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História Kryptos - Sete


Escrita por: anachinnie

Notas do Autor


Oi tudo bem?
Depois de séculos eu voltei, espero que compreenda porque ta ficando tenso de fazer e preciso de tempo AUHAUHA
Eu gostei bastante desse capítulo, espero que gostem também.

Mais um da parte 2.
e muitas revelações!

Boa leitura e xero. Desculpem os erros

Capítulo 7 - Sete


Fanfic / Fanfiction Kryptos - Sete

Parte II

“Será que Langley sabe disso? Eles deveriam: está enterrado em algum lugar. X Quem sabe a localização exata? Só WW”

[...]

 

 

Sete.

 

A noite mais difícil até agora, pela estadia de Tóquio, havia sido aquela. Ana, apesar dos pesares, não tinha certeza se estava aproveitando suficientemente bem sua passagem pelo Japão e os outros dois faziam questão de lembrá-la porquê. Jackson nem tinha saído do quarto que a garota dividia com Junior, andando pra lá e pra cá, completamente impaciente. Mesmo que tivesse finalmente entendido e aceitado o que havia acontecido na mansão, Jackson ainda estava particularmente desconfiado com Chansung. Tudo bem, havia se arrependido levemente de ter estapeado o moreno na porta do hotel, mas o que ele poderia fazer? Ana some, nem mesmo uma pista, e aparece com a cara limpa — e a perna cortada — e queria que o loiro fosse compreensivo? Junior tentou fazer a dona dormir, mas Ana havia sentido o peso. Tentou se desculpar, mesmo que orgulhosa, com o amigo e Jackson folheava algo virtualmente em seu tablet fingindo que não era com ele.

Estava tudo certo, os dois jamais ficariam brigados, mas Jackson era tão fogo na roupa quanto Ana.

Organizava especificamente, as três da manhã, sobre os detalhes que levantaram sobre o enigma e aqueles brutamontes, nomeados oficialmente como Kryptos; e Ana, por sua vez, fazia isso manualmente. Junior estava deitado no colchão e encarava o teto. Não parecia contente, Ana havia percebido.

— Hyung não vai ficar contente, Ana-shi. — a voz forte, embora sem qualquer emoção, ecoou e até mesmo Jackson havia parado para ouvir. — Aconselho ser verdadeira com ele, caso contrário, Bang vai vir pra cá e puxar sua orelha. E eu não vou impedir.

Ana revirou os olhos. Era só o que lhe faltava. Passar um dia caloroso cheio de emoção e ainda ter que ouvir sermão de Bang Yongguk. Ana não cederia fácil, mesmo depois de tudo. Tinha sua consciência, mas não iria ouvir desaforo. Estava tão envolvida no problema quanto todos. Havia apenas dado o seu jeito de resolver as coisas. E havia funcionado, certo?

Agora não entendia tanto o desespero dos amigos. Obviamente, havia passado o tempo com Chansung e com Nichkhun e tudo havia corrido bem. Apesar de momentos confusos e decisivos com Taecyeon, tinha uma grande impressão que aquela visita não seria notificada para Wooyoung. Chansung, por favor, que a ouça agora.

Sobre a teoria de Jackson, cada discussão até o amanhecer havia deixado Ana preocupada. Quer dizer, era um alívio ter uma sacada daquela forma e devia aquilo ao loiro. Mas era bizarro. Os caras misturaram coisas incríveis que resultaram em coisas igualmente incríveis. Entretanto, perigosas.

Depois do café da manhã, os três voltaram ao quarto de hotel de Ana e Daehyun apitava. Ana trancou a respiração antes de alcançar o relógio e, pelo seu alívio, Jackson começou a prestar atenção no que estava havendo. Não era nada de importante, aparentemente, mas Ana tinha certeza que se o relógio tivesse saído de um desenho animado, teria adquirido um tom rubro com sobrancelhas arqueadas na tela, como se simulasse que estava com raiva.

— Ana! — Daehyun estava gritando consigo? — Eu estou a noite toda! Nossa! Como pode?

A verdade era que Jackson silenciou o relógio e, por essas e outras, achava que Bang não entrou em contato novamente por isso. Queriam ter certeza de elaborar os melhores argumentos antes de falar com o mais velho. Afinal ele ia surtar de qualquer forma, pelo menos que surtasse consciente que Ana havia feito um bom trabalho. Jackson não conseguia ficar com raiva por muito tempo, no meio da noite, inclusive, havia soltado o tablet e abraçado — aos prantos — Ana murmurando não faça isso nunca mais! Ana sorria, retribuindo o abraço.

— Desculpe, Dae, mas... Jackson...

— Estou tentando falar a horas com vocês! Ana, onde se meteu? Foi tão rápida... Eu não consegui nem emitir um sinal pro meu hyung que você estava me deixando pra trás. Como pode?

— Fala sério, eu sei que você não quis preocupar o seu hyung. E agradeço. Mesmo que os dois aqui tenham dado com a língua nos dentes logo em seguida. — disse a última frase entre os dentes. — Eu estou bem. E temos boas novas.

— Hyung vai entrar em contato em meia hora. Acabo de receber o aviso. — disse e Ana torceu os lábios. — Vai ter que passar por isso mais cedo ou mais tarde. Espero que tenham ensaiado, ele não está de bom humor. E é por sua causa, Ana.

020

 A coisa havia ficado séria a ponto de Daehyun pedir para que Ana usasse o computador para falar com Bang. O mais velho provavelmente estava aguardando o tempo que ele havia informado ao relógio e Ana já estava online esperando a bronca. Jackson roia as unhas ao seu lado e Junior permanecia atrás dos dois. Daehyun estava igualmente quieto e Ana olhava suplicante pro relógio.

— Não olhe assim pra mim, Ana. Você me pôs pra trás porque quis. — Daehyun gostaria de brincar um pouco com a situação, mas estava ficando com pena da garota.

— Não entende? — Ana parecia preocupada agora, afinal tinha que se explicar com Bang e não tinha boas lembranças disso no passado. — Ele não vai entender, vai falar que sou imatura e que fiz coisas sem pensar. Ele me trata assim. Mas...

— Ana-shi, mas isso é verdade em partes. — aquilo lhe atingiu em cheio. Seu humanóide havia confirmado a fala de Daehyun. — Mas sei que não foi por mal. Mas foi maluco, podia ter se matado.

— Não vamos massacrar tanto ela, Junior. — Jackson riu sem graça vendo a expressão magoada de Ana. — Mesmo depois de tudo, Ana trouxe esperanças pra gente. Ana tem seu jeito de fazer as coisas, assim como Bang hyung. Ele vai entender.

Mas aquilo não foi suficiente pra fazer Ana levantar os ânimos. A chamada no skype ecoava do computador, com a musiquinha irritantemente alta àquela hora da manhã. Ana atendeu sem muita vontade.

