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História A Leoa e a Coruja - Capítulo 12


Escrita por: Sapatomics

Notas do Autor


Boa noite, pessoal. Hoje postarei o capítulo mais cedo. Há algum tempo que eu não atualizava à essa hora;
Agradeço o carinho dos leitores, comentários e favoritos. Espero que continuem acompanhando e gostando da minha humilde história.
Tenho alguns avisos nas Notas Finais, por favor, não se esqueçam de verificar esses avisos após o capítulo.
Boa leitura!

Agradeço especialmente à @GihCross que revisou o capítulo.

Capítulo 12 - Capítulo 12


A primeira impressão que Regina teve do corpo de Emma era que ele estava pálido demais, provavelmente sem vida. No entanto, a respiração ofegante da princesa e os pequenos tremores temporários comprovavam o oposto. Regina se aproximou com cautela. Não queria acordá-la, embora pensasse que aquela era uma ideia estúpida, pois Emma estava num quase coma há três dias. Cruzou os braços e parou ao lado da cama. O quarto era simples, mas paramentado para emergências. Ao lado havia um pequeno aparelho que media a pulsação, saturação, oxigenação e todos os outros detalhes importantes que a duquesa não conhecia muito bem. Não havia fios ligados à Emma, apenas alguns adesivos nos braços, peitoral e dois pinos em sua cabeça, que perfuravam superficialmente a pele.

Regina sabia da alta tecnologia usada na Medicina petroiana, mas o que chamou sua atenção foram as ervas distribuídas ao lado da princesa na cama e uma pasta marrom que cobria quase todo seu corpo. Os perfumes das ervas e o cheiro de terra molhada preenchiam o ambiente. Ela nunca tinha passado por um tratamento assim, mas não era difícil de compreender que algum curandeiro estivera por ali. Os ferimentos estavam quase todos tampados pela pasta marrom e um lençol fino e verde claro, que ia dos seios da princesa às suas canelas. Os pés estavam de fora. O tecido do lençol era tão fino, que Regina enxergava as curvas interessantes do corpo de Emma.

Porém, seu olhar se concentrou no rosto. Havia um corte profundo da têmpora esquerda, que descia bastante vermelho e um pouco inchado até o lábio superior esquerdo. Regina assustou-se com a extensão do machucado, que certamente deixaria uma enorme cicatriz. Quis tocar, mas repuxou a mão. Não tinha intimidade com Emma para isso. Ela tinha se descontrolado com o soldado, mas agora estava um pouco mais recomposta. Preocupou-se com a magreza e a pele pálida da princesa. Não havia dúvidas que Emma perdera muito sangue, até porque haviam olheiras profundas e os lábios arroxeados. Era triste notar esses sinais e Regina sentiu falta dos olhos bicolores tão vívidos e intensos.

— Duquesa? — A voz de Bomani fez Regina se virar rapidamente e colocar a mão sobre o coração.

— O que foi?

— Podemos conversar?

— Claro. — Ela assentiu e se sentou numa das poltronas perto da porta da cabana. — Sobre o que exatamente?

— Alguém te avisou o que realmente aconteceu? — Bomani sinalizou com a cabeça em direção à Emma. — Qual a natureza dos ferimentos?

— Sim, mas não soube dos detalhes.

— Nós temos uma bomba nas mãos. — Bomani se sentou na poltrona em frente à Regina, apoiou os braços nos joelhos e entrelaçou os dedos das mãos. As olheiras e os olhos avermelhados demonstravam o cansaço devido às noites mal dormidas. — Não sei se essa bomba já estourou ou se é questão de tempo, mas algumas coisas podem estar relacionadas com o ataque à Emma.

— Quais, por exemplo?

— Eu não posso falar sobre isso, é confidencial...

— Bomani, entenda a minha situação. Eu sou duquesa, o título mais nobre após a Rainha ou Rei e não vou admitir ser ignorada.

— Desde a morte de Robin suas funções estão suspensas! — O general a interrompeu. — Você sabe que, oficialmente, só retornaria ao gabinete da nobreza quando completasse um ano e três meses de luto.

— Não quer dizer que eu não possa saber o que está acontecendo.

— E você vai. Não agora, talvez, mas em breve.

— Pelo menos prenderam alguém? — Regina cruzou as pernas e coçou a testa, onde havia uma ruga de irritação.

— Sim, dois deles. — Bomani olhou em direção à Emma. — Era um grupo pequeno, mas eles possuíam armas potentes até mesmo para ela. Na verdade, se não fosse por uma estranha anomalia que a Comandante carrega, ela não estaria nesse plano.

