História Kenna. - "Pai?"

Por um instante, eu estava pronta para contar tudo que eu escondia. Aqueles olhos verdes haviam  me hipnotizado. Mas antes que eu pudesse começar, Doug entrou no quarto.

- Kenna, hora do banho. – disse Doug.

Troquei olhares com Doug e fui para o banho.

Ao voltar, só conseguia pensar em ver Charlotte. Mas ela não estava lá.

Decidi ir atrás de alguém que me ajudasse com o giz. Ao chegar na sala de jogos, vi Levi, um amigo. Me direcionei a ele, que estava sentado em uma das mesas jogando xadrez sozinho. Sentei na cadeira que estava a sua frente.

- Levi, oi! Eu estou tentando conseguir giz, você sabe de alguém que os pegaria para mim?

Ele apenas riu e apontou para a mesa dos vândalos juvenis, basicamente assassinos menores de idade que não podem ser presos.

Eles conseguiam qualquer coisa, pois eram espertos e jovens. Mas tudo tinha um preço, e provavelmente eu não poderia pagar. Me voltei a mesa dos vândalos e de cabeça baixa, perguntei:

- O que vocês querem para me conseguir um giz?

Eles me olharam de cima a baixo como se estivessem me avaliando, logo em seguida riram um para o outro.

- Giz? Todos vem aqui pedir cigarros, maconha ou camisinhas. E você vem pedir giz? Maluca! Vai desenhar sua família morta na parede? Sai daqui problemática! – todos riram e o mesmo que falava me empurrou.

Eu segurei seu braço, mordi seu ombro e o contorci, e peguei o outro com a outra mão, fazendo ele ficar sem poder usas as mãos.

- Me larga, sua louca! Me larga!- ele gritava.

Chutei sua canela, o fazendo cair.

Soltei seus braços após ser puxada para trás por cuidadores dos vândalos. Eles prenderam minhas mãos e meu pés, e começaram a me levar para a área dos agressores. Eu odiava aquela área. Abriram uma das portas, me jogaram no chão e trancaram a porta, e nem sequer retiraram as algemas de minhas mãos e pernas. Eu comecei a rodar o quarto em busca de algo que eu pudesse usar para me soltar. Mas foi em vão. Me encolhi em um dos cantos do quarto e acabei dormindo.

Acordei com uma voz doce me chamando.

- Kenna? Kenna acorda. Porque você fez aquilo? – Charlotte dizia preocupada com a mão em minha testa.

- Eles me chamaram de louca. – eu disse de cabeça baixa, com as lágrimas rolando bochecha a baixo.

Charlotte riu.

- Não ligue para eles. São crianças. Não sabem o que dizem. – ela me acalmava – Mas agora, você vai ter que ficar nessa área por 2 dias. Vire- se para eu tentar abrir essas algemas.

Ela havia pegado as chaves com Jude, e abriu as algemas.

- Vamos ter que achar o que fazer nesses dois dias. Eu já tenho algumas ideias. -ela disse dando um sorriso doce- vou pegar uns filmes e uns jogos.

Ela saiu e trancou a porta.

Ao voltar, com jogos e filmes nas mãos, os colocou no chão e fechou a porta.

- Qual você quer jogar primeiro?- ela sorria olhando para os jogos.

Aqueles dois dias se passaram tão rápido que eu fiquei até triste de ter sido transferida de volta ao meu quarto. Pois aqueles dois dias tinham os melhores dos meus 4 anos no manicômio.

Já era 5 horas da manhã, eu esperava Charlotte chegar no meu quarto.

A porta abriu em uma pancada.

- Bom diaaa!!! Adivinha o que eu trouxe? – ela dava pequenos rodopios e ria para mim.- GIZ! – ela gritou levantado 1 giz preto e um branco.

Eu pulei da cama, corri até ela, peguei o giz de cada mão e a abraçei.

Corri a parede e comecei a desenhar. Ela sentou na cama e observou eu rabiscar minha parede.

Ouvi a porta se destrancar e alguém entrar. Mas estava muito ocupada desenhando.

- Kenna? – eu reconheceria essa voz em qualquer lugar.

Me virei para confirmar o dono da voz, que eu rezava para não ser quem eu achava que era.

- Pai?