1. Spirit Fanfics >
  2. Kyle, o Sombrio Guardião da Luz - Parte I - Freljord >
  3. Por Freljord

História Kyle, o Sombrio Guardião da Luz - Parte I - Freljord - Por Freljord


Escrita por: AshenOne

Notas do Autor


Chegamos ao penúltimo capítulo da passagem de Kyle por Freljord. Lissandra retorna para cobrar de Kyle aquilo que lhe foi negada anteriormente. Conseguirá o jovem herói do norte enfrentar a temível Bruxa Gélida?

Capítulo 10 - Por Freljord


O sol por entre nuvens iluminava parcialmente a encosta da montanha em que Kyle e Lissandra se encontravam. A Bruxa Gélida viera de longe para conseguir seu objetivo e não estava disposta a desistir da escuridão do garoto por tão pouco. Os olhos de Kyle fitavam a vil feiticeira, mas sua mente estava longe, seu semblante mostrava incerteza e medo. Teria Gregor falhado em anunciar a chegada de Lissandra? Teria Kyle posto tudo a perder ao subestimar a maior ameaça de Freljord? O que faltava ao garoto para ser o herói avarosiano que ele foi durante anos e que tinha ali, na sua frente, a chance de terminar uma guerra antes mesmo que ela começasse? Enquanto se questionava, Lissandra tomou a iniciativa de uma luta que ela queria manter curta e rápida.

A Bruxa Gélida estendeu seu braço direito em direção a Kyle e emitiu um raio contínuo de congelamento. O garoto, lento em suas reações, limitou-se a bloquear o raio, mas o gelo estava transpondo o escudo e vagarosamente alcançava sua mão esquerda, e depois o braço.

“Ugh... Merda! Não consigo avançar!”, murmurou Kyle, tentando cair em si ao perceber o real efeito do raio congelante.

Enquanto gargalhava de forma maligna, Lissandra manteve-se ereta e imponente, dominando seu adversário ao passo que o gelo o envolvia.

“Eu terei tudo! Tudo se tornará gelo e eu serei mais do que uma rainha! Com o poder que você possui nada me impedirá!”, declarou Lissandra.

Kyle se arqueava enquanto o gelo começava a alcançar seu tronco, tornando o frio cada vez mais insuportável.

“Acredite Lissandra. O que eu tenho... Essa maldição... Você não a quer. Ninguém a quer. Ninguém jamais deveria tê-la. Nem eu.”, dizia Kyle, lutando contra o frio.

Lissandra nada respondeu, suas gargalhadas deram lugar a um sorriso medonho, como se quisesse encerrar o processo mais rapidamente. Enquanto sua mão direita emitia o raio, a esquerda foi erguida e começou a ter um brilho negro. A Bruxa Gélida estava pronta para empalar o garoto em gelo negro.

Quando escalava as mais altas montanhas do sul de Freljord ao lado de Braum, o Coração de Freljord sempre dizia a Kyle que a alma é o pastor do rebanho do nosso ser. Se nossa alma está em um momento ruim, nosso ser estará confuso, perdido, e o que coloca a alma nos eixos é o silêncio, o grande mestre do homem. Através do silêncio, atinge-se um nível mais alto do conhecimento próprio, o que, na grande maioria das vezes, é o necessário para vencer uma adversidade. E confiando nesse ensinamento, Kyle fechou os olhos e buscou o silêncio á sua volta. O frio era secundário, o vento produzido pelo raio congelante chocando-se contra as partículas do gelo que já envolvia parte do tronco de Kyle faziam um agudo som, o barulho de lascas de gelo rolando montanha abaixo, tudo ia desaparecendo, e nem sequer a luz do sol atrapalhava os olhos castanho escuro do garoto, escondidos sob suas pálpebras.

“Minha luz sempre te acompanhará. Quando a escuridão fluir pelo seu ser, a luz te dará o controle e as trevas não o dominarão.”, ouviu-se a voz de Avarosa ressoando pela mente do garoto, que abriu os olhos.

“Eu tenho algo que é muito mais forte do que aquilo que você deseja.”, disse Kyle, levantando os olhos na direção de Lissandra.

“E o que seria garoto tolo?”, perguntou Lissandra.

“Eu tenho a luz!”, bradou Kyle.