A figura, aos poucos, se mostrava na tela cheia do computador. Bang Yongguk abriu as cortinas para que o sol entrasse pela sua janela, e iluminasse bem para que eles vissem a expressão furiosa que ele tinha. Ana desviou o olhar e Daehyun deu risadinhas como se aquilo fosse a coisa mais divertida que havia visto na vida. Quando não estava bravo com ele, claro.

O silêncio cortante deixava tudo ainda mais sem graça.

Vou dispensar cumprimentos. — a típica voz cansada de Bang ressoou. — Daehyun me disse que cortou o pé. E que também o silenciou para que não me dissesse nada. — a voz grossa, mais rouca por ter recém acordado, ressoou e o frio na espinha de Ana lhe fez dar conta da tremenda encrenca que havia se metido. — Muito bem, vejo que tem o usado com sabedoria.

O sarcasmo de Bang Yongguk era como navalhas atravessando o peito de Ana. Jackson estava calado, não tinha o que fazer, Junior permanecia vidrado em algum ponto qualquer do quarto.

Aquilo era pior do que ela imaginava. Bang Yongguk e Youngjae haviam ajeitado Daehyun de forma que acompanhasse Ana pelo Japão e, em meio a isso, a garota estava recusando a ajuda do relógio. Quer dizer, não fez por mal e não pretendia tirar Daehyun de seu caminho, mas sabia que com o dispositivo seria difícil passar por Chansung da forma que passou no dia anterior. Algo havia lhe passado na cabeça que o moreno não havia ficado tão satisfeito com as explicações sobre o relógio. Chansung devia desconfiar e Ana nem imaginava como poderia conquistar a completa confiança dele. Passou-lhe à cabeça que sem Daehyun seria mais fácil, mesmo que não tivesse ocorrido o incidente na tenda da New Future.

Não vai falar nada? Acho que uma aventura de um dia você teria muito que me contar. Ou até isso você vai ocultar?

— Bang, desculpa. — Ana interrompeu o discurso tortuoso que Yongguk mantinha. — Se me deixar explicar, eu posso contar do começo ao fim. Mas, por favor, me deixa falar.

Estou a completos ouvidos. — a voz grossa severa disse. — Mas não ouse mentir pra mim. Eu confio em você, Ana, mas temos um limite a ser respeitado. E eu não quero que cheguemos a esse ponto.

— Eu sei, eu sei que fiz besteira. Corri da faculdade, larguei o Daehyun com o Jackson, menti pro Junior, mas foi por uma boa causa. — viram Bang assentir devagar, como se gostasse de ver Ana se arrepender. — Mas não me arrependo. E eu vou te falar porquê.

Contou tudo, exatamente como havia falado para Jackson. Quando chegou à parte de contar sobre Chansung em sua casa, ela hesitou.

— Ana, precisa contar do cara. — Jackson a encorajou, mas Ana não tinha certeza.

Que cara? — Bang soou confuso. — Ana, o que você aprontou?

— Nada. É só que o Chansung, sabe? Ele me ajudou. Nós suspeitávamos dele junto com o Wooyoung, lembra, mas ele me surpreendeu. Eu sei que o conhece e sei que suspeita dele também. Chansung viu a máquina dele me ajudar, e por isso me ajudou também. Não sei como funciona a confiança desse tipo de humanóide, mas Bang... Ele pode confiar em mim quando Nichkhun me estendeu a mão. Pra valer. Enquanto Nichkhun agir assim, Chansung pode nos ajudar. Só que aí o Jackson fez questão de bater nele... E ah, ele mencionou o fato de ter sido expulso do congresso? Hoje seria o último dia, mas pelo visto alguém vai ficar do lado de fora. — olhou furiosa para o loiro que revirou os olhos. Quem havia contado de Chansung e Nichkhun inicialmente, quando Ana havia ido pra mansão, foi Jackson. Mas ela não sabia exatamente como ele havia dito, portanto quis contar toda a história pelo seu ponto de vista.

Não havia mencionado o fato de Junior estar junto, estava ainda magoada pelo comentário exagerado e sincero demais. Nem sempre a sinceridade da máquina lhe agradava. E ele não sabia se policiar completamente, mesmo que depois de tanto tempo. Não sabia que poderia eventualmente ferir sua dona, e isso seria algo inadmissível se tivesse consciência disso. Continuou a contar com mais detalhes sobre o que viveu com Chansung, inclusive quando Daehyun havia ficado preso na armadilha da rede. Mesmo que Bang já soubesse, seria interessante ele ouvir de Ana agora.

Daehyun me disse sobre isso. Eu estava esperando que finalmente me contasse pela sua boca. Quando você fugiu, Jackson me contou por cima. — viu o rapaz suspirar. — Não me admira o Chansung fazer algo do tipo, Ana, ele... Nós fomos mais próximos na faculdade. Ele estudava um período a menos que eu e, inclusive é mais novo, ele fez todo o projeto de redes do supercomputador.

E finalmente ouviria da boca de Bang que ele conhecia aqueles caras. Muitas das informações que obteve era com os arquivos de Jung-Su. Bang não tinha entrado em muitos detalhes da época que os três trabalhavam juntos na faculdade, nem mesmo quando levantaram os nomes suspeitos da primeira vez. Havia dito apenas o básico, mas nada sobre o projeto do Kryptos.

— Nichkhun... Ana, não o achou curioso? Me disse que o viu, e ele também te ajudou a entrar na mansão. Como se você fosse a dona dele. Eu te disse, não disse? Bom, talvez não, mas essas máquinas possuem uma lealdade ao seu mestre, é como se Junior fosse apenas leal a você. O que “parcialmente” é verdade. Afinal ele também responde ao Jackson. — Ana assentiu. — Nichkhun deve ser do Chansung tanto quanto Junior é seu. Mas... Curiosamente, ele te ajudou. Não é engraçado? — Bang arteiro fez Ana ficar apreensiva. O que ele queria dizer com aquilo? — Ana, Nichkhun invadindo ou não o laboratório cinco... Fique de olho nele.

Jackson quebrou o gelo que havia se formado assim que mencionou sobre o Enigma. Bang sorriu sonhador e estalou os dedos ao ouvir a história contada rapidamente sobre a escultura da CIA e um Jackson afoito gesticulando quase acertando Ana e Junior.

— Se acalme, Jackson, eu sei do que se trata esse enigma. — a risada de Bang fazia Ana ficar cada vez mais confusa. Ele não estava bravo? — Pode repetir essa parte de cada um ser luz e sombra e não sei o que mais?

— Nichkhun e Taecyeon são os únicos Kryptos feitos. — Ana começou. — Achamos que ambos são parte do primeiro enigma solucionado. Sabe, por...

— E acham que Chansung seria a nuance... A diferença entre os dois... — Bang não olhava para a câmera que levava sua imagem aos amigos no Japão. — Interessante. — riu alto.

— Perdão, mas por que você ta rindo?

— Ana, vocês são brilhantes. E eles foram burros, ao mesmo tempo.

