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– Então.. o País da Neve, hm?
– É isso aí.
– Caramba. O velhote não tava brincando quando disse que eu iria pra longe!
A nova equipe atravessou os portões da muralha norte, prontos pra iniciar sua jornada naquela fresca manhã de outono.
– Não fique tão empolgado. – disse Kurotsuchi, enquanto cruzavam a ponte sobre o precipício – Não é uma viagem de férias.
– Ainda bem né. Porque se depender de você, passaríamos as férias num cemitério.
Deidara pulou na frente pra se esquivar do cascudo de Kurotsuchi, e foi andando de costas enquanto sorria pra ela com as mãos na nuca.
– Só porque é uma missão, Kuro, não significa que tenha que ser chato..
Então ele foi indo sem perceber até a beirada da ponte, e caiu de costas no precipício.
– Aniki*!!! – gritou Kurotsuchi, correndo até a beirada para olhar.
– Procurando por mim?
Deidara surgiu do outro lado da ponte, atrás dela. Estava de pé sobre sua águia de argila branca, que batia as asas mantendo-se parada no ar.
– É um caminho muito longo. Não vejo por que ir a pé..
Ele sorriu e estendeu a mão pra ela.
Kurotsuchi precisou se esforçar pra esconder o sorriso, já que o rubor da face seria mais difícil.
– Bem.. se é pra agilizar a missão, suponho que será mais produtivo.
E dizendo isto, ela pegou a mão dele e embarcou na águia.
***
Vinte minutos depois, Kurotsuchi ainda estava deslumbrada com a beleza das montanhas abaixo, envoltas em névoa.
– Ali! Siga o curso daquele rio! – apontava, ajoelhada na ave.
Deidara, que estava agachado logo atrás, obedecia as instruções e manobrava a águia. Ele estava tão juntinho dela que quase a abraçava, o que a deixava um tanto sem jeito. Se não fosse o vento, ela podia jurar que seria capaz de sentir a respiração dele em seu ouvido.
– Vo-você acha que ele está bem..? – perguntou ela, mais pra romper o silêncio do que qualquer outra coisa.
Deidara olhou pra trás.
– A carga dele é meio pesada, mas acho que ele aguenta.
– Não me referi ao seu gavião!!
Alguns metros atrás, um enorme gavião de argila branca carregava Akatsuchi pelas garras. Tinha elas cravadas bem firmes na mochila, deixando o pobre coitado pendurado no ar agitando braços e pernas apavorado.
– Ele precisava mesmo ser carregado assim? – gritou Kurotsuchi.
– É claro..
..que não. – pensou Deidara.
Mas após uma meia hora o gorducho por fim se acalmou, e já parecia até estar gostando da experiência. Ao cabo de uma hora porém as aves foram perdendo altitude, e como o tempo estava começando a piorar, eles decidiram pousar e continuar a viagem por terra.
Deidara e Kurotsuchi pousaram suavemente entre os pinheiros, mas Akatsuchi foi largado de qualquer jeito e se esborrachou no chão, rolando oito metros.
– Você tem que dobrar os joelhos. – disse Deidara. – É que nem pousar de paraquedas, hm.
O grandalhão se levantou sacudindo a poeira, e o encarou de cima com um olhar homicida.
– Você tem joelhos, né? – perguntou Deidara, debaixo da sombra dele – Porque pescoço já vi que não tem..
Akatsuchi fez um selo com as mãos, e uma pequena avalanche de terra saiu de sua boca. Deidara pulou pra trás horrorizado e assistiu o monte de terra se acumular, assumindo a forma humanoide de um enorme golem de pedra.
– Eu me encarrego do transporte daqui pra frente! – disse Akatsuchi, escalando a criatura. – Venha, Kuro-chan!
Kurotsuchi subiu na criatura de mais de cinco metros e se acomodou no ombro dela. Deidara foi atrás e sentou ao seu lado, o que irritou ainda mais Akatsuchi. Ele era grande demais, e precisava ocupar sozinho o outro ombro.
O golem se pôs em marcha, e eles começaram a atravessar o bosque de pinheiros. Não era tão rápido quanto voar, mas até que era bem útil. O golem era forte e resistente, e podia cruzar rios profundos e turbulentos com muita facilidade.
À medida que avançavam, o bosque ia ficando mais escuro e os pinheiros mais altos.
– Então.. – falou Deidara a certa altura, puxando assunto – Quem é esse tal de Roushi que estamos indo buscar?