Movimentando o braço esquerdo para cima com força, Kyle libertou-se do gelo que até o momento o aprisionara parcialmente, fazendo-o explodir estilhaços na direção de Lissandra, que interrompeu a magia que estava operando. Em seguida, o garoto executou um rápido rolamento para a esquerda, seus olhos brilhavam e seu semblante não mais demonstrava medo. Lissandra arqueou-se para trás, maldizendo o garoto, buscando equilíbrio sobre o gelo negro sobre o qual se deslocava. Naquele momento, uma pequena constelação de três estrelas brilhou no céu claro de Freljord.

“Maldita seja Avarosa! Não é possível!”, murmurou Lissandra.

Kyle nada respondeu. Seu movimento foi tão rápido que seu ataque rasgou o lado esquerdo da esbelta cintura de Lissandra, impedindo qualquer rápido contra-ataque da Bruxa Gélida, que gemeu de dor. Enfurecida e atordoada pelo ferimento, Lissandra disparou cegamente uma barragem de estilhaços de gelo negro contra Kyle, que foram bloqueados e desviados com sucesso. Depois de circular em torno da Bruxa Gélida várias vezes, Kyle desferiu um golpe de espada na altura da cabeça de Lissandra, procurando decapitá-la. Mas ela moveu sua cabeça rapidamente, desviando parcialmente do golpe, que a atingiu na ponta esquerda da máscara, quebrando-a. Este último ataque enfureceu Lissandra ainda mais que o primeiro golpe, fazendo-a se sentir acuada e obrigando-a a ser mais defensiva, já que o garoto aparentemente estava disposto a mata-la.

A Bruxa Gélida tentou ler os movimentos de Kyle, buscando neles uma espécie de padrão. E com sucesso. Quando o garoto novamente saltou para finalizá-la de frente, ela gritou.

“Congele!”, dizendo isso, Lissandra ergueu os braços, fazendo surgir do chão uma tumba de gelo negro, com a intenção de aprisionar Kyle durante seu salto, porém, ouviu-se ao longe uma nota musical grave e, em seguida, uma estrela caiu sobre o garoto, paralisando-o no ar em estado de estase e imune ás investidas de Lissandra.

Perplexa, Lissandra levantou os olhos e, ouvindo o barulho de pequenos sinos, viu uma exótica figura barbuda saltitando sobre suas pernas de pau enquanto subia a encosta da montanha, trajando roupas acinzentadas com vermelho, uma máscara dourada e redonda no que parecia ser seu rosto e carregando um estranho instrumento de sopro semelhante a um chifre de batalha, mas seu som definitivamente não possuía esse fim.

“Desgraçado! Como você ousa...”, disse Lissandra, sendo interrompida pelo forte estrondo de uma nota musical alta tocada pela criatura mascarada. O estrondo foi tão forte que era possível sentir a montanha estremecer e o gelo encrustado no chão como resultado do combate entre Kyle e Lissandra estalava de dentro para fora com as vibrações. A Bruxa Gélida recuou, sendo incapaz de suportar os sons do bardo cósmico.

Kyle voltara ao normal e observava o seu salvador afugentar Lissandra. Enquanto tocava seu instrumento, o mascarado conjurava no ar uma grande quantidade de criaturinhas cósmicas que eram disparadas contra Lissandra a uma velocidade impressionante.

“Isso... Não vai acabar assim! Eu triunfarei na guerra!”, disse Lissandra, causando uma pequena explosão de gelo negro em torno de si mesma para afastar os ataques contra ela e usando seu caminho glacial para desaparecer da vista de Kyle e da criatura cósmica.

“E eu não estarei nela, Lissandra... Isso é um adeus.”, comentou Kyle, guardando seu escudo nas costas e embainhando sua espada.

Virando-se para Kyle, a criatura ajudou o garoto a se recuperar do confronto, tirando uma pequena runa de algum bolso de sua túnica de cores cinza e vermelho e encantando-a com magia curativa, sendo o bastante para a recuperação das forças do garoto.

“Uh... Obrigado, mesmo... Você salvou minha vida.”, agradeceu Kyle, confuso sobre a criatura que o estava ajudando.

A criatura, porém, se comunicava apenas através de sons, tornando seu dialeto incompreensível para o entendimento de Kyle. O barbudo deu um abraço simpático no rapaz, apontou para a pequena constelação de três estrelas no céu que brilhavam solitárias durante o combate entre Kyle e Lissandra, e, em seguida, voou para o alto, desaparecendo na constelação. Kyle observou tudo e notou que as estrelas da constelação estavam dispostas da mesma forma que os pontos iluminados na máscara da criatura cósmica, intrigando o rapaz, que se sentiu honrado por ter tido um encontro com uma criatura tão única e, ao mesmo tempo, cheia de personalidade, que o ajudou a repelir a temida Bruxa Gélida.

