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História Kingdom Of Starshine - A Princesa Perdida - Capítulo III - Nashira


Escrita por: reverie49

Capítulo 3 - Capítulo III - Nashira


Fanfic / Fanfiction Kingdom Of Starshine - A Princesa Perdida - Capítulo III - Nashira

- Nashira! A mamãe está nos chamando para o almoço! - a voz de Mérope ecoou por todo o reino de Starshine, ou melhor dizendo: talvez até pelas galáxias.

Semicerrei os olhos e olhei para o topo do pequeno morro coberto por uma relva verde com flores amarelas da primavera e grandes árvores que mais pareciam arranha-céus naturais, vendo nitidamente minha irmã mais velha com as mãos nos quadris, os pés batucando no chão e um sorriso triunfante por finalmente ter me encontrado.

- Estou quase pegando um peixe! - gritei de volta, sentindo a vara artesanal de bambu balançar um pouco, me fazendo ficar em alerta. Não demorou muito para um peixe ser fisgado pela isca e meu sorriso de vitória crescer no rosto ao coloca-lo dentro do balde onde havia mais outros cinco da mesma espécie.

Joguei a vara sobre o ombro, segurei o balde com os peixes, observando com tédio o morro, soprei a mexa que teimava roçar em meus cílios, começando assim, minha caminhada até em casa.

- Sabe, você devia parar de sumir tanto - Mérope disse após passar os braços pelos meus ombros e cheirar de leve meus cabelos. - Por acaso tomou banho no rio? - olhei para ela e não contive o riso ao ver seu nariz se contorcer.

- Por que vir ao rio se não posso aproveitar nem para um banho? -  ela revirou os olhos caramelados, se afastando de mim e amarrando as madeixas negras e cacheadas em um coque. 

- Temos um banheiro com chuveiro em casa - ela disse, como se aquilo não fosse óbvio.

- Não é a mesma coisa, sabe disso e ah... - exclamei animada ao lembrar que tinha algo para lhe entregar, procurei nos bolsos da calça a pedra negra que havia pego no leito do rio e guardado com a intenção de lhe entregar quando voltasse para casa pela tarde. - Encontrei outra pedra daquelas negras que você gosta. - lhe mostrei a pequena pedra lisa que mais parecia ter sido polida, ela sorriu soltando um grunhido de felicidade no fundo da garganta.

- Ah irmãzinha! - ela me deu um rápido abraço e se afastou com a mão no nariz. - Ai Nashira, você precisa de um banho! Está fedendo a peixe e lama - a garota empurrou meu ombro, um pouco forte.

- De nada Mérope, de nada. - resmunguei revirando os olhos, mas não conseguindo manter a pose de chateada porque isso era missão impossível, pois não dava para não sorrir ao vê-la agir de forma tão enjoada. Ela nunca reclamava do meu cheiro de peixe com lama, nem mesmo mamãe.

O caminho até em casa não era longo, morávamos no campo, longe de mais da metade da população de Starshine, mas perto o bastante do castelo de Garnen Star. A imensa construção de pedras erguida no século quinze é uma vista colossal, por mais que a veja todos os dias pela janela de meu quarto. Em todas as noites quando a insônia me ataca e sento na janela até perder o fôlego com a vista do castelo iluminado em meio a um enorme manto negro, parecendo uma estrela guia, não conseguia simplesmente ficar entediada com a paisagem rotineira. Não são todas as pessoas no mundo prestigiadas com a vista de um castelo no seu "jardim".

O castelo foi construído no cume da maior montanha da região sul de Starshine, durante a Idade Média, quando a Europa se fragmentou, fazendo a economia se organizar em unidades pequenas e independentes, conhecidas como feudos. De princípio, não foi erguido com finalidade de ser uma residência luxuosa para imperadores, reis, rainhas, mas como forma de defesa. Nunca fui à aluna número um nas aulas de história, na realidade, o máximo de história que consigo alcançar é sobre as duas grandes guerras mundiais que aconteceram. Nunca entendi muito sobre o que era o feudo, nem Idade Média ou Império Romano. Sempre fui à aluna número dois em biologia, já que Mérope é a número um.

Tudo que sei sobre reino foi história contada pela minha mãe, que aprendeu com minha vó, que soube da mãe dela, que escutou do seu pai e assim segue em uma cronologia interminável de antepassados que no mínimo só recordo o nome de no máximo seis. São histórias e mais histórias que depois de passar por tantas bocas sempre haverá um pouco de mentira, mas sempre a aquele um por cento que conseguimos digerir até acreditar.

