acobreado, deixando um beijo carinhoso na tez perfumada.

Ele se sentia no direito de mostrar a todos aqueles homens que Kim Taehyung era sua exclusiva companhia, mesmo que fingissem algo fantasioso.

Não eram namorados; fingiam não se importar.

 — Gukkie, não faça esse tipo de coisa na frente do seu pai. — O hyung murmurou, engolindo um fraco arfar quando as presinhas alheias mordiscaram sua pele como pluma.

 — Eu não ligo, linda criança. — Woojin deu de ombros, pedindo permissão para comer um pouco do bolo de sorvete que lhe soava saboroso. — Eu era tão energético quanto Jeongguk quando sentia ciúmes da minha esposa.

O de mechas cor de algodão-doce inspirou profundamente, permitindo que o moreno domasse seu corpo e dedilhasse um milímetro da pele nua de seu abdômen. Preocupava-se com sua estabilidade mental posta a prova pelos toques excessivos do rapaz, e sua preocupação engrandeceu quando Jeongguk deixou o café-observatório com os braços enrolados em torno de si; peito grudado às suas costas e queixo apoiado em um de seus ombros.

 — Eu sei que não tenho direito algum, mas não quero que outros homens te olhem como se você fosse apenas uma garota bonita que eles encontram por aí todos os dias. Você é bem mais do que isso, e eu não quero que eles descubram isso.

Taehyung acabaria se desvairando.

 — Eles não vão descobrir nada. E é bom que saiba que tudo isso está acontecendo porque eu aceitei, Jeongguk. Então sugiro que controle seus impulsos se não quiser ficar sem me tocar pelo resto da vida, porque eu posso fazer isso... E garanto que você não vai gostar.

O moreno sorriu contra seus fios falsos. Tão inacessível.

 

 

 

O parque de diversões estava relativamente vazio naquela noite. Taehyung e os Jeon’s não precisaram aguardar muito para experimentarem os brinquedos mais radicais; a fila mediana nas barraquinhas contribuiu para que Jeongguk jogasse mais rápido e ganhasse mais presentes.

Woojin precisou colocar todas as pelúcias e acessórios dentro de uma sacola, enquanto caminhavam em direção à roda-gigante.

O Kim segurava um adorável leãozinho de pelúcia, sentindo a juba sintética fazer cócegas contra seu pescoço. Também sentiu quando o polegar do melhor amigo deslizou delicadamente sobre sua mão. Jeongguk se acostumou à sensação de segurá-la frequentemente.

Na forma como os dedos se encaixavam, sentia algo fora de sua concepção.

Não imaginava que a mão de Taehyung fosse tão macia e que o calor natural provindo dali o fizesse parecer um louco obsessivo.

Ambos fitaram as gigantescas rodas que piscavam luzes alternativas. As luzes que caminhavam pelas torres atraíram a atenção do garoto de fios rosa. Nunca foi fã de altura, contudo, adorava montanhas-russas e rodas-gigantes.

A roda-gigante, em especial, era bela com seus segmentos de aço que acomodavam luzes de LED. A cabine na qual entrou era forrada por pequenas luzinhas azuis e avermelhadas — o que a tornava semelhante a uma pequena galáxia.

O mais velho observou quando Jeongguk se sentou a sua frente, franzindo o cenho quando Woojin acenou do lado de fora e disse que os deixaria terem um momento a sós. Engoliu seco, cruzando as pernas sob a saia azul e voltando seus olhos para o teto transparente da cabine.

Sentia os olhos negros queimarem seu rosto, contudo, recusava-se a olhar para o namorado de mentira. Era comum que ficassem sozinhos no mesmo ambiente, tendo em vista que dividiam um apartamento e dormiam no mesmo quarto, mas, em nenhum momento, sentiu um clima tão pesado quanto o que vivenciava no presente.

Imaginava que os orbes do melhor amigo acabariam derretendo sua face. Por uma fração de segundos, vislumbrou a imagem do moreno, e o que encontrou ali possuía algo de animalesco e deveras açucarado.

Não era frequente que Jeongguk o olhasse daquela forma — ainda que o garoto tivesse um precipício por ele.

Notou que sua ansiedade, de súbito, dava as caras enquanto o outro se levantava do assento e se sentava ao seu lado.

 — Hyung... — O Jeon chamou mansamente, abrindo um sorriso fácil quando viu Taehyung se afastar de seu calor e abraçar a pelúcia. — Hyung... Não vire a cara para mim, isso é feio.

 — Eu só estou admirando as estrelas. — O Kim murmurou.

