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História Kryptos - Dez


Escrita por: anachinnie

Notas do Autor


Oi gente tudo bem?
Desculpe a demora, mas ta ai.
A parte 2 vai ter mais um capítulo porque não deu pra acabar nesse ahahahsa muita coisa pra acontecer e ficou enorme, desculpa!
Temos um fato interessante daqui pra frente, descobrirão nesse.
Obrigada por comentários!
Boa leitura e perdão pelos erros.
Xero e até mais.

Capítulo 10 - Dez


Fanfic / Fanfiction Kryptos - Dez

Parte II

“Será que Langley sabe disso? Eles deveriam: está enterrado em algum lugar. X Quem sabe a localização exata? Só WW”

[...]

 

 Dez.

 

Ana não conseguia entender porque tinha tanta má sorte com relacionamentos. Claro, os namoros. Não estava solteira novamente, o que era questionável, mas rever Jinyoung naquela manhã lhe deu um choque de realidade. Tinha pedido um espaço para resolver os problemas e o garoto o deu, não poderia reclamar desse tipo de coisa, certo? Mas ainda um vazio incômodo estava nela. Poderia tentar expor o lado dele e me fazer repensar. Eu não devia ter sido tão fria quando pedi. Ele não devia ter aceitado tão facilmente, será se não importava ficar perto ou longe? E precisava ficar longe nessa escala? Agora não sabia se a culpa era dele ou sua. Quatro anos de relacionamento e pareciam que namoravam há eternos quatro dias em alguns quesitos. Falando exageradamente, claro. O relacionamento que havia construído com o Jinyoung humano era até bem impressionante em comparação a outros. Estavam além de qualquer mera definição do que era estar interligado a alguém de tantas formas diferentes. Ah, não podia sair comparando essas coisas, mas tudo aquilo tinha um significado importante e era bem difícil não comparar.

Beirava ao ridículo o fato de que em qualquer coisa que se metia dava nisso. Tudo virava problema, chateação, tédio, acomodação. Não queria que acontecessem as coisas pelas quais foram motivo do corte da sua relação com JB, Jinyoung tinha sua diferença. Embora fosse uma pessoa difícil da forma dele, ainda era alguém que Ana sofreria muito se o perdesse em algum momento.

Já estava no fim da primeira metade do doutorado e mal acreditava naquilo. Chegou em 2015 em Seul e já estava em 2020. A essa altura do campeonato, depois de tantos trancos e barrancos, conseguiu perder seu orientador e novamente estava ponderando largar tudo e voltar pro Brasil. Mesmo que tudo indicasse, não poderia jogar cinco anos de estudo fora, ainda mais agora depois de tudo que descobriu. Sem contar que havia quase três anos desde que começou sua nova pesquisa. Junior a mataria por voltar a pensar nisso. Todos, na verdade, mas a opinião de Junior tinha um peso absurdo. Por outro lado, ela estava bem sólida com seu trabalho, o que poderia facilitar em arrumar outro orientador. Havia alguns que tinham interesse em sua linha de pesquisa até onde sabia. E, como bolsista pela segunda vez seguida, algo de interessante Ana deveria ter para conseguir tal feito. Não era a mesma situação quando estava no primeiro ano do mestrado, Ana tinha um nome agora. Junior não era um mero robô. E era seu, mérito seu.

No meio do velório, quando Ana viu Chansung entrar pela sala que ela havia saído, se despedindo acenando, encarou o namorado novamente. A pergunta que ele fez logo após Chansung sair de suas vistas a acordou.

— Você o conhece?

— É. Eu o conheci quando estava em Tóquio essa semana.

— Ele não tem a ver com a confusão que ta tirando o sono do meu pai, não é?

Ana sorriu amarelo.

— Depois eu te explico...

As horas correram devagar. O sepultamento havia sido pior do que Ana poderia pensar. Entretanto, pode se sentir um pouco melhor por estar rodeada de seus amigos. Bambam, Jinyoung, Junior, Jackson, Jung-Su e Bang estavam espalhados a sua volta e não te deixariam sozinha. Chansung permaneceu um pouco longe demais — estava de óculos escuros e usava uma camisa preta e, como sempre, estava com os cabelos bem penteados e negros — e Ana não deixou de observar aquilo.

Quando tudo havia acabado, finalmente, todos de repente queriam falar com a garota. Ana estava perdida, não sabia pra onde ir agora ou o que fazer. Se falava com Chansung sobre a forma que ele havia chegado a Seul — quem sabe ele realmente queria fazer uma surpresa — ou se saía pra espairecer com Jinyoung e deixaria Junior com Jackson.

— Ana, eu li suas palavras. — ouviu o loiro lhe dizer quando decidiu dar um passo para tomar a decisão. — Sabe que estou aqui, não é?

— Sei. Eu também vi sua mensagem, pelo menos quase toda. — o abraçou. Viu que ele quis perguntar o porquê de não ter lido tudo, mas poderia esperar. — Jackson, quando o Chansung chegou aqui?

— Ele chegou de manhã. Ontem, quando ligamos pra ele, ele pareceu apressado.

Ah, Bang havia comentado isso.

— Acho que foi fazer as malas e pegar o primeiro vôo hoje cedo. — Jackson deu tapinhas em Ana. — Foi um bom gesto da parte dele.

— Espera aí... — Ana se deparou com algo. — E o Nichkhun?

— Acho que você vai ter que perguntar pra ele. Não tocamos nesse assunto, seria muita cobrança pra uma hora delicada.

— Espera, espera. Eu preciso falar com o Jinyoung, você não poderia falar com ele por mim? Sério, eu realmente preciso...

— Te atualizo então.

Despediram-se.

020

Só quando pisou na frente da casa dos Park se deparou com algo. Jurava por tudo que é mais sagrado não querer remoer a chateação que sentiu ao ver o namorado no velório mesmo que não fosse próximo a Lee Chunji, e não fora procurar a garota. Estava tão fácil, ficou o tempo todo ali entre as mensagens e entre os parentes do orientador. Jinyoung nem mesmo ligou para a mesma pra falar algumas palavras. Ana estava exausta daquilo e, embora estivesse querendo arrancar os cabelos daquela criatura com suas unhas, veio passar um tempo com aquela pessoa. Já era de noite, do mesmo dia, e não era bem como queria estar. Queria um tempo a sós, não só para conversar, mas para tentar se divertir um pouco ou pelo menos compreender o que estava acontecendo. Porém teve que trazer Junior consigo, afinal Jackson provavelmente havia ido com Chansung andar pela cidade ou mostrar o lab; Jung-Su, sua segunda opção, estava no mesmo local em que ela se encontrava no momento, e aparentemente nenhuma outra pessoa poderia ficar com Junior naquela noite.