– É um ermitão recluso, que vive isolado nas montanhas do norte. – respondeu Kurotsuchi – Ele é um de nossos jinchuurikis.
– Jinchuuri-o quê??
– Jinchuuriki! O portador vivo de uma Bijuu..
Deidara continuou olhando pra ela com cara de perdido.
– Nossa, você não sabe nada mesmo hein! Bijuus são Bestas de Cauda.. quantidades massivas de chakra em formas de vida.
– Que nem minhas esculturas?
Kurotsuchi riu.
– Acredite, aniki.. elas nem se comparam às suas esculturas.
– Ei! – retrucou Deidara, ofendido – Tá debochando da minha arte??
– Se você chama aquilo de arte..
Kurotsuchi virou o rosto pra ele sorrindo, mas Deidara olhou pra ela como um garotinho emburrado.
– De qualquer forma, não se trata de beleza. – continuou ela, olhando pra frente. – Se trata de poder. Uma Bijuu é uma ferramenta.. uma arma de destruição em massa. E o jinchuuriki é aquele que controla essa arma. Todas as grandes nações tem pelo menos uma Bijuu.
Kurotsuchi assumiu um tom mais sério.
– É o que mantém o equilíbrio do mundo shinobi. O balanço de poder. E se esse balanço for rompido, a guerra será inevitável..
– É por isso que estamos indo atrás desse cara..?
Kurotsuchi assentiu.
– A informação que temos é que seu rastro foi visto pela última vez no País da Neve. Não sabemos o que o levou a atravessar o mar.. pode ser que tenha sido raptado, ou que esteja pretendendo nos deixar. De qualquer forma, não podemos nos dar ao luxo de perde-lo.. precisamos encontra-lo e traze-lo de volta à aldeia.
Eles continuaram avançando em silêncio por algum tempo, e então chegaram na beira de um desfiladeiro.
– Kuro-chan..
– Pode deixar!
Kurotsuchi desceu num pulo e se posicionou de frente pro abismo.
– Youton! Jutsu da Calcificação!
Um jorro de cal cinzenta saiu de sua boca e descreveu um arco até a outra margem. Em questão de segundos o material se alargou e solidificou na forma de uma ponte. Ela voltou pro lado de Deidara, que a encarava de estômago embrulhado.
– Então... – disse ele, enquanto ela limpava o canto da boca – Você vomita cimento, e minhas mãos é que são asquerosas?
– Isso não é cimento! – respondeu ela, enquanto o golem atravessava a ponte. – É uma liga de quartzo e basalto, formada pela combinação do meu estilo Fogo e Terra. É um processo de formação parecido com o das rochas vulcânicas.
– Chame como quiser. – riu Deidara – Isso aí é cimento de secagem rápida. Você deveria trabalhar como pedreira.
Kurotsuchi revirou os olhos.
– Aliás, combina bem com você, Kuro.. você parece mesmo meio macho. Nunca foi confundida com um homem?
– Não, nunca. Você já?
Foi a vez de Akatsuchi rir. Ele explodiu numa sonora e gostosa gargalhada, e Deidara ficou quieto.
Os primeiros flocos de neve começaram a cair.
Deidara estendeu as mãos e provou os flocos que caíam nas línguas. Akatsuchi notou que Kurotsuchi esfregava discretamente o braço.
– Quer o meu cachecol, Kuro-chan? – disse ele, desenrolando a peça e oferecendo a ela.
– Não, obrigada Akatsuchi.. vou colocar a capa.
– Opa, d’aqui que eu quero!
Deidara agarrou o cachecol amarelo, mas Akatsuchi o puxou de volta violentamente.
– Ei! Eu tô com frio!!
– Problema é seu!
Mas Deidara continuou agarrado firmemente no cachecol, e foi puxado junto. Akatsuchi sacudiu o braço. Deidara lutou pra se segurar e deu uma volta completa com os pés em torno do golem, quase derrubando Kurotsuchi no caminho.
– Vocês dois querem parar?!?
Então Akatsuchi entregou o cachecol para o golem, que o estendeu diante de si com Deidara pendurado e rodopiando na ponta. Com a outra mão o golem deu um peteleco, e Deidara foi lançado longe.
No final das contas, teria que se contentar com a capa..
***
Depois de aproximadamente três horas de marcha, a equipe chegou numa pequena planície aberta. Ali a neve já havia se acumulado e formado uma grossa camada no chão.