 — Você sempre vira a cara quando tenta fugir de mim, sempre finge não me vê quando sabe que acabará me beijando se olhar em meus olhos. Você sempre faz isso.

Taehyung sentiu seu peito doer. Jeongguk não podia virar para ele e esfregar em sua cara tudo o que tentou esconder por anos. O moreno não tinha esse direito. Não tinha o direito de tocar seu coração e incitá-lo a desfazer todas as muralhas nascidas de um medo inconsciente.

Ah, ele sempre será alguém influente.

Deveria refazer sua máscara de indiferença antes que ela caísse de uma vez.

 — Mas o que diabos você está dizendo, Jeongguk? — Ele se virou para a voz rouca, retesando-se com a imagem dos lábios próximos demais. — Você não pode me dizer o que quiser e agir como se me conhecesse como a palma da sua mão.

 — Mas eu te conheço como a palma da minha mão, hyung! — O dongsaeng exprimiu manhoso, dedilhando o pulso alheio e o segurando com firmeza.

Taehyung nada pôde fazer para domar a série de borboletas que rasgaram seu estômago, como acontecia com o melhor amigo. O mais novo sentia o bater de asas ecoarem dentro de si. Elas eram puras e distintas.

A mão pálida largou o pulso do outro, embrenhando-se entre os fios longos e massageando algum ponto da nuca alheia. Seu hálito de chocolate quente — que tomou há meia hora — esbarrava contra a formosa boca degradê que desejava beijar desde o momento que a viu pela primeira vez, há cinco anos. O amigo nunca saberia que a primeira coisa que pensou ao vê-lo segurando o guarda-chuva vermelho foi o quão lindos seus lábios pareciam ao se tornarem roxos de frio.

 — Você ainda pode me dar um soco se desejar.

O hyung, porém, não disse nada, sequer parecia respirar quando Jeongguk fechou os olhos e se inclinou para mais perto.

Seu corpo partiu a distância e ele sentiu cócegas nos lábios que tocaram algo felpudo. Suas íris negrumes se abriram apenas para ver o garoto com o rosto virado e bochechas vermelhas, conforme pressionava a pelúcia para ainda mais perto de sua boca.

O moreno se sentiu frustrado. Notou que não havia chances; que amava o melhor amigo demais para obrigá-lo a algo. Nunca o obrigaria a nada.

Taehyung sentiu seu afastamento. Ouviu quando o rapaz suspirou e murmurou algo incompreensível. Suas mãos trêmulas pela ansiedade e apertaram o leãozinho. De seus olhos avelãs, uma pequena gota salgada pingou.

Seu medo irracional fazia o Jeon partir; caminhar para longe e sumir sob a neblina. Sentir o hálito de chocolate foi o mais próximo que conseguiu chegar do melhor amigo. Sentiu-se egoísta por desejar mais, e se sentiu arruinado quando o garoto ao seu lado se afastou para mais longe.

A roda-gigante girava lentamente. Ela mal parecia girar, conforme a noite os observava dentro daquela cabine.

O mais velho se rendeu.

Jeongguk se espantou com o forte puxão que recebeu em sua camisa branca. Suas costas colidiram contra o assento, e seu cérebro se tornou um borrão de sensações quando Taehyung se sentou em seu colo; uma perna se cruzando sobre a outra.

 — Eu amo você. — O hyung acariciou os cabelos de sua nuca.

Os dedos compridos oscilaram contra sua pele, enquanto os dentes do garoto se aproximavam e puxavam sua boca.

Taehyung se separou do contato.

As doces palavras se infiltraram em seus ouvidos, mas ele não foi capaz de julgá-las como equívoco. Apenas se concentrou nos lábios degradê que o beijaram com fervor.

Ele franziu o cenho, tomado por uma expressão de satisfação ao que fitava a boca acerejada do mais velho. Seu coração derretia; sua espinha arrepiava. Soltou ruídos irreprimíveis enquanto puxava as pernas cruzadas para mais perto, retrocedendo a beijá-lo de modo intenso, ainda que Taehyung controlasse a velocidade do ósculo — de modo que uma boca não deixasse de desvendar o grau de maciez da outra.

O de fios rosados suspirou constantemente quando Jeongguk lhe sussurrou um carinhoso “eu também amo você”.

Taehyung se via devastado. Não estava em seus planos se vestir de mulher e tampouco se confessar ao moreno, todavia, o resquício de emoção que guardava as sete chaves derreteu seu coração. Ele foi obrigado a mandar tudo para os ares e se deixar envolver pela estonteante essência do parceiro.