— Como assim? — Regina respirou fundo e suas mãos suaram, o coração batia rápido demais com a possibilidade da morte da princesa.

— Bom, eu era uma das poucas pessoas que sabia disso, mas Emma é imune a qualquer tipo de veneno, doença contagiosa ou elementos tóxicos.

— Eles usaram veneno?

— Cicuta, para ser mais exato. — Bomani assentiu. — Uma dose cavalar capaz de derrubar vinte homens pesados.

— Como ela...?

— Eu também me pergunto isso, mas é uma condição inata. — Ele deu de ombros. — Na época em que servimos juntos ela se metia em grandes confusões por isso. Quase como uma guerreira suicida. — Riu baixo e balançou a cabeça negativamente. — Sinto falta dessa época.

— Percebi. — Regina sorriu discretamente, embora não tivesse consciência disso. — Vocês se conhecem há muito tempo?

— Desde que eu entrei para o exército.

— Entendi.

— Sobre o casamento, você já se decidiu então? — Bomani recostou na poltrona, seus músculos relaxaram e ele suspirou. — Quero dizer, pela forma como enfrentou o meu soldado.

— Sinceramente, eu já estou cansada desse assunto. — Regina passou a mão pelos cabelos pretos.

— Desculpe, não era a minha intenção...

— Tudo bem. Eu sei que é uma preocupação de todos.

— Sim. — O general verificou as horas em seu relógio de pulso e se levantou. — Até porque me disseram ontem que alguns Conselheiros levantaram a Lei de Moira.

— Eu não me lembro dessa lei.

— É um recurso antigo. A última vez que utilizaram foi há 120 anos e aparentemente deu certo. A Lei de Moira diz que a Rainha precisa se casar nos seis primeiros meses após a coroação.

— Qual o problema, então?

— Bom, se Emma não se casar nesse meio tempo, ela e os Swans perdem o trono. — Bomani franziu a testa. — E aí isso abre margem para um novo Desafio Real, onde qualquer um do Parlamento pode se candidatar para a coroa, incluindo os opositores. — Ele ajeitou sua jaqueta de couro e caminhou até a saída da cabana. — Espero que isso não aconteça, ou teremos mudanças no reino em breve, sendo boas ou não. Preciso ir, os soldados trocarão de turno. Até logo, duquesa.

A porta bateu assim que o general saiu. Regina mal ouviu o barulho, fechou os olhos e abaixou a cabeça. Esperava ignorar a notícia que Bomani deu, mas era impossível. No entanto, pelo cansaço e o estresse, adormeceu em poucos minutos.

 

 

***

 

Os corredores eram úmidos e cheiravam a mofo. Mulan estava ali havia quinze minutos e suas pernas doeram bastante. Ela não dormiu pelos três dias em que Emma esteve desacordada, sobretudo porque a pedido do General, Mulan devia vigiar os soldados e analisar se algum deles teria atitudes suspeitas. Ela nunca foi muito boa nos treinamentos de leitura corporal, mas se esforçou em nome de sua Comandante. Porém, aquela era uma das missões mais arriscadas que fizera em meses se considerasse que antes ela era apenas um solado de patrulha como outro qualquer. Ela tinha um único objetivo: transportar uma pessoa e cuidar para que ninguém percebesse isso, nem mesmo os seguranças do local.

Caminhou por volta de cinquenta metros até uma passagem estreita em uma das paredes de pedra. Ela não conseguiu ver muita coisa pela penumbra, mas uma sombra surgiu e disse o código que haviam combinado. Sidney levou Mulan até outra passagem, um pouco mais confortável, e pediu que ela esperasse ali em silêncio. Ele tirou um molho de chaves dos bolsos largos de seu caftan lilás e abriu uma porta de madeira, quase imperceptível em meio aos musgos na parede escorregadia.

— Ela vai aparecer em trinta segundos e vocês tem exatamente vinte e dois minutos para sair daqui. — Sidney murmurou para a guerreira. — Tentem ser o mais sutil possível, eu vou distrair os guardas.

— O Rei não vai desconfiar?

— Por favor… — Sidney revirou os olhos escuros. — Eu faço isso há mais tempo do que você tem de idade. Enfim, fique tranquila.

— Bom, imaginei que alguém com a patente dela poderia resolver tal empreitada sozinha.