Girando sobre os calcanhares, Kyle notou que a cabana estava em processo de descongelamento e que Braum estava se aproximando, encerrando a subida pela encosta da montanha.

“Você viu algo do que aconteceu aqui?”, perguntou Kyle, entusiasmado.

“Não, mas a constelação e esse maldito estrondo sugerem que o Bardo esteve aqui. O que aconteceu?! Minhas cabras! Elas foram congeladas!”, exclamou Braum.

“Ah... Então é assim que vocês o chamam.”, comentou Kyle, deixando passar completamente despercebida a preocupação de Braum pela vida de suas cabras.

“Kyle, isso é sério. Ele só aparece para intervir em nosso mundo quando algo terrível está para acontecer. O que você fez? Vejo gelo negro por toda parte!”, perguntou Braum, olhando-o com uma seriedade que tornava o caridoso Braum em uma figura temorosa.

“Lissandra esteve aqui. Nós batalhamos. Ela queria ter minha escuridão e pretendia me matar. E ela ainda teria prevalecido se o Bardo não intervisse. Graças a ele eu estou vivo e a Bruxa Gélida foi repelida de volta para o buraco de onde veio.”, comentou Kyle, entrando na cabana.

“Não estou para brincadeiras, Kyle! Desde que retornou tudo tem sido um caos e ver você agindo com tanta naturalidade me deixa revoltado, pois faz parecer que você não tem noção do que está acontecendo com Freljord agora.”, desabafou Braum, entrando na cabana junto de Kyle.

“Braum, tudo o que está acontecendo com Freljord há anos é a mesma coisa que acontece agora, a diferença é que alguém resolveu ir meter a cara lá e conseguiu voltar com vida pra todo mundo ficar sabendo. Lissandra vai voltar por mim e não quero estar aqui quando isso acontecer, não sei quando vou ver outra criatura cósmica aparecer do nada pra salvar minha vida.”, disse Kyle, com uma expressão séria enquanto tentava secar um pouco sua mochila, que ficou encharcada por causa da viagem para o Norte.

“Eu fui acusado de traidor pelo rei, nossos aliados Praeglacius de repente se tornam nossos maiores inimigos, o Bardo desce até Freljord para salvar sua vida e até mesmo ajudei Sejuani a trazê-lo para Rakelstake... É muita coisa pra digerir... Como você aprendeu a superar tudo isso tão rápido, rapaz? Não fui eu quem o ensinou a ser assim.”, disse Braum, sentado em sua poltrona enquanto observava Kyle e aparentemente despreocupado com o excesso de gelo em sua cabana.

“Tryndamere é um idiota. Não faço ideia do que Ashe vê nele... Talvez o use como escudo humano para impedir que Sejuani esmague o crânio de Ashe com facilidade. Enfim, acho que o frio me mudou de alguma forma, talvez seja Avarosa ou a minha escuridão se fortalecendo dentro de mim, de qualquer forma, você me ensinou que a melhor coisa para um dia ruim é o amanhã, a chance de começar um dia novo. E é isso o que farei.”, disse Kyle.

“Vai partir para onde? Para Piltover?”, perguntou Braum, começando a aceitar a situação.

“Sim, vou tentar me firmar por lá se achar que vale a pena.”, disse Kyle.

“Por que você quer tanto partir? As pessoas aqui gostam de você e o veem como um herói.”, disse Braum, querendo entender melhor os motivos de Kyle partir.

O garoto suspirou, aceitou que não conseguiria deixar sua mochila de pano melhor do que estava e começou a colocar alguma quantidade de suprimentos. Virando-se para Braum, que o aguardava responder de forma paciente, Kyle disse.

“Eu tive uma vida antes de vir parar aqui. As pessoas me perguntam de onde vim e eu não sei responder. Eu quero ser mais do que isso. Se as rainhas desse lugar são tão cabeça-dura assim em suas crenças, imagine então durante uma guerra! Eu sei que as pessoas mudam e vi isso nos olhos de Sejuani, vi que ela é a vitória que Ashe precisa... Que Freljord precisa. E querendo ou não, Lissandra vai trazer até aqui uma guerra... Guerra que não é minha.”