Sempre amou Jeongguk, e se deu conta de que outras circunstâncias convenientes como aquela não se repetiriam se apenas abrisse mão de sua felicidade e estabilidade sentimental.

Taehyung não passaria de apenas ruína se não enxergasse o outro ao seu lado.

Pensar em Minjae e Nayeon aumentou seu nível de ansiedade. Suas mãos inquietas se arrastaram abaixo dos fios negros do Jeon, dedilhando o contorno perigoso daquele maxilar e interrompendo a ação dos lábios rosados quando os afastou com delicadeza.

Jeongguk arrastou a língua pelo lábio inferior, vedando os olhos e sentindo o sabor alheio que passou por ali, conforme o polegar da mão do companheiro deslizava pela carne delicada de sua boca. Sofria um conflito interno entre algo que sempre desejou e a realidade.

Para ele, o beijo de seu hyung preferido era fantasia.

 — Seu beijo... foi mesmo real? — Abriu os olhos para o mundo onde vivia, topando com a mesma maciez das pernas acobreadas sob seu tato. Os mesmos olhos expressivos. A mesma boca não mais perfeitamente degradê.

O que via era uma bagunça de dois tons; uma mescla embaralhada, que imaginava também estar espalhada em sua própria boca.

 — Nós somos reais. — O garoto frisou, beijando-o uma vez mais e colando ambas as testas ao roçar os narizes. — O que eu farei quando contar ao papai e a Nayeon que sempre amei um garoto?

O mais novo notou a tensão em seu tom embargado.

Abraçou-o carinhosamente, entrelaçando as mãos. — Eu estarei aqui para você, sempre. Nós sofreremos juntos.

Taehyung sorriu. O Jeon não carecia lhe enganar com falsas palavras esperançosas; não carecia lhe dizer que tudo ficaria bem quando ele sequer podia enxergar o futuro.

Nós sofreremos juntos.

De modo estranho, a veracidade daquelas palavras lhe trouxe paz suficiente para se deitar no peito alheio e aguardar que a roda-gigante parasse.

Despedir-se-ia das luzes ofuscantes com o coração mais pacífico.

 

 

 

— Eu me diverti muito, crianças. — Woojin destravou as portas do carro que estava estacionado atrás do carro de Jeongguk. Suas íris curiosas pairaram sobre o rosado artificial da boca de Taehyung e a mesma tonalidade nos cantos dos lábios do filho. Sorriu pequeno. — Como acredito que vocês também se divertiram muito naquela roda-gigante.

 — Pai! — O moreno protestou, enquanto o parceiro cobria o rosto com as longas mechas cor-de-rosa. — Volte ao hotel com segurança. Te faremos uma visita amanhã.

 — Eu vou esperar ansiosamente por isso. — O homem beijou a testa do garoto, abrindo os braços para Taehyung e o embalando num aconchegante abraço. — Foi um prazer conhecê-la. Quero que cuide do meu garoto para sempre, tudo bem?

 — Eu prometo que cuidarei dessa criança para sempre. — Os dedos longos do hyung beliscaram a bochecha pálida do companheiro, manchando-a de um tom carmesim.

 — Até amanhã, queridos. — Woojin lhes deu as costas, abrindo a porta do automóvel — A propósito, — Ele se virou de repente, atraindo a atenção dos rapazes que caminhavam rumo ao carro de Jeongguk. — Você fica muito bem de saia, Taehyung.

Ambos estacaram no lugar.

Taehyung experimentou a sensação de entranhas se embolando, enquanto Jeongguk gemia a alusão de sentir um balde com água fria sendo despejado sobre sua cabeça.

Os olhos escuros do filho esbarraram com os divertidos do pai, que deu vida a uma curta risada antes de abanar uma das mãos.

 — O quê? Achou mesmo que eu não notaria so seu melhor amigo de peruca e maquiagem, Jeongguk? Vocês dois têm várias fotos juntos nas redes sociais, e eu sou alguém bastante observador. — Silêncio. — Não me olhem assim, garotos. Eu continuo os aprovando como namorados e minha esposa também. Ela só te empurrava para a filha das amigas por medo de vê-lo se machucar ainda mais enquanto Taehyung se relacionava com outras garotas, Jeonggukie... Mas, agora que vocês dois estão juntos, é possível que ela faça uma festa de comemoração. Até amanhã, crianças. — Ele piscou, entrando no carro e dando a partida.

O filho sentiu o celular vibrando no bolso, logo desbloqueando a tela e observando uma mensagem de Woojin.

