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História A Leoa e a Coruja - Capítulo 13


Escrita por: Sapatomics

Notas do Autor


Boa tarde, pessoal. Espero que estejam todos bem.
Como dito anteriormente, eu decidi mudar o título e a capa da história. Eu não sei se já atualizou aí para vocês, mas logo logo deve aparecer "A Leoa e a Coruja" como o novo nome. Enfim, vamos ao capítulo.

Boa leitura.

Capítulo 13 - Capítulo 13


O dia tinha acabado e o céu estava escuro. Regina observou o movimento do hospital pela janela de vidro, que ocupava dois metros de comprimento da parede ao lado da poltrona. Ela mal tinha dormido, quando Bomani retornou com a aparência menos abatida. Era verdade que ele parecia um pouco nervoso, mas Regina não quis comentar nada. Odiava ser invasiva com as pessoas. O general garantiu que tinha notificado os soldados e declarado para o hospital que a duquesa, a rainha e o rei poderiam estender suas visitas pelo tempo que quisessem, desde que não deixassem Emma completamente sozinha ou atrapalhasse as decisões dos médicos. Regina apenas agradeceu e concordou com as condições. Ela já não tinha mais energia para discutir com ninguém.

Com o passar do crepúsculo, outra pessoa a procurou. Daquela vez era um soldado magricelo e de sorriso simpático. Pelas vestes cinzas, ele era um patrulheiro e possivelmente alguém com poucos meses de experiência no serviço. O rapaz se apresentou como Arthur e avisou que uma senhora aguardava por ela na entrada principal, mas que não poderia ter duas pessoas na cabana. Regina hesitou, pois se recordou da orientação de Bomani, porém duas enfermeiras entraram no local e disseram que iriam trocar os curativos e ministrar o medicamento. Quando abriu a porta, o ar frio fez seus braços arrepiarem e os esfregou na tentativa de diminuir o incômodo. Foi até o estacionamento e viu Cora ao lado do próprio carro.

— Mãe?

— Olá, minha filha. — Cora disse e a abraçou rápido. Não estavam muito acostumadas com demonstrações de afeto. — Como vai? E Emma?

— Inconsciente até o momento. Faz algumas horas que recebi o relatório do médico responsável. Não tem previsão de quando ela se recuperará, mas pelo menos o quadro é estável.

— Estou surpresa que permitiram que você ficasse tanto tempo.

— Bom, eu tive que usar dos meus privilégios. — Estreitou os olhos e comprimiu os lábios. — Onde está papai?

— Na companhia de George. Ele foi demonstrar apoio à realeza, enquanto eu trouxe algumas roupas para você. Sua irmã está lá também.

— Então é preciso uma situação tão grave para ela agir como uma pessoa adulta.

— Regina... — Cora ralhou e balançou a cabeça com descontentamento. — Vou ignorar essas provocações, por ora.

— Obrigado. — A duquesa murmurou. — Por tudo, especialmente pela notícia.

— Não se esqueça da sua situação. Precisa tomar uma decisão em breve e eu sei que fará o que é melhor.

— De onde vem essa confiança?

— Desde que nasceu, Regina. — Pegou a mão da filha e a apertou. O sorriso de Cora era sutil, mas acolhedor. — Nunca subestimei sua capacidade de lidar com momentos difíceis e com a pressão do seu destino. 

— Mas eu não sei o que os deuses querem de mim. — Abaixou a cabeça e suspirou. — Muito menos qual minha posição no meio disso tudo.

— Você é a Duquesa de Locksley — Cora falou com convicção e levantou o queixo da filha para que a olhasse bem. — E a pessoa mais forte que eu conheço. Acredito que seu povo precisa dessa força agora e pelos próximos meses.

— Certo. — Regina concordou e retribuiu o aperto de mão. — Pode dar um recado para Aurora por mim? Liguei para ela, mas não me atendeu e eu preciso que ela continue a obra que pegamos.

— Sim, claro.

— Peça que ela fique responsável por tudo e que eu vou tirar alguns dias de folga. Não é só pelo que aconteceu, mas preciso desse tempo. Pietro e os outros podem ajudá-la nessa tarefa. 

