História KURODARA!! - Epílogo

.

Dez anos se passaram..

Do terraço da Mansão, Kurotsuchi podia ver o quanto a Aldeia da Pedra havia mudado nesse espaço de tempo.

As torres e pontes continuavam onipresentes, mas eram muito mais numerosas e esplêndidas agora. Formavam belos arranjos, e subiam até pelas encostas das montanhas circundantes. No coração da aldeia, emergindo das profundezas da Fonte Sagrada, um penhasco sustentava a construção mais magnífica do local: uma gigantesca estátua de dragão, esculpida diretamente na rocha.

Kurotsuchi contemplou as cascatas brotando aos pés da estátua, e despencando no abismo em meio a nuvens de névoa. Neste momento, uma revoada de pássaros brancos passou pelo cenário.

Kurotsuchi sorriu.

Ela sempre fazia isso, quando via pássaros brancos voarem..

Eles sempre a faziam lembrar dele.

Ela fechou os olhos por um instante, entregando-se a velhas memórias.

Aniki.. me pergunto como você estaria agora, se estivesse aqui.

Mas Deidara não estava mais ali. Nem em qualquer outro lugar da terra.

Ele havia morrido poucos meses depois da batalha com Kurotsuchi. Cometeu suicídio, mais precisamente.. numa terrível luta contra o último herdeiro do lendário clã Uchiha. Relatos disseram que ele se sacrificou numa grande explosão, na tentativa de arrastar Sasuke Uchiha consigo. Em vão.

Quando soube da notícia, Kurotsuchi sentiu um profundo pesar. Mas não ficou exatamente surpresa..

No fundo, ela sempre soube que aquilo iria acontecer.

Cedo ou tarde, Deidara acabaria se autodestruindo. Ele era impetuoso demais. Impulsivo e apaixonado demais.. O tipo que morre jovem. No fim das contas, ele acabou sendo uma vítima do próprio espírito inflamado.

Para dizer a verdade, Kurotsuchi sentiu até um certo alívio quando soube da sua morte.

Isso a livrava do doloroso fardo de ter que matá-lo com as próprias mãos. Se tivesse feito isso, talvez ela nunca teria se perdoado. Às vezes, a escolha certa pode te condenar a uma eternidade de dor... e um momento de fraqueza pode te livrar dela.

Kurotsuchi nunca se arrependeu de seu caso com Deidara, naquele castelo.

Foi como uma despedida..

E uma libertação.

Antes daquele encontro, era como se ela arrastasse pra todos lados correntes invisíveis. Todas carregando pesos, cravados em seu peito. E então todas as correntes se desprenderam de uma só vez. Raiva, dor, mágoa.. tudo foi descarregado em Deidara na batalha final. Só então ela soltou a última grande corrente em seu peito: a que aprisionava seu desejo. Ao se render à sua paixão, ainda que uma só vez, ela finalmente foi capaz de acalmar o fogo que tanto a atormentava por dentro..

E o beijo de amor entre eles foi como um bálsamo final para sua alma.

Naquele momento uma ferida aberta foi costurada, e mais tarde o tempo se encarregou de cicatrizar.

Depois daquilo, Kurotsuchi reencontrou a paz que havia perdido. Ela passou a se sentir mais leve, e a sorrir como antes.

Claro, a escolha dela teve consequências.

Deidara ainda causou um certo estrago antes de ser derrotado, como por exemplo assassinar o Kazekage. Mas felizmente nada que fosse irreversível: o jinchuuriki foi ressuscitado pouco depois, com uma técnica secreta da Areia.

Algo parecido aconteceu com Deidara, após sua morte.

Durante a Quarta Grande Guerra Ninja, Deidara foi trazido de volta dos mortos através de um jutsu proibido. Não era bem uma ressurreição: a Reencarnação do Mundo Impuro apenas invocava o corpo e a mente do morto, como se o tomasse emprestado do além. Deidara foi invocado com vários outros ninjas devido ao seu grande poder, e usado como uma arma pelo inimigo.

Kurotsuchi o reencontrou no campo de batalha, mas desta vez não se perturbou com o encontro. Na verdade ela até se divertiu capturando e selando ele. Por uma última vez, eles se desafiaram e se provocaram, como nos velhos tempos..

Kurotsuchi abriu os olhos, voltando à realidade.

Ela olhou para um céu vasto repleto de nuvens brancas.

Aniki.. onde quer que esteja, espero que habite alturas maiores agora..

– Mamãe..?

Kurotsuchi se virou ao ouvir aquela voz.

Parada diante de si, estava uma garotinha de longos cabelos negros e escorridos, quase ocultando seu delicado rosto numa cortina ondulada.

– Mandou me chamar?

– Sim. – sorriu Kurotsuchi – Tenho algo pra você.

Então ela notou que a filha vestia um par de luvas escuras.

– O que é isso..?

A menina baixou o olhar para um canto do chão, esfregando o pulso. De repente parecia muito envergonhada.

– Eles riem de mim na escola.. – explicou, em voz baixa.

Kurotsuchi se agachou diante dela, séria.

– Tire isso. – mandou, com calma.

A garotinha obedeceu, tímida. Descolando o velcro em cada luva, retirou-as e as guardou no bolso.

Kurotsuchi pegou suas mãozinhas, e as juntou viradas pra cima. Lá estavam duas pequenas bocas, uma em cada palma. Fazia pouco tempo que tinham surgido.