— Tenha mais respeito! — Ele levantou a voz, mas ainda sim parecia comedido. Olhou para os dois lados e verificou se ninguém os via. — Como você é novata, suponho que seja ingênua nessas situações. Não questione sua missão, apenas a cumpra. E acredite, pode não parecer, mas a pessoa que você está acompanhando é perigosa. — Fitou Mulan dos pés à cabeça. — Talvez ela te proteja e não o contrário. — Sorriu com certo desdém e passou pela porta com passos curtos e ligeiros.

A guerreira engoliu seco e suspirou. Ela tinha sérios problemas para controlar sua língua e isso, um dia, seria sua perdição. Resolveu ignorar a vergonha pela bronca que levou e aguardou pela mulher. Quando a viu, assim que ela saiu da passagem, seus olhos se arregalaram. Porém, Mulan não teve tempo de questionar nada e nem o faria após o constrangimento com Sidney. Atravessou os corredores a passos largos e a mulher, que era um pouco mais alta, a seguiu em silêncio. A expressão dela era indiferente e Mulan perguntou a si mesma se essa era a verdadeira personalidade dela. Deu de ombros e se apressou. Não era da sua conta, afinal.

O carro que as esperava era todo branco, sem detalhes chamativos e vidros escuros. Perfeito para enganar qualquer cidade comum, pois era um modelo popular em Petroia. Pelo horário avançado, já era mais de dez horas da noite, as ruas estavam tranquilas. A neblina e a temperatura amena deixavam os petroianos menos animados para qualquer evento social e em breve haveria o Festival Lunar, portanto, os preparativos distraíam os cidadãos. Mulan observou as casas, algumas com as luzes apagadas e se recordou de quando brincava com seus amigos nas ruas de ladrilho. Ela gostava de se esconder, fingir que era um licantropo e caçar as outras crianças como se fossem suas presas. Apesar de uma brincadeira pouco apreciada pelos pais, remetia às tradições do Festival Lunar, onde algumas pessoas se fantasiavam de criaturas místicas das lendas antigas do Reino. Mulan adorava o festival quando era pequena e passou a gostar ainda mais na juventude.

— Esse não é o caminho. — Ela ralhou com o motorista, quando percebeu que o carro virou para a esquerda e não para a direita, como ela se recordou no mapa do trajeto.

— Major, tem uma caminhonete que vêm nos acompanhando há alguns minutos. — O soldado disse e verificou a estrada pelo retrovisor principal.

— Vamos mudar o trajeto três vezes. — Mulan assentiu e pegou um rádio transmissor, que estava acoplado ao painel do veículo. — Alerta azul para Centauro. Por favor, verifiquem a caminhonete verde, com carroceria aberta e placa 00222. Câmbio. — Ordenou aos outros carros que garantiam a segurança dos três.

— Não identificamos nenhuma pendência, acredito que seja apenas um motorista comum. Câmbio. — Uma voz feminina respondeu.

— Continuem nas mesmas pistas, mas nos encontrem próximo ao Parque das Orquídeas.

— Entendido, Major. Desligo.

Mulan pediu para que o motorista fizesse o combinado e em pouco tempo a caminhonete desviou sua rota. Ela suspirou aliviada, pois estava cansada demais para qualquer confronto direto naquela noite. Seguiram por quase trinta minutos além dos limites da cidade, onde havia uma construção abandonada. A estrutura era nova, mas não era utilizada por ninguém havia alguns anos e o capim tomava conta da varanda. A casa era pequena, feita de madeira, com janelas, portas estreitas e simples. Assim que o carro estacionou a poucos metros, Mulan desceu com o soldado e os dois deram uma volta no terreno para averiguar se estava seguro. Haviam três mulheres do lado de fora, todas armadas com machados e espadas na cintura. O único que tinha uma arma de fogo era Bomani, que estava em pé em frente à porta principal.

— A viagem foi tranquila? — Ele perguntou para a guerreira de olhos repuxados e estatura mediana.

— Não exatamente. — Mulan suspirou e sorriu. — Mas eu sempre fui muito boa para despistar pessoas.

— Eu sei, eu te conheço muito bem. Cadê ela?

— Fazendo a sua própria vistoria.

— Bom, não espero nada menos de alguém desse nível. — O general arqueou as sobrancelhas grossas e escuras.

— Por isso você é a pessoa que eu mais confio para cuidar da minha princesa, General. — A mulher se aproximou e ajeitou o sobretudo preto que cobria a roupa militar.

— Minha Rainha. — Bomani fez uma reverência singela, apenas para reforçar o respeito profundo que sentia por Ingrid. — Imagino que não tenha sido fácil despistar o Rei.