— Mais alguma coisa? — Cora entregou a bolsa com o que trouxera para a filha e uma sacola de pano com alguns alimentos.

— Não. Só isso mesmo.

— Volto amanhã. Quero dar um pouco de apoio para Ingrid.

— Ela vai precisar. — Regina recuou alguns passos. — Mande um abraço para papai.

— Até amanhã, querida.

— Até.

Assim que entrou no quarto, Regina estranhou a energia do ambiente. Não era algo que ela externava com frequência, mas desde muito nova sua intuição sempre fora afiada e o melhor a fazer era segui-la. Não sabia muito bem o motivo para ter aquela sensação, mas imaginava que o cansaço e o estresse poderiam afetar seu julgamento. Sentou-se na poltrona novamente. Segundo os que as enfermeiras contaram horas antes, haviam camas móveis para os acompanhantes e ela poderia solicitar uma. Bomani pedira a dois soldados para que preparassem tudo e Regina o agradeceu por telefone. Ela estranhou que no decorrer do dia, apenas Mary e David tinham aparecido para ver a princesa. No entanto, sabia que George e Ingrid provavelmente precisavam despistar as pessoas e a imprensa, pois o ataque à Emma ainda era secreto. 

Comeu duas maçãs e uma goiaba. Não estava com fome para pedir um jantar completo, o que Bomani também tinha deixado claro que ela poderia fazer. Na verdade, qualquer coisa que precisasse os soldados estavam prontos para atendê-la. Porém, Regina não tinha ânimo que não fosse para ler um artigo sobre Arquitetura que trouxera na bolsa ou pensar sobre os últimos acontecimentos em Petroia. Era muito estranho que, mesmo com o ataque, as coisas estivessem tão calmas. O reino tinha uma cultura muito rígida em relação ao senso de justiça. Além disso, os crimes contra a realeza eram fortemente punidos, em casos raros até com a pena de morte. Outras condenações incluíam prisão perpétua e servidão para a Coroa por no mínimo quinze anos.

Entretanto, até aquele momento Regina não vira nenhuma movimentação do exército ou sequer algum pronunciamento oficial sobre o caso. Ela se perguntou o que George, Midas e o Conselho estavam pensando, mas novamente se viu cansada demais para elaborar algum pensamento crítico. A cama montável estava colocada na outra extremidade do quarto, mas próximo a cama de Emma. Regina não queria dormir com a visão apontada para a princesa, mas desistiu de mudar o móvel do lugar. Não era momento para implicância. 

Optou por tomar banho, vestir suas roupas confortáveis de dormir e se deitar até que os Espíritos Mentores a levassem para os planos celestiais onde os sonhos eram límpidos e aconchegantes. Não foi isso que aconteceu. Logo a inconsciência tomou o corpo da duquesa e a estranheza que sentira no quarto se justificou. 

 

 

Na ponte que ligava o vilarejo de Sindetha à cidade de Gaspares, uma mulher assustada corria descalça, sentindo os ladrilhos frios contra a sola dos pés. O chão estava coberto de musgos e líquens, então volta e meia ela escorregava. A ponta era larga e comprida, especialmente quando chegava ao meio do rio Sucena, onde formava uma pequena curva que impedia a estrutura de se abalar com facilidade. O barulho dos cascos dos cavalos e o tremor dos animais pesados que perseguiam a moça a deixavam com o coração saindo pela boca. Ela queria gritar por ajuda, mas duvidava que alguém a salvasse. Eram tempos sombrios em Sindetha e sua única chance era cruzar o cerco e se abrigar na casa de seus tios maternos em Gaspares.

Porém, quando se aproximou da outra margem, a moça quase perdeu as esperanças. O cerco era vigiado, obviamente. Os soldados que o vigiavam usavam armaduras pratas e roupas de malha azul. Ela os reconheceu do dia anterior, quando viu três deles espancarem uma senhora que se recusou a pagar os altos impostos que eles cobravam. Porém, não havia tempo para raciocinar, ela precisava despistar os cavaleiros e ainda encontrar um furo no cerco. A captura parecia inevitável, mas a mulher não desistiu. Não era do seu feitio abandonar as coisas, sobretudo com sua vida em jogo.

