História Kim - Calafrios

Em um dia normal como todos os outros, me levantei e fui para a escola de manhã, o clima naquele dia era o meu preferido, céu nublado, vento frio...  estava no terceiro ano do ensino médio.
Não tem toda aquela concorrência, aquela correria pra estudar pra ingressar na faculdade?...
Existem dois tipos de pessoa, aquela que estuda muito pra faculdade, vive correndo que nem louca atrás de cursinho e xerox e eu, uma garota que só quer se formar enquanto curte a vida, tediosamente mas lendo bastante livros e saindo com alguns amigos pra comer. 
Eu sou uma pessoa muito tranquila sobre notas, provas, faculdade e etc. ㅡ na verdade eu sou tranquila sobre tudo ㅡ, mas claro, não deixava de estudar e nem de ter boas notas.
Mas enfim, nessa manhã a minha vida toda mudou, mesmo antes de chegar na porta da escola, senti uns calafrios  que me deixaram inquieta. Olhei pro meu celular e vi as horas, ou entrava ou inventava uma desculpa pra funcionária e corria pra casa.
Eu pensei "o que tiver que acontecer pode vir porque eu sou bem loca".

Resolvi entrar...

Respirei fundo e fiz o meu ritual de entrada.
1- coloquei os fones de ouvido, último volume.
2- coloquei o capuz e entrei rapidamente indo direto pra sala.
Me sentei esperando o professor de química chegar com os melhores pensamentos "queria estar morta", "odeio química", "vou reprovar nele".
Minha mente estava bem bagunçada, não sei o porquê mas estava.  
Até que nosso professor chegou, fazendo todas as meninas suspirarem com a sua beleza e eu, suspirando de agonia por ver a cara dele novamente.

Retirei os fones e os guardei enquanto o professor já tinha me obrigado a fazer aquilo apenas com um olhar.
Enquanto ele lecionava sua aula, estranhamente começava a olhar pra mim, ele olhava tanto que eu cheguei a me olhar na tela do celular pra ver se tinha algo na minha cara. Felizmente não tinha, mas tive de  abaixar a cabeça na carteira porque não aguentava ele me encarando enquanto explicava.
Tudo ocorreu muito bem nas aulas do segundo e terceiro horário. Eu já estava ficando mais tranquila sobre os calafrios porque nada tinha acontecido, então segui pro intervalo. Enquanto eu saía da sala uma colega me chamou pra andar com ela, Isabela era seu nome. Eu até gostava dela, mas ela se achava demais a um ponto de me fazer evitá-la as vezes. Ela era uma garota chique, usava roupas modernas e tinha tranças no cabelo. A cor da sua pele era linda ㅡ oque me fazia inveja-la ㅡ parecia chocolate.
Olhei bem pra cara dela tentando não me transformar inteira em uma careta humana/meme e disse:
ㅡ Claro, porque não.
Ela sorriu, envolveu nossos braços e me puxou indo de encontro à seus amigos. Isabela apresentou um por um dos amigos que tinha, fiquei cansada de chacoalhar as mãos cumprimentando à todos, minhas bochechas doíam de tanto sorrir, até que finalmente ela parou com o circuito "apresentado a Mariana pra Deus e o mundo".
ㅡ Vamos comprar algo pra comer, estou com muita fome. Você tem dinheiro aí? ㅡ disse ela olhando pra mim com uma cara de cachorro sem dono. (sinceramente ela não precisava ter feito uma cara fofa, era só pedir que eu comprava, eu sou uma pessoa legal).
ㅡ Tenho... mas meu dinheiro está na sala. Vamos ir lá buscar e eu compro algo pra você.
Digo, observando um sorriso crescer em seu rosto de orelha a orelha. Ela vibrou com uns pulinhos de alegria e seguimos de volta pra sala, até que ela gritou do nada por uma menina, eu quase infartei com o susto mas ela simplesmente me puxou aos pulos até a garota.
Com todo aquele ânimo ela me apresentou (MAIS UMA VEZ) pra garota ainda desconhecida.
ㅡ Mari, essa é a Kim.
Eu, sonsa toda, não tinha prestado muita atenção quando Isabela gritou pela garota, principalmente por causa do mini-infarto que tive, mas rapidamente estendi a mão para cumprimentá-la.
ㅡ Prazer, Mariana.
Mostrei um sorriso simpático e rapidamente nossos olhares se encontraram nos fazendo focar apenas uma na outra. Ela se apresentou.
ㅡ Prazer, sou Kim.
Nós continuamos a balançar nossas mãos enquanto nossos olhares não se desviavam. 
!!!!! (EU NUNCA TINHA VISTO AQUELA GAROTA NA ESCOLA, MEU DEUS)!!!!!!
Eu não conseguia tirar os olhos dela e pelo jeito que ela me olhava, nem ela conseguia tirar os olhos de mim. Até QUE a Isabella fez isso por nós duas.
ㅡ Opa, tudo bom Kim?
Disse Isabella, desfazendo nosso aperto de mão dando um leve tapa na mão de Kim.
Rapidamente Kim a olhou. Um pouco confusa.
ㅡ O que Isabella? Desculpa, eu viajei nos meus pensamentos agora.
Kim soltou um pequeno sorriso enquanto dizia.
ㅡ Repete o que tu disse, Isa.
Enquanto Kim falava com Isabella, eu não conseguia tirar os olhos dela, fiquei reparando seu rosto e seu jeito de falar. Seu corte de cabelo era parecido com o meu, e seus olhos eram cor de mel, sua pela era lisa e parecia fofa tanto quanto algodão, meus olhos se fixaram nela ㅡ o que foi bem estranho ㅡ, até eu me perceber o quanto estava obcecada e em um piscar de olhos me virei pra Isa enquanto ela repetia a pergunta.
ㅡ Você tá bem, Kim? Soube que estava mal, queria ter ido à sua casa mas estou muito ocupada no meu trabalho.
ㅡ Ah, não, eu tô bem sim. Foi só uma febre passageira, Isa.
Kim responde gentilmente, colocando suas mãos sobre os ombros de Isa, como forma de confortá-la. 
ㅡ Eu sei o quanto você é ocupada, não precisa se preocupar, Isa.
Rapidamente Isa sorri e coloca as mãos por cima das mãos de Kim sobre seus ombros. E diz:
ㅡ Eu sei... mas eu me preocupo com você. Não fica doente do nada assim. Vai acabar me matando do coração. Começa a comer também, você está magra demais.
Isa vai com a mão até a bunda de Kim e de leve lhe dá uns três tapinhas.
ㅡ Ta bom, prometo comer mais.
Kim responde sorrindo alegremente e Isa retribui o sorriso.
Não sei porque mas um sorriso se abriu no meu rosto também. Juro que foi sem querer.
Isa se despediu de Kim e eu também.
ㅡ Foi um prazer te conhecer, Kim.
ㅡ Igualmente, Mari.
Nossos olhares se cruzaram novamente me fazendo ter calafrios como os de manhã. Rapidamente dei de ombros e corri atrás da Isa, na minha cara tinha uma expressão de "o que será isso????? ". Até a Isa percebeu.
ㅡ Mariana, você tá bem?
Diz Isa depois de ver minha feição mudar depois da conversa com Kim.
ㅡ Ahm?.. Ah.. tô, é que eu estou tendo uns calafrios desde cedo. Odeio sentir calafrios.
Respondo dando leves tremedeiras com o corpo.
ㅡ Sentiu calafrios quanto estávamos com a Kim?
Isa pergunta me olhando de maneira estranha.
ㅡ Quê? não, Isabela, aconteceram no começo da aula e a uns segundos atrás.
Falo evitando contanto visual ao máximo com Isa.
ㅡ Ah... não está com febre?
Isa me toca no rosto e faz negativo com a cabeça, dizendo:
ㅡ Você não está com febre. Talvez seja só bobagem sua.
ㅡ Sim, é só bobagem minha.
Ela sorri e eu retribuo o sorriso fazendo uma cara de derrotada assim que ela se vira. 

