História Karma - Amnésia de bêbado

 Odeio despertadores. Como aquele som era irritante... tão irritante que me deixava com vontade de tacar aquela porra pela janela. Mas aquele toque não era do meu celular, não era mesmo. Minha cabeça poderia explodir a qualquer momento e eu estava prestes a morrer de sede, porém me revirei no meio dos lençóis relutante.

Misteriosamente o despertador parou, dei graças a Deus, porém eu continuava com um mal estar maligno. Aish, meu estômago estava estranho, alguém poderia o escutar a quilômetros de distância. Eu tava uma bosta, mais morto que não sei o que. Acho que se me enterrarem agora não iria fazer diferença.
— Jinyoung-ah. — O timbre um pouco mais rouco que o normal soprou em meu ouvido tentando me acordar, porém mesmo o mais suave que foi fez meu cérebro levar um soco.
— Hyuuuuung, só mais um pouquinho. — Falei manhoso, mas abri os olhos enxergando apenas sua silhueta no breu que estava o quarto. Espera, eu to aonde, meu caralho? Sentei rápido demais sentindo meu mundo girar e uma ânsia se apoderar de mim, tampei a boca com as mãos e acabei não escutando Mark pois não demorou muito para que eu corresse atrás do banheiro quase caindo no processo. Por um milagre a primeira porta que invadi era o banheiro e logo eu estava abraçado à privada botando meus órgãos internos para fora.

— Que eu saiba os sintomas da gravidez demoram a aparecer…  — Mark zombou encostado no batente da porta. Franzi o cenho confuso, percebi minha falta de roupas e antes que eu pudesse o xingar voltei a vomitar.  — Antes que faça perguntas idiotas, sua mãe ligou e ela quer conversar.  — Continuou num tom sarcástico, eu bateria nele se não estivesse morrendo. Quem vê Yien quieto pensa que essa cara de parede dele é porque ele é tímido. Tímido, meu cu! Ele é um barraqueiro e maldito de quinta, mais grosso que eu.

 — Cala a boca.  — Resmunguei encostando na parede gelada. Eu tentei por um segundo lembrar do que havia acontecido, no entanto minha cabeça só doeu mais com isso. Quanto mais eu tentava mais minha memória ficou nublada, ou seja, não havia jeito só perguntando para o louro.

— Nem parece a mesma pessoa me chamando de hyung a minutos atrás.  — Ele sussurrou com aquela expressão maligna, depois o YuGyeom reclama dos meus sorrisos, isso que é sorriso maligno. Depois de absorver o que ele disse quis me matar, por que raios estou chamando ele de hyung mesmo? Fazia anos que eu tinha parado com isso...

— Quer ajuda, ou já está melhor para tomar banho sozinho?  — Rolei os olhos dando o dedo do meio para ele. Odeio ressaca, ele me olhou incrédulo demais, o que deu nele? Levantei ignorando sua presença, provavelmente quem cuidou de mim foi ele… Meu humor estava no limite então arranquei a cueca que não me pertencia e me enfiei debaixo do chuveiro escutando uma risadinha do outro. — Dá para você falar comigo ou é tão difícil assim?

— Acabei de acordar. O que você tava esperando? Um beijo de bom dia? — Falei áspero sem me importar, aos poucos a imagem da gente enchendo a cara na sala dos Tuans ficou clara e meu coração se apertou com o porquê. Junior…

— Na verdade eu esperava. — Mark falou saindo do banheiro me deixando perplexo. Balancei a cabeça tentando tirar sua expressão um tanto quanto magoada da minha cabeça, ele deve estar sensível demais.

Não demorei a terminar meu banho, saindo pela casa apenas de toalha rumando ao tão conhecido quarto. O quanto bebemos ontem para que eu não me lembrar de nada? De repente corei com a cena que encontrei, Mark estava se trocando, o que não seria um problema se o clima não estivesse estranho e também pelos hematomas que ele tinha nas costas. Engoli seco, só posso estar a imaginar coisas. Passei por ele indo até sua gaveta, porém ele me puxou com força me assustando.

— Porra, Jinyoung! — Falou entredentes, fiquei sem entender caralho algum, mas cada vez eu ficava mais vermelho e com mais vergonha de estar desse jeito na frente dele. E droga, era só o Mark, isso não poderia estar acontecendo. O aperto em meu pulso se intensificou começando a me machucar de verdade, porém a expressão dele mudou drasticamente e uma lágrima escorreu pelo sua tez. — Qual é o seu problema? Eu não sei o que fazer… Não sei mais como agir! — Gritou. Fiquei em choque tentando entender o sentido de suas palavras, porém no fundo eu não queria mesmo entender. Não queria lembrar, não queria saber de nada, não podia.