— Pare! — Um dos cavaleiros gritou. Era o que estava à frente dos outros e com uma lança na mão.

A moça apenas o ignorou e continuou correndo. Ela sabia que se parasse, seus perseguidores não seriam gentis ou misericordiosos. Do outro lado do rio, alguns soldados desciam do cerco, onde haviam dois fortes que fechavam as fronteiras para Gaspares. Eles possuíam espadas e escudos, enquanto outros carregavam apenas bastonetes de madeira. As armaduras eram menos lustrosas do que as dos cavaleiros, mas ainda sim resistentes a qualquer coisa que a moça usasse como arma. 

No entanto, ela sabia que poderia recorrer a um último recurso. Algo que ela só usava nos momentos de emergência e que não servia para machucar as pessoas. Então, ela fitou para a Lua e parou por alguns segundos, o suficiente para fechar os olhos negros e acalmar a respiração, enquanto entoava uma canção antiga, quase esquecida nas amarras do tempo. Suas mãos tremeram e a pele morena avermelhada se esquentou de modo que nem mesmo o vento gelado a incomodou mais. Os dedos foram se abrindo, pois era necessário deixar aquela energia fluir, assim como suas tias e avós a ensinaram quando criança.

Quando ela abriu seus olhos novamente, o vento agora circulava próximo ao seu corpo com rajadas fortes e cortantes. Os cavaleiros ainda estavam na ponte, mas ela, em terra firme, nem percebeu o quanto tinha andado mesmo com a sensação de estar parada. As águas ficaram agitadas, assim como seus cabelos encaracolados e pretos. O primeiro cavaleiro, que ela imaginou ser o líder do grupo, conseguiu chegar à margem, mas os outros não tiveram a mesma sorte. O rio era caudaloso, porém com a força dos ventos um pequeno tufão causou ondas de mais de seis metros, que atingiram os homens e os derrubou da ponte. A estrutura balançava, o que a moça tinha achado impossível por ser feita de pedra, mas era muito tarde para se apegar a esses detalhes.

O cavaleiro se virou em direção aos seus homens, mas todos já estavam no rio e mal conseguiam nadar. Teve apenas um que conseguiu chegar à margem, mas ele estava muito debilitado para ser útil. Os soldados que cuidavam do cerco ficaram paralisados, talvez assustados demais ou incrédulos, pois as águas do rio estavam serenas havia alguns minutos. Atrás da mulher havia o cerco e, à sua frente, o líder dos cavaleiros empunhou uma espada com uma mão e jogou a lança na direção dela com a outra. 

No entanto, antes que a lança atingisse o alvo, outra mulher surgiu, se é que poderia ser denominada assim. Ela tinha dois metros de altura, embora demonstrasse ter um pouco mais. Uma aura dourada com pequenas partículas rosas contornava seu corpo. Na cabeça um par de chifres longos, grossos e pretos. Ela carregava um escudo em forma de folha, que era feito de metal desconhecido e coberto por couro e pelos de búfalo. Na mão livre havia um machado bipene, com dois gumes. Do machado se projetavam descargas elétricas, que o cobriam e também se estendiam pelo braço da mulher.

— Minha Deusa, minha mãe. Louvada seja Pryath — A moça perseguida se ajoelhou atrás da mulher, que não a olhou ou sequer se moveu.

— Levante-se e lute. Você jamais abaixará sua cabeça novamente, pois as filhas de Pryath não se submetem aos homens, sejam eles ricos ou poderosos. Você é a minha protegida. Erga-se! — A voz dela era como trovões em dias de tempestade, ou o som do tremor de um terremoto. — E você… — Pryath apontou o machado para o cavaleiro, que segurava o pingente estranho em seu cordão de prata e rogava por seu deus. — Você caiu no julgamento da minha balança. Todos vocês cairão, até o último de seu nome.

