História Kairos - The Sound

P.O.V Lauren
- Digam tchau para a tia Taylor - pedi para Logan e Liam quando saímos do carro. Já era final de tarde, e minha irmã estava nos deixando na porta de casa depois do dia maravilhoso que tivemos no parque.
- Tchau, meus amores - minha irma acenou para os dois e Connor, preso em sua cadeirinha no banco de trás, balançou as maoszinhas - Você me liga mais tarde? - ergui o polegar e ela assentiu, dando partida no carro e desaparecendo rapidamente de nossa vista. Abri a porta, entramos em casa, e fui colocar uma roupa mais confortável enquanto os meninos corriam para ligar o videogame. Enquanto me trocava, chequei meu celular pela milésima vez naquele dia e encontrei o mesmo de sempre: sem chamadas perdidas ou novas mensagens de Camila. Suspirei, triste, e voltei a guarda-lo na bolsa. É isso, Lauren, acabou.                                          Troquei meu vestido de algodão por uma calça de moletom e uma blusa de manga curta e joguei uma água fria no rosto antes de ir para a cozinha preparar o nosso jantar. Porém, a medida que eu me aproximava da sala reconheci uma voz alta e grave, que destoava da voz dos meus filhos. Brad estava no sofá, jogando tranquilamente com os meninos, e tinha Logan sentado em seu colo. O terno preto como sempre perfeitamente alinhado e o cabelo penteado com gel, escuro como seus olhos. Quando me viu, parada na entrada, abriu um sorriso no canto dos lábios. Aquilo nunca era um bom sinal.
- Mamãe, olha quem veio ver a gente! - o mais velho falou alegremente, dando pulinhos - O papai!
-  Eu...eu estou vendo, filho - tentei sorrir - Boa...boa noite, Brad.
- Boa noite, Lauren - continuou imóvel, com o mesmo sorriso no rosto.
- Você...você vai levar os meninos para algum lugar? 
- Não, na verdade eu vim aqui falar com você.
- Com...comigo? - meu coração parou ao vê-lo afastar Logan de seu colo e levantar do sofá, vindo em minha direção.
- Sim. Mas esse tipo de conversa não vamos ter aqui. Que tal você me guiar até o seu quarto? 
- Brad, por favor... - sussurrei em desespero e ele riu.
- Você precisa aprender que nunca vai conseguir esconder nada de mim, Lauren. 
- Do que você...
- Cala a boca - rugiu e em seguida acertou um tapa estalado em minha bochecha. Os meninos arregalaram os olhos e eu balancei a cabeça, segurando as lágrimas, e sussurrei um "está tudo bem" enquanto Brad me arrastava para o quarto. Me jogou na cama e bateu a porta atrás de nós.
- Eu achei que você fosse melhor do que isso, Lauren - balançou a cabeça varias vezes, negando em desaprovação - Pelo visto já esqueceu tudo que eu te ensinei.
- Por Deus, do que você está falando? - perguntei quase que inaudível. Meu coração batia tão alto que enchia todo o quarto e ficava difícil conseguir escutar outro som.
- Não se faça de cínica, sua vagabunda - acertou outro tapa forte em meu rosto e eu apertei os olhos quando o senti latejar - Sua vadia de quinta, nem mesmo para arranjar um homem que te queira você presta...quer dizer que agora anda se esfregando por aí com mulher, não é? Na frente dos meus filhos!
- Eu não... - tentei falar mas ele me calou com outro tapa, que dessa vez me fez bater a cabeça com tudo na cabeceira da cama e eu soltei um grito de dor.
- Camila o nome dela, não é? - falou e eu me encolhi ao ouvir aquele nome tão doce sair daquela boca podre -  Bem que eu desconfiei naquele dia...sinto cheiro de gente imunda de longe! Aluna da Taylor, 19 anos, cursa jornalismo, divide um apartamento com mais três amigas...que tal se eu ligar pra ela e marcar uma reuniãozinha, só nós três? 
- Por favor, não faça nada com ela - implorei e quando percebi, as lágrimas já rolavam por meu rosto - Por favor, deixe a Camila em paz, ela não tem culpa de nada.