— Não importa, ele não tem autoridade sobre minhas ações e muito menos sobre minha patente. — Prendeu os cabelos loiros e colocou luvas pretas de couro. — Porém, eu entendo que essa seja uma situação delicada em que coloquei você e seus guerreiros. Não me esquecerei de assumir toda a responsabilidade e me entender com George.

— Grato pela compreensão. — Bomani sorriu e abriu espaço para a mulher passar. — Mulan, fique aqui com os outros e...

— Vigie bem a porta e faça silêncio. — Interrompeu. — É, eu já aprendi. — Revirou os olhos e se afastou alguns passos.

— Nossa, quanto mau humor.

— Dê um desconto à garota. — Ingrid umedeceu os lábios. — Não deve ser fácil aturar Sidney e seu jeito arrogante.

— Prefiro não opinar.

— Sábio da sua parte. — Ela entrou à casa e foi até a sala, onde havia um homem sentado numa cadeira com o corpo todo amarrado por cordas grossas e um soldado em pé atrás dele. — É um dos atiradores?

— Sim, nós o capturamos na cena do crime.

— Trouxeram a puta? — O homem amarrado tinha o rosto suado e sujo de poeira. Seus dentes eram amarelados e ele era careca. — Não pensava que iriam me recompensar tão cedo.

Ingrid não esperou outra ofensa e desferiu o primeiro tapa com as costas da mão no rosto do homem. Ela não tinha se descontrolado, mas era uma técnica que escolhera utilizar. Não podia deixar que ele pensasse que estava tão fragilizada por dentro, embora quisesse chorar pelo estado de sua filha. No entanto, aprendera no exército que o melhor era controlar suas emoções diante de um conflito.

— Qual o nome dele?

— Procuramos em todo o sistema e não encontramos uma identidade fixa. Ele já teve vários apelidos, atualmente é chamado de Beltrão. — Bomani respondeu.

— Histórico criminal?

— Nenhum, no entanto, temos vigiado o grupo dele. São extremistas e demonstram algumas transgressões em relação aos rituais anuais.

— Quais?

— Eu estou aqui, sua cadela. — Beltrão gritou e cuspiu nas botas de couro que Ingrid usava. — Vai perguntar para esse pau mandado?

 

— Bomani, só um segundo. — A rainha retirou o casaco e por baixo estava com uma calça cargo preta com bolsos grandes dos dois lados, camiseta também preta com a gola que cobria o pescoço e as mangas longas finas. Ela enrolou as mangas até os cotovelos e segurou o pescoço do homem, que engasgou na mesma hora. Ingrid apertou forte à medida que aproximou do rosto dele. — Eu vou dizer isso apenas uma vez, seu verme desprezível. Eu não me importo com você, muito menos com o seu grupinho de rebeldes renegados pelos Deuses. Não sei qual foi a merda que te aconteceu na infância, não sei quem te abandonou, ou se o puto do seu pai tinha o sangue dos porcos dominadores. O que eu sei é que você vai passar pelo Julgamento, e eu estarei lá para ver o seu sangue e suas tripas serem jogadas para os leões que hão de te devorar. Quando eu quiser escutar as maldições de tua língua, eu aviso, mas por enquanto se você abrir a boca de novo, eu vou arrancar os seus testículos e enfiar na sua garganta. — Soltou o pescoço de Beltrão, que estava quase inconsciente e deu uma joelhada no abdômen dele. Virou-se para o General, que assistiu a tudo com a expressão de surpresa.

— Posso continuar?

— Sim.

— Concluindo, ele espalhou alguns folhetos e cartazes por Storybrooke com mensagens apelativas contra a realeza. — Bomani pediu para que um soldado trouxesse o material, que ele entregou à rainha. — Eu não sei ao certo quando isso começou a circular nas ruas, mas os últimos conteúdos eram bastante ofensivos em relação à princesa Emma.

— Quando isso foi coletado? — Ingrid leu os papéis, onde havia imagens falsas de Emma com o corpo de um hirbic, palavras em relação a um deus carrasco e que George seria um diabo. Ela jogou os papéis no chão e cruzou os braços.

— Faz duas semanas.

— George já tinha ciência dessas propagandas? Os parlamentares do Conselho também?

— Bom, creio que sim. Apenas o rei, Sidney e Midas discutiram com o exército sobre isso, mas as mensagens estão em quase todo o reino. Conseguimos apreender tudo que encontramos. — Bomani coçou a barba rala. — No entanto, podem ter materiais escondidos.