E o pior: a máquina não queria ficar sozinha. Depois de ver o estado da garota, e devido a sua percepção de chateação rastreada a quilômetros pelo seu sensor imaginário que desenvolveu sozinho sobre sua dona, não queria deixá-la sozinha. Mesmo que ela tenha afirmado com todas as letras que estaria bem, que só queria ter umas palavrinhas com Park Jinyoung, o humano mais terrível que poderia classificar em seu cerco de relacionamentos.

Não demorou em que abrissem a porta e Ana sorriu por ser a senhora Park com o pequeno Heechul nos braços. Ele deveria ter quase três anos a essa altura, e confessava que não o via com freqüência. Cumprimentou-a devidamente e Junior passou ao seu lado, mais grudado impossível, e foram se sentar no sofá.

Queria estar “tranqüila” junto com os outros, discutindo sobre as coisas e perguntando de Nichkhun. Se estivesse certa, a essa hora Chansung devia estar recebendo muitas perguntas sobre tudo. Ana sentia a chuva de perguntas de Bambam lhe invadir os ouvidos daqui. Descartou completamente a possibilidade de todos estarem se divertindo e de Jackson estar indo passear com Chansung por aí, pois se lembrou que todos estavam muito curiosos sobre o moreno. Chansung não teria um segundo de paz.

— Vou chamar o Jung-Su. — ouviu a senhora Park, mas Ana achou aquilo estranho. — Um minuto.

— Ah, espera, senhora Park. — levantou-se do sofá. — Eu vim falar com o Jinyoung. Ele não está?

— Ah, claro, que bobagem a minha. É só que... — suspirou. — Vejo meu marido falar muito de você, e depois de toda essa confusão eu...

— Tudo bem. — riu sem graça. — Hoje é com o Jinyoung mesmo.

Mesmo depois de tanto tempo, até mesmo a senhora Park podia sentir que algo não estava muito correto ali. Entretanto, fora da imaginação de Ana estava uma informação que a mãe de Jinyoung guardou no último mês, mas achava que fosse mais bem contada pelo filho.

— Pode subir, ele ta te esperando. Junior? — olhou pro humanóide. — Eu tenho uma coisa pra você, deixe Ana subir sozinha, ta bem?

Não sabia se aquilo era um sinal que algo esperava a garota, mas Junior prontamente seguiu a senhora Park até a cozinha. Ana viu o humanóide mexer carinhosamente nas bochechas da criança, que sorriu com o carinho. Subiu as escadas, sorrindo, pensando em como o seu Jinyoung era a coisa mais preciosa que tinha em toda sua vida.

Abriu a porta devagar vendo que Jinyoung, o humano, mexia em seu computador. O quarto do mesmo jeito que via sempre: desenhos pra todos os lados — apenas os mais importantes, ela se lembrava bem —, pinturas em aquarela, alguns lembretes acadêmicos, a cama toda bagunçada e com uma toalha recém usada jogada na mesma.

— Não vou nem avisar que to aqui... Se bem que ultimamente é até melhor eu dar uma tossida discreta. — disse sem emoção e Jinyoung se virou. Estava uma graça, e seu cabelo continuava pra baixo. Molhado, recém lavado. Parecia desconfortável, mas ainda sim lhe sorriu e abraçou Ana rapidamente. Novamente, apenas um abraço. Ficou novamente frustrada. Até mesmo sua máquina era mais carinhosa.

— Desculpe, eu tava concentrado.

— Perdão por atrapalhar. — viu ele negar.

— Achei que você fosse pro laboratório hoje à noite, meu pai saiu não tem nem meia hora.

Achou aquilo esquisito, afinal senhora Park estava indo chamar o marido. Talvez não tenha visto que ele tinha saído. Era meio óbvio que ele colaria em Chansung enquanto ele estivesse pela cidade. E algo lhe acometeu: até quando Chansung ficaria na cidade?

— Minha vida é mais do que programar humanóides. — deu de ombros. Aquilo era mais importante no momento. — Mas não é sobre isso que eu vim conversar.

— Imagino. — ele apontou pra sua cama e tirou a toalha enquanto Ana se sentou confortavelmente. — Junior está aqui? — uma coisa era certa: ele havia aprendido a conviver com ele e sempre perguntava como ele estava. Talvez porque isso indicasse o humor da garota melhor do que olhar em seus olhos. A máquina era um perfeito reflexo da alma dela.

— Está, sua mãe puxou ele pra cozinha. — sorriu se lembrando da cena fofa do robô com o irmão de Jinyoung. — E, nossa, seu irmão ta gigante. Faz tanto tempo...

— Tem uns meses que você não o vê, não é? — se sentou ao seu lado. — Crescem rápido.

— Se tem algum tempo que a gente não se vê, imagina eu por aqui. — não queria soar como uma indireta, até pra si mesma, mas era inevitável. Jinyoung franziu a testa.

— Não é minha culpa que a faculdade esteja infestada de vírus. E você não me disse pela manhã quem era aquele cara.

— Também não é minha culpa. E é alguém que vai ajudar a gente. — se resumiu nisso. — Alguém de confiança e que conhecia o doutor Lee. Hwang Chansung.

— Parecia próximo.

— Deve ser porque a gente tem um robô em comum agora.

Viu a surpresa nítida no rosto de Jinyoung e não deixou de rir.

— Mas eu realmente não vim pra falar de robôs ou de vírus ou de problemas acadêmicos ou virtuais. — Ana se apressou. — Queria saber o que ta acontecendo com você, novidades, o que passa pela sua cabeça mais improvável que a do Junior...

— Você me pediu um tempo, eu te dei. — disse simplório, mas Ana não conseguia acreditar naquilo.

— Não, Jinyoung, eu não pedi um tempo. Eu pedi apenas para que eu me concentrasse no trabalho, não quer dizer que eu iria viver isolada ou que não precisasse de nenhuma notícia. E pra piorar você foi pra Tailândia com sua família e não me mandava uma mensagem.

— Eu não queria te atrapalhar.

— Não queria? Pois deixou ainda piores as coisas.

— Fiz o que você pediu.

— Levou ao pé da letra pelo visto. Custava mandar alguma coisa dizendo que estava bem? Uma foto?

Jinyoung não respondeu sobre aquilo.

— Vi o JB hoje de manhã. — falou apressado, desconfiado da forma dele.

Aquelas voltas no assunto faziam Ana ficar nervosa.

— Se tivesse me visto, teria concluído que eu tava precisando de ajuda. Mas ainda bem que o JB está melhor e soube discernir que eu quero distância dele mesmo que eu tivesse morrendo de chorar naquele momento. — não queria ser rude, mas estava completamente indignada.

— Me desculpe, eu não sabia...

— Não sabia pelo o que eu tava passando? Tive que ir pra outro país, aconteceram mil coisas realmente estranhas, não estou nada bem, meu orientador morreu, de novo vou ter que procurar uma forma de permanecer em Seul... Eu sei que sabe o que aconteceu da última vez, infeliz ou felizmente tenho o Jackson do meu lado pra te manter informado.