Ao ouvir Kyle terminar de falar, Braum fitou o nada. Mergulhado em um misto de perplexidade e surpresa, o Coração de Freljord estava tentando aceitar que o garoto que tratara como um filho durante anos estava para partir. Kyle encerrou sua preparação e, em seguida, tirou seu mentor de seu estado contemplativo.

“Para... Não fica desse jeito. Faz me sentir culpado de algo terrível.”, disse Kyle, aproximando-se de Braum.

“É estranho, ás vezes parece que foi ontem que eu encontrei um garoto ferido caído ali fora, no meio de uma nevasca absurda. Cuidei de você como se fosse para mim um filho e ensinei-o tudo o que sei, jamais te privando de buscar conhecimento.”, disse Braum.

“Eu sei disso, por isso eu sou eternamente grato. Você fez de mim o que eu sou hoje. Sempre rogou por Avarosa pela minha proteção, onde quer que fôssemos, e agradeço por ter sido pra mim o pai que eu nunca recordei ter tido. Mas você também sabia que esse dia chegaria.”, respondeu Kyle, esboçando um sorriso.

Braum meneou positivamente com a cabeça em concordância com as palavras de Kyle, deu um forte suspiro e, levantando-se de sua poltrona, abraçou o garoto.

“Não importa onde o destino te leve, garoto. Nunca se esqueça das coisas que aprendeu aqui.”, disse Braum.

“Eu prometo.”, respondeu Kyle, pronto para partir.

“Acredito que você vai gostar de Piltover. Muita tecnologia, conhecimento e talvez até consiga trabalhar para a polícia local.”, comentou Braum, saindo da cabana junto de Kyle.

“Assim espero... Bem, hora de ir!”, comentou Kyle.

Braum deu um tapa na própria testa e lembrou-se de algo importante.

“Ah, droga... Kyle! Antes de ir, tem algo que você precisa fazer.”, disse Braum.

“E o que seria?”, perguntou Kyle, virando-se para Braum.

“Ashe vai fazer um pronunciamento e requisitou sua presença.”, disse Braum.

“Isso é sério mesmo? Eu por acaso tenho a escolha de não ir?”, perguntou Kyle, bastante evasivo.

“Acredite, você vai querer ir a Rakelstake uma última vez. A Garra do Inverno já deve estar aí. Algo importante vai acontecer hoje.”, disse Braum, esboçando um sorriso e erguendo seu escudo nas costas.

“Garra do Inverno? Ah, merda... Braum, para Rakelstake! Rápido!”, bradou Kyle, correndo para descer a encosta da montanha.

“O que houve garoto?”, perguntou Braum.

“Bardo não me salvou á toa... Como você mesmo havia dito: algo importante vai acontecer hoje.”, disse Kyle.

Kyle e Braum desceram a encosta da montanha e alugaram dois cavalos no vilarejo que ficava ao pé da montanha. A dupla cavalgou pelas planícies avarosianas como um raio e rapidamente alcançaram o portão de Rakelstake, onde já era possível se ouvir as trombetas do Palácio Real anunciando algo. Ao passarem pela estátua de Avarosa, a dupla notou que todo o povo avarosiano estava atônito, concentrado em sua grande parte no centro comercial da capital avarosiana. Kyle e Braum desceram dos seus respectivos cavalos e os prenderam á um poste com uma lamparina antiga. Eles passaram pelo meio do povo, atravessaram a ponte para o Palácio e os guardas identificaram os dois, escoltando-os até o Salão Real.

“O que Ashe tem na cabeça ao convocar toda a Garra do Inverno aqui?! Vocês tem noção de que ela pode ter começado uma guerra?”, perguntou Kyle aos soldados que o escoltavam.

Eles nada responderam e se limitaram a leva-los em segurança até o Salão, que estava completamente cheio e dividido entre avarosianos e membros da Garra do Inverno, até mesmo os mais ilustres como Olaf, o Berserker, porém, não se via sequer um membro representante do povo Praeglacius. Ao centro, defronte ao trono, encontrava-se Sejuani sobre Bristle. Ao perceber a entrada de Kyle e Braum, Ashe levantou-se e Sejuani olhou para trás, imediatamente fitando o garoto com um sorriso.

“Kyle! Esperávamos por você.”, disse Ashe.