No momento em que a moça se ergueu, pôde ver a Deusa se lançar sobre o cavaleiro. O pulo fez com que montes de terra explodissem à volta de Pryath, que cortou a cabeça do homem ao meio. No entanto, do corpo morto, uma figura horrenda e de aparência leitosa saiu como se fosse a sombra de um esqueleto. Era a alma do cavaleiro, que foi absorvida e aprisionada dentro do escudo de Pryath. Porém, a luta ainda estava longe do fim. Apesar do medo, alguns soldados não hesitaram em tentar atacar a moça humana pelas costas. Afinal, ela ainda estava petrificada com a força da entidade que a protegeu.

Um dos soldados, que segurava uma espada, aplicou um golpe, mas antes que ele pudesse finalizar, a Deusa o arremessou com uma descarga elétrica. A sensação era que ela fez isso apenas com a mente, o que a sua filha não perguntou. Os outros, que ainda estavam no cerco e nos fortes, atiraram flechas contra Pryath. No entanto, seu escudo era forte e protegeu ambas sem o menor sinal de estrago. Pelo sorriso que a moça pôde observar, sua Deusa estava apenas brincando com os soldados. Após alguns minutos de saraivadas, os soldados não tinham mais munição e decidiram descer do cerco para enfrentar as duas mulheres. Alguns fugiram com medo, outros hesitaram e desmaiaram após a demonstração de poder da Deusa.

Porém, havia um grupo de homens carecas e carrancudos, que eram fortes e carregavam olhares sinistros. Eles usavam colares de ouro com um pingente estranho, todos carregavam a mesma figura. Ao se aproximar da Deusa, pois já estava no solo, um deles tentou golpeá-la com uma espada, mas não teve sucesso. Pryath o pegou pelo pescoço, pois era maior do que ele e o quebrou. O corpo caiu na terra, e o destino da sua alma foi a mesmo do cavaleiro. Quando o restante do grupo reagiu, outra descarga elétrica os atingiu e fez com que desmaiasse. O cheiro dos corpos queimados era forte e a moça jamais havia sentido algo igual.

De repente, o rio se acalmou e o céu ficou limpo novamente. Apenas a Lua brilhava com toda sua soberania e Pryath diminuiu de tamanho. Agora ela parecia uma mulher comum, exceto pelas roupas douradas e avermelhadas esvoaçantes. A moça não tinha reparado, mas a Deusa vestia uma roupa de guerra junto com um caftan de seda. Nos antebraços haviam braceletes de cobre e no pescoço colares de um metal que ela não reconheceu. A Deusa era linda, principalmente de tão perto. A pele de ébano e os cabelos presos em tranças grossas davam um ar selvagem, que a deixava ainda mais intimidante. Pryath era a deusa da guerra, mas também da sensualidade e feminilidade. 

— Você está segura, por enquanto — A voz dela se tornou calma e quase humana.

— Para onde vou? Sindetha foi tomada por esses homens violentos e dominadores. Eles escravizam nossas crianças e estupram nossas mulheres. Destruíram os templos e somos proibidas de fazer os rituais para os Deuses. 

— Não tema, minha filha. — Pryath acariciou a bochecha da moça e a olhou com ternura — Tempos sombrios cairão sobre essas terras, mas nós não deixaremos nossos filhos desprotegidos. No entanto, vocês precisam lutar. 

— Assim nós o faremos, minha Mãe — A moça se abaixou numa pequena reverência e sorriu para a Deusa, que retribuiu um pouco mais contida.

— Preciso ir, me chamam em outro lugar.

— Eu a verei novamente?

— Siga sua força ancestral. Eu estou sempre com você. Esse corpo é apenas um receptáculo, uma pequena representação de mim. — Pryath se afastou e foi coberta novamente pela aura deslumbrante.

— Que assim seja.

— Agora, você deve ser forte, Regina… Outros virão atrás de você e do seu povo. É hora de colocar as coisas em seus devidos lugares. — A Deusa apontou para o coração da moça, que estranhou o nome, pois ela não se chamava Regina. — Em breve chegará a hora de se decidir… Entre seu amor ou sua segurança. Não haverá escapatória, você precisa salvá-la ou sucumbirá a uma escuridão jamais vista antes. O que o amor uniu, nem todas as reencarnações desse mundo e dos outros poderão separar. A Leoa de Petroia clama por seu coração, mas cuidado… As ameaças espreitam o Palácio de Dayô. E apenas a sabedoria da Coruja pode impedir a destruição pela guerra.

