História Kyle, o Sombrio Guardião da Luz - Parte II - Noxus - Prólogo

“Vai pegar esse último pedaço de faisão?”, perguntou uma voz masculina.

“Já comi demais por hoje e você não devia se empanturrar dessa forma. Não entendo o que aconteceu com você para agir tão estranho ultimamente.”, respondeu uma voz feminina que expressava preocupação.

“É a terceira vez essa semana! Eu estou bem! Nunca estive melhor na minha vida, para ser sincero. Pode pegar o faisão, Cass... Tá com uma cara de que tá morrendo de fome.”, respondeu agressivamente o homem, afastando o prato para longe de si.

“Ainda tá assim por causa da morte dele? Esse é o tipo de coisa que faz a gente ser quem é de verdade. Sabíamos da possibilidade, concordamos que isso poderia acontecer e aconteceu. Agora é hora de levantar a cabeça e continuar a vida. Tome como exemplo minha querida irmã, veja a felicidade dela devorando o faisão.”, comentou a mulher, voltando sua atenção para a terceira pessoa sentada á mesa.

“Desejo que você carinhosamente vá pro inferno. O dia que vocês sentirem a fome que uma serpente sente, vocês vão se contorcer feito crianças choronas.”, comentou Cassiopeia, retomando o minucioso trabalho de retirar a deliciosa carne do faisão cozido dos ossos usando suas presas avantajadas.

“Viu, Talon? Deixe de ser uma criança chorona.”, comentou Katarina, também afastando seu prato.

Soturno e silencioso, Talon levantou-se e retirou-se da sala da mansão, direcionando-se para seu quarto no andar de cima. Com passos pesados e arrastados, o assassino noxiano subia lentamente as escadas. Katarina ainda conseguiu ver Talon fungar uma vez antes de bater a porta do quarto após entrar nele.

Quarto que um dia fora de Katarina.

“Você pegou pesado com ele.”, comentou Cassiopeia, sem desviar o olhar do faisão sendo destroçado.

“Palhaçada, o que eu faço com ele não chega aos pés do que eu faço contigo.”, disse Katarina, ainda com o olhar perdido na direção do quarto de Talon.

“Eu não sou ele. A vida me obrigou a me acostumar com você e com seu jeito que nós herdamos de nosso querido pai que se foi. Talon é diferente, você não tem ideia do que ele fez por você e o carinho que ele tem por você.”, disse Cassiopeia, saciada com o faisão.

Katarina silenciou por algum tempo e sentiu o peso da razão na fala de sua irmã, que sorriu, expondo suas presas de forma inevitável. Cassiopeia saiu de seu lugar e aproximou-se de sua irmã mais velha, que estava de cabeça abaixada.

“Existem coisas que ele não fala pra você porque ele não gosta de pôr você em dúvida. Além do mais, esse anel em seu dedo muda muita coisa, irmã.”, comentou Cassiopeia, silvando sem querer.

Katarina olhou de soslaio para o anel no anelar de sua mão esquerda e seu coração teve forças para fazê-la esboçar um sorriso, mas não foi incapaz de fazê-la chorar. Acolhida pela pele áspera e fria dos braços de sua irmã, a primogênita filha da linhagem dos Du Couteau fungava e soluçava sobre o ombro de Cassiopeia.

“Eu sinto saudade dele, irmã. Jamais vou saber se ele aprovaria tudo aquilo que nós fizemos...”, disse Katarina.

“Hehe, tenho certeza de que se tornar metade humana e metade serpente não é algo que estava nos planos de nosso pai. Quanto a isso, você está muito bem.”, comentou Cassiopeia.

O comentário de Cassiopeia animou Katarina, que recuou e secou as lágrimas.

“E pensar que tudo isso começou porque eu resolvi ajudar aquele garoto...”, disse Katarina.

O semblante de Cassiopeia congelou e a pupila reptiliana de seus olhos fitou o nada. O silêncio incomodou Katarina, que demorou um pouco para notar a mudança de humor repentina de sua irmã caçula.

“Cass? Tá tudo bem?”, perguntou Katarina.

“É estranho como isso me traz lembranças... Mas preciso concordar com você... E pensar que tudo isso começou porque resolvemos ajudar Kyle.”, comentou Cassiopeia.

“O que o garoto fez com você?”, perguntou Katarina, instigada.

“Talon pediu para que eu não te contasse certas coisas, mas pelo visto acho que não tenho mais como guardar tais segredos.”, comentou Cassiopeia, silvando novamente.

“Ugh... Odeio quando você fica silvando desse jeito, dá calafrios.”, disse Katarina.

“Costuma ser efetivo contra outras pessoas, não funcionava com ele, porém.”, disse Cassiopeia, esforçando-se para não se perder em devaneios.

“Conta logo então o que tu tem pra contar, criatura!”, esbravejou Katarina.

“Se lembra das cartas que eu recebi depois do caos aqui em Noxus? Foram cartas dele, me contando sobre as coisas que ele havia passado. Coisas bem interessantes por sinal.”, comentou Cassiopeia.

“Por que raios ele escreveria pra você?”, perguntou Katarina.

Cassiopeia sorriu e acomodou-se confortavelmente sobre uma poltrona um pouco afastada da mesa. Katarina girou sua cadeira de madeira e ficou de frente para sua irmã. Quando a filha mais nova dos Du Couteau preparou-se para iniciar o conto, um vulto surgiu do andar de cima e desceu as escadas lentamente, assustando Cassiopeia.

“Se vai realmente fazer isso, então pelo menos o faça na minha presença. Até porque você conheceu mais sobre o garoto do que eu.”, comentou Talon.

Hesitante, Cassiopeia suava e seus lábios tremiam.

“Você tá de acordo com isso?”, perguntou Cassiopeia.

“Não quero ter que pedir outra vez, Katarina quer ouvir a verdade então conte logo a história toda.”, disse Talon.

“Toda?! Tipo... desde o início?”, perguntou Cassiopeia, trocando seus olhares entre Katarina e Talon.

“Desde o momento em que aquele mago apareceu aqui... Tudo.”, disse Talon, recostando-se em um dos muitos confortáveis e luxuosos sofás da mansão.

Katarina estava apreensiva e Cassiopeia começou a sentir a sala ficar cada vez menor. Estava na hora de verdades serem reveladas.

E tudo aquilo que veio antes das verdades.