O garoto, ainda surpreso com o retorno da líder da Garra do Inverno, ignorou parcialmente Ashe, cumprimentou uma sorridente Sejuani e acariciou a cabeça de Bristle, que parecia estar com fome. Em seguida, Kyle levantou-se, posicionou-se á frente de Sejuani e virou-se para Ashe.

“Agradeço pela consideração, mas primeiro queria dizer que se não fosse por esta mulher, meu cadáver agora estaria congelando nas florestas do Norte.”, dizia Kyle, apontando Sejuani, “Sou grato a ela por ter salvado a minha vida.”, finalizou, causando burburinhos pelo Salão.

Ashe retomou o controle do ambiente e disse em alta voz.

“Irmãos freljordianos! Por muito tempo estivemos cegos diante da verdadeira ameaça que nos rodeia. Nosso ódio mútuo e nossas rixas impediram nosso crescimento e permitiram que o mal se perpetuasse no território dos Praeglacius por anos, planejando seu ataque. Kyle foi até onde nenhum homem jamais ousou ir sozinho e descobriu a verdade sobre o que está para acontecer. E o que virá por aí é guerra.”

O burburinho se intensificou e Sejuani, sentindo-se incomodada com aquilo, urrou muito alto, silenciando a todos nos Salão, até mesmo aqueles que se encontravam fora do Palácio. Ashe agradeceu e prosseguiu.

“Por isso, ofereço a Kyle a patente de comandante do exército avarosiano, aquele que marchará á frente de nossos bravos guerreiros na guerra. O que me diz, rapaz?”, perguntou Ashe.

Kyle olhou á sua volta e nunca viu tantos olhos apontados em sua direção, ele reconheceu alguns guerreiros da Garra do Inverno, notou que Anivia estava empoleirada sobre o parapeito formado entre o encontro de uma coluna do Salão com a armação que sustentava o teto do mesmo, viu o suor escorrer pela testa de Braum, que sorriu para o garoto, já sabendo qual seria sua resposta.

“Perdoe-me desapontá-la, rainha, mas terei de recusar sua proposta.”, disse Kyle, surpreendendo Sejuani, Ashe e todos no salão, com exceção de Braum.

O povo murmurava cada vez mais alto e alguns até esboçaram insultos para Kyle. O garoto permaneceu impassível e aquilo revoltou Tryndamere, que se levantou de seu trono.

“Como ousa negar um pedido real?! Quem você pensa que é?”, bradou Tryndamere.

A tensão aumentava. A raiva em Sejuani crescia junto com o tom de voz do bárbaro e Braum preparava-se para o pior, pois aquilo não era novidade para ele. Kyle, porém, continuou tranquilo, dando um passo á frente e inspirando o ar quente do Salão abarrotado.

“Você sabe exatamente quem eu sou. Sou aquele que deu á Freljord e a seu rei presunçoso uma segunda chance!”, disse Kyle, franzindo a testa.

Os olhos do rei bárbaro ficaram vermelhos como o fogo, e sua fúria o levou a desembainhar sua robusta espada serrilhada. Kyle olhava para Ashe, esperando que ela intervisse de alguma forma, enquanto o bárbaro movia-se em sua direção. Sejuani empunhou seu mangual e Olaf ergueu seus machados. Tudo indicava que aquilo acabaria mal. Kyle, porém, sinalizou para que ninguém intervisse no iminente combate, fazendo a Ira do Inverno e o Berserker recuarem de forma relutante. Braum permaneceu estranhamente calmo, assim como Anivia, como se já soubessem o que o destino reservaria para aquele embate.

Kyle levou sua mão direita em direção á Coldfate, mas não a desembainhou. Quando Tryndamere estava a menos de dois metros de distância de Kyle, Ashe ordenou a Tryndamere que parasse, porém, usando o dialeto original do primeiro clã de bárbaros que já habitou Runeterra, um dialeto que o Rei Bárbaro jamais pensou que ouviria novamente. Muitos ali nada compreenderam, mas Tryndamere não deu mais um passo sequer. O bárbaro foi parado por uma força que parecia não vir dele, como se a voz de Ashe o controlasse magicamente.

“Como posso defender sua honra se tudo o que me pedes é impedir que eu vá adiante?”, disse Tryndamere, olhando para Ashe.

“Porque aquilo que diferencia o homem que eu amo do demônio que devastou seu passado é o fato de não ir adiante em seus desejos de violência.”, disse Ashe.