— Eu entendo o seu lado é que...

— Jinyoung, eu te mandei mensagens, você mal me respondia. Nem da sua viagem você me contou. Eu até gostaria de contar sobre a minha, mas olha, não quero ficar te enchendo com problemas, de longe não foi a lazer que eu viajei. Não quero te afastar, acha isso? E, pra falar a verdade, eu acho que o Jung-Su lhe contou tudo de forma que entendesse. Não preciso falar mais nada.

— Ana...

— E então? O que ta acontecendo? Acho que já tem um tempo que estamos juntos, você poderia ser sincero comigo de uma vez por todas. — tentava não levantar o tom de voz, mas era impossível.

— Ana, me escuta. — disse firme.

— Me diga logo, eu não tenho paciência pra essas coisas. Não sei o que aconteceu, quatro anos depois de tudo... De como nos conhecemos, do Junior, de toda aquela viagem e...

— Eu estou me mudando. Eu vou em uma semana.

 

 

Pendurou-se no balcão, impaciente, esperando Junior terminar a conversa com a senhora Park. Heechul nesse momento estava em uma cadeirinha pra bebês, comendo algumas frutas fatiadas, e sorria em sua direção. Mau humor nenhum impediria de devolver um sorriso para aquela criança. Já fazia alguns minutos que havia descido do quarto de Park Jinyoung e estava indiscutivelmente confusa demais.

— Junior... — não queria apressá-lo mesmo que visse que ele estava se divertindo com dois livros, os quais Ana não poderia ler seus títulos agora, em seus braços. Mas tinham que voltar pra casa, não queria ficar ali por muito mais tempo. — Eu vou te esperar lá fora. Até mais senhora Park. — acenou e a mulher acenou rapidamente de volta, afinal ouvia algo bem interessante de R207 no momento.

Sentou-se no último degrau da varanda e recapitulou o que ouviu de Jinyoung, o humano. Estou me mudando, Ana. Me desculpe não falar nada, mas eu realmente achei que iria te atrapalhar te contando sobre esses planos e... Eu sei que o que estava fazendo era muito importante, não era só por você. Eu sei de tudo, meu pai está bem envolvido também. Ele sempre me pede pra que eu seja compreensivo e deixe você fazer o que é melhor. Então era isso? Ele ouviu o pai e deixou de tentar ter um relacionamento normal consigo? Bem que imaginava que as coisas estavam esquisitas, o espaço dado era muito maior do que precisava. Não podia acreditar. Mas agora sei também que as coisas vão se resolver, eu fiquei surpreso... Você foi realmente corajosa. E eu gosto muito de você por isso, mas duas oportunidades não batem na mesma porta facilmente. Você sabe bem disso, não é? Quando conseguiu o mestrado... Já me disse essa história com tantos detalhes que posso recitá-la pra qualquer pessoa. Ele riu. Quem sabe não sou eu que posso ir atrás da minha jornada? Você entende? Não ficaria chateada, não é? Claro, se você quisesse continuar, poderíamos tentar e... É difícil, claro, mas não é todo dia que eu posso ir pra França e passar um ano.

E era isso. Jinyoung se mudaria pra França para estudar e Ana soube de uma forma bem esquisita. Estava frustrada por não saber disso antes, mas que culpa tinha? Tinha sua máquina, o seu Jinyoung, literalmente porque ele lhe pertencia, mas era totalmente diferente. Amava os dois, de forma única, e não queria abrir mão de nenhum deles. Entretanto, em um ano quando ele voltasse, a garota estaria ingressando no último ano do doutorado e tudo ficaria ainda pior... Mais corrido, mais estranho. E, de longe, Ana não sentia que tinha o dever de tentar fazer Park Jinyoung pensar melhor, nem mesmo sabia por quanto tempo ele almejava uma coisa daquela. Nunca tiveram conversas, além de meras vontades de mudanças, aperfeiçoamentos e melhorias de estudo, sobre o assunto e Ana se sentiu ainda pior. Sobre o que conversavam?

— Eu faço isso também, eu mereci. — disse pra si mesma. — Eu me odeio.

Ouviu a porta bater, então parou de falar consigo mesma, e finalmente quem tanto esperava havia chegado.

— Vamos, Junior, a gente precisa dormir. — levantou-se, sendo seguida, porém a falta de luz e, pela segunda vez naquele dia, havia os confundido de novo. — Ah, Jinyoung... — o humano estava parado a sua frente e Ana sorriu amarelo. — Achei que fosse o Junior.

— Notei. Ele ainda ta falando com minha mãe sobre alguma coisa. — ele riu sem graça. — Ana... Enquanto isso, eu...

— Não precisa se preocupar. Faça uma boa viagem, eu sou a última pessoa que quereria te impedir de fazer algo assim. Seria muito egoísta da minha parte.

Jinyoung suspirou, sabia que Ana estava se lamentando por muitos erros durante todos esses anos, mas ele não estava muito diferente.

— É sério... Eu achei que não me despedi devidamente. Ainda podemos nos ver até o fim da semana.

— Não sei, eu estou dependendo do laboratório, e acho que tem muito que fazer até seu vôo. — já havia passado por aquilo, antes do mestrado, e poderia entender que Jinyoung realmente precisaria daquele tempo. — E não sei até quando o Chansung vai estar na cidade, preciso participar das atividades. Aproveitar o que temos. — suspirou. Jinyoung assentiu. — Já que as coisas ficaram assim, não quero que aconteça o mesmo que aconteceu com o JB.

— Não vou jogar bebida no chip do seu humanóide.

Ambos riram.

— Eu sei que você nunca seria capaz disso. — passou a mão de leve na bochecha do garoto. — Foi incrível. Todo esse tempo. Mas eu deveria saber.

— Eu sei que devia ter falado isso antes, só que...

— Não, Jinyoung. Eu deveria saber que as coisas estavam estranhas pra gente. Acho que no fim eu me dedico mais às máquinas. Talvez pelo fato delas serem eternas, não há um sentimento de perda que não possamos reverter; nem arrependimento que corroa tanto; nem rancor que apodreça o nosso interior de forma igual; não há decepções que não possam ser resolvidas com linhas de máquinas programáveis. — lembrou-se de Chansung duvidando de seu relacionamento. Ana era tão transparente assim? Estava tão na cara que Ana se dava melhor com os humanóides? — Acho que além de ser assim eu passo essa ideia com a mesma intensidade. Eu estava com raiva pela forma que tudo tava indo, mas era tanto problema com aquele vírus que eu nem me mexia pra resolver esses que estavam bem na minha cara. Programar ou achar os culpados do vírus mascaravam os meus problemas pessoais. Poderiam ser resolvidos com mais facilidade, mas eu deixei pra lá. Deixei que você se afastasse, deixei você me dar o espaço; deixei você me deixar em paz.