Não entenderam bem, mas sabia que Bang abriria o jogo em breve. O que era injusto se for parar pra pensar. Bang nunca dava informações completas e ele ainda precisava contar com detalhes sobre o projeto. Mesmo que Ana e Jackson tivessem os documentos, precisariam ouvir de Bang como tudo havia começado e como havia, de alguma forma, terminado.

— Somos? — Jackson falou confuso.

Bang assentiu.

— Junior... Você está calado. — continuou. Ana e Jackson se entreolharam antes de encarar Junior. — Você e Ana brigaram? — mudou repentinamente de assunto, mas Junior não respondeu. Nem Ana. Tossiu. — Bom, Ana. Há uma coisa que não foi especificada nos papeis que você tem do Jung-Su hyung e...

— E ah, eu fiquei sabendo. Jackson me contou do primeiro ataque. — Ana o interrompeu.

— É, isso a gente vai falar depois com mais calma. Mas preciso esclarecer uma coisa sobre o Enigma.

— Mas Bang, por quê? Quem disse sobre o primeiro ataque ao Jung-Su? — Ana não parava de interromper Yongguk, e ele havia ficado sem paciência. 

— Alguém de confiança. Eu não sei te dizer quem, mas acho que lidou diretamente com o problema.

— Será se essa pessoa ainda está na faculdade?

— Não sabemos. Tudo que tenho é que são informações seguras e verdadeiras. Mas, se vocês não se importam...

— Nos importamos sim. — bradou Ana. — Bang, e se os ataques coincidem? E se são as mesmas pessoas? Já teríamos as provas de quem é o maníaco! — disse o que Jackson havia levantado sabiamente noite passada.

— Depois, Ana. Há muita coisa nessa história, quando você voltar de Tóquio respondo todas as suas perguntas. — disse mais sério. — Agora, o Enigma. Eu preciso desligar daqui a pouco, vocês precisam saber disso primeiro.

Ana bateu o pé impaciente. Jackson tentava se manter calmo.

— Diga logo.

— Não fale assim, eu que deveria estar bravo... Mas estou sendo compreensivo com suas maluquices. Que, querendo ou não, foram positivas. Ainda bem.

— Podia ter voltado morta... — Junior disse baixo, mas Ana ignorou.

— Possivelmente Jackson está certo. Ele me informou sobre a teoria ontem superficialmente — provavelmente quando Jackson tentava se comunicar com Yongguk enquanto Ana estava fora — e estava ansioso pra você chegar pra saber também, porém com mais detalhes. E fico feliz que tenham chegado a essa conclusão. — por minha astúcia e coragem, Bang. Pensou Ana. — Ana, quando eu estava no projeto, Wooyoung havia sugerido o nome, claro, Kryptos. Um nome forte pra um projeto igualmente forte. E maluco. Não demos muito pitaco, acatamos o nome, mas Wooyoung foi além. Foi atrás dessa escultura maldita e trouxe os enigmas para nós. Achando interessante, nós escondemos segredos, fatos importantes e detalhes do sistema no meio dos enigmas solucionados. Era uma forma de segurança, de mantermos aquilo intacto até quando a gente for botar em prática. Mas eu caí fora pouco tempo depois. Os dois sumiram e eu nunca mais tive acesso a nada. Uma das pessoas que quis que eu ficasse longe, depois do sumiço dos dois, foi o doutor Lee.

O orientador de Ana estava há muitos anos na universidade. Mas não imaginava que possuía algum tipo de conhecimento sobre o Kryptos.

020

Chansung, por sua vez, também havia dormido muito mal. Não soube quantas vezes desceu pra tomar água — dentre uma delas, na hora que Wooyoung chegou em casa, bêbado, sem saber nem como havia chegado —, nem quantas vezes havia ido trabalhar no computador. Provavelmente Jang estava com Jun K a noite toda, e Chansung, por sua vez, ficou perambulando pelo jardim bem iluminado. Olhou os gatos, entrou em casa, voltou ao laboratório, olhou Nichkhun — e Taecyeon, ainda na caixa —, voltou pro quarto, ligou o computador. Voltou a olhar os códigos do relógio misterioso.

Ousado. Por que estava invadindo a New Future? Chansung não tirava da cabeça isso desde que havia acontecido. Por que Ana, que parecia inofensiva, carregava um objeto como aqueles? Noite passada, teve certeza do interesse da garota. Na verdade, parte dele. Após Nichkhun confirmar o segundo ataque a Universidade de Seul, Chansung ficou preocupado.

— Ana foi prejudicada por isso... Como ela chegou até a gente?

Chansung jurava de pés juntos que não havia feito nada, nem se quer tinha posto um dedo dessa vez. Confessava um passado duvidoso, mas cheio de remorso. Wooyoung não teria sido burro o suficiente voltando no mesmo lugar. Estava preocupado, não conseguia dormir, não conseguia nem pensar onde Ana estava se metendo. Tudo fez sentido quando seu humanóide havia confirmado algumas suspeitas.

Primeiro o relógio, o que já era por si só uma grande prova. Ana era louca, riu disso. Depois de ela ficar rondando o seu ambiente de trabalho no congresso, pode perceber algo de incomum e Ana subitamente se interessou pelo sistema. Quando Wooyoung a chamou para trabalhar em Nichkhun, entrou em pânico. Ana não poderia pisar nesse projeto, facilmente levaria a si e ao amigo a acusações que seriam dificilmente refutadas. Mas essa não era a real preocupação atual: Ana não sabia onde estava se metendo. Trabalhando com Nichkhun, Chansung temia o que Wooyoung faria para se safar. Conhecia o amigo. E o pior: conhecia melhor ainda o que Jun K era capaz.

Levantou em um pulo, vendo que o sol já tinha raiado. Foi logo se aprontar e descer até o lab. Precisava de Nichkhun e que fossem para a New Future para uma pequena conversa e um trabalho muito importante. Abriu a porta, ainda passando a mão nos cabelos recém enxutos e se deparou com Taecyeon segurando Nichkhun pelo colarinho da camisa.

— O que ta acontecendo aqui?

Taecyeon soltou imediatamente Nichkhun.

— Não toque nele. — o moreno disse firme. — Vamos Nichkhun, tenho um trabalho pra você.

Chansung foi comendo qualquer besteira enquanto dirigia e se deparava com o trânsito infernal até a empresa. Nichkhun permanecia calado até então.

— Hyung, vai falar com Ana hoje?

— É. Ela vai embora amanhã, lembra? — suspirou cansado. Não havia pregado o olho e seu cérebro não queria descansar tão cedo. Não havia visto Wooyoung e provavelmente ele iria ao congresso ou a empresa apenas de tarde. Do jeito que havia chegado noite passada, não duraria pouco sua ressaca. — Eu andei pensando...

— Vai falar a verdade pra ela?

— Eu preciso. — disse impaciente. — Assim eu a mantenho longe do Kryptos. Quer dizer, me perdoa Nichkhun, mas sabe o que eu quero dizer.