— Mark, não faz isso. — Pedi fechando os olhos. Ele riu amargurado e me sacudiu, me neguei a abrir os olhos. Minha prioridade não era essa mais, aliás e nem poderia ser. — Você não sabe o que tá fazendo e você me conhece a ponto de saber que estou perdido. Mark, você é uma bomba relógio e eu não to afim de sofrer danos e muito menos te perder.

— Jinyoung, a única pessoa que não sabe de nada aqui é você. Tem razão, posso até ser uma bomba relógio, mas já detonei faz tempo, seu egoísta idiota. — Me largou com brusquidão. — Qual é o seu problema? Me fala, por favor, porque eu não aguento mais essa desculpa de amnésia de bêbado.

— Eu não sei do que você tá falando, Mark! — Gritei. Sentei na cama colocando a cabeça entre as mãos.

“— Jinyoung, promete não deixar tudo estranho? Promete se lembrar dessa vez?”

Levantei o olhar para o encarar sentindo meus olhos arderem, minha cabeça doía ainda mais se é que era possível. Aos poucos tudo foi se clareando…

“ Eu estava cansado de sempre me foder. Sinceramente... pelo menos dessa vez não podia dar certo?! O que eu fiz de errado? Balancei a cabeça de um lado para o outro entorpecido pela bebida. Meus pés seguiram um caminho proibido para a casa do Tuan, eu havia prometido que não iria mais encher o saco do Mark com esse tipo de coisa, mas era inevitável! Para quem eu iria nesse estado? Quem iria me chutar e depois me abraçar como se eu fosse morrer a qualquer momento só porque novamente eu estava chorando? Bati na porta segurando os soluços, porém ninguém atendeu então me sentei no chão mesmo esperando que o mais velho viesse me salvar.

De repente, me vi sendo carregado para dentro sob os resmungos do meu hyung. — Mark hyung! — Falei manhoso com os olhos cheios de lágrimas. Sim, eu era um estúpido sentimental quando bêbado. Ele me colocou no sofá com aquela típica expressão de mãe irritada, mas me toquei que ele não estava em casa aquela hora da noite. Que raios ele fazia a essa hora? — Onde você tava?

—Jinyoung, você realmente acha que tem condições de me perguntar isso? — Ditou grosso já puxando minha camiseta para cima. — Nem abre a boca e engole esse choro.

— Hyung, eu vou sair...

— Calado, não quero saber agora, seu empata foda. Vou te dar um banho e você vai dormir. — Disse mal humorado, abri a boca incrédulo, quer dizer que ele ia transar! Enquanto eu estou passando por isso, ele queria trepar com uma qualquer por aí.

—Yah! Eu não tô nada bem e você querendo comer alguém! Mark, sai daqui! — O empurrei sem conseguir fazer o magricelo se mover, o castanho rolou os olhos irritado. Meu lábio inferior tremeu e eu não consegui segurar o choro.

— Aqui é  a minha casa, tá doido? — Falou suspirando. Voltei a soluçar e ele ergueu os braços se rendendo. — O que houve? Vai , me conta. — Sentou do meu lado me puxando para um meio abraço.

— Eu vou trancar meu curso. — Desabei em seguida. Atuar era meu sonho, poder transmitir e tocar o coração das pessoas com sentimentos era meu maior sonho, mas havia acabado. Eu sabia que não deveria ter me envolvido com aquele idiota. Eu sabia.

— Por que você vai trancar o curso? — Ele ficou perplexo. Não consegui responder e fiquei apenas agarrado a ele chorando. Eu estava com raiva, me sentindo um lixo e ainda por cima quebrado.

— Jinyounggie? Vamos dormir? — Ele sugeriu, neguei com a cabeça e por fim encarei seus olhos preocupados. Sempre tive algo a mais por ele, sempre gostei demais do Yien… Me aproximei dele selando nossos lábios sem ter noção do que estava fazendo realmente, porém o mais surpreendente foi que ele correspondeu.

O selar inocente e singelo se tornou afoito até que Mark se desprendeu de mim fitando meu rosto corado.

— Eu preciso… Tenho que pensar. Você tá bêbado. Eu… Jinyoung, por que fez isso? — Falou confuso, dei ombros sem me importar procurando seus lábios novamente e ele não ousou negá-los.”

Puxei meus cabelos querendo não lembrar mais de nada, porém foi impossível. Tudo parecia voltar à tona.

“ — Estou começando a achar que você beber é só uma desculpa pra dormir comigo e fingir não saber. — Mark disse e eu mordi o lábio confuso.

— Já fizemos isso? — Perguntei corando em seguida. Minhas orelha queimaram e eu havia esquecido o porquê de ter chegado bêbado e chorando aqui. Ele se ajeitou na cama e ficou brincando com as mechas do meu cabelo.