“Sua mãe e eu realmente os aprovamos! Desejo-lhes felicidade!”.

Pensavam que aquilo fosse algum tipo de miragem virtual confundindo seus olhos, mas tudo não passava de uma reconfortante verdade. Viam-se espantados demais para digerir o ocorrido, e achavam que desse modo continuariam enquanto faziam o caminho de volta ao apartamento.

O Kim não controlou o sorriso fácil por mais tempo, fitando o companheiro que sustentou a conexão de olhares durante um segundo ao que sorria para ele.

 — Tio Jeon é uma pessoa incrível. — O Kim exprimiu contente, logo se concentrando no toque agudo de seu celular.

Mordeu a boca com força ao notar o nome de Nayeon brilhar sobre a tela. Há alguns instantes, decidiu que diria a garota que não poderiam manter um relacionamento amoroso, mas não desejava que aquela decisão fosse dita tão rapidamente.

Ponderar sobre a forma que lhe explicaria seus motivos era uma questão primordial. Não era capaz de dizer se Nayeon o perdoaria por amar Jeongguk.

 — O-Oi, Nayeon.

Os olhos intensos de Jeongguk flagraram seu rosto.

 — Taehyung... Você não me perdoaria se... se eu te dissesse que me apaixonei por outro homem? Eu quero que tudo entre nós seja resolvido antes de eu poder dizer que amo ele. Esse garoto... Ele é meu amigo de infância; um amigo que pensei ter perdido para sempre. Te trair seria algo completamente desumano, Tae oppa. Por favor, me perdoe.

 — É claro que eu te perdoo, Nayeon... Eu também amo outra pessoa. — Os olhares se cruzaram novamente, seguindo uma onda elétrica que os arrepiou.

 — Eu desejo que você seja muito feliz, oppa.

Após o encerramento da ligação, o garoto amoleceu o corpo, afundando-se no banco e recuperando metade de seu oxigênio. Não teve coragem suficiente para dizer a amiga que a traiu, embora ela não precisasse saber o que ocorria entre Jeongguk e ele.

A outra metade de seu oxigênio ainda pertencia ao pai. Recordar-se das feições do homem não cooperava para seu estado mínimo de relaxamento.

Tudo o que mais necessitava era a confirmação de que tudo se tornaria bem. Não possuía qualquer certeza, porém.

E aquilo o sufocava.

 — O que foi, TaeTae?

A voz rouca lhe despertou. Desabafar com o companheiro era tão revigorante quanto banhos quentes em noites de inverno. Tirava-lhe um peso terrível dos ombros. — Eu estou pensando no meu pai, Gukkie. E se ele não—

Sua linha de raciocínio foi interferida pelo toque do seu celular outra vez. Tinha quase certeza que a casualidade do universo participava ativamente do desespero que o assolava quando o nome de Minjae surgiu de repente sob seu olhar.

Não teve plena coragem para atendê-lo, o que lhe rendeu outra ligação inesperada. Naquele instante, Jeongguk já havia estacionado em frente ao apartamento.

Jeongguk o olhava com indiscrição. — Não vai atender, TaeTae?

 — É o meu pai, eu não posso atendê-lo. — Taehyung entregou o aparelho nas mãos do garoto, encolhendo-se contra o banco e engolindo um soluço certeiro quando Jeongguk o atendeu em seu lugar.

 — Jeonggukie? Onde está o meu filho?

 — Digamos que ele esteja um pouco... fora de órbita no momento, tio Kim.

O coração do Kim mais novo se acelerava a cada palavra que o moreno trocava com seu pai; uma porção de palavras se embaralhavam em sua mente, fincando-o num universo alternativo de plena confusão.

Não saberia viver sem a aceitação dos pais; sem a aceitação de Minjae.

Um horrendo calafrio subiu por sua espinha quando o Jeon ativou o modo viva-voz.

 — Filho? Eu sei que você está aí e sei que se vestiu de garota para ajudar o Jeonggukie. Woojin me telefonou agora pouco me contando o que viu e eu não entendo... Não entendo porque nos escondeu que está namorando seu melhor amigo. Por que não contou aos seus pais, Kim Taehyung? Nós poderíamos estar comemorando sua meta de relacionamento juntos, mas você preferiu nos esconder.

 — M-Mas, pai... — Ele engoliu o bolo de lágrimas. — Quando você me contou sobre seu voo a Berlim... O casal que você disse achar...

