História O Oculto Sobre Os Deuses: Alpha 01 - Capítulo 1

Tayo

Um breve período de silêncio dominou a sala, eles estavam confusos, preocupados e nervosos, nunca tiveram que fazer nada parecido, principalmente Tayo – que fora o primeiro – mas, mesmo assim ele começou a falar:

            Não posso contar exatamente de onde vim, simplesmente não me lembro de nada antes de eu estar na montanha, você deve estar se perguntando “mas que montanha?”, bom, é a minha memória mais antiga, a primeira, eu não sei como, nem porquê, nem exatamente quando, mas, eu estava no chão, não sabia onde estava, se era um sonho, se eu estava acordando, simplesmente desnorteado, não me lembrava de nada, estava vestido com umas roupas simples e um sapato velho, sentia muito frio, eu não estava lá há muito tempo, o chão estava gelado ainda, e úmido, até demais, mas não liguei muito, me levantei, e me assustei com a vista que tive, estava próximo ao pico de uma montanha, poucos metros à frente de onde eu estava, uma queda livre, um abismo, eu não queria nem um pouco ir pra lá, atrás de mim, uma longa descida, mal dava pra ver o chão, era uma descida longa e provavelmente cansativa, não conseguia ver nenhum animal também, dificilmente eu encontraria comida.

Não sei muito o motivo, mas simplesmente corri, e me joguei. Eu não entendia o que estava acontecendo, nem o porquê, mas... sentia que podia fazer isso, sabe. Quando percebi, estava caindo muito rápido, entrei em pânico, minhas mãos começaram a pegar fogo, mas não as sentia ardendo, sentia apenas a pressão do vento nelas, e as chamas não apagavam, não estranhei aquilo, na verdade até me senti melhor quando vi, era como se soubesse que isso estava acontecendo por minha vontade, o chão estava cada vez mais próximo, e não queria virar purê, então coloquei minhas mãos para frente, eu não queria morrer ali, senti a velocidade estava diminuindo, então abri meus olhos, o fogo nas minhas mãos estava sendo direcionado para baixo, e eu conseguia controlar perfeitamente a intensidade e a direção – eu estava tão cheio de perguntas sem resposta, e cada vez vinham mais – então eu consegui descer em segurança por assim dizer. Olhei para cima por um tempo, observando as nuvens e me perguntando o porquê de eu estar ali, e o que havia acontecido antes, mas não tenho respostas até hoje.

Então comecei a andar sem rumo, em direção ao horizonte, não sabia onde iria parar, nem quando, mas não queria ficar ali parado.

Após vagar por algum tempo, entrei em uma floresta de árvores finas e longas, e avistei uma estrada de terra e segui por ela, esperava chegar em alguma vila ou algo do tipo, mas não sentia que estava saindo do lugar, como se estivesse parado no mesmo lugar, a paisagem não mudava, e uma névoa ia ficando cada vez mais densa e eu estava ficando um pouco tonto com o tempo, mas segui em frente, olhando baixo, apenas observando meus pés e o chão se movendo, continuei assim por algum tempo, até que já não via mais o chão, somente meus pés se movendo, então levantei a cabeça e olhei para frente, também não enxergava nada além de um cinza denso, estava muito difícil para respirar, o ar estava muito pesado, senti algo leve mas diferente envolvendo meus pés, era algo negro, muito escuro e estava aparentemente cobrindo totalmente o solo ao meu redor, então ouvi passos, ficando rapidamente mais altos, mas, eu não sabia de onde vinham, ouvia de todos os lados o mesmo som ao mesmo tempo, até que subitamente parou e ouvi o barulho de algo sendo perfurado e de ossos quebrando subitamente, então a névoa rapidamente se dissipou.

Eu estava congelado de medo, não sabia o que tinha acontecido, não sentia nada, nem o vento, eu imaginava se tinha morrido, então olhei para minhas mãos e braços, havia sangue neles, “esse é o meu sangue?” eu me perguntava, mas olhei para meu corpo, e vi minhas roupas limpas, não havia nenhum sinal de ferimento, então me virei rapidamente e vi 4 corpos empalados por lanças negras que saiam de sombras no chão, essas sombras que estavam saindo da névoa negra nos meu pés, eu fiquei indiferente quanto aos homens mortos eram provavelmente traficante de escravos, não tinham o que roubar de mim mesmo, mas tinha uma oportunidade, e eu não ia desperdiça-la, então pilhei os corpos, peguei algum dinheiro que eles carregavam, uma faca, um relógio – sou péssimo em “medir” o tempo então foi de grande utilidade –, e uma mochila que um deles -carregava, ela estava intacta e continha algumas roupas novas, um pouco de comida, alguns celulares roubados e uma braçadeira estranha.

Após trocar minhas roupas pelas novas, eu segui em frente e encontrei um cruzamento, onde o caminho de terra acabava e se iniciavam duas estradas de paralelepípedo, uma que seguia à minha esquerda e outra que seguia em frente, infelizmente não havia placas por ali, então eu não fazia a mínima ideia de onde estava, ou mesmo de onde estava indo, ou mesmo por onde eu deveria seguir, não tinha a mínima ideia de onde iam dar, ou mesmo se chegavam em algum lugar, eu não podia escolher um caminho que desse em lugar nenhum, eu só me cansaria em vão. Era mais ou menos meio-dia, o sol estava no centro do céu, eu não poderia ficar ali por muito tempo, tinha que andar logo, só restavam mais 6 horas de luz, ou talvez menos, era provavelmente outono, todas as plantas estavam em uma cor mais amareladas, a paisagem que eu tinha beirava um tom pastel,  eu poderia ficar ali simplesmente observando e admirando até o chegar do pôr-do-sol, que deveria ser lindo, mas por algum motivo eu sabia que tinha que me mover, eu tinha que chegar em algum lugar, eu só me sentiria seguro quando tivesse um lugar para dormir.

Por algum motivo eu decidi seguir pela estrada em direção à minha esquerda, eu caminhei por bastante tempo, e percebi que estava seguindo em direção ao oeste, já que com o passar do tempo o sol cada vez mais “descia” em direção ao horizonte à minha frente.

Continuei andando por muito tempo, já eram umas 6 horas, a lua, as estrelas e o profundo azul dominavam o céu noturno, mas ainda não havia chegado à lugar nenhum, eu estava exausto, minhas pernas doíam um pouco e eu estava com muita fome, já tinha feito algumas paradas, para comer um pouco da comida que estava na mochila, não tinha muita comida dentro dela, naquele momento só havia um pacote de bolachas pela metade, e um pacote de biscoitos quase vazio, eu peguei o pacote de biscoitos, e comi os três que estavam lá dentro; aquilo não me sustentaria por muito mais tempo, eu estava subindo um pequeno morro, ainda estava na metade do caminho até chegar à descida, eu precisava que tivesse uma cidade ali, eu não tive uma refeição descente até aquele momento, apenas petiscos e comidas pequenas, os peixes não tinham muita carne, por mais saborosos que estivessem, eu não morreria de fome, mas não sabia se teria energia o suficiente para  seguir em frente por mais tempo.