Starshine é um minúsculo país, quase que um loteamento de terra perdido no meio do atlântico. Mesmo tendo lá meus deslizes em geografia, sei que Starshine é um dos menores países do mundo, tão pequeno que mal é visto do mapa múndi. Se qualquer pessoa for procurar por Starshine no mapa, vai encontrar apenas um pontinho ao lado da Irlanda que mais parece a migalha de um pão. Pensando por um lado, a migalha do pão ainda seria maior. Mas de todo, por mais que Starshine seja um país minúsculo e metade da população mundial não tenha conhecimento sobre tal lugar, o país além de ser rico em minérios e outras coisas, é vasto de belezas naturais. Os bosques sempre muito coloridos, principalmente na primavera, o tempo de florescimento e renascimento das flores, fica tudo colorido, como se fosse um desenho de uma criança de sete anos. Os servos, que são os animais oficiais do país. Os rios com águas cristalizadas e pedras coloridas, algumas tão brilhantes e tão bem polidas quanto jóias. Sinto um pouco de tristeza por saber que muitos não tem conhecimento do nosso pequeno país, não lucramos muito com o turismo já que metade das pessoas que vem para a Europa preferem visitar a Irlanda e seus belos castelos, ou a Inglaterra na esperança de ver a Rainha acenar da janela ou no jardim enquanto faz sua caminhada matinal.

Por mais que eu tenha um amor imenso pelo meu país, e orgulho de ser de Starshine, sinto que preciso respirar novos ares. Estou prestes a completar meus dezoito anos e tudo que sei sobre o mundo é o que vejo na internet procurando no Google Imagens e Wikipédia. Quero descobrir o mundo, conhecer novas culturas, novas pessoas. Me sinto meio que presa, rodeada por um muro invisível que eu mesma construí. Estou a alcançar a maior idade, mas a verdade é que ainda nem me descobri como pessoa. Só sei que gosto de pescar, observar as estrelas e odeio matemática. Isso não me faz entender quem realmente sou. Me sinto perdida em meu próprio corpo. Como se fosse uma alma que de última hora encontrou uma casca qualquer para se abrigar. Só quero finalmente encontrar minha estrela guia.

- Aconteceu alguma coisa? - Mérope perguntou, me fazendo de ter um leve susto ao entrar no quarto que dividíamos.

- Não, não aconteceu nada. Por quê? - dei de ombros, voltando a pentear os cabelos enquanto me observava na penteadeira que foi herança de minha avó materna.

Morávamos eu, Mérope e nossos pais em uma casa humilde no campo. Não éramos muito pobres, nem da classe média, passávamos necessidades como tantas outras famílias, mas não era nada que não pudéssemos resolver.

Nosso pai trabalhava para o castelo tratando dos cavalos, além de cuidar da horta de legumes que levava para vender na cidade aos finais de semana. Já nossa mãe ficava em casa, ela não tinha um emprego fixo como nosso pai, mas preparava os melhores doces da região, preparava bolos de encomenda para aniversários, casamentos, entre outras festividades. Mérope também trabalhava no castelo, era serviçal, arrumava as camas, servia as refeições, além de ter que aturar Adhara, a filha mais velha da princesa Maia. Sempre choro de rir toda vez que Mérope passa pela porta do quarto bufando pelas narinas e praticamente cuspindo todos os palavrões possíveis com o nome Adhara sendo mencionado no mínimo sete vezes. Ela realmente não a suportava. Já Deneb, o filho mais novo e irmão de Adhara, era outra história. Não era insuportável, irritante, mesquinho, nem todas as palavras negativas que existam para distinguir o caráter de uma pessoa. Nunca os vi pessoalmente, só os vejo de longe quando acontecem festivais na cidade e eles comparecem, como toda a família real. 

E por último tem a mim, que não faz nada da vida além de pescar, e ajudar os pais com o que seja. As vezes viajo com meu pai até a cidade para ajudar nas vendas, é bom porque dessa forma fico mais perto dele já que o vejo no almoço e a noite, o horário em que sai do castelo, e não fico com a consciência pesando de que não estou fazendo nada para ajudar a família.

- Você me parece muito quieta ultimamente. - Mérope sentou-se na ponta da sua cama, passando a me observar pelo reflexo no espelho. - Você não é assim, eu te conheço.

Suspirei, deixando de pentear os cabelos castanhos lisos e a encarando pelo espelho.

- Conhece mesmo? - perguntei, seu cenho se franziu e seus lábios passaram a se formar uma linha reta. Ela encarou por alguns segundos os dedos sem falar uma só palavra. - Des-desculpa... - suspirei frustada. - É... - as palavras pareciam pesar em minha garganta e não conseguia entender o motivo disso. - Eu não sei de mais nada.

- É por que vai ficar de maior?

- Também. É uma responsabilidade e tanta e... - virei na cadeira para encara-la. - Ainda não sei quem eu sou.

Mérope abriu um pequeno sorriso e puxou minha mão para segurar, alisando o polegar em meus dedos.

- Você é Nashira Rey Hughs, filha de Ruth e James Hughs, minha irmãzinha. - sorri.

- Disso eu sei Mérope, não seja boba.

- Então por que está assim? - perguntou séria, em poucos segundos sua expressão passou a ter uma malícia pura. - Não me diga que está apaixonada? - gritou.

- Ah Mérope, me poupe.  - puxei minha mão de perto da sua e levantei da cadeira, indo até a janela do quarto e sentando-se, abracei as pernas e apoiei o queixo nos joelhos. 

