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História La Guerre pour toi - Uma mulher como nenhuma outra


Escrita por: Elis_Giuliacci

Notas do Autor


Mais uma fic SQ, queridos!

Ela tem um enredo bem diferente e mais realista, então estejam preparadas para ler alguns trechos e cenas inteiras sobre os horrores e violências sobre o nazismo e a Segunda Guerra Mundial.
A participação ativa feminina nas decisões aqui narradas é completamente fictícia, mas tentei me aproximar ao máximo dos fatos verdadeiros da época.

Espero que gostem!

Boa leitura!

Capítulo 1 - Uma mulher como nenhuma outra


Confesso que meu cansaço diante de tudo que meus olhos viam durante aqueles dias estava beirando ao insuportável. Não só meu corpo reclamava das exaustivas caminhadas e todas as vezes que deveria ficar à espreita pelas janelas dos prédios ou intermináveis  infiltrações em locais inimigos. Minha cabeça reclamava por descanso. Eu já não tinha mais a chance de me sentar no Café de Flore na esquina do boulevard Saint-Germain com a rua Saint-Benoît e observar despreocupada a estátua da deusa Flora que ficava há alguns metros à frente. Não. Definitivamente esses dias já iam longe da minha rotina.

Sentia que a qualquer momento eu poderia sucumbir durante o trabalho e colocar toda a operação a perder, mas não poderia reportar isso ao meu superior ou minha carreira estaria perdida. Não durante aqueles dias tensos em Paris. Fazia pouco tempo que tínhamos ocupado a cidade e devo admitir, sem modéstia, que tive uma participação importante nessa invasão depois de repassar informações interceptadas de um oficial britânico ao qual eu me colocava como acompanhante durante os dias em que a Alemanha era apenas uma faísca de preocupação na Europa.

Sim. Minha tarefa dentro do exército era a espionagem. Eu gostava disso. A excitação diante do perigo há poucos centímetros levava meu ego aos mais altos picos de satisfação. Lembro-me de como fiquei tentada a participar de todo o processo de incorporação da Áustria, mas meu pai fora irredutível - eu não poderia fazer parte do exército alemão, mas com o tempo a espionagem foi tomando corpo e não poderia mais ficar à margem da política do meu país. Era meu dever contribuir para aquela transformação e isso fez com que o General Swan perdesse seus argumentos diante da minha insistência.

A França e a Inglaterra tentaram uma conciliação pacífica, mas depois que o Führer mandou o Tratado de Munique pelos ares já sabíamos que a tensão seria maior. Então, meu trabalho começaria, de fato, em território inimigo. Até aquela época eu trabalhava nas dependências da Gestapo, em Berlim, como tradutora e depois decodificadora de mensagens. Durante a invasão e domínio da Polônia, em setembro de 1939, eu estava em Londres disfarçada justamente como uma atriz polonesa que acompanhava um major do exército britânico. Permaneci ali até meados de abril, quando, enfim, a Segunda Guerra foi oficialmente declarada e nosso país contestado pelos planos de expansão tão bem fundamentados por Hitler.

Com isso, a aliança entre franceses e ingleses começava a se formar já que o Führer também movimentava-se para invadir a Europa Ocidental. Minha missão na Inglaterra não era tão complicada. Eu precisava descobrir e enviar à Alemanha as estratégias de defesa para que nossas tropas pudessem avançar sem muita resistência ou, quem sabe, sem nenhuma.

Para minha sorte, isso mesmo, sorte. As defesas eram pautadas na antiga Linha Maginot, construída ainda na primeira grande guerra e não poderia mostrar-se tão resistente, pois ela não contava agora com ataques aéreos mais potentes e nós tínhamos os tanques tchecoeslovacos do nosso lado. A minha vantagem em descobrir aquilo e sair ilesa foi que os franceses colocaram-se numa posição arrogante e determinaram que essa estratégia seria o suficiente para bloquear as forças alemãs. Eu logo encaminhei as informações diretamente para meu pai e no dia seguinte retornava a Berlim recebendo congratulações diretas do próprio Führer. Difícil descrever o que senti quando aquele pequeno grande homem postou-se diante de mim com doçura nas palavras. Tão mais difícil foi descrever o que senti após ter que vir para Paris e presenciar o que realmente o exército de meu país era capaz de fazer.

Desembarquei na França dias depois de Hitler ter invadido a Noruega e a Dinamarca conseguindo, posteriormente, flanquear a Linha Maginot pela Bélgica e pela Suíça deixando os franceses sem qualquer chance de se defender - os exércitos aliados tentaram, mas em vão.