— Claro. — ouviu a risadinha de Nichkhun. — Mas ela não parece que vai se aquietar.

Chansung riu. Ele tinha razão, Ana não ia parar até solucionar tudo. Pelo pouco que havia convivido com a garota, sentiu a determinação faiscar por seus olhos.

— Vem cá, como sabe que Ana está envolvida com o último ataque a Seul? Você não me explicou essa parte, apenas soltou a bomba em cima de mim. — se deparou com aquela dúvida agora. Passou a noite toda pensando sobre isso e não tinha se remetido ao fato como Nichkhun poderia saber das coisas com tantos detalhes. — Nichkhun, você fez alguma coisa?

Nichkhun sorriu de leve. Mas de longe a aura não era como a de Taecyeon, Nichkhun parecia leve como uma pena.

— Eu a salvei, hyung. Ela nem imagina.

020

A sala bagunçada que o moreno e o humanóide entraram não era a única no mesmo estado no prédio. Haviam passado pela segurança facilmente, e Chansung ativou o seu próprio mecanismo, novamente, assim que trancou a porta de seu escritório. A sala automaticamente se blindou e, com o mesmo truque do dedão no pé de Nichkhun, o humanóide supercomputador havia ficado protegido como na noite anterior.

— Khun, por favor, eu sei que se lembra. Se sabe que Ana tem algum envolvimento, precisa me dizer como. Eu não fazia ideia que aquela faculdade foi novamente atacada. — Chansung andava pra lá e pra cá e Nichkhun estava sentado no pequeno sofá que tinha em uma das paredes. — Entenda, se Ana pensar demais e resolver ajudar a te melhorar, trabalhando aqui, ela vai acabar descobrindo. Vai tirar conclusões precipitadas, há muita coisa, não é tão simples como talvez possa parecer. Sem contar que se o Jun K, que já havia se interessado pelo Junior, descobrir que ela sabe... Nichkhun... — Chansung estava completamente desesperado. Bagunçava os cabelos e estava mais pálido do que já esteve na vida. — Entende a maluquice? Por que a deixou entrar no laboratório?

Ele sabia que alguma coisa deve ter saído de estranha. Quer dizer, Taecyeon havia machucado Ana, havia sido misterioso e muito provavelmente plantou pulgas nas orelhas dela. Aquela máquina era astuta de forma que chegava a ser suicida. Entretanto, ele não era totalmente confiável; as coisas que saiam dele não poderiam ser levadas tão a sério. O Kryptos nu e cru não era confiável nem em marte. Chansung tinha plena certeza disso. TCY poderia manipular tudo facilmente, Chansung nem imaginava o quão perigoso isso poderia ser.

E Hwang não sabia das coisas que Taecyeon havia dito a ela até o momento em que Nichkhun decidiu contar ao seu dono. E havia sido agora. Chansung perambulava com mais vontade, completamente desesperado.

— Hyung... Se acalme. Ana não sabe, mas está indo pelo caminho errado. — Chansung o encarou preocupado. — Você precisa ajudá-la. Se não fez nada, não tem nada a temer.

— Não é isso... Se os dois ataques foram a mesma pessoa, facilmente Ana chegará ao primeiro.

— Por que é tão importante?

— Eu poderia ser preso.

— Mas o hyung não fez nada de errado.

— Eu estava na equipe, Nichkhun. — suspirou. — Ela vai acabar descobrindo. Mas... Como... Não consigo imaginar como ela tenha chegado até a gente.

— Talvez ela não esteja sozinha com aquele loiro... E o humanóide.

— O que quer dizer?

— E se tiver mais gente com ela? Ela tem contato com o pessoal da Universidade, provavelmente as pessoas que souberam do primeiro ataque são próximas a ela. E se foi assim que ela chegou até o Kryptos? — Nichkhun, a cada palavra, deixava o dono ainda mais nervoso. Era como se um algodão doce atirasse pedaços de açúcar cobertos de fogo contra crianças.

Chansung pareceu ainda mais apavorado.

— Não... Não é possível. — se deparou com uma coisa óbvia e maluca.

— O que?

— E se ela conhece Bang Yongguk? — Chansung se assustou com o que ele mesmo havia falado.

Seria um modo interessante de descobrir sobre o sistema da dupla de amigos.

— Hyung, precisa ajudá-la. Ela quase perdeu o humanóide dela.

Chansung ainda queria saber como Nichkhun sabia tantos detalhes do último ataque. Mas sabia que Taecyeon havia alterado sua memória como se fosse um protocolo que ele havia adotado, afinal NCK não sabia dizer sobre nada dos ataques aparentemente. Não poderia falar abertamente com Wooyoung sobre o assunto, muito menos com o TCY. Quem diabos esteve a frente desse ataque?

E como poderia recuperar as memórias esquecidas pelo humanóide? Como poderia ser sincero com Ana sem ter provas?

020

— Você percebeu que o Bang não surtou quando eu falei do Chansung? Eu pensei que ele ia me matar, mas eles pareciam amigos. Será se ele confia no Hwang?

— Ao contrário do Jang, ele parece ser mais tranqüilo. — Jackson abocanhava parte do seu almoço. — Entretanto... Confiar é uma palavra muito forte. — Ana deu de ombros.

— Você se ouviu? Defendeu o cara... Você ta arrependido, não ta? Por ter batido nele. Ele me ajudou, me contou coisas e parece disposto a me ajudar. Bang, apesar de ter ficado bravo, gostou do que a gente descobriu. Que eu, na verdade. — ouviu o barulho do recebimento da mensagem e viu que era uma mensagem do moreno. — Olha só pra isso, é perfeito. — não mostrou o conteúdo da mensagem, apenas havia mostrado que uma havia chegado. E em ótima hora. Ana abriu um sorriso ao ler o conteúdo.

“Oi Ana, tudo bem? É o Chansung.

Eu queria conversar com você, a sós de preferência. Na verdade, Jackson pode vir também, acredito que ele iria gostar do que tenho pra dizer. É, é melhor vir.

Sobre o que eu te disse ontem, eu falei que iria entrar em contato. Aguardo resposta.”

— Coitado do Jinyoung... Mal sabe que ta perdendo pro bonitão do Kryptos.

— Ah, cala a boca, Jackson. — riu desacreditada. — Falando em Jinyoung... — era uma frase ambígua. Se tratava de ambos Jinyoungs. Seu namorado, que mal mandava uma mensagem, provavelmente ainda na Tailândia, e o humanóide que estava sentado mais longe, quase na entrada do restaurante.

— Ele parece chateado. Faz tempo que eu não o vejo assim.

— Não sei o que eu fiz. Ele mal ta falando comigo, acha que foi por causa de ontem?

— Você tem dado atenção pra ele? Sabe o quanto ele fica carente.

Ana riu daquilo.

— Eu durmo com ele todas as noites e vivo grudada nele, acha mesmo? Daqui pro fim do dia eu descubro o que aconteceu. — Ana disse enquanto digitava uma resposta para Chansung.

