História Kodama - (Un)pretty Dreams

“Uma floresta calma, onde só dá para ouvir as cigarras e o vento passando pelas folhas. Um lugar calmo, realmente agradável. Eu conheço este lugar, é a floresta que eu sempre ia quando era criança e ficava brincando sozinha, na minha cidade natal!
Me sento calmamente de baixo da maior árvore, localizada no meio da floresta, é mais iluminado e tranquilo. Um barulho entre os arbustos me chama atenção, me levanto e caminho devagar até lá, passo entre o arbusto e me assusto com a cena diante dos meus olhos. Um garoto! Um garoto com asas desmaiado bem na minha frente! Poderia ser um anjo? Me agacho, olhando aquela figura mais de perto, cabelos negros, pele branca, arranhões em seu rosto e em seus braços, asas pretas e tão belas... Levo uma das minhas mãos devagar e ansiosamente até suas asas. Quando estava prestes a toca-los, uma mão segura fortemente meu braço e a única coisa de que me lembro são seus olhos pretos e profundos me observando.”

-Esse sonho de novo... – acordo ofegante e assustada. Esses sonhos começaram quando eu me mudei para Kyoto, é realmente estranho mas acabei me acostumando e ignorando.

Me levantei, caminho calmamente para o banheiro e faço a minha higiene diária. Vou até meu guarda roupas pegando meu uniforme e colocando em cima da cama. Tiro meu pijama e visto o uniforme padrão: camisa branca com alguns detalhes em azul no colarinho , gravata, saia azul um pouco acima dos joelhos, meias brancas e um sapato marrom. E coloco meu colar dourado e no meio tem uma pedra vermelha arranhada, eu não lembro de quem eu o ganhei mas sei que foi quando eu era criança e é o meu maior tesouro. Pego minha bolsa e desço as escadas, vou até a cozinha e vejo um pote com sanduíches preparados pela minha mãe que já tinha ido trabalhar com o meu pai. Guardo o pote em minha bolsa e vou em direção à porta, logo saindo de casa, rumo ao Colégio.
Vou naturalmente pelo mesmo caminho que faço todos os dias. Depois de 20 minutos, chego ao meu destino. Logo que chego, tiro os meus sapatos e guardo no armário, coloco meu uwabaki que é feito especialmente pra andar no interior do Colégio. Caminho pelo corredor e escuto alguém gritar o meu nome.

-Aya!!

Olho para trás e vejo minha (única) amiga, Megumi Shiota. Me mudei para Kyoto à 2 anos por conta do trabalho dos meus pais, Nagahama acabou se tornando uma cidade pequena para o negócio de advocacia deles. Agora estou no 3° ano do Ijimo Academy e pude fazer minha primeira amiga! Ela é divertida, espontânea, fala com todos e engraçada. O que é totalmente diferente de mim... mas mesmo assim, ela sempre está ao meu lado.

Vejo ela correndo até mim, com seus cabelos castanhos e curtos na altura do ombro voando, seus braços se envolvem em meu corpo me dando um grande abraço, o que quase me faz cair. Megumi me solta e sorrio para ela.

-Hein, Aya! Ouvi dizer que vai ter um aluno transferido hoje!! Será que é um garoto e bonito?- Megumi fala sorrindo e empolgada. Sempre me divirto observando ela.

Garotos não me despertam tanto interesse, na verdade, nunca falei diretamente com um. Sempre fico nervosa e com vergonha quando outros alunos falam comigo, acabei me tornando uma pessoa tímida.

Entramos na sala de aula e sentei no meu lugar, era do lado da janela e mais para o meio. Megumi sentou na carteira atrás de mim e já me cutucou com a voz manhosa.

-Ayaaa~ Você fez os exercícios da aula de amanhã?

Eu sinceramente já esperava por isso, Megumi quase sempre está com as notas abaixo da média. Mas sempre faço o que posso para ajudá-la. Pego meu caderno de matemática entrego à ela. Nunca vi sua mão se mover tão rápido para pegar algo.

-Prometo que te entrego amanhã e essa vai ser a última vez. Obrigada, Aya!- Megumi faz um coração com as mãos enquanto fala.

-Não precisa se preocupar com isso. -Sorrio e já aparece o professor pedindo para todos sentarem e ficarem em silêncio.

-Bom dia. Hoje temos um novo aluno. Por favor, entre. – O professor anuncia e olha para porta, fazendo todos olharem para a mesma direção.

Um garoto alto, pele branca, cabelos pretos que chegavam a parecer azulados, porte físico médio entrou na sala, é realmente bonito. Pude ver que Megumi e outras garotas já se mostraram encantadas com a nova figura. Não me chamaria atenção, se não fosse por seus olhos negros e profundos do qual nunca poderia me esquecer, os mesmos olhos do meu sonho. Aquilo realmente prendeu a minha atenção.

O garoto pegou um giz e escreveu seu nome no quadro negro: Ryuki Shotaro. Se apresentou de forma rápida.

- Meu nome é Ryuki Shotaro, sou aluno transferido. Vim do Toka High School, conto com vocês.

-Ryuki, sente-se na carteira vazia do lado de Aya Shibahara. E Shibahara, ajude o aluno novo à conhecer a escola, passe as matérias recentes à ele. E agora começaremos nossa aula de literatura. – disse o professor rapidamente já dando início a sua aula.

-Sim... – digo em tom baixo, não sei como poderia falar com ele ou ajudá-lo. Ele me parece um pouco assustador.

Ryuki caminha calmamente entre as mesas e se senta no lugar vago do meu lado, parecia não se importar com os olhares curiosos. O cumprimentei silenciosamente e ele fez o mesmo. Ficamos prestando atenção no que o professor dizia até que decido escrever um bilhete e entregar para o aluno novo: “Tudo bem se no intervalo eu te mostrar o Colégio?”, ele somente me olha e acena positivamente com a cabeça e voltamos a assistir a aula até chegar o intervalo.

