Décimo quarto capítulo
A passeata
Margot mal conseguira dormir aquela noite, pensando nas palavras de Elizabeth. Se não a conhecesse, poderia dizer que aquilo fosse apenas uma armadilha, ou coisa do tipo, mas Elizabeth era de confiança, e foi por essa razão que as palavras dela pesaram tanto na consciência de Margot. Ela corria perigo, e de certa forma ela já sabia disso há muito tempo. Ela temia que algo pudesse realmente acontecer a ela, e principalmente a Jared, a quem ela se entregou totalmente, e a partir daquele momento não iria deixar nunca mais.
No dia seguinte Margot "acordou" acabada. Talvez por ter ficado a noite toda fitando a janela aberta, olhando para as estrelas. Ela gostava daquilo. Gostava de olhar o céu até seus olhos se fecharem e ela adormecer. Mas, a preocupação impediu que a última parte fosse concluída. Margot sentiu uma leve dor de cabeça. Levantou-se da cama, e a fitou, olhando para Jared que dormia seminu. Ela deu um leve sorriso ao vê-lo assim. Foi para o corredor e passou pelo quarto de Maddie, que tinha a porta levemente encostada. Margot empurrou a porta levemente, e olhou para a menina que dormia feito um anjo em sua cama. Não era nem possível ouvir sua respiração. Maddie tinha as mãos juntas sob a cabeça, e mal se mexia. Margot sentiu, pelo menos por um instante, tristeza e culpa agudas, ao ver a menina. Margot sabia que ela era muito ruim, mas também sabia que ninguém poderia mudar isso.
Foi até a cozinha, e pegou dois comprimidos e um copo d'água. Tomou-os. Logo ouviu a voz rouca de Jared.
— Já acordada? — Margot virou-se ao ouvir sua voz. Ele estava a alguns metros de distância e usava apenas uma calça.
— Mal dormi essa noite. — Murmurou.
— Por quê? — Ele se aproximou dela, e colocou as mãos em seu rosto.
—Sonho ruim, apenas isso. — Ela mentiu.
— Verdade? — Ergueu as sobrancelhas.
— A mais pura verdade. — Ela piscou os olhos fortemente, como se seu corpo estivesse rejeitando a mentira.
— Então que seja — Jared encostou os lábios dos dois por alguns instantes, e ele logo se retirou.
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Jared e Margot estavam já arrumados e prestes a sair. Maddie estava diante deles, ainda não entendendo o que eles planejavam fazer.
— Onde vocês vão? —Ela respondeu com sua voz fininha.
Jared retirou seu chapéu e se agachou, ficando na altura da menina. Ele passou a ponta dos dedos pelos cachos definidos da loirinha de pele branca , que tinha as bochechas e o nariz avermelhados.
— Olha amor, nós dois vamos sair, e não pretendemos voltar cedo. Então, você vai ficar na casa da Sra. Katsopolis. Entendeu?
— Sim. — Ela balançou a cabeça uma vez, de uma forma desengonçada e fofa. Mas seu olhar nunca mais foi o mesmo. Não tinha mais o brilho e a alegria de outrora.
— Muito bom! — Jared sorriu e deu um beijo delicado na menina. A pegou no colo e os três saíram da casa.
Assim que deixaram Maddie na casa da vizinha, que morava alguns metros, Jared e Margot foram até o centro da cidade, pretendendo cometer alguns pequenos roubos. O dinheiro de Lily era muito, e realmente ele se deram bem, mas quando o assunto é dinheiro a questão é: por que não pegar mais ?
Uma passeata estava acontecendo. John F. Kennedy iria fazer um discurso, e todos estavam animados para assistir. O centro estava praticamente congestionado de pessoas, que levavam bandeiras do país e faziam barulho. Todos caminhavam para a praça da cidade, onde o discurso do presidente seria exibido. Realmente o lugar perfeito para roubos, já que as pessoas estavam esquisitamente distraídas. Jared e Margot caminhavam lado a lado e desviavam das pessoas com quem cruzavam.
— Você entendeu o plano? Agiremos normalmente, sempre ligeiros, roubou, afaste-se imediatamente — Jared falava, enquanto eles caminhavam apressadamente.
— Ok, entendi. — Ela respondeu brevemente.
Os dois foram para o meio da rua, entre as outras pessoas. Os olhos de ambos fitavam tudo que fosse de valor, e eles sempre escolhiam a vítima mais fácil. Magort avistou um homem com uma máquina fotográfica, que na época eram bem caras e somente pessoas com boa condição financeira poderiam comprar.