Jinyoung a observava, calado, enquanto Ana tentava buscar justificativas.

— Eu tenho medo. — não queria se abrir tanto, mas depois de tudo talvez fosse extremamente necessário. Não só pra mostrar para Jinyoung como estava se sentindo, mas principalmente pra si mesma. Cair na real.

— De que?

— De que no fim só vai me restar o Junior. Eu não dou valor às coisas que tenho, digo, olha só pro doutor Lee. Eu poderia ter feito tanta coisa diferente. Eu poderia ter sido mais compreensiva e escutado os conselhos. Ter mudado aqueles parágrafos que ele gritava comigo todo email pra eu corrigir. E eu fui teimosa. Do começo ao fim. — o remorso lhe invadia de uma forma que nunca poderia mais invadir. Ver o orientador ser enterrado, terminar um relacionamento, tudo e mais um pouco afligia Ana de uma forma sem igual.

— Mas está no doutorado, ganhou ótimas notas, conseguiu outra bolsa. Invadiu um laboratório, foi atrás do problema sozinha. — riu daquele pequeno detalhe de invasão.

— Isso foi suicídio. E não foi bem uma invasão, seu pai te contou direito? — ele assentiu. — Sei.

— Claro que não foi suicídio, você ta aqui. E mais forte. E é por isso que nunca seremos como você e o JB. Foram ótimos quatro anos, não foram?

Ana assentiu, voltando com as lágrimas, abraçando fortemente o garoto.

— Eu te odeio! — riam. — Foram ótimos anos, claro.

Encararam-se por alguns segundos, rindo de nervoso, quando se soltaram do abraço. E, novamente, o tão característico abraço. Talvez aquela demonstração de carinho fosse parte do pacote que havia adquirido quando o conheceu no refeitório quando Bambam a apresentou, completamente nervosa, e mesmo assim continuava querendo que ele mudasse. Ana se esquecia que não podia programar a mente dos seus amigos como fazia com a de Junior.

— É melhor eu chamar o Junior, acho que precisa descansar. — Jinyoung disse, enxugando algumas lágrimas, entrando de volta em casa.

020

— Eu ainda espero uma despedida. — Ana ouviu Jinyoung, que estava nos degraus que ela estava antes, falar depressa. Junior encarou Ana sem expressão alguma e ouviu a dona falar baixo pra si um “já volto”.

Achou aquilo engraçado, afinal ele sempre a criticava pela forma que ela havia se separado de vez de JB um pouco antes de conhecê-lo. E, embora agora o então amigo Park Jinyoung se encontrasse em um posto parecido de Jaebum, não poderia igualar aquele momento ao que teve no refeitório da universidade — dia horrível por sinal —.

— Sabe por que eu não me despeço? — Ana disse um pouco mais baixo, mesmo sabendo que Junior a ouviria. — Porque não é um fim. Jamais seria como foi com Jaebum, você mesmo disse.

Jinyoung pareceu surpreso, então Ana sorriu.

— É impossível ficarmos um longe do outro, ainda mais com Junior existindo.

— Mas...

— Você quer se despedir? Eu não quero. Não quero encerrar as coisas dessa forma, mas se você insiste tanto...

— Tem razão.

Estalou um beijo desajeitado na testa de Ana após segurar as bochechas da garota com delicadeza.

— Sabe o que é isso? — ele disse, ainda segurando o rosto de Ana. A garota negou. — É um até logo.

 

 

Ana pode relaxar no ônibus praticamente vazio, entretanto ainda tinha um olhar desconfiado caindo sobre si naquele momento. Ana resolveu encarar Junior de volta, que parecia impassível, e sentia que ele queria perguntar. Ah, se queria... Se fosse humano, estaria se coçando pra abrir a boca e ser indiscreto. Mas, espera, ele não precisava de tanto para soltar as verdades. Ali soube o quanto o humanóide havia crescido, sem dúvida, mas não demorou dez minutos para que Ana torcesse sua língua sobre o amadurecimento de R207.

— Ana-shi está namorando ainda? Junior a viu chorar.

Quis rir e, ao mesmo tempo, era triste pensar em como tudo era uma montanha russa e no momento estava sentada em um dos carrinhos — só que sem cinto de segurança — e passava por uma descida de tirar o coração pela boca. Era quase dez da noite e Jackson realmente tinha levado a sério sobre te atualizar só depois sobre Chansung e Nichkhun, principalmente, então apenas suspirou e encarou seu destino de ter que voltar pra casa com Junior cheio de curiosidade.

— Não, Junior. Jinyoung vai pra França passar um tempo e...

— Jinyoung não vai morar mais aqui?

— Bem, ele vai fazer um tipo de intercâmbio. Parecido com o que eu fiz pra cá.

— Então Ana-shi não é mais namorada de Jinyoung?

— Não. A gente conversou e achou melhor pararmos.

— Mas e o Jung-su hyung?

— Bem, o que isso tem a ver?

— Achei que Ana-shi fosse pedir ajuda pra ele. — Junior estava pensando sobre sua estadia e permanência no doutorado? — Ana-shi não pode ir embora, doutor Lee não quereria que ela fosse.

— Eu sei, eu vou dar um jeito. — passou a mão de leve em seus cabelos. — Mas ainda não entendi o que isso tem a ver com o fato de eu e Jinyoung não estarmos mais juntos.

— Geralmente quando as pessoas terminam relacionamentos cortam relações, e isso poderia prejudicar o seu trabalho. Semana passada eu terminei o último romance da coleção do hyung, — Ana, novamente, pensava em como o Jackson influenciava esse lado do Junior. — E lá a protagonista rompeu um relacionamento de anos, mas logo após ela encontrou outro homem e ela foi feliz de novo e...

— Junior... — tentou interromper, sem rir, mas tinha que lembrar que tudo ele tentava encaixar em uma história fictícia. — Você ficou traumatizado com o JB. Tenho plena certeza disso. Preciso dar uma olhada em alguns códigos. Ah, — fez um sinal de alerta. — Não vou apagar nada, só preciso fazer uma revisão. Você percebeu que eu e Jinyoung não brigamos?

— Mas...

— Nem todo mundo é capaz de atitudes horríveis. E nem todo fim de relacionamento é trágico o suficiente para que cortemos as relações em definitivo. E acho que você pode entender afinal você sempre terá um pouco dos filhos do Jung-su. E até onde eu sei são bem dignos pra influenciarem humanóides.

Passou o resto da viagem até sua casa encostada no ombro do humanóide e, embora parecesse plena com a decisão tomada, demoraria algum tempo pra se acostumar. Mas sobreviveria, assim como sobreviveu até hoje.