Percebo a chegada do professor, e me sento de volta na minha carteira, retornando aos estudos.
Eu estava com um milhão de pensamentos, eu não sabia o que eram aqueles calafrios, e estava ficando estressada por não entender o que estava se passando pela minha mente.
Ao final da aula, arrumei meus materiais e fui rapidamente pra casa, Isa me gritou mas fiz o favor de ignorá-la. Provavelmente ela me levaria pra dar tchau à todos os amigos e eu estava super sem paciência pra isso.
Peguei meu ônibus de costume e passei pela roleta.  Eu nunca costumo olhar em volta quando estou entrando no ônibus mas hoje eu olhei por toda a extensão do ônibus e pro lado de fora, por causa do meu chilique obsessivo com calafrios, vai que alguma coisa voa pro meu lado, não sei...
Meus olhos pararam em uma pessoa, na qual a mesma olhava pra mim. Meu corpo simplesmente travou ao vê-la e quando isso aconteceu, ela soltou um sorriso. Eu não sei o que tinha naquele sorriso, mas que me deixou hipnotizada, deixou.
O ônibus arrancou e eu que não estava segurando em nada, caí de cara no chão com a acelerada brusca do motorista. Eu não sei se era melhor sentar no primeiro assento à minha frente ou pular pela janela. Pensei que não seria uma boa ideia pular porque daria de cara com a pessoa. O cobrador ria e tentava sair do seu assento pra me ajudar mas me levantei antes mesmo dele tentar.
Acho que se 100% do mundo estivesse naquele ônibus, 101% estaria rindo.
Pensei melhor e a minha escolha foi sentar assim que o ônibus virasse a esquina pra não ter que ver a reação da garota do lado de fora que sorria pra mim. Provavelmente ela estaria rindo horrores como todos os outros.
Me levantei e sentei, ainda estranhando o motivo de ter travado com o sorriso de Kim, sim, a garota era a Kim. Eu nunca tinha visto ela naquele ponto, nem na escola.
Minha cabeça doía.
ㅡ Ah, só quero chegar em casa logo.
Susurrei pra mim mesma enquanto colocava os fones e me ajeitava no assento,  minha cabeça rodava de tantas perguntas.
O QUE ERA AQUELA GAROTA?
O QUE ERA AQUELE SENTIMENTO?
PORQUE EU TRAVEI AO VÊ-LA?
PORQUE UMA GAROTA ME DEIXOU ASSIM?