Naquele momento, Braum sorriu, pois a sabedoria de Ashe o surpreendera de uma forma que não acontecia há algum tempo.

“Eu não sou um demônio.”, disse Tryndamere, acalmando-se.

“Eu sei disso, você é meu marido, aquele com quem pretendo passar o resto de minha vida. Agora volte para o meu lado e saiba reconhecer aqueles que a nós são leais.”, disse Ashe.

Tryndamere embainhou sua espada e voltou para seu trono, gerando aplausos e aclamações por entre o povo avarosiano. Em seguida, Ashe desceu as escadas do trono, fazendo com que seu vestido azul com um longo manto branco arrastasse pelos degraus da escada. O povo a observava atento, orgulhoso, vendo sua rainha destacar-se entre os mais fortes e temidos guerreiros de toda Freljord com graça e autoridade. Kyle, dessa vez, a reverenciou.

“Se quinze freljordianos tivessem sua determinação, essa terra seria pacífica! Sinto o toque de Avarosa sobre você cada vez mais forte e sei que seu destino está além das Montanhas Ironspike. Que seus feitos por toda Freljord o acompanhem como motivação para aquilo que virá pela frente e que sua determinação nunca o abandone quando mais precisar!”, declarou Ashe, reverenciando Kyle.

Para surpresa de Kyle, todo o povo avarosiano, tomado pela emoção da fala da rainha, reverenciou o garoto, incluindo seu próprio mentor. Emocionado, Kyle tentava segurar as lágrimas, mas até a própria Sejuani o reverenciou, tornando impossível a tarefa de segurá-las por mais tempo. Braum foi incapaz de conter seu sorriso por baixo de seu robusto bigode.

Ashe virou-se para o trono e caminhou de volta para ele, subindo lentamente os degraus da escada. Sejuani olhou para seus guerreiros e, tomando a frente de Kyle diante do trono, elevou a voz.

“Por qual motivo a Garra do Inverno foi convocada para estar aqui hoje?”, perguntou Sejuani.

Já havia se passado a hora média e o sol já estava posicionando-se a oeste, fazendo seus raios penetrarem os grandes vitrais do Salão Real e iluminarem seu corredor central, realçando vários elementos ali presentes. A empunhadura com detalhes dourados de Coldfate brilhava sobre a couraça acinzentada de Kyle como se fosse um cristal. A pele alva do rosto de Sejuani contrastava com o aço negro de sua armadura, refletindo a brancura de uma mulher moldada pelo gelo. O bracelete esquerdo de Braum feito com um metal resistente e desconhecido e detalhado em ouro, evidenciando técnicas de forja do tempo em que os ferreiros Glacinatas estavam em seu auge, brilhava sobre o enorme escudo que sempre acompanhava o grandalhão. Novamente, todos os olhos e ouvidos voltaram-se para Ashe, que, colocando-se de pé diante de toda Freljord, declarou.

“Essa terra está gélida pela guerra, infértil pelo sangue dos mais jovens e furiosa por tanta desunião! Esse rapaz nos mostrou pelo que realmente devemos lutar! Que suas ações e palavras sejam o vosso hino a partir de hoje! Mais do que nunca, Avarosa nos aponta para uma Freljord unida e ela assim será! Nessa terra não haverá mais assaltos, holocaustos ou chacinas! Hoje eu peço, abertamente, perdão por minhas falhas como vossa líder e declaro para que toda Freljord saiba que os Avarosianos e o clã da Garra do Inverno não mais viverão segregados! Freljord será unida hoje e sempre. Por esse motivo, repito o gesto que Avarosa fizera com sua irmã Serylda e imploro humildemente que Sejuani tome seu lugar ao meu lado como legítima rainha de Freljord!”, discursou Ashe, ofegante e dobrando seu joelho direito na direção de Sejuani.

Kyle e Braum caíram por terra com a ousadia de Ashe e, naquele momento, temeram o pior. Por todo o salão ouvia-se pessoas bradando e murmurando ofensas, guerreiros da Garra do Inverno emitiam xingamentos e muitos guardas avarosianos temeram uma ofensiva, porém, quando todos os olhos se voltaram para Sejuani, seu silêncio estendeu-se por todo Palácio. A guerreira estava cabisbaixa, perdida em seus pensamentos e sentindo o peso da dúvida em seu coração. A mesma dúvida que se apossara de seus sentimentos ao decidir retornar para Rakelstake após ter negado o último pedido lamurioso de Ashe, a mesma dúvida que a fez ir mais longe por Kyle, a mesma dúvida que Serylda despertara no fundo de sua alma, sabendo que não havia mais como fugir do destino que se apresentava diante de si.