020

Chansung te chamaria mais atenção no momento, mesmo confortavelmente sentado em uma das cadeiras do lab 5, se Jackson não tivesse feito algo completamente inesperado. Estavam no dia logo após o velório, e Ana havia entregado Junior a Jackson pela manhã no laboratório. Imaginava que os dois aprontariam, mas não daquela forma: Junior estava diferente. Parecia mais jovial, mas seu rosto ainda era o mesmo, ainda bem. O cabelo ondulado e mais cheio aparentemente foi modificado durante aquela manhã por Jackson Wang. Sabia que podia alisar ou enrolar os fios de Junior quando quisesse, ele mesmo também fazia isso, mas a renovação dos fios havia o deixado ainda mais incrível.

Ana havia confiado Junior ao loiro para que pudesse ir até o departamento de pós-graduação da universidade. Mesmo que ainda estivesse muito recente, Ana mal conseguiu pregar o olho a noite inteira pensando na burocracia de transferência de orientador, e nem ao menos pensava em quem poderia lhe ajudar. A menção de Jung-su por Junior no dia anterior havia lhe dado uma ideia, mas não sabia como abordar aquele assunto com seu ex sogro e ex dono de Junior.

Entrou pela porta do lab depois de ter ficado algumas horas conversando com o pessoal da pós-graduação, mas nada de falar com Jung-Su ainda. Ele estava ocupado em algumas reuniões, e Ana suspeitava que Bang Yongguk estivesse envolvido nas mesmas. Tentou não pensar nisso por hora e encarou ora Chansung ora Junior que estava com as madeixas recém postas no gel.

— O que ta acontecendo aqui?

— Ah, verificando algumas coisas sobre o Nichkhun, nada demais. — Chansung respondeu automaticamente, mas na verdade Ana olhava decididamente para Park Jinyoung, o robô, que encarava de volta com uma expressão tão limpa que nem parecia ter ocultado sua mudança de visual da dona.

— Na verdade, era o Junior. — riu sem graça e Chansung gargalhou.

— Claro, claro, por que eu pensaria que seria eu? — a ironia fez a garota rir, mas pediu um momento pra falar com o humanóide a sós e logo voltaria a falar com ele.

Puxou Junior para o fundo, driblando Jackson, e olhou de uma forma que Junior nem precisaria ler sua mente pra entender.

— Resolvi fazer uma surpresa. — e passou a mão de leve nos cabelos. — Gostou?

Ana olhava desacreditada pra aquilo.

— O que você fez? — era sua vez de ver mais de perto, mas Jackson não havia mexido muito. Acrescentou fios, claramente, e a maioria deles se enrolou de forma fofa. Não era muito diferente dos últimos penteados dele, afinal ele gostava das ondas que ele mesmo projetava pra si.

— Jackson hyung fez um novo implante em mim. — e ele se forçou a sorrir e Ana riu junto. — Ana-shi não gostou?

— Claro que gostei, só não esperava essa mudança de repente.

— Ficou ótimo, não ficou? Achei que daria um ar jovial a ele. — disse Jackson Wang, que havia se posto ao lado dos dois no fundo do lab de forma curiosa. — Quem sabe ele arruma uma namorada robô? Chansung ta aí e pode apresentar aquelas recepcionistas...

Ana olhou feio pra ele.

— Jackson, ele é...

— Não começa. E Junior não está tão novo assim, por isso pensamos na mudança. E isso inclui pensarmos em mudar parte do hardware dele, é importante. Ainda mais depois de tanto tempo e tanta perturbação... Podemos aproveitar o Chansung hyung para darmos um upgrade na rede dele. — falou mais baixo, mas era inútil. Junior ouvia tudo. Jackson soava tão escandaloso que provavelmente metade do lab ouviu também.

— O que quer dizer? Chansung vai ficar mais tempo?

— Acho que ele tem boas novas. — Jackson apenas disse, porém sem nenhuma certeza. — Eu e Junior vamos voltar ao trabalho, sugiro que continue procurando pelo seu orientador. Em duas semanas começam as aulas. — Jackson voltou ao trabalho, mas Junior esperou Ana falar mais alguma coisa.

Ana se sentiu derrotada. Era um misto horrível de sentimentos sapateando pela sua cabeça: o Kryptos, o orientador, Jinyoung o humano, e agora a recente vontade de mudança de aparência de Junior. Como podia estar em um furacão de acontecimentos?

— Ana-shi conseguiu um novo orientador?

— Ainda não, Junior. Mas talvez... Eu tenha pensado em algo. Melhor você ir trabalhar, eu preciso dar uma palavrinha com o Chansung.

020

Definitivamente não queria levar Chansung ao refeitório, já tinha uma coleção de memórias bombásticas ali, mas era ou ali ou na biblioteca, e conversar por lá era quase impossível. Porém, em tempos de férias, o refeitório estava praticamente vazio. Poucos funcionários da universidade almoçavam e havia sido uma boa ideia fazer isso também. Passou a manhã inteira correndo atrás de coisas do doutorado e pode finalmente ter uma conversa decente com o moreno mais velho.

— Nem acredito que você veio... — Ana se sentou de qualquer jeito, pondo sua bandeja na mesa, enquanto Chansung estava prestes a se sentar. — E queria saber se...

— Nichkhun? — Chansung sorriu. — Ele está bem.

— Vou confiar em você.

— Seria ótimo. — riu mais alto. — Ana, desculpe não ter conversado com você com mais calma ontem, mas Jackson me puxou pra fora de lá e de repente eu estava indo para um restaurante tailandês indicado pelo Bambam... Incrível esse menino, fiquei realmente impressionado.

Ana sorriu, Bambam era realmente uma graça.

— Eu pedi pro Jackson fazer algo, desculpe, mas eu tive que falar com o Jinyoung.

— Namorado ou máquina?

— Namorado. Ex. — se sentiu ridícula. Chansung quase se engasgou com a comida.

— Como em vinte e quatro horas podem mudar tantas coisas? — Ana sabia que ele queria rir, não de sua cara, mas sim de toda aquela confusão.

— Eu me pergunto isso sempre. — suspirou. — Em vinte e quatro horas Junior mudou de cabelo, você apareceu em Seul do nada, fiquei solteira, perdi meu orientador, estou novamente perdida na academia.

— Uau. — embora estivesse impressionado, ficou preocupado pela garota. — Mas há chance de você continuar com suas pesquisas, não?

— Claro. Eu espero. A maioria do pessoal estava ocupada hoje porque falta pouco pro começo do semestre. Então muitas reuniões estão sendo feitas.

— Algum nome cogitado para orientador?

Ana hesitou. Não havia falado com ninguém a respeito daquilo, mas não fazia diferença guardar aquela informação de Hwang Chansung.

— Jung-Su. Eu pensei em conversar com ele, afinal... Ele já foi dono do R207. — explicou, mas tinha uma noção de que ele poderia saber daquele detalhe.