Eles fizeram uma pausa pra descansar e comer. Deidara logo começou a fazer uma escultura de neve. Era uma escultura dele mesmo em tamanho real. E como bom artista, sua réplica de neve era sofisticada e cheia de detalhes.
– Hum.. nada mal. – comentou Kurotsuchi, observando de perto.
– Valeu.
– Só falta um pequeno detalhe..
Ela foi até a orla do bosque e pegou dois galhos caídos. Em seguida os colocou na cabeça da escultura, imitando a galhada de um veado.
– Pronto. Agora sim!
Deidara usou o punhado de neve que segurava pra cobrir o sorrisinho dela. Ela abriu a boca num “O” bem grande.
– Ora, seu...
E se abaixou pra juntar um punhado de neve, formando com ele uma bola. Deidara recebeu a bolada na cara, e foi logo preparando a retaliação. Não demorou muito pros dois ingressarem numa guerra cuja munição era a neve.
Deidara tinha a vantagem, pois ele não fazia apenas bolas de neve - mas mini esculturas. Ele engolia pequenos punhados de neve com a boca das mãos e de lá surgiam passarinhos. Em seguida ele enviava os passarinhos de neve no campo de batalha, e eles voavam no ar perseguindo e atingindo Kurotsuchi.
– Não! – ria ela, fugindo – Pára aniki, pára!!
Então Akatsuchi entrou na batalha, e o sorriso desapareceu completamente do rosto dela.
– Não!! Pára Akatsuchi, pára!!!
Deidara precisou fugir correndo.
Akatsuchi corria atrás dele segurando no alto uma bola de neve do tamanho de um panda.
Minutos depois, a equipe se preparava pra seguir viagem.
– Peraí. – disse Deidara – Vou ali dar uma mijada rapidão.
O “rapidão” dele levou quase um minuto.
– Ahh...! – gritou ele no fim, aliviado – Deu pra desenhar um pavão inteiro! E como tudo que é belo, logo ele vai evaporar e desaparecer pra sempre, sem deixar vestígio! Isso é que é arte!!
– Ah, vê se cresce, seu porco!! – gritou Kurotsuchi, tacando uma bola de neve na orelha dele.
Mas depois que Deidara se afastou, Kurotsuchi olhou discretamente pro desenho do pavão na neve.
Até que está bem feito. - pensou.
Após algum tempo eles chegaram num penhasco na beira de um mar.
– É isso.. – disse Kurotsuchi, olhando o horizonte. – Aqui termina a fronteira do País da Terra. Pra além desse mar fica o domínio do País da Neve.
Era lá que finalmente encontrariam o misterioso jinchuuriki do Quatro Caudas.
Como já estava ficando tarde, eles decidiram que iniciariam a busca no dia seguinte. Portanto eles acharam um local pra montar o acampamento, fazer uma fogueira e passar a noite. Akatsuchi ficou de vigia a noite toda, garantindo que o saco de dormir de Deidara ficasse a pelo menos três metros de distância do de Kuro-chan.
Kurotsuchi foi dormir um pouquinho chateada.
***
Na manhã seguinte retomaram a busca. Foi um longo dia procurando rastros e traçando rotas no mapa. O País da Neve era uma terra desolada e vazia, formada basicamente por montanhas e pinheiros brancos.
– Nada.. – reportou Deidara, depois de fazer um reconhecimento aéreo.
– Nada no bosque de pinheiros também. – reportou Akatsuchi.
– Bom.. – disse Kurotsuchi. – Pelo menos sabemos que não houve luta.
– E como sabe disso? – perguntou Deidara.
– Porque se tivesse, metade da paisagem estaria destruída..
O grupo começou a subir a encosta de uma pequena montanha. Deidara estava cético e ao – mesmo tempo intrigado.
– Fala sério.. esse Roushi é tão poderoso assim?
– Poderoso, e instável. Ele não gosta de pessoas em geral. Quando o acharmos, sugiro que o aborde da forma mais delicada possível. Ele é temperamental e não tem o melhor dos gênios..
– É, eu conheço uma pessoa assim.
Deidara sorria e olhava diretamente pra ela. Kurotsuchi o ignorou.
Finalmente chegaram ao topo da montanha, onde a neve dançava suavemente no ar enquanto caía. Lá eles encontraram algumas pegadas, e ao final delas, um homem sentado de costas numa pedra.
Estava imóvel feito uma estátua, e parecia estar meditando.
– É ele.. – sussurrou Kurotsuchi – Roushi, O Ermitão!
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