— Certamente. — Ingrid voltou sua atenção para Beltrão, que tossiu bastante e o nariz sangrava. — Para quem você trabalha?

— Para meu deus. O verdadeiro deus e não essas besteiras pagãs que vocês acreditam.

— Para quem você trabalha? — Ela aumentou o tom de voz.

— Meu deus...

— Para quem você trabalha? — Gritou e estapeou novamente o homem, que gemeu de dor. — Para quem você trabalha?

— Não vai tirar nada de mim, sua puta.

— Discordo. — Ingrid ajeitou os cabelos presos e respirou fundo. As luvas que usava se sujaram com o sangue do indivíduo. — Eu vou tirar tudo de você, menos a chance de misericórdia. — Caminhou até uma mesa de madeira, que estava empoeirada e aparentemente velha. Ali havia uma mala preta, que Ingrid abriu, retirou um objeto de metal que encaixava nos dedos da mão direita e era repleto de espinhos, também feitos de metal. — É a última pergunta, não me faça perder a paciência, Beltrão. — Acariciou a cabeça raspada do homem, que pela primeira vez arregalou os olhos e estremeceu. — Para quem você trabalha?

— Para a puta da sua mãe. — Rebateu e riu.

Do lado de fora, Mulan escutou gritos agonizantes. Um soldado se aproximou e entregou a ela uma garrafa com café e um copo pequeno. A Major sabia que aquela seria a noite mais longa da sua vida.

 

 

***

 

Killian andava de um lado para o outro e Tinker suspirou. Ela ficou nervosa assim que o noivo encheu o copo com conhaque pela segunda vez, sobretudo quando ele tinha prometido maneirar a bebida. O rosto vermelho apenas evidenciou sua irritação e ela revirou os olhos. Sempre que o príncipe saía em missões em alto mar, ela temia pela vida dele. Não queria se tornar mais uma daquelas pessoas que tinham seus entes queridos levados pelas águas obscuras da deusa Ymanar, a entidade das lendas antigas dos marinheiros e moradores do litoral.

No entanto, pela primeira vez, Tinker não queria que ele tivesse voltado mais cedo, pois quando Killian bateu à sua porta tremendo e chorando, ela sabia que algo grave tinha acontecido. O capitão demorou apenas quatro horas para retornar ao continente, o que por si só já era quase uma missão impossível. Porém, apenas na noite seguinte ele fora para a casa da noiva, quando contou sobre o ataque. Tinker também havia estranhado o silêncio dos sogros, que geralmente sempre entravam em contato pelo telefone ou até mesmo convidando a ela, Mary e Regina para jantares esporádicos. Havia apenas três dias que Emma estava hospitalizada, mas Killian já tinha visitado a irmã dezenas de vezes, numa delas estava acompanhado de Tinker, mas a arquiteta não pôde entrar na cabana. Naquele momento, tudo que restava a ela era tentar apoiar sua futura família.

— Amor, eu preciso que você fique quieto.

— Não consigo.

— Emma está em boas mãos. — Tinker se aproximou e puxou o noivo pelo braço. — Vocês precisam ser fortes, tanto pela situação de George quanto pelo comportamento de Ingrid.

— O que quer dizer? Minha mãe te falou alguma coisa?

— Não. — Ela balançou a cabeça e se sentou no sofá do apartamento onde morava. Killian se acomodou ao lado dela. — Mas eu imaginei que ela fosse ter outra reação.

— Dona Ingrid é muito imprevisível.

— Eu sei. Pelos anos em que estamos juntos, eu pude perceber.

— Então o que te preocupa? — Killian deixou o copo descansar sobre a mesinha no centro da sala. — Meu amor, se tem algo estranho, me fale. Eu preciso entender o que está acontecendo.

— Hoje, quando voltamos para casa, ela estava muito pensativa e quase indiferente. — Tinker apoiou a cabeça na mão esquerda, que por sua vez estava apoiada no joelho. — Como se a situação não fosse tão séria e eu sei que minha sogra é sensível. Ela não chorou, se desesperou ou algo do tipo. É diferente de quando Robin sofreu o acidente.

— Robin morreu, Tinker. — O capitão deixou o corpo cair no encosto do sofá e a cabeça descansar no mesmo. — Só de pensar que Emma...

— Não é isso! — A arquiteta sibilou e tomou o restante do conhaque que estava no corpo do noivo. — Eu digo que ela mostrou um lado diferente.

— As mesmas pessoas podem reagir de outras formas em situações tão tensas.