— Bang me contou algumas coisas que você não tinha me explicado. — disse descontraído. Ana imaginava que conversas aconteceram. — Mas o engraçado é que... Eu nunca vi esse humanóide por aqui.

— Como assim?

— Eu me lembro do filho mais velho do Jung-su hyung, obviamente não fazia o mesmo curso que eu, acho que era...

— Letras.

— Isso. Embora eu não o visse, o hyung comentava muito do filho dele recém formado e brilhante.

Ana se sentiu pesarosa ao ouvir isso. Mal se lembrava que Chansung viveu parte disso tudo, mesmo que nunca tivesse visto o humanóide pessoalmente à época.

— Achei que o R207 fosse famoso. Que convivesse no meio dos estudantes de CC, mas pelo visto... — Ana torceu os lábios.

Ana achou aquilo um pouco egoísta. Claro que era um projeto pessoal, uma homenagem íntima de Jung-Su, mas Junior poderia ter se tornado ainda mais impressionante se tivesse convivido por aqui por mais tempo. Era algo que o pai de Jinyoung poderia abrir mão, trazer a máquina e mostrar que muita coisa no universo virtual era possível e já estava acontecendo. Mas se lembrava também o quanto as pesquisas eram raras e difíceis, pouco influenciadas a continuarem e que o patrocínio também eram raros. Pensando nisso, Jung-su deve ter gastado muito dinheiro pro R207 nascer, Ana sentiu um pouco do sentimento do Jung-su naquele momento. Mesmo gastando horrores, o dano ao psicológico dele não impediu que ele rasgasse milhares de won se desfazendo de Junior e indo embora.

— Mas o Bang me disse algo que eu me lembro bem. O hyung era muito orgulhoso dos filhos, sempre falava em um grande projeto, parecia até mesmo a gente falando do Kryptos quando estávamos na teoria. Sempre falava que aquilo iria mudar a vida dele. Poucos meses depois tudo aconteceu. Alguns professores falaram do acidente, que o filho dele tinha morrido e ele tinha apenas se machucado. Agora não imaginava...

— O que?

— Que tudo isso iria acontecer. Que ele iria jogar fora o que o deixava tão empolgado e decidido, que o humanóide tinha a cara do filho mais velho e que o mais novo se tornaria seu namorado.

Pelo visto Chansung estava por dentro de tudo.

— Isso é irrelevante no momento. — revirou os olhos. — Às vezes eu tenho medo de pedir pra ele me orientar. Apesar de que, quando ele voltou pra universidade, me assegurou que não iria tomá-lo de mim, que eu estava fazendo um bom trabalho. Mas fiquei tensa porque ele viu que não conseguiu destruir aquela lembrança. E que eu tinha restaurado tudo e piorado em partes pelo design do Jinyoung ter parado nas mãos do Jackson, mas, claro, aquilo não foi minha culpa nem de Jackson. — suspirou — Às vezes eu tenho plena certeza que Junior é parecido com o Nichkhun...

— Eles têm muitos códigos idênticos.

— Não, Chansung, eu to falando sobre a memória. Junior não se lembrava de nada do passado dele. Às vezes acho que quando ele foi jogado fora, apagaram tudo. Ficou apenas a essência, o que ele sabia fazer e poucas lembranças básicas. Por exemplo, ele reencontrou o Bambam, como se fosse naquela época, e o reconheceu mesmo com tanta informação oculta na cabeça dele. Aquilo havia me deixado maluca.

— Jackson me disse. Imagino o choque que foi tudo. Mas realmente é engraçado, não estávamos acostumados a esse projeto, ele fazia tudo por debaixo dos panos.

— Assim como vocês fizeram.

— Não é bem assim, ninguém queria ajudar a gente. Bang ainda tinha alguma ajuda nos projetos pessoais dele, e algo me diz que o Daehyun não é tão novo quanto aparenta ser. Onde está ele?

— Com o Bang, o devolvi, é claro. — suspirou. — Não duvido mais de nada, as coisas estão sendo esclarecidas aos poucos, mas ainda me sinto com os olhos vendados. Deve ter conhecido as outras máquinas do lab...

Chansung parecia amargurado ao ouvir a última frase.

— Me senti horrível por eles. Conheci Sulli, Zelo, Youngjae. Todos eles estavam no restaurante tailandês, foi realmente uma pena que não estivesse lá.

— É, queria ter ido. Mas enfim.

— Ana, eu vim pra Seul, mas isso não quer dizer nada. — disse com pesar. Chansung já tinha terminado seu prato, e Ana ainda estava na metade, perdendo a fome aos poucos. — Vim por causa do velório e pra conhecer o laboratório.

— Mas...

— Eu sei que quer ajudar e eu também quero te ajudar, mas ainda não sei como. Eu tenho algumas cartas nas mangas, mas ainda há detalhes que não posso resolver.

— Como, por exemplo?

— O corpo do Nichkhun.

— O que quer dizer com isso?

— Não posso manter o processamento dele pra sempre no meu computador. Como acha que eu to me comunicando com ele? Com a rede toda vigiada por lá?

— Meu deus, não vai me dizer que transformou ele em algo portátil?

— Não posso, o nível de processamento dele não é igual ao do Daehyun. Não é a toa que a placa dele é do arsênio mais potente que você possa imaginar. — se ajeitou na cadeira desconfortavelmente. — Eu mantenho contato e ele me mantém informado, mas acho que o Jun K percebeu o motivo principal por eu ter vindo. Avisei sobre a morte do professor Lee, mas...

— Acha que ele sabe? Acha que ele matou o doutor Lee? — Chansung se assustou com aquela acusação.

— Ana, matar eu não poderia dizer...

— Mas sabe do que ele é capaz, você tentou a semana passada inteira me manter longe do projeto!

— É muito complicado, ta bem? E não pode falar coisas assim, por favor.

— Eu sei que tem medo de perder o Nichkhun, mas me deixa te ajudar.

— Ana, é impossível. — confessou, se estressando. Tudo seria inútil. Ana nunca iria entender.

— Se não quer ajudar, tudo bem. Mas diga logo de uma vez. — disse firme. — Estou cansada das pessoas me ocultando as coisas, não sendo sinceras e querendo que eu tenha que ler a mente delas, mas eu ainda não sou capaz disso.

— Ana, não é bem isso, eu não posso ir embora de lá, eu tenho um contrato! E o Nichkhun não é meu, sem ele não tem como fazermos nada, você entendeu bem.

— Então eu vou dar o meu jeito. — bateu na mesa de leve.

— Qual?

— Verá. Eu vou tirar o Nichkhun de Tóquio ainda essa semana. — se levantou subitamente. — E você não sai de Seul até o próximo enigma se revelar.