 — Eu disse que o beijo deles foi algo bizarro. Não estava me referindo ao fato de dois homens serem um casal. Nem mesmo eu beijo sua mãe dessa forma em frente a desconhecidos... Eu não posso acreditar que você não nos contou sobre a sua orientação sexual por medo de pensar que não te aceitaríamos, Kim Taehyung! Você é nosso filho, te amaremos para sempre!

Naquela noite, Taehyung chorou, e passou as últimas duas horas dentro do carro do parceiro conversando sobre tudo que o afligiu por mais de seis anos.

Jeongguk secou suas lágrimas, beijou suas mãos e lhe tomou a razão ao dizer que tudo se tornava bem como ele previu.

  — Cuide dele, Jeongguk. Ele é tudo o que temos. — As palavras da Sra. Kim foram doces; gentis.

Taehyung se encostou à parede do corredor após trancar a porta. Os lábios de Jeongguk maltratavam os seus, tornando-os ainda mais avermelhados. Os dedos grossos eram gentis ao tocarem em sua cintura.

 — Está com medo de me tocar? — Perguntou debochado, ao que abria os botões da camisa branca, despindo o tronco do mais novo.

 — Eu não quero levar um soco ou algo do tipo se eu tocá-lo em pontos estratégicos. — O moreno lhe respondeu com falta de ar, empurrando-o para o quarto que dividiam.

 — Eu deixarei que você me toque da maneira que quiser.

Suas costas se afundaram contra o colchão, enquanto ele observava o garoto se desfazer de suas botas mostarda e deslizar os lábios de pêssego por suas pernas longas.

Os dedos curiosos dedilharam sua saia azul, e eles se perderem entre mil fios ao rasgarem a meia que grudava contra suas coxas.

Não fazia ideia de o porquê gemeu com o ato animalesco.

 — Sou eu quem causará a sua maior série de borboletas no estômago hoje à noite, amor. — Jeongguk beijou sua boca, transferindo-lhe sensações que outrora achou ter perdido.

Taehyung conseguia ver apenas o outro; o garoto que deu vida às assustadoras asas coloridas em seu estômago.

O garoto o incendiava; fazia-o sorrir incontrolavelmente.

E não existiria nada em sua realidade particular além de Jeongguk, ele, e os incontáveis clichês de uma noite.


Notas Finais


Espero que tenha gostado, unnie! Eu amo você e quero que sempre tenha em mente a pessoa incrível, doce e fantástica que é. Tenho muito orgulho de ser sua amiga. Você foi uma das melhores pessoas que eu já conheci. Obrigada por ser minha alegria. ;)

*
Traje do Taehyung 一 descartem o all star branco 一: https://lh4.ggpht.com/-ehpm8vUZnEY/VvjwgFPWiJI/AAAAAAAMKFc/oGhnFpxJs0E/w1000-h800/8tin.com-valen-shop-03-28-2016.jpg

Peruca: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/ad/08/ea/ad08eaf4553f5d2d556a16738099243f.jpg

Sutiã de tiras (sutiã strappy) 一 imaginem ele branco 一: http://67.media.tumblr.com/7a31e824fc3c987405bd613e0b0424b6/tumblr_inline_nemrloBriK1qe99is.jpg

Meia-calça: http://www.depoisdosquinze.com/wp-content/uploads/2012/09/meia-tatuagem1.jpg

Coroa de flores: http://data.whicdn.com/images/66419525/large.jpg

Jeongguk (para quem não sabe ou não se lembra do Baepsae Day) 一 usando essa gif de exemplo só de filhadaputice 一 https://66.media.tumblr.com/0eac5685a56e26b5df3021a664b542d3/tumblr_inline_odi0zzRoWb1t7vmmi_500.gif


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Deem amor a one mais recente da Lari: https://spiritfanfics.com/historia/amor-e-chocomenta-6867633 (Não vão se arrepender). No perfil dela tem muto mais de onde essa veio.

Leiam também minhas fanfics mais recentes! ;)
PAR PERFEITO: https://spiritfanfics.com/historia/par-perfeito-5935346
CORPO CELESTE: https://spiritfanfics.com/historia/corpo-celeste-6198164

Também tem muito mais de onde essas vieram. @taehyungerie_ no twitter pra quem quiser.

Agradeço a todos que se disponibilizaram a ler 12k de palavras. Vocês são realmente incríveis e me despertam uma vontade imensurável de escrever mais e mais! Obrigada por me fazerem sentir viva, de coração. Espero que vocês possam dar muito a carinho a Kilig. ;)

DEIXEM UM GOSTEI AÍ PRA EU VER!
Estarei aqui lhes dando todo o meu amor!
Obrigada por tudo, gente! Amo vocês~


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