“Oi Chansung, eu acho uma ótima ideia. Eu e Jackson acabamos de almoçar e só vamos fazer as malas pra voltar pra Seul quando a noite cair, temos a tarde livre graças ao ótimo comportamento que ele teve no congresso.”

— Não precisa ficar me lembrando. — Jackson resmungou quando leu o que Ana digitou de volta. — E o Jang mereceu.

020

Esperar Chansung no hotel para que pudessem buscá-los não tirava o fato que Jackson ainda não estava convencido de sua idoneidade. Tudo bem, era muita informação pra ser digerida de uma vez. O loiro lembrou Ana do cuidado que teriam que tomar. Ele havia provado por a mais b que era confiável para a garota, porém tudo ainda era muito delicado. Deviam ser cautelosos mesmo se Chansung fosse a melhor pessoa que havia pisado sobre essa terra. Bang Yongguk havia mandado um áudio cansado sobre aquele encontro. Embora ele estivesse convencido do que Ana havia contado, novamente pediu para Ana ter juízo. Por favor, Ana, vá com calma.

O hall do hotel estava preenchido, além da recepcionista, por Ana, Jackson e Junior. Junior continuava calado, o que Ana não tinha entendido bem ainda o motivo. Tentou dar uma palavra enquanto subiam para o quarto para pegar as coisas, mas Junior seguiu quieto.

— Será se aconteceu alguma coisa e eu não me lembro?

— Ele só está cismado com sua ida a mansão.

Foram os cochichos enquanto ainda estavam no quarto. Agora, no primeiro andar, conseguiram se mexer assim que viram o carro espaçoso que Chansung possuía fazendo baliza do outro lado da rua.

— Ah, finalmente. — Jackson estava completamente impaciente. Carregava suas coisas na mochila, queria jogar todo o material recolhido em cima do moreno e fazê-lo falar tudo. Mas não seria bem assim, ele mesmo sabia disso. Até porque sentia que aquela conversa seria bem específica com Ana. Junior não estava gostando nada daquilo.

 

Não havia sido muito diferente do que Jackson imaginava. Chansung havia os levado para um restaurante e se sentaram em uma mesa completamente isolada. Mesmo de dia, o estabelecimento era escuro, portanto as luzes sempre estavam ligadas. E, propositalmente, de forma que o lugar parecesse até romântico. Jackson, Ana e Junior se sentaram à mesa e Chansung ficou de frente para os três.

Um silêncio engraçado rondou os quatro no momento. Quer dizer, três. Junior estava absorto e inclusive levou um livro que havia conseguido desde que chegou a Tóquio. Estava decidido a aprender um pouco de japonês. Jackson parecia o mais ansioso, encarava Chansung de forma estranha, mas provavelmente nem sabia que estava com tal feição.

— Obrigado por virem, bem... Eu ia trazer Nichkhun comigo, mas acredito que aqui não seja a última parada da nossa conversa. — disse sem graça, e o casal de amigos o olhou confuso. — Digo... Não era bem meu intuito só trazê-los para almoçar.

— Nós já almoçamos. — Jackson adiantou. Mas Ana havia mencionado tal fato na mensagem resposta. — Mas gostei desse lugar.

— Eu venho aqui sempre. É meu restaurante favorito. — ele riu confortavelmente. — Vocês vão voltar pra Seul amanhã? — disse enquanto olhava o cardápio e pediria alguma coisa pra comer enquanto conversavam.

— Por quê? — Jackson mal deixava Ana abrir a boca para falar. Soou desconfiado e o moreno riu mais ainda.

— Só queria saber. Eu preciso levar vocês a um lugar, porém... — havia ficado sem graça. — Não poderia levar os três. — fez o pedido assim que o garçom havia ido ao seu encontro.

Jackson olhou desacreditado para o moreno. Junior nem dava bola, Ana estava quieta e batia a perna freneticamente.

— Antes que pensem algo ruim, é só... Eu preciso mostrar algumas coisas na New Future, mas não posso levar os três. Se me descobrirem eu fico com problemas. — seria como se levasse um representante da equipe. Chansung não iria falar coisas sigilosas, mas queria convencer Ana a não pisar mais ali pro bem dela.

— New Future? — Ana se interessou. Olhou pra Junior que jurava que o mesmo havia dado um muxoxo de desapontamento. — O que você quer mostrar?

Chansung fez um sinal de calma.

— Antes de ir pra lá, precisei que Jackson estivesse aqui. Eu notei que ele não confia muito em mim. — passou discretamente a mão pelo rosto onde Jackson havia acertado no dia anterior. Jackson murmurou desculpe. — Então achei que talvez você esteja certo. Somos estranhos, não tinha notícias da Ana e se fosse comigo eu teria agido parecido. Sei que são muito próximos.

Jackson assentiu e Ana revirou os olhos.

— Mas pra isso, eu preciso que confirmem uma coisa. Sejam sinceros assim como eu serei.

— Que tipo de coisa?

— Vocês trabalham com o Bang Yongguk hyung? — disse de supetão e Jackson engasgou com a própria saliva.

— Bang Yongguk? — Ana engoliu em seco. Poderia ter ficado pálida a qualquer momento, mas graças a deus estava lidando com Chansung, não com os outros dois. Sentia-se menos desprotegida.  

O silêncio repentino fez Chansung assentir.

— Isso faz parte do que preciso conversar. Mas eu preciso do Nichkhun, não pude tirá-lo da empresa hoje, pedi que ele fizesse um pequeno trabalho pra mim. Jackson, sabe que ele é meu, não é? Eu tenho uma forte impressão que vocês não gostam do Kryptos, mas posso garantir que o Khun é confiável.

— E como podemos achar que ele é confiável se não confiamos em você ainda? — Jackson havia sido sincero e Chansung gostou daquilo.

— Depois de hoje não terão mais dúvidas. Bang é um antigo amigo, colega de faculdade, parceiro de TI. Depois que eu vim morar aqui, eu perdi o contato com ele. Acredito que ele tenha perdido o contato com o hyung também.

— É, acho que ele mencionou que faz tempo que não fala com vocês. — Jackson confessou. — Falando nele, Jang sabe que está aqui?

— Não. Provavelmente está acordando agora pra ir pra empresa.

— Horário trocado?

— Ele anda bebendo muito, não posso evitar isso. — suspirou. — Ana, ele quer que você trabalhe com a gente, eu sei que ele já te disse isso, mas ele ta ficando obcecado. Ele quer porque quer. Não sei por que está louco desse jeito.

Ana não tinha noção do quanto ele queria isso. Ele não havia entrado em contato com Ana, provavelmente estava pensando em um bom argumento.

— Eu não sei... — Ana praticamente sussurrou e Jackson parecia aflito. Olhou pro humanóide e Junior continuava completamente imerso nas palavras lidas. — Não sou capaz.

— Não é sobre ser capaz ou não de mexer no sistema, aliás, você é mais do que capaz. — tinham se esquecido que a dupla havia lido seu mestrado havia pouco tempo. — É sobre poder. Não aceite o emprego.

