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Não foi apenas um longo dia, como também uma longa semana para Deidara.
No fim das contas as aulas com o Tsuchikage não foram tão emocionantes quanto ele esperava. Na verdade eram tão monótonas e maçantes que Deidara quase sentiu falta de ser escravo de Kurotsuchi. Pelo menos com ela ele tinha alguma coisa pra fazer, nem que fosse cavucar rochas.
Por isso quando o fim de semana finalmente chegou, foi com uma disposição surpreendente que ele levantou cedo e colocou a mochila de uma tonelada nas costas, pronto para a excursão de sábado. Kurotsuchi estranhou aquele bom ânimo, mas nada disse. Ela ainda estava remoendo um pequeno poço de rancor e desconfiança, portanto em nenhum momento ela dirigiu a palavra ao seu guarda-costas.
Exceto quando foram cercados por bandidos no caminho de volta.
– Quem são esses caras?? – perguntou Deidara, quando foram rodeados por dez ninjas mascarados.
– Caçadores de relíquias. – respondeu Kurotsuchi. – Um tipo comum por aqui.
Deidara sentiu sua boca esticar num sorriso.
– Ótimo...
Ele levou a mão à bolsa em seu cinto, e começou a ingerir a argila branca que estava ali.
– Até que enfim vou poder mostrar do que sou capaz!
Mas Kurotsuchi tomou a dianteira com uma rapidez impressionante, e com um único arremesso de kunais desarmou seis ninjas ao mesmo tempo. Ela saltou e rolou no chão para apanhar uma das espadas caídas, e com ela se protegeu de todas as kunais e shurikens que vieram. Em seguida contra-atacou cuspindo rochas incandescentes de lava, que derrubaram cinco inimigos no chão. Outro foi derrubado quando Kurotsuchi o atravessou com a espada lançando-a a quinze metros de distância. A essa altura os que sobraram começaram a correr, mas Kurotsuchi não iria deixa-los escapar tão fácil.
– Youton! Jutsu da Calcificação!
Um jorro pastoso e cinzento saiu de sua boca, atingindo as pernas de três ninjas que imediatamente caíram e foram imobilizados. O último conseguiu se safar por um triz, mas não por muito tempo.
– Suiton! Jutsu Trompete de Água!
O jato líquido empurrou a pasta cinzenta adiante, perseguindo o líder. Ele correu por dezenove metros até finalmente ser alcançado pela cal viva de Kurotsuchi, e então seus pés foram envolvidos e ele tropeçou. No mesmo instante a cal endureceu, adquirindo a solidez de uma pedra. Os dez ninjas haviam sido neutralizados no intervalo de um único minuto.
Deidara assistiu a todo o espetáculo abobalhado, e nem percebeu que sua mão ainda estava dentro da bolsa.
Só depois que Kurotsuchi limpou a boca ela notou o estado de choque dele, e não pôde deixar de sorrir com satisfação. Ela caminhou até ele e falou com clareza em seu ouvido:
– Entendeu agora, Deidara-nii? Você não faz a menor falta aqui.
E se afastou deixando ele ao mesmo tempo envergonhado e furioso.
– Ah! Me enganei.. – disse ela, segundos depois – Você ainda serve pra carregar a mochila.
Maldita burguesinha. Você me paga..
***
– Isso nunca vai dar certo.
Kitsuchi depositou seu copo de chá verde no chão em que estava sentado.
– Aqueles dois são completamente opostos. Jamais vão se dar bem. Francamente, otosan*.. no que o senhor estava pensando?
– Tenha paciência, meu filho. Tudo ficará claro com o tempo.
Oonoki fez sua jogada no shogi**, e esperou. Pouco depois Kitsuchi fez seu movimento e encerrou a partida com um cheque-mate.
– Ho ho! Você continua afiado como sempre, filho. – disse o Tsuchikage, afastando o tabuleiro e acendendo o cachimbo – Não esperava menos do general-comandante de minhas tropas!