– Eles disseram que é uma aberração. – disse ela, triste – Que eu devia cobrir..

– Mas se você cobrir.. – respondeu Kurotsuchi, revirando o bolso – ..como vai poder usar o seu presente?

Ela pegou um pequeno jarro de cerâmica artesanal, com vários desenhos em alto relevo.

Em seguida destapou a rolha, e derramou um punhado de terra macia nas mãos unidas da garotinha.

– Faça sua mágica..

A menina respirou fundo, e fechou as mãos numa concha. Segundos depois, as abriu, e ali estava uma pequena escultura de barro em forma de borboleta.

Kurotsuchi apanhou a escultura, equilibrando-a em seu dedo. Em seguida olhou para a filha, sorrindo com confiança.

– Quando quiser.

A garotinha ergueu dois dedos num selo, e entoou:

– Katsu!

A borboleta sacudiu suas asas, espalhando uma nuvenzinha de pó.

A camada de terra saiu, revelando suas verdadeiras cores por baixo: negro com azul vibrante. A borboleta então voou para longe - não mais como uma escultura, mas sim uma criatura nova e real dotada de vida própria.

Kurotsuchi afastou uma mecha de cabelo do rosto da filha.

– Você é um milagre, Tamara.

Ela olhou diretamente nos olhos da menina, de um sublime azul cristalino.

– Nunca se envergonhe de quem você é..

A garotinha sorriu timidamente.

Kurotsuchi se encheu de ternura: Tamara era o bem mais precioso que ela tinha na vida. Nascida pouco antes da guerra, sua vinda foi cercada de turbulência, mas ao mesmo tempo foi o que renovou sua alegria de viver - assim como sua vontade para lutar e vencer.

– Agora vá. – dispensou Kurotsuchi – Vá aprontar alguma arte por aí.

Tamara pegou o jarro de cerâmica e jogou sua alça de couro por cima do ombro. Então se virou, e correu alegremente para as escadas.

Ela passou quase esbarrando ao lado de um grandalhão, que se esquivou com um sorriso. O homem de cavanhaque seguiu então em direção a Kurotsuchi.

– Tsuchikage-sama.. tudo pronto para a viagem.

Ele entregou respeitosamente um chapéu marrom com o ideograma de “terra” escrito na frente.

– Obrigada, Akatsuchi.

Kurotsuchi pegou o chapéu e o levou à cabeça.

Em seguida foi caminhando rumo à escada, com Akatsuchi seguindo-a logo atrás.

– Finalmente, vou poder assistir as finais do Exame Chuunin! – comentou ela, enquanto andavam – Fazia tempo que não visitava Konoha..

– É verdade. – respondeu seu guarda-costas. – A propósito, o Hokage Naruto mandou os seus cumprimentos. Disse que está impressionado com o desempenho de nossos candidatos esse ano.

– Que gentileza a dele.. mal posso esperar pra ver o que ele tem para nós!

Eles chegaram à porta e saíram para o pátio ensolarado da mansão.

Quando estavam atravessando a ponte, Kurotsuchi olhou pela beirada, e viu sua filha brincando lá embaixo.

Tamara corria pelas escadas e pontes da aldeia, pulando sobre caixas e espalhando criaturinhas vivas pelo caminho. Ao chegar no topo de uma torre, ela soprou o pó de várias esculturas em suas mãos, e uma revoada de pombas brancas subiu pelo ar. Elas passaram em frente a Kurotsuchi, bem perto, e ela acompanhou as aves subirem até desaparecerem no céu.

Então a Quarta Tsuchikage baixou o rosto num sorriso, ajustando com os dedos a aba do chapéu.

– Certo.. – disse, erguendo o rosto.

Seu sorriso era alegre e seu olhar agressivo.

Ela encarou o caminho à frente com radiante determinação.

– Vamos mostrar pra eles do que a Pedra é capaz!!

***

• Kurotsuchi foi nomeada a Quarta Tsuchikage da Aldeia Oculta da Pedra sete anos depois da Grande Guerra, quando Oonoki finalmente se aposentou. Com quase cem anos de idade, ele passou a “coroa” diretamente para a neta, pois como o pai dela previu: um dia ela seria mais poderosa que ele.

• Durante o reinado de Kurotsuchi, ela trouxe a Aldeia da Pedra para o auge de sua prosperidade, e ajudou a consolidar uma era de paz entre as Nações Ninja. Ela também erradicou a pobreza, e dedicou especial atenção às crianças órfãs de sua aldeia.

• Nenhuma homenagem ou monumento foi erguido em memória de Deidara. Apesar disso, à sua própria maneira, ele deixou sua marca na história: quando se sacrificou, entregou a maior explosão de todos os tempos. Ela perfurou os céus e devastou planícies, deixando uma cicatriz nunca antes vista na terra. A explosão abalou as estruturas do próprio mundo, e as Montanhas Flutuantes fugiram para o céu. Até hoje o Castelo de Ukihara, as esculturas petrificadas e o esqueleto negro de tiranossauro permanecem perdidos em algum lugar em meio às nuvens. Para Kurotsuchi, esse lugar é o verdadeiro memorial de Deidara: um castelo celestial, vagando sem rumo nas alturas, e habitado pela eterna arte.

~ FIM ~

*