020

Se Junior não estivesse consigo naquela hora, não poderia acreditar no que tinha visto. Estava face a face com Park Jung-Su e Bang Yongguk, trajando um elegante blazer — um pouco formal demais para Bang Yongguk ultimamente —. Finalmente o pai de Jinyoung pudera lhe atender e pensava que o mesmo ouviria toda a proposta de Ana, porém ao entrar no escritório apertado de Jung-Su, encontrou Bang por lá. Bem, Ana poderia esperar do lado de fora, dessa vez com Junior na sua cola, para que pudesse fazer o convite, pra não dizer súplica. Mas o atual orientador favorito do pessoal da programação fez questão que ela entrasse e se sentasse momentaneamente com Junior no sofá no fundo da sala pequena, mas isso durou muito pouco. Parecia que estava no meio de uma conversa longa com Bang e talvez julgasse que o que Ana queria se resolveria rápido, então a deixou entrar sem nem mesmo dispensar Yongguk.

Estava inquieta até Jung-su lhe dirigir a palavra, com Bang ainda presente, observando bem sua pasta cheia de informações que precisaria para comentar sobre a sua nova orientação. Doutor Lee gostaria que seu colega de trabalho, bem antigo, ajudasse a garota daqui em diante, mas a cara de Jung-Su não era das melhores. Ana esperava que fosse por outras causas.

Junior continuaria calado após a insistência de Ana do lado de fora, antes de entrarem, então apenas levava os olhos artificiais de um pra outro ocasionalmente.

— Ana, eu imaginava que você me procuraria. Mas...

— Eu queria que o senhor me ouvisse antes de tomar uma decisão. — Ana se levantou. Fez um sinal para que Jinyoung continuasse sentado. — É importante, é sobre meu doutorado, como o senhor deve saber. Não estaria aqui pra lhe tomar tempo.

Bang continuava calado, observando um ponto qualquer.

— Eu entendo, Ana, mas... — suspirou. — Eu estou cheio de trabalho, não posso te ajudar dessa vez. — o mais velho olhou para Bang o qual não lhe devolveu o olhar.

Ana estava indignada. Não demonstrou, respirou fundo, e tentou novamente persuadi-lo.

— Eu entendo que talvez esteja, mas o senhor é a pessoa mais indicada pra me orientar a partir de agora. O senhor não deve saber, mas eu tomava pouquíssimo tempo do doutor Lee, nos encontrávamos nas sextas pra conversar sobre os progressos e relatórios, então vai ser realmente pouco tempo que vou exigir do senhor. Sou bem dinâmica, me viro bem sozinha. — riu sem graça. — E eu preciso de alguém que mexa com redes e com programação, e o senhor é o melhor dessa faculdade. E é o melhor com IA.

— Devo discordar, não sou o melhor. Há vários outros nomes que lhe posso indicar, eu asseguro que te ajudo com uma recomendação, muitos gostam da sua pesquisa e seu mestrado foi um sucesso.

Apostava que se Jackson estivesse ali, teria começado a gritar se foi um sucesso, o senhor deveria implorar por Ana estar na sua lista de orientandos! E então Ana o repreenderia. Mas graças aos céus Jackson não estava presente. Nem qualquer pessoa do laboratório além de Bang Yongguk, que mesmo jurando que não tinha um vínculo oficial com aquele lugar, sempre estava presente e dando palpites. Até mesmo solucionou o mistério do maníaco e achou os culpados. Ou quase. Mal acreditava naquilo, pouco tempo antes, quando Jung-Su voltou a Seul, Ana juraria que ele amaria lhe orientar e estar perto do R207 novamente. Ana, pelo visto, se enganou. Ainda tinha trauma do projeto?

— Jung-Su... — Ana tentou não entoar a voz. — Eu estou aqui com o Junior porque realmente preciso. As pessoas estão um pouco assustadas, eu estive procurando outros professores pra me ajudar, mas olham pro Junior como se ele fosse uma bomba. Eles temem que aconteçam coisas parecidas com eles se resolverem me orientar. Falei com três professores, programadores e administradores de redes, e jogaram isso quase com as mesmas palavras na minha cara. — disse com pesar. — Sem um orientador, Junior arquiva. Eu vou ter que ir embora.

— Mas é bobagem, eles não sabem o que aconteceram. Pouquíssimos sabem do primeiro ataque e aposto que nenhum deles poderia associar a morte do Lee a um acontecimento tão antigo. E, a meu ver, foi apenas uma coincidência essa tragédia.

Coincidência? Ana estava se segurando pra não sair dali, mas precisava se agüentar e continuar tentando resolver o problema.

— É, mas pelo visto estão associando. Devem ter notado coisas estranhas, foram tantos avisos os chamando para verificarem seus laboratórios e computadores pessoais nos últimos meses que ficaram apavorados. Bang sabe, ele mesmo ajudou o Jackson com isso semestre passado. O que eu vou fazer agora? — Ana soava desesperada, não tinha como convencê-lo de algo nas atuais circunstâncias. — Apenas o senhor sabe o que vem acontecendo, não há professores que tenham coragem o suficiente. Não é minha culpa nem de Junior que o doutor Lee tenha morrido.

— Sabemos disso. Claro que sabemos, Ana. Mas entenda o meu lado, eu queria tanto poder te ajudar. Eu prometo que se passar aqui amanhã terá uma recomendação boa o suficiente para algum professor te ajudar. Quem sabe algum mestre em design? Todos eles adoram o Junior.

Professor de design orientando um projeto de inteligência artificial? Ana não queria reclamar, aceitaria tudo daqui em diante, entretanto era algo triste demais para um projeto de um humanóide tão além de qualquer ambiente real ou virtual. Ana suspirou derrotada, isso não condizia com o que planejava para seu Junior, mas quem sabe poderia ser uma saída.

— Tudo bem, me desculpe. Eu passo sim. O senhor me envia um email quando estiver desocupado, eu venho no mesmo instante. — Ana disse extremamente desanimada, nem mesmo olhou para Bang, e viu Junior se levantar passando seu braço pelo ombro da dona. Vai ficar tudo bem, Ana-shi. — Já estou indo, obrigada por me atender. — sorriu sem humor. Mal viu a reação dos dois à mesa, saiu com o humanóide e apressou o passo até algum banco daquele corredor.

Sentou-se com tudo, sem ligar se derrubaria sua bolsa ou se cairia no chão, e viu Junior se sentar, calado, ao seu lado de forma delicada. O olhar preocupado de Park Jinyoung, o robô, lhe acordou de seus pensamentos.

— Que dia péssimo. — Ana suspirou. — Cada dia as coisas pioram de uma forma incontrolável.

— Vai ficar melhor, Junior pode sentir.

Ana riu sem humor.

— Eu não queria reclamar, mas já foram quase três anos. Só de doutorado.

— Jun K hyung e Wooyoung hyung fizeram isso a Ana-shi? Por que Chansung hyung não pode ajudar? Nem Jackson hyung? E Youngjae hyung...