- Desculpa, não queria te chatear. - falou com a voz um pouco baixa, sentando-se na minha frente no pouco espaço que sobrou na janela. - Mas, o que realmente está acontecendo com você?

- Poderia dizer que é a puberdade, mas já passei por isso. Um coração machucado, mas não é. A verdade é que não sei, estou meio que perdida na minha própria cabeça. Entende? - perguntei, ela responde com um breve aceno com a cabeça. Volto a olhar o castelo no cume da montanha. - Não sei, talvez isso seja apenas aqueles momentos deprimentes que os adolescentes passam quando refletem sobre a vida.

- Talvez sim, talvez não.

- Só sei que nada sei, e se soubesse de alguma coisa, com certeza estaria errado.

- Como todas as contas de matemática que você tenta resolver. - acabei rindo. - É esse sorriso que quero ver no seu rosto.

- Você é uma irmã muito maluca. Devia estar me batendo ou essas coisas, falando que sou adotada, que não devia nem ter nascido. É isso que irmãos normalmente fazem. - Mérope riu colocando alguns cachos para trás da orelha.

- E quem disse que sou normal? Não gosto disso. É monótomo demais pra mim. - fez uma careta engraçada.

- Só queria receber uma notícia boa, para pelo menos arrepiar os pelinhos dos dedos do pé.

Mérope, em um ato de total loucura e anormalidade, pulou da janela e começou a bater no meu braço, me fazendo quase desequilibrar e cair do outro lado.

- Por que está me batendo? - pergunto ao tentar me desviar dos tapas.

- Eu tenho uma notícia. Prepare os pelinhos do dedo. - disse sorridente. Sentei na janela com as pernas para dentro do quarto e prestei atenção na garota a minha frente.

- Vamos, diga! - pedi, estava animada, por mais que não soubesse o que seria, creio que era uma boa notícia já que Mérope só age dessa forma quando é algo realmente bom.

- Daqui á dois dias é aniversário da Adhara. - ela pós o dedo na boca insinuando um pré-vomito, eu ri, mas fiquei sem entender o motivo de estar falando isso a mim.

- Eu sei, é meu aniversário também.

- Estão precisando de mais empregados para servir na festa. - continuava sem entender e a olhava com um tédio enorme estampado no rosto.

- E?

- Mas que garota lenta! - minha irmã bateu a ponta dos dedos na minha testa.

- Não bata em mim!

- Você vai trabalhar! - meus olhos se esbugalharam.

- O quê?! - perguntei perplexa, ainda alisando a testa.

- Sim! Eu te indiquei, e se você for boa o suficiente, vão te contratar para ser serviçal fixa.

- Quê?!

- Serviçal!

- Eu sei, entendi. É que ainda estou processando o fato de ter conseguido um emprego... no castelo!

- Eu não ganho abraço por isso não? - perguntou fazendo bico.

Sorri e pulei da janela, abraçando-a apertado ao mesmo tempo que lhe enxia de beijos na testa. 

- Não acredito ainda. Nossa! Nossa! - me afastei, olhei para meus dedos do pé e eles estavam arrepiados. - Olha, olha...

- Arrepiados! - Mérope riu. - Você já sabe, precisamos do dinheiro... - começou a falar e eu apenas balançava a cabeça freneticamente.

- Eu sei, eu sei. - respirei fundo, apoiando os braços na janela e observando o castelo com um largo sorriso no rosto. - Vou trabalhar no castelo! - murmurei. 

- Trabalhar no castelo não é lá essas coisas. - Mérope falou com voz de desdém. 

- Quieta Mérope! - joguei a mão para trás conseguindo a façanha de atingir seu rosto em cheio, a fazendo soltar um grito fino e baixo. - Me deixa sonhar. 

- Sonhar? - gargalhou. - Ah Nashira, não sonhe alto garota, o castelo não é como você pensa. Em breve estaremos longe daqui, mas agora, estamos perto o suficiente da cozinha e a mamãe fez lasanha para o almoço. 

- Gosto de lasanha, mas gosto mais ainda de ficar na janela. 

- Então fique com fome, porque eu vou comer. - respondeu, logo em seguida escutei a porta do quarto ser fechada. 

Me ajoelhei no chão, cruzando os braços no parapeito da janela e apoiando o queixo entre as mãos. Não conseguia parar de sorrir. Sempre tive o sonho de entrar no castelo de Garnen Star, desde tão pequena quando descobri que a vista da minha janela não era para um jardim ou um bosque colorido, e sim para um castelo que brilha todas as noites como uma estrela guia. Estava feliz por, talvez, finalmente ter conseguido um emprego e que não passaria a ser a garota que anda de um lado para o outro com um vara de pescar artesanal feita de bambu. Também estava feliz porque ia realizar o sonho de finalmente entrar no castelo. E mais feliz ainda por saber que com o dinheiro que irei ganhar, o meu desejo de me descobrir parecia estar mais perto que a cozinha da minha casa. 



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