— Por que não? — Jackson disse desconfiado. — Há algo que Ana não possa ver no seu projeto? Coisas ilícitas, por exemplo? Não que ela fosse aceitar, mas... — Jackson estava confuso com as palavras e Ana olhou pasma pra ele. Não fala essas coisas.

— Não. — disse firme. — Na verdade quero levar Ana até a empresa pra provar que não há esse tipo de problema, eu sei que estão tentando descobrir sobre invasões e acabaram caindo sobre o nosso sistema. E Ana, antes que comecem as perguntas, Nichkhun pode esclarecer algumas coisas. E eu to aqui pra isso. Confie em mim, eu te levarei até a verdade. Só eu posso fazer isso.

— Você sabe do ataque? — Ana disse perplexa. — Como...

— Eu não fiz nada. — adiantou. — Por favor, não entenda errado, mas meu humanóide... — suspirou preocupado. — Ele sabe de muitas coisas, Ana. Ele é meu olho na equipe. Wooyoung hyung não sabe ao certo o que eu fiz pro Nichkhun agir tão diferente do Taecyeon, mas há um motivo. Talvez com você indo ele possa se lembrar...

Ana estava pasma. Jackson tentou ficar calmo. Lembraram-se quando Jackson afirmava com todas as letras que Ana fazia Junior se lembrar do seu real propósito, mas Nichkhun? Essa história maluca de novo...

— Tudo bem, mas por qual razão eu não poderia trabalhar no Nichkhun? E se isso fosse uma saída pra descobrir mais coisas? Me infiltrar...

Chansung a interrompeu.

— É perigoso. Como vocês devem saber, Bang estava ligado a esse projeto. Se descobrirem que você está ligada ao Bang... Ana, há uma razão pro Bang Yongguk não estar nessa equipe até hoje.

— Duvido que o Jang possa fazer alguma coisa, pelo visto está mais desesperado do que qualquer um. — Ana deu de ombros. Ele realmente queria Ana pra equipe dele... Será se ele havia notado alguma influência de Bang em seus trabalhos que Wooyoung teve acesso? Será se Jang Wooyoung ainda teria interesse em Bang Yongguk? Pra voltar a atacar o laboratório, tudo indicava que sim...

— Não é com o hyung que você tem que se preocupar, Ana, é com o Jun K.

020

Jackson havia se despedido de Ana e Chansung. Junior claramente havia ido com Jackson de volta ao hotel, sem dizer uma palavra. Estava começando a ficar preocupada com Jinyoung, ele nunca havia sido assim com você. E, depois de finalmente estar convencido, Jackson havia concordado que ela deveria ir vasculhar as coisas com Chansung na empresa. Era maluquice, se descobrissem Hwang seria demitido e ambos presos. Por um momento a adrenalina corria por suas veias e, ao entrar no carro do moreno, pensou novamente se isso era necessário.

— Seu humanóide parecia preocupado. — disse enquanto deu partida no carro interrompendo os pensamentos de Ana.

— Ele ta meio estranho desde que voltei pro hotel ontem. — riu sem humor. — Mas já resolvo.

— Ele se envolveu com esse ataque? — Chansung mantinha sua atenção na rua, então não viu a cara de desgosto que Ana fez.

— É, aconteceram algumas coisas. — disse incerta. — Mas nunca entendemos exatamente o que. — dessa vez, sentiu o olhar de Chansung repousar rapidamente sobre ela. — Vários humanóides foram atacados, porém... Parecia algo muito específico, como uma vingança. Algo bem idiota, mas foi a única explicação que pudemos imaginar.

— Entendo. — ele parecia rígido no banco, como se estivesse ciente daquilo antes mesmo de Ana abrir a boca para contar. — Meu humanóide tem algumas lembranças que você gostaria de ver. Deve estar frustrada, eu imagino, a ponto de ter parado no nosso laboratório ou por ter se interessado pelo Nichkhun.

— Na verdade... Estou sim. Mas não é por isso que estou em Tóquio. Eu vim apresentar meu mestrado no congresso. Noite passada eu tive que revisar o último relatório do doutorado que eu tinha feito a pedido do meu orientador, e as coisas pareciam ter piorado na minha cabeça. Um sentimento de impotência...

— Por quê?

— Nós não conseguimos descobrir quem estava por trás dos ataques. Muita coisa aconteceu no último semestre, achei que não ia conseguir conciliar o meu trabalho com o que eu estava tentando fazer pelo laboratório. — suspirou. — Chansung, eu estou te falando essas coisas mesmo eu tendo jurado pra mim mesma que não faria. É complicado, entenda que se de alguma forma eu estaria acusando você ou seus amigos é porque eu tenho razão em duvidar.

Chansung riu, mas parecia mais tenso do que descontraído dessa vez.

— É claro, você não tem cara de ser alguém que simplesmente acusa uma pessoa para se sentir melhor. Mas eu posso te garantir que Nichkhun não fez nada de mal, nem eu.

— Então quem fez isso? Por favor, me diga. Se está me levando pra empresa, é porque tem noção de alguma coisa.

— Aí que ta. Eu não sei muito mais que você. Talvez você saiba até mais. Eu ainda estou na equipe de redes do Kryptos e eu era um membro ativo oficialmente no desenvolvimento do sistema. Porém isso foi até o Nichkhun ser criado. Depois disso, Wooyoung me chamou em outra sala e pediu para que eu voltasse ao meu departamento. Eu o ajudo em algumas coisas, dou manutenção na rede dos humanóides sempre que eu posso, mas só quando estamos no laboratório de casa. Eu não tenho muito acesso ao local onde o Kryptos nasceu atualmente, Ana.

— E o que você ia me mostrar exatamente?

— Eu ainda não sei.

Aquilo era confuso, afinal somente Nichkhun sabia das informações, do que realmente aconteceu. A maioria delas fora ou bloqueada ou apagada da memória de Nichkhun por Taecyeon, devido ao fato que os Kryptos andavam praticamente juntos obrigatoriamente. Por isso o motivo de NCK ser os olhos de Chansung naquela empresa. Ele já havia contado muita coisa que Wooyoung por ventura havia escondido ou mentido, mas coisas mais sérias, a seu ver, ainda estavam ocultas em sua mente virtual. Seu trabalho seria restaurar o máximo possível e mostrar a Ana o que ela queria. Assim não só tirava Ana da mira do Kryptos e lhe dava segurança, mas também como livrava sua pele.

Ele era inocente, mas há um tempo havia feito coisas que não se orgulhava.

