História Kenna. - "O que você esconde?"

Após aquela noite e só conseguia pensar em como faria para conseguir mais giz. Eu poderia tentar invadir a sala de artes no almoço. Mas se fosse pega, eu teria que lidar com Carson, e eu realmente não queria. No horário livre, fui passando de quarto em quarto procurando um giz. Mas foi em vão. Não consegui nada. O alarme do almoço havia tocado. Fui em direção a cantina. Me deparei com uma fila de novos voluntários, apenas pessoas querendo ganhar algum tipo de prêmio por sua bondade em ajudar os necessitados. Basicamente, eles não fazem nada. Só nós inspecionam e levam remédios as vezes.

- Atenção, por favor. Essas pessoas trabalharão aqui por um tempo. Particulamente. O diretor do Station R.K acha que os pacientes não estão tendo atenção suficiente, então, na parede a minha esquerda, há uma lista do nome do paciente e seu respectivo cuidador. Chequem.

Isso só podia ser brincadeira, alguém de olho em mim 24 horas por dia? Fui até a cantina, peguei minha ração e me sentei com a moça dos cabelos claros, apenas imaginando o que faria para fazer minha cuidadora fugir. Não estava nem interessada em saber quem era, só quando ela iria embora.

Ao terminar minha comida, voltei ao meu quarto e me infiltrei no cano da ventilação. Quando meu cuidador abrisse a porta, eu me arremessaria contra ele, o fazendo cair no chão e provavelmente quebrar um ou dois ossos, até o fêmur se eu tiver sorte. Quando a porta se abriu, eu apenas gelei. Era uma mulher, ruiva, de olhos verdes e com a pele clara. Eu não sabia o que tinha sentido mas sabia que não tinha mais vontade de quebrar seus ossos. Ela olhou em volta, embaixo da cama, atrás do armário, com certeza me procurando. Ela saiu correndo em busca de alguém que conhecesse o lugar. Eu rapidamente pulei do cano e sentei na cama. Ao voltar com Jude, a moça fez uma cara de alívio e de confusão, pois a 10 segundos eu não estava ali. Ela agradeceu Jude e entrou no quarto.

- Kenna, certo? – ela disse abrindo um sorriso. – Eu me chamo Charlotte.

Não respondi, nem a olhei nos olhos. Talvez com o silêncio ela me deixasse em paz.

- Não vai falar? Bem, então eu vou. – ela andou pelo quarto observando cada detalhe, e começou a reparar em meus desenhos na parede.

- Macacos? Por que macacos? Eles são bem bizarros, mas bonitos. Gostei desse. – ela apontou para um deles, virando sua cabeça para mim e rindo.

- Mas são todos iguais, como você gostou mais de um? – eu argumentei.

- Este é menor, o menor de todos. Eu vejo ele como o mais fraco, e os outros macacos também devem o ver assim, mas ele tem capacidade, da pra ver no seu olhar. Concorda?

Fiz que sim com a cabeça, ela pensava exatamente como a mim. 

- O macaco é um símbolo da inteligência e do segredo. O que você esconde? – ela fez um sorriso malicioso para mim.