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História Katrina - Capítulo Único - como nós um dia fomos


Escrita por: Moriah

Capítulo 1 - Capítulo Único - como nós um dia fomos


Não conseguia sentir suas pernas e braços no sentido mais real da expressão “não sentir”, estava entorpecida como se tivesse tomado um daqueles remédios que dão para cavalos. Não sentia seu corpo e não estava ali. Sabia que se enfiassem uma faca na sua perna sentiria sim, mas a dor não seria tão forte como deveria ser, tinha a impressão que na verdade seria uma dor incômoda e inferior como aquelas agulhas de medir glicose. Seria tão nada comparado a tudo. Uma dor certamente passageira, uma ferida que em breve cicatrizará, tão absurdamente diferente disto: do estágio onde chegaram.  

  Naquele momento entendeu porque alguns jovens costumam se cortar ou se ferir de algum modo, como um vício. É um teste que mostra para si próprio que apesar de tudo ainda se está vivo, que ainda sente algo, nem que seja apenas dor.  Ela ainda estava viva. Esses jovens querem ter uma dor física para que a dor sentimental não se compare à verdadeira, sendo assim esquecida em um canto, mas ela tinha certeza, antes mesmo de vê-lo novamente, antes mesmo de ouvir sua voz baixa e cansada, antes de ver suas olheiras sob os olhos, antes de sentir a pressão da sua presença tão familiar, que jamais superaria. Nem álcool, nem drogas, nem festas, nem remédios: nada a preparara para ele e nada a ajudaria a esquecê-lo. 

Sabe quando você sente seu coração apertar e sabe sim que a dor é psicológica, que é apenas o seu cérebro fazendo uma ligação direta entre a palavra "amor" e o seu coração? Fazendo com que toda vez que você tem o seu coração partido no sentido figurado, o seu de verdade – que bate e pulsa – seja sufocado, como se alguém pegasse ele em meio às mãos e apertasse com todas as forças esperando que se desfaça em pó. Trazendo uma dor tão real que tira o ar e as forças e dá vontade de arrancar o coração do peito, jogar fora e ver se cessa, se a agonia passa?

Katrina sabe bem o que é isso, foram incontáveis as vezes em que se sentiu assim.

O problema é que naquele momento tudo é o contrário: seu coração está em completo silêncio, em luto, como se até mesmo ele entendesse que não adianta mais. Como se nem tivesse um coração, mesmo sabendo que ele está ali dentro, no mesmo lugar de sempre, bombeando sangue.

Há um enorme abismo entre saber e sentir, o mesmo que há entre acreditar e confiar. Um dia quando contou para a mãe sobre isso a resposta que teve foi que a ponte que liga todos esses abismos entre si é o amor, ou algo assim. Katrina tem uma péssima memória quando se trata dessas coisas.

Ela achou tão piegas.

Mas exatamente ali, naquele momento, em plenos 24 anos de idade, não conseguiu prender seus pensamentos. Começou a divagar, começou a perceber que não é uma ponte bonita nem segura essa do tal amor, alguns pedaços já caíram e as cordas já estão velhas, qualquer ventinho faz a ponte balançar de um lado para outro, entretanto todos nós gostamos de ser radicais (ou alguma coisa do tipo ouviu por aí). Se permitir amar é receber uma injeção de adrenalina e então ser jogado no meio daquela ponte, você então começa a pensar em todas as formas de escapar e começa a agir com cautela (o que acha pouco provável, levando em conta que sua adrenalina está lá em cima) ou só sai correndo sem se importar, como um louco. A escolha vai de pessoa para pessoa e decidir o que vai fazer com tanta energia não é fácil.

Katrina acha que não soube fazer direito. Essa coisa da adrenalina de amar alguém, se é que isso faz sentido.  Talvez ela seja lesada e tenha ficado parada, esperando seu fim – que provavelmente seria despencar lá de cima.

Mas se seu coração ao menos doesse, sabe? – Ela jura que não reclamaria. Se seu coração doesse poderia odiá-lo e se o odiasse, poderia enfim esquecê-lo. 

A diferença é que essas pessoas que se machucam fisicamente encontram consolo no colo de alguém que na maioria das vezes em parte também é culpado pela dor. Como um cachorro que é xingado pelo dono, mas logo sai a sua procura  em busca de carinho. Ela não pode fazer isso, não pode voltar ao moço que a faz estar agora naquele prédio outra vez, não por ele estar distante, não, na verdade ele está ali, conversando com a secretária que claramente está se jogando em cima dele (motivo pelo qual o mesmo ainda não percebeu Katrina).

Fechou os olhos assim que o garoto fez menção de se virar, respirou fundo e se acalmou, quando os abriu estavam frios e sem vida, aparentava não ligar para tudo aquilo. Seus olhos se encontraram com os do rapaz e ao contrário da garota ele não pareceu se importar em demonstrar o quanto estava magoado. Ela não se importou com aquele olhar, ao menos queria não se importar.

Hoje ela seria Katrina e amanhã, ao acordar, tentaria ser de novo e de novo a cada dia. Espalharia notas pela casa para antes de sair não esquecer o sorriso falso e a segurança inexistente.

E Katrina ia começar naquele instante.

A partir daquele momento ela seria um furacão, seria o mais perto dela mesma que consegue se lembrar sem se importar com quem iria sair prejudicado, sem se importar se alguém iria se machucar. Estava cansada de fingir ser uma mera brisa quando poderia causar tempestades com um piscar de olhos.

Seria algo para o qual ninguém está preparado: tão e somente Katrina, um desastre natural de grande magnitude.


Notas Finais




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