Lembrar de todo esse processo de início da Segunda Guerra faz com que eu entre em uma profunda reflexão. Ao mesmo tempo em que servia meu país, eu estava buscando explicação para algumas atitudes que a SS tomava à medida que o tempo avançava. A única vez que tentei buscar conforto para minhas ansiedades recebi um severo sermão de meu pai - ele não admitiria que eu questionasse as resoluções do Führer e proibiu-me de relatar meus pensamentos a qualquer outra pessoa ou ele teria a penosa tarefa de delatar-me como insurgente - eu tenho absoluta certeza até hoje de que ele faria isso sem pensar nas consequências e o que poderia acontecer com a própria filha caso o exército alemão constatasse minha traição.

Eu estava vivendo em Paris aguardando uma próxima missão, mas ainda não recebera qualquer informação prévia. Enquanto esperava pelas ordens da Gestapo eu era orientada a auxiliar as forças alemãs com o mesmo trabalho que desenvolvia quando estava no escritório de Berlim - traduções e decodificações de mensagens da Aliança. Naquela época existia uma equipe especial que procurava por uma mulher que codificava mensagens de uma resistência francesa dentro de Paris. Eu insisti muito para fazer parte dessa equipe, mas meus trabalhos resumiam-se em estar boa parte do dia por trás das grossas paredes do n°74 da Avenida Foch e, às vezes, do n°11 da Rue des Saussaies, onde a Gestapo se instalara. Nessa época meus anseios por respostas aos procedimentos nazistas aumentaram, pois, eu trabalhava nas mesmas dependências onde franceses eram presos e, na maioria das vezes, torturados e mortos. Perdi as contas de quantos corpos cobertos eu vi passar por mim entre os corredores para depois serem descartados como lixo - minha natureza humana começou a questionar se havia humanidade naqueles alemães que sempre cumprimentavam-me com tanta gentileza e desferiam elogios ao meu trabalho. Alemães assim como eu. Será que eu estaria perdendo a minha humanidade sendo conivente com aquilo? Até que ponto Hitler tinha razão em querer expandir as forças alemãs e querer exterminar pessoas?

Não me lembro quando deixei de ter orgulho de minhas ações, mas estava completamente presa a todo aquele cenário caótico que se estendia ao meu redor. Não deixava de realizar meus trabalhos, mas minha cabeça dividia-se com tantas questões. Para agravar ainda mais minhas angústias, no fim de uma tarde de sexta-feira, recebi uma mensagem de que meu pai estava a caminho de Paris e seria o portador de minha missão. Voltar à ativa na espionagem. Isso poderia levar para longe meus pensamentos e talvez eu esqueceria aqueles gritos abafados vindos dos porões do prédio da Avenida Foch.

O general Swan chegaria na manhã seguinte, portanto, eu deveria preparar-me. Fui encaminhada à sala do General Fedor von Bock e lá dentro recebi todas as instruções para a missão que me levaria diretamente para o interior da resistência francesa. Como faria aquilo? Eu não tinha ideia de como me infiltrar em um local que ninguém sabia onde era ou não imaginava como deveria proceder, mas o fato era que as ordens eram expressas - eu deveria estar dentro do comando de resistência até a próxima sexta-feira, isso me dava um prazo de apenas cinco dias. Eu teria um curto espaço de tempo para criar um personagem, criar uma estratégia pessoal, compor um esquema de transmissão e fuga. A única informação concreta sobre os franceses suspeitos era que haveria um jantar para alguns empresários parisienses na terça-feira, sendo assim, eu começaria a infiltração naquela ocasião. Essa parte do plano era mais fácil, haveriam alemães nesse jantar, uma vez que havia interesse por parte dos franceses em manter seus negócios na cidade, eu só teria que ser convincente o suficiente para que me deixassem passar despercebida pelo salão do jantar e conseguir qualquer informação que levasse a nomes e locais pertencentes à resistência francesa. A próxima etapa seria a infiltração direta. O que dava um calafrio horrendo pela espinha, mas eu não podia negar que gostava daquilo.