Ela fez um sinal para Jared e os dois se dirigiram até o homem. Margot pegou um mapa qualquer e disse:
— Com licença, senhor. Poderia me ajudar? Eu e meu irmão estamos perdidos, poderia nos informar onde fica a rua Lake Villa? - Ela estende o mapa que cobre toda a parte inferior de seus corpos, e a câmera que estava pendurada no pescoço do homem. O homem prontamente orientou Margot, a indicando o caminho mais rápido para o destino. Enquanto isso, Jared, passou sua mão por baixo do mapa e ligeiramente pegou a câmera, soltando-a do suporte em que estava pendurada e colocou-a na bolsa de Margot. Os dois agradeceram e foram embora agindo normalmente, o homem só sentiu a falta de sua câmera minutos depois.
Margot e Jared resolveram se separar. Eles concluíram que assim conseguiriam roubar mais, e mais rápido. Margot caminhava pelo sentido oposto de Jared. Os dois agora tinham como alvo outro homem, que bebericava seu café. Jared esbarrou levemente em seu braço e brevemente se desculpou. Margot foi por trás do homem e pegou sua carteira, que estava no bolso da calça de seu terno. Ela colocou-a na bolsa e seguiu em busca de uma nova pessoa. Logo os dois se encontram novamente.
—Muito bom. — Jared deu uma leve risada, acompanhado por Margot. — Só preciso que aja mais naturalmente. Mas, saiba que é normal, você ainda é novata, não é tão boa em roubos.
— O quê? —Margot exclamou. —Como assim não sou boa? Me dê cobertura.
Margot tinha um ego tão grande quanto sua esperteza.
Margot se distanciou dele, antes mesmo de deixa-lo explicar sua intenção com a frase. Ele tentou a impedir, mas ela já estava distante. Os olhos de Margot correram para uma mulher, que esbanjava uma bolsa muito bonita. Caminhava em sua direção. Havia uma barraquinha de comida japonesa a sua esquerda, ela pegou o hashi da barraquinha e usou para pescar rapidamente a carteira da mulher de dentro da bolsa. Guardou a carteira rapidamente, e jogou fora o hashi, sem se preocupar onde cairia. Ela ainda caminhava. Margot esbarrou de propósito em um homem que comia um hot dog, fazendo com que todo o ketchup voasse em seu terno. Ela se desculpou e pegou um guardanapo, e o esfregava freneticamente em sua camisa social, pedindo-lhe desculpas. Sem ele perceber, ela roubou seu relógio de bolso, e guardou-o. Margot retirou-se dali, e fingiu tropeçar. Apoiou-se no ombro de um homem, que se preocupou.
— Oh, me desculpe. Você sabe como são esses saltos, vivo caindo. — Ela sorriu sem graça. Ao se endireitar, ela segura no braço do homem e retira seu relógio. Desculpou-se novamente e saiu dali sentindo-se uma vitoriosa.
Margot foi até três homens que conversavam na calçada, e se envolveu nos braços de um dele.
—Olá, meninos. - Ela jogou todo seu charme para cima deles.—- Como vão ?
Eles começam a puxar conversa e Margot consegue pegar a carteira do homem que estava abraçado a ela. Ela olha para a mão do mesmo, vê um anel de casamento e exclama:
— Ah, você é casado. Desculpa, não fico com homens casados. — Ela brincou com as mãos do homem com as pontas dos dedos. Ao se soltar do homem e antes de sair dali, lançou um beijo no ar para os três. Sussurrou um tchau e voltou ao encontro de Jared. —Então, como me sai?
Ela ajeitou os fios soltos de seu cabelo, que estavam em seu rosto. Jared estava surpreso e ao mesmo tempo orgulhoso de Margot. Deu-lhe um beijo na bochecha e os dois caminharam na direção oposta da passeata, indo embora.
Eles entraram no carro e partiram dali.
— Conseguimos uma câmera fotográfica, duas carteiras, um relógio de pulso e outro de bolso. Podemos vender tudo isso. — Margot vibrou.
Os dois comemoram dando alguns gritos de alegria e risadas. Eles tinham que comemorar de alguma forma.
— O que acha de irmos para um bar? — Jared indagou, prestando atenção na estrada.
— Uma ótima ideia. Eu preciso encher a cara. — Margot disse, suspirando de alegria e solta uma risada.
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