Não houve tempo para questionamentos, nem mesmo para que as dúvidas ganhassem força. A Deusa se foi como um vendaval e a escuridão tomou da ponte e de todos que estavam próximos a ela.

 

 

Regina acordou de supetão, com o coração acelerado e a pele pegajosa de suor. Havia muitos anos que não tinha um sonho vívido como aquele, que mais parecia uma memória reprimida. Ela sabia que muitas pessoas tinham lembranças de suas vidas passadas, mas com ela nunca tinha acontecido daquela forma. Engoliu em seco e olhou para a cama onde Emma estava. Poderia ser sua confusão mental, o sono ou a escuridão do quarto pregando peça, mas naquela noite Regina jurou ter visto o corpo de Emma coberto por uma aura dourada, e ao seu lado o espectro de uma mulher com chifres longos e roupas de guerra.

 

***

 

O tempo mudara. Não fazia frio como horas antes, mas havia uma camada fina de neblina, que cobria a superfície e quase escondia a casa. Ingrid saiu pela porta e retirou as luvas ensanguentadas. Após horas em pé, ela sentiu dores nas pernas. Sempre que estava próximo ao inverno seu corpo reclamava. Não gostava de frio, mas crescera em Storybrooke e ali a amplitude térmica era enorme. No verão, quase não suportavam o sol a pino e o calor abafado até mesmo durante a noite. As quatro estações eram bem demarcadas e no inverno, o frio extremo atingia até mesmo as chapadas da vegetação árida no centro-oeste do reino. 

A rainha respirou fundo e o vapor saiu como fumaça de suas narinas. Olhou ao redor e viu Mulan próximo à cerca que rodeava o terreno. Ela não tinha a intenção de assustar a garota, mas quando se aproximou foi o que aconteceu. Sorriu, apenas uma leve curvatura nos cantos dos lábios e esfregou as mãos. Suas articulações estavam um pouco doloridas, devido ao esforço que fizera naquela noite. Os nós dos dedos arroxeados e com marcas dos golpes que dera no homem interrogado. Mulan ofereceu café para ela, que aceitou e pegou um pequeno copo cheio.

— Qual a próxima parada? — A guerreira perguntou.

— Voltamos para o castelo. Preciso estar lá quando George acordar.

— Temos outra rota para o retorno, eu me assegurei de que estivesse livre e fosse diferente para evitar que fôssemos seguidos.

— Fez muito bem. — Ingrid assentiu e tomou seu café. — Mulan, você conhecia minha filha?

— Não, mas sempre admirei o trabalho dela no exército. Quero dizer, todos os soldados novatos se espelham no grande Comandante. — Deu de ombros e observou as colinas há alguns metros da cerca, onde a neblina estava ainda mais densa e a floresta era intocada. O verde escuro das árvores contrastava com o tom amarelado das outras, que perdiam suas folhas nessa época do ano. — Não me leve a mal, mas apesar disso, eu tenho minha preferência. Meu pai foi um grande guerreiro e pretendo seguir seus passos.

— Entendo. 

— Não se preocupe, majestade. — Mulan se virou para a rainha e encarou seus olhos verdes. — Vamos fazer justiça à nossa Comandante e encontrar uma forma de ajudá-la.

— Agradeço o esforço, querida. — Ingrid encarou a mais nova e sorriu, desta vez um pouco mais animada. — Sei reconhecer os verdadeiros aliados e também como recompensá-los. Peça para Bomani ajeitar tudo.

— Sim, senhora.

Ingrid viu Mulan se afastar e imaginou o que faria quando aquela situação acabasse. Talvez pudesse escrever uma recomendação para que a guerreira subisse de patente, se assim ela desejasse. Conversou com Bomani para que ele levasse Beltrão para a prisão, onde uma cela especial o esperava. O homem passaria por um julgamento tradicional, o que Ingrid ansiava com prazer. Ordenou que os outros oficiais limpassem o ambiente e eliminasse todos os rastros tanto dela, quanto deles.