O sinal toca, avisando que já é o intervalo. O professor pega suas coisas e sai da sala, alguns alunos se levantam e caminham para fora da sala enquanto outros juntam as carteiras para lanchar juntos. Aviso Megumi de que irei guiar o novo aluno, ela fez um bico e quer ir junto, mas algumas garotas da outra sala chamaram (arrastaram) ela para lanchar juntas, então ela acabou indo. Dou uma risada baixa até perceber que tem alguém atrás de mim, me viro e vejo que Ryuki estava me olhando e esperando ser guiado pelos corredores.

- Hmm... e-então vamos? -me esforço para não parecer nervosa, mas acho que não deu muito certo. Caminho saindo da sala e vejo que ele me acompanha logo atrás. Enquanto andamos pelo corredor, vou lhe mostrando onde fica cada local que poderia ser útil à ele.

- Aqui é a biblioteca, ali a enfermaria e ali a sala dos professores, que você já deve conhecer.- isso realmente não estava dando certo, aqueles lugares ele poderia descobrir sozinho. Eu não sei mais o que poderia mostrar a ele. Deixo escapar um suspiro e sinto que ele me encara.

-...Você sabe de algum lugar que seja agradável para ficar sentado? – ele diz tranquilamente olhando pela janela.

Penso rapidamente até me lembrar de um local confortável e tranquilo. O olho acenando positivamente com a cabeça e começo a andar. Passamos pelo ginásio, até chegar em um local com alguns bancos, ao redor era cercado por flores, árvores e arbustos. Um lugar tranquilo, poucos alunos sabiam que aquele local existia. Ryuki senta em um dos bancos e fica silenciosamente observando algumas flores que estavam ali, ele leva uma das mãos até o banco e dá algumas batidas, pedindo para que eu sentasse.
Sentei ao seu lado, por mais que eu quisesse não conseguia tirar meus olhos dos seus. Eu estava curiosa com aquilo. Por que se parecia tanto com o garoto que aparece em meus sonhos?

- O que foi? Parece que quer falar algo. – fui surpreendida com o sua percepção e seu olhar direcionado à mim.

- N-nada... Eu só... Você é de Kyoto mesmo?- perguntei a primeira coisa que me veio a mente, desviando do momento vergonhoso.

-Sim. – uma resposta rápida e curta. Não sabia mais o que dizer, então nos mantemos em silêncio. Mas era confortável estar ali sem falar nada e só sentir a tranquilidade daquele lugar, me parecia tão nostálgico.

O intervalo finalmente acabou, estávamos voltando para a sala e já passando pelo corredor quando Megumi pula em minhas costas, cambaleio um pouco mas já me estabilizando quando ela me solta. Megumi começa a falar várias coisas, olho para a direção da sala e vejo Ryuki indo em direção à ela, ele acena com a mão como se estivesse agradecendo e entra na sala. Foi divertido até, consegui falar com outra pessoa sem quase desmaiar. Caminho com Megumi ao meu lado, mas acabo esbarrando em uma menina da outra sala.

- Me desculpe – curvo o meu corpo pedindo desculpas pela minha falta de atenção.

-Tanto faz. – ela me olhou com desdém. Era alta, magra, cabelo comprido, era bonita mas sempre tinha uma expressão ruim em seu rosto. Megumi rapidamente me puxou para a sala e sussurrou em meu ouvido:

- Ouvi dizer que ela inveja todas as garotas. E as odeia por ser mais bonita que ela, será que é um complexo de inferioridade? Não fique muito perto dela – ela ri e entramos na sala para assistir o resto das aulas.

Depois de vários e vários minutos de aula, finalmente o sinal toca para irmos embora. Arrumo minhas coisas percebendo que esqueci de comer o lanche que minha mãe preparou, estava nervosa guiando Ryuki que nem senti fome. Como uma mania, fui pegar em meu colar até perceber que não estava em meu pescoço. Aquilo fez meu corpo gelar e procurei desesperadamente em minha bolsa, mas não o encontrei.

- O que houve, Aya?- Megumi se aproxima preocupada.

- O meu colar. Eu o perdi. – me viro para ela sentindo algumas lágrimas em meus olhos, percebo vários olhares curiosos principalmente do Ryuki que estava ao lado. Sequei meus olhos e continuei procurando com a ajuda de Megumi.

- Como ele era? – Ryuki pergunta parecendo não estar muito preocupado.

- U-um colar dourado, no meio tem uma pequena pedra vermelha arranhada. -disse surpresa por ele querer se envolver nisso.

- Ok. Se eu encontrar, te entrego. – disse isso se levantando e saiu da sala.

Me senti agradecida por sua preocupação e ajuda. Espero poder encontra-la. Peguei minha bolsa, caminhei em direção à porta do Colégio e tirei meu uwabaki colando meus sapatos que estavam guardados no armário. Saímos do Colégio e Megumi me acompanhou até a metade do caminho de casa, ficamos falando sobre coisas banais mas divertidas. Nos despedimos e ela entrou na rua de sua casa e continuei meu caminho. Estava desanimada, só quero chegar em casa e dormir, foi um dia cansativo e não queria ficar pensando no meu colar.

Cheguei em casa, era 19h e meus pais não tinham chegado ainda. Subi as escadas, entrei em meu quarto largando a bolsa no chão, fui ao banheiro e tomei um banho para relaxar, vesti roupas confortáveis e me deitei na cama fechando tranquilamente os olhos.

“Espero não sonhar com aquilo de novo.” Pensei enquanto caía no sono.

Continua...