- Olha só, defendendo a namoradinha - falou entre os dentes - Você não tem vergonha mesmo, não é, Lauren? Eu te amo, sua vagabunda, e é assim que você retribui meu amor e tudo que eu já fiz por você? Fodendo com uma pirralha, uma lésbica nojenta! - fiz menção de abrir a boca para tentar falar mas ele acertou um muro no meu olho e eu tombei pra trás, tocando meu super cílio e sentindo minha mão se encher de sangue - Eu achei que tinha te ensinado a ser a minha vadia durante todos esses anos mas pelo visto você esqueceu, não é? Esqueceu como é ser fodida de verdade - e enquanto falava, começou a desabotoar suas calças. 
- Não! - arregalei os olhos ao perceber o que estava por vir - Não! 
- Calada, sua cadela - me acertou com outro tapa - Não finge que não gosta - subiu na cama e eu tentei me afastar, mas ele cravou as unhas no meu braço e me jogou contra a cabeceira de novo, me deixando sem saída. Com uma das mãos segurou meus pulsos juntos, e com a outra, apertou meus seios por cima do sutiã, me fazendo soltar um gemido de dor. Depois, com as mãos ásperas, abaixou minhas calças, até a altura dos joelhos, e com força afastou minhas pernas, se posicionando no meio delas.
- Por favor, não - solucei, já sem forças. Meu corpo inteiro tremia. 
- Quanto mais você nega, mas me excita, meu amor - mordeu meu pescoço e eu grunhi, enojada. A qualquer momento eu vomitaria - Eu vou te foder tanto que a Camila nunca mais vai querer tocar em alguém tão suja como você, Lauren.

P.O.V Camila
- Mila, sabe aquele restaurante japonês que a gente foi no aniversário da Dinah? - Ally perguntou enquanto dirigia, sem tirar os olhos da rua, e eu murmurei que sim - A comida é uma delicia, né? A gente podia passar lá agora, o que acha?
- Pode ser - dei de ombros e então suspirei - A Lauren adora sushi.
- Nossa, sério? Bom, então melhor não né, pra você não ficar lembrando...que tal então aquela hamburgueria perto da faculdade? Eu adoro o X-bacon de lá.
- A Lauren também...já fomos lá duas vezes. 
- Chega, Camila! - Ally berrou tão alto que eu me assustei, dando um pulo no  banco do carona - Eu não aguento mais você falando da Lauren o dia todo! "Lauren ia adorar esses quadros", "Essa é o cheiro do perfume favorito da Lauren", "com certeza a Lauren teria rido dessa piada" - imitou minha voz em cada frase - Admite logo que você não aguenta ficar um segundo longe dela e que já está morrendo de saudades.
- Eu, com saudades da Lauren? Depois do que ela fez? - ri nasalmente, fingindo observar minhas unhas - Por favor né, Ally.
- Então tá bom né - deu de ombros - Meu Deus, Mila, olha a Lauren ligando!
- Cadê?! - dei um pulo no banco para alcançar o meu celular. Quando o peguei, vi que não tinha ligação nenhuma e que a Ally estava só zoando com a minha cara.
- Tá vendo aí?! Você está louca pra falar com ela! Deixa de ser orgulhosa, você disse que respeitaria o tempo dela e logo na primeira vez que acontece algo a deixa sozinha sem ouvir o que ela tem a dizer? 
- Pior que você tem completa razão - mordisquei meu lábio inferior.
- Eu sei. Imagina como ela deve estar se sentido agora, Mila? Vai, liga logo! Senão quem vai ligar sou eu.
- Tá, tá bom! - revirei os olhos antes de pegar o celular de novo e digitar o nome da Lauren que eu já sabia de cabeça. Antes mesmo de completar dois toques, caiu na caixa postal. Franzi as sobrancelhas - Caixa postal, estranho.
- Tenta de novo - fiz o que ela mandou e o mesmo aconteceu. Repeti mais duas vezes e nada mudou - Bom, vai que ela saiu e está em algum lugar sem sinal.
- Lugar sem sinal em Miami? Não, não...isso está...está meio estranho, não sei, fiquei nervosa agora.
- Calma, amiga, você não tem o telefone de casa? Liga pra lá.
- Verdade - como eu não tinha pensado nisso antes? Rapidamente abri meu celular na lista de contatos e liguei para o telefone fixo. 

LIGAÇÃO ON
- Alô?
- Alô, Liam? - imediatamente reconheci a voz dele - É a Camila.
- Oi, Camila! 
- Oi, meu amor. Tá tudo bem com vocês aí? - perguntei mas de repente lembrei de uma coisa - Ei, mocinho, sua mãe não disse que você estava proibido de atender o telefone?