 

Quando passaram pela recepção da empresa, Chansung havia mostrado um segundo crachá, além do seu, para a recepcionista. Naturalmente, a mesma havia passado os crachás pela máquina automática e o suor que descia pela testa de Chansung parecia descer mais aliviado. Ana não questionou aquilo, mas havia um código gigantesco de segurança e seu nome no segundo crachá passado. Como? Passaram pro corredor principal e sentiu o olhar severo de Chansung em cima de si. Perguntas depois. Foram até o penúltimo andar, o prédio era bem decorado e tinha quase dez andares. Ana entrou pela porta que deveria ser o escritório onde Chansung trabalhava e viu Nichkhun mexendo em um computador. Abriu um sorriso, gostava dele. Correu até o mesmo e o abraçou desajeitadamente.

Chansung observava aquilo de longe. Quem abraçava máquinas?

— Oi Nichkhun, que bom que eu consegui ver você de novo antes de ir embora. — se soltou do rapaz com a cabeça interna de arsênio. Ele sorriu confortável.

— Mas você já vai embora? — Chansung riu daquilo, ele tinha consciência que Ana iria embora, mas parecia que ele gostava de prolongar as conversas com a garota.

— Amanhã. — disse triste. — Por isso seu dono me trouxe aqui, e ainda to tentando entender como eu consegui entrar em uma seção reservada a funcionários.

— Nichkhun. — ele deu de ombros. — Lembra do pequeno trabalho? Foi mais ou menos isso. Você tem acesso a dentro dessa empresa por hoje e por uma razão. Wooyoung não a verá aqui, então vou ativar O Muro para que possamos conversar sem interrupções.

Ana não entendeu o que significava aquele muro, mas achou bem estranho Chansung mexer em seu próprio computador e, logo em seguida, no calcanhar de Nichkhun onde o moreno pressionava seu dedo por um tempo.

— O que é isso?

O Muro é o meu maior mecanismo de segurança. Eu tive que criar assim que modifiquei os códigos do Nichkhun depois dele nascer. Se eu não o tivesse feito, a convivência com o outro Kryptos o deixaria igual.

— Achei que fosse especialista em redes e não programador. — Ana esperava, como nos filmes, que saíssem raios azuis holográficos por todo o cômodo mostrando que estavam seguros, mas ainda sim achava que aquilo fosse incrível.

— Não é o meu forte, mas posso fazer umas coisas. Sabe bem que programação e redes de computadores andam lado a lado. — Ana assentiu. — Tive que me precavir.

— Mas... Quando perguntei o que era isso, não era exatamente sobre o muro. Mas foi bacana de qualquer forma. — riram. — O que fez com o pé do Nichkhun?

— É assim que eu ativo o muro. Pensei em algo aleatório pra isso, ninguém nunca suspeitaria da palma do pé do meu humanóide. — se levantou após ter feito o procedimento. — O muro é completamente móvel. Eu faço a mesma coisa dentro do meu quarto quando preciso fazer algo mais reservado. Protejo minha pequena rede de trabalho e meu humanóide ao mesmo tempo.

Como uma rede móvel. Era genial.

— Outra pergunta... Se você me disse aquele dia que Nichkhun não era exatamente um humanóide, por que refere a ele assim?

Chansung viu Ana se acomodar em uma cadeira na frente da mesa.

— Mas ele é um. O que eu te disse aquele dia é que ele não é um humanóide como outro comum. Ele é um supercomputador, dentro dessa cabeça tem uma placa de arsênio incrível que permite que ele tenha um processamento tão incrível quanto.

— Eu acho impressionante o fato dele simplesmente não fritar. Eu entendo o que é um supercomputador, processamento rápido, muitas idéias, até perigosas, ações rápidas. Mas eles são enormes, quilométricos, vivem em uma sala refrigerada. Nichkhun anda no sol. Como?

Ele riu divertido, se sentando ao lado da garota. Em sua mesa, além de sua cadeira onde trabalhava e agora ocupada por NCK, havia mais duas a sua frente, como se fosse para convidados se sentassem nelas.

— Às vezes me esqueço que você conhece muito mais do que penso. — a olhou profundamente e Ana riu sem graça. — Há muitos segredos sobre supercomputação, mas acho que não é bem isso que você queira saber.

É, era um fato incrível que não sobre aquecesse o chip do processador ao meio de tanto fluxo de informações que fluía por Nichkhun ou Taecyeon, mas Ana queria saber como que eles souberam do ataque e como Nichkhun poderia ajudar dando informações se não havia participado dos mesmos.

— Tem razão. Então... Os dois são iguais fisicamente, mas psicologicamente não?

— É.

— Mas por quê? Eu não entendo. Se há dois Kryptos, eram pra ser iguais, fazerem as mesmas coisas... — Chansung assentia. — E, a propósito, o que eles fazem de verdade?

— Segurança da informação. Acho que viu Wooyoung apresentar o artigo, mas Ana... — sua feição se fechou. — Há coisas por trás. Se máquinas poderosas como essas mexem com redes, eu acho que você já tem uma ideia do que podem aprontar.

— Hackers. Se eles são bons com segurança, provavelmente podem invadir de forma esplêndida. Claro, Taecyeon tentou invadir o Junior no congresso. — disse desanimada. — Então... Eles podem invadir qualquer coisa.

Chansung assentiu.

— Meu deus, o laboratório cinco. — a aflição a consumia. — Eu confesso que já suspeitava que Taecyeon poderia ter a ver com isso, e ele mesmo havia me dito uma coisa estranha e muito coincidentemente escutei a mesma coisa dos humanóides que foram atacados por seja lá quem. Você acha que ele possa ter feito isso?

— O que ele te disse?

— Ele falou sobre um guru. — viu o moreno dar de ombros. — Quando estávamos sendo atacados, ouvi a mesma coisa do Jongup, um dos humanóides, e Bang me contou que Daehyun havia dito o mesmo.

— Daehyun? — Chansung olhou pro relógio que estava no pulso da garota e Ana ficou sem graça. — Então é ele? — apontou pro relógio. — Mas...

— É uma longa história. Mas tenho certeza que o olhou bem desde aquele dia. — viu Chansung rir sem graça. — Enfim, esse é o humanóide do Bang. O responsável por ter achado que o culpado morava em Tóquio. Chansung, por favor, me diga. Foi o Taecyeon? Wooyoung estava envolvido?

— Eu não sei te dizer isso. Como eu havia dito antes, eu fui tirado da equipe principal. Ocasionalmente eu ainda olho as máquinas, mas não há como eu descobrir. Por isso disse que não sabia o que eu ia te mostrar, mas decidi ser aberto com você. Não pode ficar em Tóquio, precisa ir embora e esquecer essa história.

— Jamais. Você não tem noção do que aconteceu naquela universidade, o caos que virou por meses. Poderia ter se alastrado, poderia ter acabado com tudo que tínhamos.

— Ana, a razão pela qual te trouxe aqui hoje foi te confirmar toda essa história e assim você decidir ir embora. Quando vi aquele dia que você havia entrado na nossa casa e conversado com o Nichkhun...

— Foi o Taecyeon, eu te disse.

— Eu sei, eu tenho certeza que foi ele também, eu acredito em você. — parecia preocupado. — Mas é perigoso. Taecyeon invadiu o laboratório cinco, sim, quem sabe, mas não há nada que possamos fazer.