— Você parece uma velha com alzheimer depois que bebe. — Riu tentando descontrair. — Mas sabe, eu não sei. Quer dizer, já não sei mais se faço isso porque sinto atração por você ou se sinto algo mais.

— Eu gosto de você, hyung. Mais do que deveria, desde o colégio. — Falei meio embolado e Mark riu me dando selinho.”

“ — Ah, vai se foder, Jinyoung! Cansei! Eu cansei! — Ele berrou comigo, eu não conseguia parar de chorar e mesmo assim Yien bateu a porta na minha cara com raiva. Assim que dei as costas escutei ele abrindo a porta de novo e me puxando para dentro.— Eu te odeio!

— Mark, por favor, deixa eu ficar. — As palavras saíram arrastadas demais por conta da bebida. O Tuan me empurrou contra a parede com violência, mas rindo amargo depois.

— Quando eu não deixo? Não quero saber do Jaebum, só cala a boca e chora.— Falou grosso indo para sala. Solucei alto encarando suas costas se distanciando de mim, meio cambaleando segui seus passos e o abracei com força. — Eu deveria te contar, mas não vou, Jinyounggie. Nem sei porque estou tão irritado. Nós não temos nada, não é? Eu continuo atuando como seu melhor amigo hétero e você como o amigo idiota.

— Hyung, o que eu faço? — Não sei se era a bebida ou o que, mas eu não estava entendendo porra nenhuma.

— O que você faz de melhor. Esquecer.”

Mark sentou do meu lado tentando se acalmar, o clima que se instalou estava estranho. Afinal eu transava com ele há mais de anos e não fazia ideia. Eu abria a boca várias vezes tentando balbuciar algo, no entanto não conseguia falar nada. Eu precisava beber de novo.

— Eu odeio você. — Mark sussurrou me fazendo o olhar. Meu coração se apertou. Por que sempre tenho que fazer merda? Sorri fraco fazendo uma careta estranha e coloquei a mão na coxa do mais velho. Não podia acreditar que eu faria isso. Não estava nem me entendendo, quem dirá sabendo lidar com tudo isso.

— Eu te amo. — Falei alto arrancando uma expressão cômica do louro. E a escola de samba estava realizando um ensaio no meu peito porque parecia que a qualquer momento meu coração iria saltar pela minha boca e deixar meu corpo.

Mark estava estático, me encarando de uma forma que me fez corar.

— Eu to muito confuso ainda, mas… Aish, é difícil para que eu fale isso, tá bom? Eu te amo, ok? Agora, por favor, não vamos falar disso até minha ressaca passar ou eu vou infartar. — Me atropelei com as palavras e Mark simplesmente me beijou ignorando meu pedido. Se bem que falar e beijar são coisas distintas.

☔

Não  sabia o quão filho da puta fui, porém Mark conseguiu ser mais trouxa que eu.

Simplesmente depois dessa não conseguiria o olhar nos olhos. Também, contei o segredo que queria guardar até mesmo de mim. Não sou bom em demonstrar sentimentos fortes e quando resolvo falar o louro finge que nada aconteceu mesmo depois de ter me beijado.

Mas isso era secundário, ambos estávamos preocupados com Junior e por isso que pela primeira vez estávamos agindo com bom senso.

Depois de horas sentado no quarto sozinho e pelado porque quando Mark saiu por aquela porta eu não me movi até então. Estava pensando numa solução plausível, mas nada me minha a cabeça. Então levantei indo pegar uma roupa do Tuan e assim que acabei de me vestir passei pela porta rápido demais querendo ir ao seu encontro.

Dei meia volta ao escutar passos no corredor e corri de volta para o quarto sentando na cama nervoso. Ajeitei a franja que insistia a ficar no meu olho e me remexi inquieto, os passos se aproximavam e eu prendi a respiração ao ver Mark e Jaebum cruzarem a porta.

Estava alucinando de novo? Me estapeei vendo os dois franzirem a testa confusos.  

— Encontramos ele, Jinyoung-ah. Sabemos onde o Junior está. — Jaebum falou sorrindo. Pulei da cama praticamente voando nele e abraçando-o com força. Meu Junior. Agora era só buscarmos ele. Larguei Jaebum me voltando para Yien que nos olhava nada feliz e o puxei para um beijo desesperado sem me importar com o outro ali.

— Parece que vocês se resolveram. — Jaebum disse, quebrei o beijo percebendo o que havia feito e dei uma risadinha nervosa. Preciso me controlar, que merda. Eu estava tão feliz.

— Vamos logo pegar meu bebê. — Falei sorrindo, Jaebum continuava com uma careta no rosto e Mark me olhava com um sorriso brincando no rosto.

Antes mesmo que um climão se instalasse peguei na mão do louro e sai o puxando pela casa ouvindo os resmungos do Jaebum.