— Ai, conversar com você nesse estado não dá. — Ela se levantou e colocou as mãos na cintura. Andou de um lado para o outro.

— Veja só quem está descontrolada agora. — Killian provocou, embora seu tom não fosse animado ou sequer implicante. Ele estava abatido e desestruturado.

— Não me irrite. Não hoje. — Tinker se serviu com mais bebida e tomou tudo de uma vez.

— Tudo bem. Eu vou me deitar. — O príncipe se levantou, debaixo dos olhos azuis tão claros haviam manchas escuras de noites mal dormidas e os cabelos pretos estavam desgrenhados. — Preciso de um banho e tem mais umas três garrafas na cozinha. — Ele se virou em direção aos quartos.

— Espera, amor. — Tinker o pegou pelo braço novamente. — Não vá sem mim. Perdoe minha atitude, eu estou...

— Eu sei, minha querida. — Ele interrompeu e pegou o rosto da noiva entre as mãos. Era tão pequeno, que Killian sempre temeu em quebra-lo ou ser muito rude. — Todos nós estamos meio fora de órbita. — Encostou sua testa na dela e beijou brevemente os lábios delicados. — Também peço perdão pelo meu mau humor.

— De certa forma, somos parecidos nisso.

— Com certeza. — Os dois riram baixinho. — Vamos? Gostaria de sua companhia naquela banheira enorme.

— Chega de bebidas, por enquanto. Precisamos de total atenção.

— Sim, você tem razão. — Killian puxou a noiva pela mão direita e seguiram rumo ao quarto onde dormiam e onde ficava o banheiro que compartilhavam. — Amanhã eu vou com David para o palácio, solicitamos a presença de Bomani, Sidney e Mulan, a nova Major que ajudou a salvar minha irmã.

— Já tem alguma resolução do ataque?

— Não exatamente. — O príncipe respondeu e tirou a própria camisa. Ajudou a noiva com as roupas dela, era um costume entre ambos. — Mas vamos convocar os outros 12 Comandantes.

— Todos eles?

— Os que ainda restam, sim.

— Não é uma medida drástica? — Tinker franziu o cenho. — Eu sei que vocês fazem isso em tempos de guerras ou quando a coisa está muito feia.

— Qualquer um que mexa com minha irmã está declarando guerra. — O rapaz já estava nu e soltou os cabelos dourados de Tinker. — E existe um exército de 250 mil soldados esperando por eles.

— Pensei que houvesse mais.

— Ah não, querida. — Killian sorriu e mordeu o lábio inferior. — Eu me refiro apenas ao esquadrão sob a tutela da Emma e de outro Comandante. Os outros nem mesmo eu sei a quantia.

Tinker arregalou os olhos e se calou. Naquele momento ela compreendeu porque Petroia era conhecida como a Nação Guerreira pelos outros reinos do continente. Ela só esperava que nenhum daqueles soldados precisassem perder a vida num novo conflito. Afinal, ela mesma perdera os avós numa batalha e tinha medo que o seu reino vivesse tempos sombrios de novo. E desta vez, ela não saberia se alguém sobreviveria para contar a História.


Notas Finais


Meus amores, a fanfic está chegando em uma fase especial. Há quase 6 anos eu a escrevo. Muito antes de disponibilizar no Social Spirit, eu já tinha planos para essa história e gostaria de realizá-los. Para quem não sabe, ela é uma obra com um enredo totalmente original e durante muitos anos OUAT foi só um pretexto para a criação dos personagens. Porém, não quero ser injusta com vocês, portanto tomei duas decisões:

1 - Eu vou continuar atualizando a fanfic, mas estou encarando essa história como um livro. Portanto, mudarei o título. Daqui alguns dias ela passará a se chamar "A Leoa e a Coruja". Peço que fiquei atentos(as) porque quando eu fizer a mudança, alguns podem estranhar ou nem perceber e acabar achando que é outra fanfic.

2 - Em breve eu começarei a atualizar em anexo aos capítulos oficiais, os chamados "Extras". Nesses capítulos extras eu explicar algumas coisas específicas da história como patentes militares, hierarquia política, descrição de mapas... Enfim, informações que muitos leitores acabam se sentindo confusos porque é muito conteúdo mesmo. Não se preocupem, sempre que eu colocar um "Extra" eu vou avisar nas notas do autor.

Por enquanto, é isso. E aí? Gostaram do capítulo e do novo nome de Kiss? Me deixem saber o que vocês pensam. Abraços e até breve.


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