- Disse, mas ela não está aqui agora. Você não vai contar, não é?
- Não está aí agora? - franzi as sobrancelhas - E está aonde? 
- Com o papai. Ele está bem bravo - falou a última parte bem baixinho, como se estivesse com medo, e meu coração acelerou na hora.
- O seu pai está aí? Liam, passa o telefone para a sua mãe agora - minha voz saiu desesperada e eu senti ele ficar ainda mais nervosa.
- Não da, eles estão no quarto com a porta fechada. Camila, eu estou com medo - choramingou.
- Eu...eu estou indo pra aí agora, meu amor, já estou chegando. Segura firme, ok? - concordou.
LIGAÇÃO OFF

- Eu não acredito! Que droga, que droga! - soquei o banco com as mãos cerradas, sentindo todo o meu corpo se esquentar em um misto de raiva, preocupação e desespero - A gente precisa ir para a casa da Lauren agora! 
- Para a casa da Lauren? Mas o que aconteceu?
- O ex marido dela está lá e ele...eu tenho certeza que ele vai... - gaguejei - Ally, mais rápido! - gritei e ela acelerou ao máximo - Eu vou ligar para a polícia - falei, já discando o número no meu celular com os dedos trêmulas.
- Polícia? Calma, Camila, você nem sabe o que está acontecendo realmente e...
- Ally, eu sei que tem alguma coisa muito errada! A Lauren está em perigo - sussurrei sentindo se formar um bolo enorme em minha garganta - Aquele cara é um doente, é um louco!
- Você acha que ele podem ter descoberto sobre vocês duas?
- Eu não sei, eu não sei...não estou conseguindo pensar direito. Se aquele cara tocar nela, se ele só encostar nela eu...eu...
- Amiga, calma! Por favor não faz nenhuma besteira - falou, e antes mesmo que pudesse parar o carro na frente da casa, eu saí correndo. A porta estava entreaberta, e eu voei para o quarto da Lauren.                            "Por favor, não" 
       "Quanto mais você nega, mas me excita, meu amor. Eu vou te foder tanto que a Camila nunca mais vai querer tocar em alguém tão suja como você, Lauren"
  Quando abri a porta do quarto com tudo, minhas pernas falharam ao ver aquela cena. Lauren se debatia na cama, soluçando em desespero, enquanto Brad estava só de cueca por cima dela, tentando tirar suas calças. 
- Eu vou matar você - gritei entre os dentes, e avancei em Brad com todas as minhas forças, apertando minhas mãos ao redor de seu pescoço - Seu desgraçado, eu vou matar você! 
- Oh meu Deus - Ally cobriu a boca quando entrou no quarto, dando espaço para que os dois policiais que a seguiam passassem. 
- Bradley Simpson, você está preso por tentativa de estupro - o negro alto deu voz de prisão, prendendo suas mãos com uma algema. Brad revirou os olhos, rindo, sem nem ao menos tentar resistir.
- Fica longe da minha mulher, seu filho da mãe. Se você tocar nela de novo, eu mato você! - cuspi, e quando fui avançar nele de novo, Ally me segurou pelos braços. 
- Senhorita, por favor, não me faça te prender também -  o policial falou e eu soquei a porta do armário, tentando descontar minha raiva enquanto levavam Brad para fora da casa.
- Camila, por favor, se acalme - minha amiga pediu, aplicando mais força em meus braços - A Lauren precisa de você - Lauren. Quando olhei para a cama, a visão que tive partiu meu coração em mil pedacinhos. Lauren estava encolhida na cama, aos pratos. Parecia tão pequena, tão frágil e exposta.
- Amor - a abracei forte e ela se aninhou em meus braços. Seu corpo estava gelado - Tá tudo bem agora, amor, tá tudo bem. Eu estou aqui. 
- Eu...eu...ele... - mal conseguia falar.
- Shiiiiu, não fala nada agora. A gente precisa te levar em um hospital... - toquei levemente em seu rosto inchado, com um corte no super cílio e com várias marcas roxas. 
- Na...não, não quero. Só...só me tira daqui, por favor. 
- A gente vai pro meu apartamento, tá bom? - acariciei seu rosto calmamente e ela assentiu. Seu olhar estava vago, perdido, e aquilo estava me assustando - Você não volta mais pra cá sozinha.