Ao mesmo tempo em que sentia-me aliviada por afastar-me das instalações da Gestapo, sentia-me extremamente ansiosa. E tinha medo que minhas questões causassem algum dano na missão e eu acabaria pagando o preço de uma possível falha. Eu não teria muita escolha a não ser respirar profundamente e começar o trabalho. Primeiramente eu deveria mudar-me do Hôtel Meurice onde os oficiais alemães ostentavam a imponência da dominação e era onde meu pai estava hospedado. Desnecessário dizer que gostei da ideia, pois há algum tempo já não me sentia tão à vontade desfilando por aqueles salões. Fui colocada em um apartamento modesto nas mediações da Place de la Concorde que era um espaço que, até então, suspeitava-se de movimentações da resistência - pois bem, eu deveria infiltrar-me e vigiar o que resultaria em mais de 18 horas de trabalhos diários, mas eu estava decidida a cumprir as ordens, talvez conseguisse uma folga considerável após executar os planos.

Assim, na terça-feira, eu estava pronta de pé diante do Hôtel de Ville usando um vestido longo vermelho e meus cabelos presos em uma trança alemã, ao melhor estilo camponês do sul da Alemanha. Ao meu lado, um major alemão que eu não conhecia muito bem na ocasião, mas que depois fez parte dos meus piores pesadelos. Entramos como um casal de irmãos que estavam interessados em criar vínculos comerciais com os franceses. Isso soava tão hipócrita! Eu bem sabia que a intenção de Hitler era dizimar a indústria em Paris, porém, a suspeita era que entre os empresários estariam as cabeças da resistência.

Caminhamos pelo salão sob olhos desconfiados, mas logo um grupo de homens mais velhos nos recebeu com um sorriso mais espontâneo. Eram os contatos que tínhamos para que nosso disfarce se efetivasse. Sentamos à mesa com mais oito pessoas e logo percebi que uma família participava desse jantar e o mais velho guiava as conversas sobre o que aconteceria com a França quando a guerra acabasse - um tanto utópico, pois estávamos em 1941, ainda. Eu detive-me nas outras pessoas enquanto o major travava um debate intenso sobre indústria bélica com um dos homens ao seu lado. Havia uma senhora de traços finos e elegantes ao meu lado. Notei que estava um pouco desconfortável e só depois percebi que era eu que lhe causava esse mal estar. Eu era alemã e isso bastava. Por mais que eu tentasse consolidar um diálogo trivial ela era arredia e eu não poderia culpá-la dado o momento em que seu país se encontrava. Eu era a invasora e estava ali tentando uma aproximação pacífica enquanto pessoas de seu convívio desapareciam à todo momento levadas por pessoas que assemelhavam-se à mim. Uma situação desagradável.

A cadeira do outro lado estava vazia, então, como última tentativa em ser gentil, perguntei à ela quem estava sentada ali. Sem que houvesse tempo para que aquela senhora sisuda respondesse ao meu apelo vi aquela mulher atravessando o salão e dirigindo-se até a mesa onde eu estava. Usava um vestido preto que cobria-lhe até os joelhos, meias finas também pretas e um sapato com saltos tão altos que eu mesma sentiria vertigem ao usá-los. Um grande e felpudo casaco de peles cobria-lhe os ombros e usava um coque nos cabelos negros. Suas luvas eram cobertas de jóias assim como o pescoço era torneado por um colar de brilhantes. Mas o que mais chamou minha atenção foi seu rosto. Um lindo rosto moreno que pintava-se em tons pálidos exceto pelo batom vermelho vivo que deixava os lábios carnudos ainda mais delineados. Ela veio com um sorriso ingênuo que morreu ao colocar os olhos em mim. Senti minha espinha congelar e quando aquela linda figura sentou-se na cadeira, antes vazia, chamou a senhora ao meu lado de "mãe". Logo cumprimentei aquela linda morena levantando minha taça de vinho e meneando a cabeça com um leve sorriso - ao contrário de sua mãe, ela retribuiu o gesto e lançou-me um sorriso mais solto fazendo com que meus olhos se abrissem mais à beleza que postava-se diante de mim. Não dissemos palavra alguma, apenas aquele cumprimento e, vez ou outra, olhares tímidos correndo pelos cantos de nossos olhos. O som da música alimentava aquele momento e eu não ouvia mais nada do que o major conversava com os outros homens. Concentrei-me apenas em buscar mais informações visuais daquela mulher. Uma mulher como nenhuma outra que eu conhecera em toda a minha vida.


Notas Finais


Agora é com vocês! Digam-me o que acharam desse início e o que esperam!

Tentarei ser o mais fiel possível aos fatos históricos, portanto, caso haja alguma divergência fiquem à vontade para corrigir-me! Agradeço muito a colaboração!

Um grande beijo a todos e até o próximo!


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