Não havia mais como fugir. Não havia mais como negar.

A Ira do Inverno fechou os olhos, ergueu a cabeça e em sua mente veio apenas o que acontecera no Vórtice Gélido. Kyle sorriu, compreendendo o que estava acontecendo. Nesse momento, um impetuoso vento invadiu o salão, sacudindo flâmulas e apagando tochas acesas, e uma voz conhecida por Sejuani ecoou como um estrondo.

“Erga-se! Rainha de Freljord!”

Muitos ali ficaram tomados de medo e espanto, independente do lado ao qual pertenciam. O rosto de Sejuani permaneceu impassível e a Ira do Inverno abriu os olhos, removendo seu elmo gélido e o abandonando no chão do Salão, deixando seus cabelos platinados serem moldados pelo vento que invadira o Salão. Empunhando seu mangual, Sejuani desceu lentamente de sua montaria e ficou de pé, assombrando todos ali presentes e fazendo Kyle cair de joelhos. Com passos curtos e lentos, Sejuani caminhava até a escadaria, contendo suas lágrimas. A cena chocava até mesmo Tryndamere, que não conseguia manter sua mandíbula fechada. Degrau por degrau, Sejuani olhou para trás e fitou Kyle, de joelhos, agradecendo a Avarosa por ter atendido suas preces e vendo seu propósito se cumprir. A Ira do Inverno voltou-se para Ashe, que ainda estava prostrada sobre o joelho direito em sinal de humildade e não ousava encontrar os olhos azuis de Sejuani. A forte mulher tocou o ombro da arqueira e pediu a esta que se levantasse. Ashe prontamente obedeceu. Em seguida, estendendo seu mangual, Sejuani declarou.

“Uma vez esse mangual abandonou a companhia do arco que reinou toda Freljord em seus melhores anos. O resultado dessa desunião foi a segregação que temos hoje, mas isso chega ao fim! Hoje, o mangual retorna para defender essa terra em um momento de necessidade. Por Freljord, com muita honra, eu aceito um lugar no trono da terra que me moldou!”.

Ashe e Sejuani apertaram as mãos e o silêncio que perdurava no Salão foi quebrado pelo forte brado do bigodudo glacinata.

“Viva a união de Freljord! Vida longa á Rainha Ashe! Vida longa á Rainha Sejuani! Que nossos ancestrais Glacinatas se orgulhem deste momento e que ele seja eternamente lembrado e celebrado pelas gerações vindouras! Por Freljord!”.

Todos em Rakelstake encheram-se de orgulho com as palavras de Braum e aclamavam as rainhas de Freljord com aplausos, gritos e canções. Em questão de segundos, guerreiros da Garra do Inverno e avarosianos celebravam juntos. Barris de cerveja e outras bebidas rolavam pelo Salão Real e todos brindavam e se esbaldavam. Músicos surgiam aos poucos, ouvindo-se o som de alaúdes, em seguida surgiram balalaicas e bongôs, e até mesmo flautistas, algo raro em Freljord. A festança tinha naquele momento seu início em um memorável dia para o Norte Gélido.

Ashe ordenou aos guardas para que trouxessem o trono de Sejuani e eles imediatamente o fizeram. Três guardas traziam um majestoso trono acolchoado no assento e no encosto, feito em grande parte de gelo verdadeiro, ouro, aço negro e possuía detalhes rústicos, como se fosse um trono antigo. No alto do encosto, o primeiro brasão de Freljord talhado no gelo verdadeiro.

“Rakelstake sempre teve três tronos e, apesar de nunca saber por que, acredito que o destino a trouxe até este momento. Esse é o trono de Serylda, uma das três irmãs que governaram Freljord.”, disse Ashe.