— Tudo bem, Junior. — interrompeu-o. Sabia que ele citaria pessoa por pessoa. — Eu vou dar um jeito. Assim como prometi pro Chansung que iria trazer o Nichkhun pra cá, eu vou arrumar outro orientador.

— E os professores de design?

— Você se lembra que dentre os mestres em design está a mãe do JB, não é? Talvez nunca tinha te contado isso.

JB estava no último ano de cinema, mas sua mãe era tão artista quanto seu humanóide ou seu ex-namorado. Esse era o grande motivo da família de Jaebum ser próxima da de doutor Lee. Ela era uma ótima designer computacional daquela universidade.

— Não.

— Pois é, se eu fosse atrás, bem capaz de ela tomar frente. Ou não, não sei. — riu. — Imagina que coisa estranha que seria.

— Mas ela poderia salvar Ana-shi de ir embora, não?

— Poderia, mas há um problema nas escolhas de orientador, Junior. — suspirou. — Não é tão simples, veja só: eu preciso de alguém que entenda do assunto pra me ajudar e que me guie até o final do doutorado. Estou na metade da tese, isso quer dizer que a pessoa que pegar o projeto daqui pra frente tem que entender do assunto, ler tudo, me sugerir o que fazer, organizar uma metodologia compatível conosco, sem contar que precisa te conhecer muito bem. Quando o doutor Lee me aceitou, ele se interessou pela coisa toda da ousadia de ter um humanóide. Antes mesmo de eu chegar a Seul eu já tinha algo a oferecer, afinal ele tinha confiado em mim e eu fiz valer a confiança. Eu fui apenas melhorando o código e nós te encontramos e você sabe o resto. Doutor Lee, mesmo que fosse fogo na roupa às vezes, sabia tudo de IA. Programava, tinha conhecimento de banco de dados, redes, robótica. Tudo que eu precisava. Se eu escolher alguém que não entenda nada disso, não vai adiantar nada. Eu vou estar sozinha do mesmo jeito.

— E se Ana-shi procurar algum amigo do doutor Lee? Ele devia falar muito do seu projeto pra eles.

— Ai, Junior, é difícil, não é? Preciso de alguém daqui, fora o Jung-su pelo visto, e sabe o quanto o doutor Lee era excêntrico. Nem tinha tanta gente assim no velório, notou? É porque ele era muito reservado. Como vou achar um amigo que tenha interesse e que seja professor nas áreas que preciso?

— Não sei. Se Junior fosse humano... — ele parou por alguns segundos. — Junior poderia ajudar a convencer.

Ana sorriu agradecida.

— Não há nada que você possa fazer, infelizmente. É comigo, eu tenho que ir atrás. Mas tem sido difícil. Não tenho quase nenhuma opção sobrando. Dessa vez eu realmente estou perdida.

— Não se souber olhar pros lados. — a voz grossa fez Ana se assustar e Junior encará-lo. O tom grave, que sempre lhe causava arrepios no sentido de querer bater a cabeça contra a parede, estava ali sorrindo discretamente na direção dos dois. — Desculpe interromper.

— Por que sempre tão fantasmagórico? — Ana soou desacreditada. — O que quer dizer com isso? Acho que to começando a entender porque o Kryptos é cheio de enigmas. Olha só pra você me respondendo com uma frase profunda... — Ana viu Bang sorrir em resposta.

— Não tem nada de profundo nisso. — Bang se sentou do outro lado de Ana. — É tão difícil de entender?

— Eu to esgotada, não agüento mais ter que pensar. Se não sabe, eu to numa situação complicadíssima que vai me exigir muito.

— Eu sei, eu estava lá na sala. Mas o que exatamente te aflige?

Exatamente? Se eu não achar alguém que me oriente nos próximos dois anos e meio de doutorado, devo fazer minhas malas pro Brasil assim que começar o semestre. Se bem que você poderia ficar com o Junior caso eu tenha que voltar... Quem sabe eu possa ir pra Tóquio trabalhar na área enquanto eu não espero por um milagre? Aceitar o emprego na New Future e terminar de arrancar minhas pernas com os robôs auto limpantes? — a ironia fez Bang Yongguk sorrir e Junior encarar Ana severamente.

— Ana...

— E tem mais: o que eu vou fazer pra ajudar o Chansung se nem consigo me ajudar agora? E o Taecyeon... A essa altura deve ter explodido a cabeça do Nichkhun e matado o Wooyoung, eu não duvido de nada. Quem sabe foi ele que matou o meu orientador? Vai ver ele quer que eu fique longe daqui, não é mesmo? E se ele falou com o Jung-Su pra não me aceitar porque ameaçou o Jinyoung? Ou a família toda? — Ana se levantou e começou a gesticular andando pra lá e pra cá. — Deve ser por isso que ele terminou comigo! E tudo culpa do Taecyeon!

— Ana... — Bang estava pasmo. A garota não falava coisa com coisa. — Me escuta!

— Aquele humanóide ta destruindo minha vida!

— Ana-shi, Taecyeon não é um humanóide.

— Claro que é! Agora é questão de honra, eu vou dar meu jeito. Vou salvar o Nichkhun, vou me salvar, e se eu não me salvar, Junior vai morar com o Jackson ou com você, e sem meu visto de estudante posso ficar mais noventa dias no país, isso implica que eu posso pegar um visto de trabalho se me ajudar, então enquanto isso Junior vai me sustentar com o salário que a universidade paga ele pelos serviços no laboratório. Pronto, é isso!

Bang Yongguk se torcia pra não começar a rir do desespero da garota. Era tão ridículo que soava cômico. Bang adorava aquele jeito de Ana mesmo que lhe desse muita dor de cabeça.

— Ana-shi, não se preocupe, eu te ajudo. — Junior disse docemente e Bang mal acreditava naquilo que ouvia.

Era como um casamento, porém sem dúvida era o mais bizarro de todos. O que sua família diria se Ana dissesse que estava sendo sustentada temporariamente por seu humanóide?

— Ana, não fale bobagens! — Bang falou mais alto e Ana se calou. — Será se você poderia me escutar? Estou tentando te dizer desde que você saiu pela porta do escritório do seu sogro.

— Ex sogro, não entendeu que eu não to mais namorando?

Bang arqueou uma sobrancelha. Nem entraria naquele assunto.

— De qualquer forma, sogro ou ex sogro... A questão é que eu tenho uma notícia pra você. Uma boa e uma ruim, qual quer primeiro?

— A ruim aproveitando a maré, por favor.

— Bem, a ruim é que você não estava tão errada sobre o Taecyeon. — Ana arregalou os olhos. — Estão todos vivos, não se preocupe.

— E a boa? — Ana até se sentou novamente.

— A boa... — olhou pra ela e para o humanóide. — É que está falando com seu mais novo orientador. — estendeu a mão. — Estou contratado no corpo docente desta instituição a partir desse semestre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


E aí? O que acharam? kkkkkk
amaria saber~


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