Na volta para o palácio, Ingrid não se manifestou e Mulan respeitou o silêncio da rainha. A situação era muito delicada e o cansaço mental tinha atingido a todos. Bomani resolveu voltar no carro com Ingrid, mas também não falou nada. Ao chegarem no palácio, entraram pela mesma passagem da noite anterior. Ingrid os parabenizou pela missão e pediu que se retirassem antes que tivessem mais problemas. Ambos obedeceram rapidamente e a rainha respirou fundo. Seria difícil lidar com George, pois ele certamente se sentiria traído pela atitude da esposa. Porém, havia assuntos que nem mesmo o rei tinha autoridade para controlar.

— Você quebrou a minha confiança. — O rei disse assim que a esposa entrou no quarto. Ele ainda estava sentado na cama, com as pernas debaixo das cobertas, pois a friagem o causava dores insuportáveis.

— Não preciso pedir permissão para minhas missões.

— Eu não sou apenas o rei, Ingrid, eu sou o seu marido e…

— O pai de Emma! — A rainha aumentou o tom de voz e segurou as lágrimas. — Você continua sendo o pai dela. Então sabe porquê fiz o que fiz.

— Acha que eu não tenho vontade de matá-los? Não importa quem eles sejam ou quantos sejam? — George também gritou — Mas eu preciso decidir por mim e pela nação. Não posso me levar por minhas emoções.

— Temos funções diferentes. Sei o meu papel e respeito o seu. Preciso que faça o mesmo.

— Eu nunca te julguei pelas missões que desempenhou — George balançou a cabeça e suspirou — Não me intrometo, mas desta vez… Desta única vez você pode colocar tudo a perder.

— Eu prefiro pagar por qualquer crime do que perdê-la — Ingrid explodiu em lágrimas e apontou para o próprio ventre. — Ela não nasceu daqui, George. Eu não a gerei, mas não muda o amor que sinto. Alguém precisa pagar por mexer com meu bebê.

— O que pensa que estou fazendo?

— Não sei — Balançou a cabeça e coçou a testa. — Eu sinceramente não faço a menor ideia.

— Nós vamos agir. Convoquei os 12 Comandantes. Emma terá justiça e assim também poderemos garantir que outros conflitos apareçam, eu só preciso que você tenha paciência.

— As chances de haver uma guerra…

— Confie em mim, meu amor — George olhou para a esposa e mordeu os lábios. — Por favor, confie em mim.

— São as vidas do seu povo.

— E da minha filha — Fechou os olhos e uma lágrima escorreu. — Se algo acontecer a ela, eu… Eu jamais vou me perdoar.

— Precisamos de toda nossa força. Eles são mais organizados e maiores do que imaginamos.

— Sim, eu sei. Mas o que eles não sabem é que Petroia possui armas que nunca viram. As mesmas armas que eu não hesitarei em evocar.

Ingrid encarou o marido e percebeu uma raiva que ela não enxergava há muitos anos, sobretudo quando as coisas se tornaram mais pacíficas no reino. Retirou sua roupa e caminhou até George para selar seus lábios. Não tinha muito tempo, ela precisava de um banho e queria visitar Emma o quanto antes. Trocou carícias com o marido e depois seguiu para o banheiro. Suas mãos ainda estavam doloridas pelo interrogatório, mas ela conseguiu informações valiosas, informações que mudariam os rumos daquele conflito em breve e de forma completamente radical.

 


Notas Finais


Gostaram? Me deixem saber o que vocês acharam, mesmo que seja uma crítica negativa. Não demoro com o próximo capítulo, já o tenho em mente. Não se esqueçam de mandar uma mensagem privada com o número de telefone de vocês, se quiserem participar do grupo do whatsapp sobre a fanfic e outros assuntos.

Agradeço pela revisão da maravilhosa @GihCross.

Abraços a todos e até logo.


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