Cheia de orgulho e com o rosto umedecido por suas lágrimas, Sejuani respirou fundo, mas ao dar seu próximo passo suas pernas ficaram trêmulas e a Ira do Inverno desabou. Mesmo com o esforço de Ashe em tentar apoiá-la, o peso de Sejuani era grande e tudo o que a arqueira pôde fazer foi amortecer a queda de sua colega. Braum rapidamente subiu as escadas e levantou Sejuani em seus fortes braços sem dificuldade alguma, colocando-a sentada em seu trono. Ruborizada, Sejuani agradeceu o gesto e pediu que conduzissem Bristle até ela, para que ele ficasse ao seu lado. Kyle então guiou o javali até Sejuani, posicionando-o ao lado de seu trono, como se fosse uma mascote real. Kyle e Braum saudaram Tryndamere, Ashe e Sejuani e viraram-se para partir, mas antes, Sejuani chamou Kyle para agradecer por tudo o que o garoto fizera por ela e deu-lhe um inusitado presente.

“Isso... É a orelha de Trundle?”, perguntou Kyle, segurando o item.

“Sim, depois que nos separamos ao brigarmos com os trolls, Bristle farejou a orelha que você cortou daquele troll maldito e eu a guardei desde então. Achei que seria um bom troféu de caçada.”, disse Sejuani, recebendo de Kyle o seu elmo de volta.

“Vou ter muitas histórias pra contar daqui. Partirei para Piltover, sempre que puder me mandem notícias!”, comentou Kyle, despedindo-se e se retirando do Salão Real ao lado de Braum.

Após a partida da dupla, Ashe virou-se para Sejuani e precisava saciar sua curiosidade.

“Por que decidiu voltar? Quando saiu daqui você parecia determinada a ficar em Lokfar, mas decidiu voltar mesmo assim... O que houve?”, perguntou Ashe.

Sejuani deu de ombros e olhou para Ashe de forma que ela não soubesse a resposta para tal pergunta. O que era verdade. Sejuani talvez nunca descubra dentro de si o que a levou a deixar seu orgulho de lado para fazer o que fez, mas quanto aos resultados de suas ações, a mais nova rainha de Freljord jamais teria motivos para se arrepender.

Depois de atravessar a multidão em polvorosa e festejante aglomerada por toda Rakelstake, a dupla parou próxima ao poste onde haviam deixado os cavalos alugados, Braum os desamarrou e os guiou pelas rédeas até o portão de Rakelstake. A dupla interrompeu sua conversa sobre cavalos demacianos serem mais rápidos que cavalos ionianos e observaram o sol iluminar as encostas acinzentadas das Montanhas Ironspike á sudeste.

“Bem, uma nova jornada começa.”, disse Braum.

“Isso não é um adeus.”, respondeu Kyle, trocando um abraço com seu mentor e retomando a palavra. “Algum outro conselho sobre lá?”.

“Piltover não se parece em nada com Freljord, então seja lá o que for fazer pense duas vezes. Caitlyn é a xerife da cidade e pode te prender por qualquer bobagem e não resista se isso acontecer.”, disse Braum.

“E por que não resistir? Essa Caitlyn é perigosa?”, perguntou Kyle.

“Ela não trabalha sozinha, cuidado com a amiga brutamontes dela, ela possui uma armadura estranha e cabelo ainda mais estranho.”, disse Braum.

“Não deve ser difícil identificar alguém tão... Estranho. Hehe.”, disse Kyle, deixando escapar um riso debochado.

“Boa viagem, garoto.”, disse Braum, acenando.

Kyle, já se afastando, acenou de volta e iniciou sua caminhada para a passagem sudeste das Montanhas Ironspike, que era o caminho principal de mercadores piltovenses e de demacianos que evitavam o Rio Serpentina. No ponto mais alto da passagem nas montanhas, era possível observar á sudeste um gigantesco monte, que cortava o firmamento das nuvens como uma grande lança, o imponente Monte Targon, local onde vivem a tribo dos Rakkor e o que restou da ordem dos Solari. Ao Sul, podia se ver a grande cidade-estado de Demacia, terra governada pela linhagem dos Lightshield desde as Guerras Rúnicas e, atualmente, seu líder Jarvan III preparava o trono para seu filho, que viria a ser o quarto de sua linhagem.

Após uma pequena pausa para descansar, Kyle iria retomar o caminho de descida da montanha, fitando a cidade de Piltover ao longe a leste, porém, ouviram-se gritos.


Notas Finais


O próximo capítulo é o último! Freljord vai ficando para trás, mas o final de uma jornada é o começo de outra! Semana que vem tem mais!

Próximo capítulo: Segredos de Valoran (Valoran's Secrets)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...