— Claro que sim. Se eu provar isso, posso pará-los e fazê-los pagar.

— Ana, você entendeu o que eu disse? Nichkhun é monitorado, Taecyeon mexe em todas as máquinas, ele é a central. Ele nunca deixaria vazar uma informação que prejudicasse a ele ou ao dono. Muito menos o Jun K.

— Jun K. Você disse que eu tinha que tomar cuidado com ele, o que quer dizer? Acha que... Se eu ficasse aqui, ele descobriria... Ele conhece o Bang?

— Até onde eu sei não. Mas Nichkhun pode nos ajudar agora. — olhou pro humanóide que ouvia tudo aquilo calado. — NCK, você conseguiu o que eu te pedi?

— Parcialmente. — ele disse firme. — Não consigo me lembrar de tudo. — ele se levantou e foi até Ana. Agachou em sua direção e olhou bem para ela. — Ana, minha lealdade é compartilhada.

Chansung observou aquilo, confuso. Ana ouvia atentamente.

— O que isso quer dizer? — olhou pra Chansung. Mas o moreno ainda encarava a máquina.

— Não sei se sabe, mas eu e Taecyeon temos uma lealdade que nem mesmo o humano mais fiel tem. TCY pode ter feito coisas horríveis, mas ele é devoto a um mestre. Acredito que possa entender isso, Junior te responde muito bem. — Ana assentiu. — Tem outros exemplos disso, não é? — Ana sorriu consentindo.

Zelo com Sulli e atualmente com Youngjae também; Jongup com seu dono e até mesmo com ela, porque o criou. Daehyun e Bang, e assim a lista seguia.

— É tão estranho pensar assim. Mas é como animais de estimação e seus donos. — Ana riu ao dizer aquilo.

— Não deixa de ser. — Chansung confessou. — Humanoides, independentemente de suas naturezas, tem que responder a um mestre. Senão eles fogem do controle completamente. Você, que os cria, sabe bem, não é? Eles respondem a quem os atualizam, convivam e assim em diante.

— Sei.

— Minha lealdade se partiu há alguns meses. Não sou apenas leal ao Chansung hyung. — Chansung parecia tão surpreso quanto Ana dessa vez. Estava tão imerso falando sobre mestres e seus humanóides que não esperava Nichkhun falar aquilo.

— O que o Jang fez? — Chansung disse, um pouco preocupado e seu tom parecia raivoso.

— Nada. Mas no último ataque, esse mesmo Ana, o do laboratório cinco. — olhou pra Daehyun no pulso da garota, piscava, como se quisesse dizer algo. Ana havia tentado convencê-lo, antes de ver Chansung no restaurante, a falar apenas quando fosse chamado. — Eu impedi que Junior fosse copiado por más intenções. Eu assumi aquela tarefa. Taecyeon não consegue me manter longe dessa lembrança porque eu tenho um pouco de R207 em mim.

— Do que você ta falando? — Ana estava chocada.

— Desculpe, hyung, mas eu nunca pude contar. Quando me mostrou o código de Daehyun noite passada, eu pude me lembrar. Eu tenho um pouco do Junior. O backup dos códigos foi feito por mim.

Ana estava boquiaberta.

— Está guardado seguro, Taecyeon nunca vai ter acesso ao seu humanóide, Ana.

Não é estranho Junior não ter os mesmos sintomas que Jongup e Daehyun? Lembrava-se como havia morrido de preocupação por pensar que tinham roubado os códigos. Mas estava o tempo todo a salvo com um humanóide que nunca tinha visto ela na vida. Provavelmente os humanóides que sofreram conseqüências mais severas haviam sido invadidos por alguém mais maldoso... Taecyeon.

— Você guardou? Mas... O que isso tem a ver com sua lealdade?

— No momento que eu tive que copiá-lo pra mim, caso contrário Taecyeon teria o feito e não seria nada bom, você tornou parcialmente minha mestra também.

Chansung e Ana se encaravam pasmos.

— Você executou os códigos?! — Chansung disse exacerbado.

— Se eu não executasse, Taecyeon os apagaria. Hyung, você salvou a Ana. Nós salvamos. Se não tivesse alterado meu código desde o início, eu teria feito um estrago com eles.

Nichkhun não era como Taecyeon. Ana estava pálida e parecia que iria desmaiar a qualquer instante.

— Ana?! — ouviu a voz baixa de Daehyun chamando. — Você está bem?

— Estou... — tremia mais do que o possível. Mal conseguia falar. Era assustador e ao mesmo tempo incrível aquele fato. Se Nichkhun tivesse entrado em cada humanóide, não haveria acontecido metade das coisas que aconteceram. Mas e agora? Era leal a si também? Olhava bem pro humanóide, agachado a sua frente ainda, que sorria feliz por finalmente contar aquilo. Parecia ter se libertado, nem mesmo Chansung sabia daquilo.

— Isso explica porque ele te ajudou. Te levou pro lab, te defendeu. — Chansung se levantou, cambaleando, ele não fazia ideia que aquilo tinha acontecido. — Eu juro que não sabia dessa parte, eu...

— Devo passar essas informações ao Bang Yongguk hyung? — Daehyun disse e Ana encarou Chansung e Nichkhun. Nichkhun assentiu e sorriu de uma forma linda.

— Daehyun, faça isso. — Nichkhun disse. — Ana, entende? Chansung nunca fez nada. E, sem perceber, fez algo incrível. — se referia em ter modificado o humanóide desde o começo. Nichkhun era a sombra, era tudo verdade. Ele sempre teve luz dentro de si, ainda que escondido para que não descobrissem, ele não havia perdido a essência.

— Eu disse que ele era surpreendente. O entendimento dele sempre vai além. Bang hyung gostava dessa parte. — Chansung voltou a se sentar. — Era uma parte que Wooyoung hyung não achava tão interessante. Todos deviam ser como Taecyeon, ele dizia. Foi por isso que fiz tudo escondido. Bang, sem saber, ajudou a tornar possível. Ele o modificou junto comigo sem saber, Ana. Ele deixou muitos códigos conosco. Eu apenas tornei tudo possível e encaixei melhor algumas características. Daehyun, acho que ele vai gostar de saber disso. — olhou pro relógio que piscava. — Conte a ele tudo. Vai amenizar as mágoas.

Havia muitas coisas ainda ocultas, principalmente os detalhes escondidos em seus enigmas. O Kryptos, aos poucos, seria decifrado por Ana e Jackson e pelo resto da equipe. Mas sem Chansung seria impossível. Haviam dado um enorme passo em direção a solução dos problemas. Novas descobertas, chocantes e outras óbvias pra garota, e a adição de duas importantes peças ao quebra cabeça em definitivo: Chansung e Nichkhun.

Ana mal acreditava que uma maluquice irremediável lhe traria um fruto tão doce.

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


E ai? o que acharam?
confuso? doido? chocados? auhauaha


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