– Não mude de assunto, otosan. Sabe muito bem por que estou aqui.
De fato, Oonoki sabia. Como general-comandante da Aldeia da Pedra, raramente seu filho Kitsuchi parava em casa - quase sempre estava liderando alguma operação importante no país ou no exterior. Mas assim que soube do novo guarda-costas de Kurotsuchi, ele voltou para casa o mais rápido possível.
– Ainda não compreendo como pôde entregar minha filha nas mãos daquele.. – ele precisou refrear a palavra. – Mesmo sob sua vigilância, ele continua sendo um criminoso!
– Todos merecem uma segunda chance. – disse Oonoki calmamente. – Eu acredito que aquele rapaz pode mudar.
Kitsuchi suspirou.
– Você é otimista demais, otosan. E generoso demais. Um dia ainda vai se arrepender disso. Se quer se arriscar nesse experimento, ótimo.. mas por que envolver Kurotsuchi? Por que envolver sua própria neta??
– Porque ela também precisa mudar..
Kitsuchi encarou o seu pai com uma expressão confusa.
– O que quer dizer? Minha filha é uma shinobi excelente, e uma moça exemplar! Tenho muito orgulho de quem ela é!
– Sim, sim. E com toda razão. Mas, diga-me filho.. – Oonoki soprou lentamente uma baforada de fumaça – ..quando foi a última vez que viu ela sorrir?
A pergunta pegou Kitsuchi de surpresa. Ele gaguejou, sem saber o que responder.
– A-aonde quer chegar?
O velho pegou um pergaminho próximo, e o abriu no chão. Em seguida pegou um pincel e um tinteiro, e começou a pintar.
– Imagino que conheça este símbolo.
Kitsuchi olhou para o desenho na sua frente.
– Claro que conheço. É o Yin-Yang.
– E você sabe o que ele representa?
– Equilíbrio. A harmonia entre opostos.
– Errado.
Oonoki interrompeu seu desenho, e guardou o pincel no tinteiro.
– Neste exato momento, esse símbolo representa Kurotsuchi e Deidara. Ela é yin e ele é yang. Duas forças antagônicas que se chocam.
Kitsuchi observou com mais atenção, e só então percebeu que o símbolo estava incompleto. Os pontinhos menores dentro de cada lado não estavam lá.
– Kurotsuchi é yin: o lado negro. Ela é o feminino, a noite e o frio. É disciplinada e tem um senso de justiça profundo, mas também é rigorosa demais. Precisa entender que a vida não é só obrigações e deveres. Os jovens também devem se divertir e sonhar..
E continuou, apontando o desenho:
– Deidara é yang: o lado branco. Ele é o masculino, o dia e o calor. Com certeza é alguém que sabe aproveitar o máximo da vida, mas lhe falta limites. Seu comportamento é irresponsável e destrutivo. Isso acaba afetando não só aos outros, mas a ele mesmo..
Então Oonoki pegou novamente o pincel e completou seu desenho, acrescentando um pontinho preto dentro da parte branca e um pontinho branco dentro da parte preta.
– Somente quando um completa o outro, o equilíbrio é alcançado. Somente então, haverá harmonia.
O velhinho guardou novamente o pincel, e tragou a fumaça de seu cachimbo.
– Eu acredito que aqueles dois tem muito a aprender um com o outro..
Kitsuchi suspirou mais uma vez e coçou a barba.
– Otosan.. eu sempre confiei no seu julgamento. Espero que saiba o que está fazendo. Mas não consigo deixar de pensar.. minha filha com aquele delinquente? Isso me preocupa muito.
– Não se preocupe. – riu Oonoki, com o cachimbo preso entre os dentes – Afinal de contas, ele não seria louco de tentar algo contra a neta do Tsuchikage!
***
Preciso me livrar da neta do Tsuchikage. – pensou Deidara, ali fora. – Aquela garota é um pé no saco..
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