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História La Guerre pour toi - O Velódromo de Inverno


Escrita por: Elis_Giuliacci

Notas do Autor


Parei a folia para postar!

Boa leitura!

Capítulo 14 - O Velódromo de Inverno


Aquela madrugada seria longa.

Um rapaz desacordado e com vários ferimentos deitado no meu sofá, um nazista traidor pegando ataduras no meu banheiro e uma cigana aquecendo água na minha cozinha.

Eu não teria muito tempo para saber o que estava acontecendo, tínhamos que socorrer Henry primeiro. Ele estava desmaiado há muito tempo e sua respiração fraca deixava-me mais preocupada. Ruby veio com um bule de água quente e um pano para começar a limpar os ferimentos do garoto. Juntas conseguimos tirar suas roupas e examiná-lo melhor - hematomas, arranhões e um corte profundo no braço direito.

- Isso vai precisar de pontos. - Kristoff olhou com mais cuidado o braço de Henry - Tem agulha e linha aqui? - rapidamente fui até meu quarto e revirei uma gaveta da cômoda. Encontrei o que ele precisava. Quando cheguei na sala o garoto começava a sussurrar coisas que não compreendemos a princípio.

Logo Kristoff começou a limpar o corte no braço e, em seguida, colocou a linha na agulha para fechar o ferimento. Ruby ao seu lado auxiliava no que era preciso. Eu observava os dois e, vez ou outra, olhava pelas frestas das cortinas a movimentação na praça. Nada. Ouvia apenas gritos e tiros ao longe. Ruby colocou a mão na testa de Henry.

- Ele está febril. Precisamos de roupas limpas, Emma.

- Alguma camisa minha deve servir nele, Ruby...

- Emma... - chamou Kristoff sem tirar os olhos de seu trabalho - ... Não vai perguntar nada?!

- Ainda não, major. - minha voz saiu embargada e caminhei em direção a cozinha - Vou passar um café para podermos conversar quando terminarem. - antes que eu pudesse chegar ate lá Henry balbuciou novamente e, dessa vez, entendemos.

- Regina... - voltei depressa para perto daquele sofá para tentar ouvir melhor o que o garoto dizia. Sim, ele falava o nome de Regina repetidas vezes como se estivesse chamando por ela.

- Está delirando... - comentou Ruby.

- Henry, onde está Regina? - quis saber Kristoff, porém, em vão. Ele apenas chamava por ela. Meu coração acelerou e comecei a caminhar de um lado para o outro tentando imaginar o que havia acontecido. Nem a cigana e nem o major disseram uma palavra sobre aquilo, mas via em seus gestos que observavam-me com os cantos dos olhos enquanto terminavam de colocar as ataduras nos ferimentos do garoto. Fui até o quarto e apanhei uma de minhas camisas e, finalmente convenci-me de ir para a cozinha e preparar o café.

Não demorou muito para que Kristoff terminasse. Ruby o vestiu e, em seguida, levou um cobertor para aquecê-lo. O garoto já não mais delirava e os dois juntaram-se a mim na cozinha. Servi o café para todos nós e agora estava pronta para as perguntas que Kristoff esperava.

- Eu não tenho uma pergunta, major... Eu só quero que comece do início... - com isso o alemão de queixo quadrado entendeu que eu queria ouvir toda a história de como ele tornou-se espião e sobre todos os eventos que aconteciam ao nosso redor.

Kristoff envolveu-se com a resistência francesa através de Ruby. Os dois conheceram-se em Berlim e quando ele veio para Paris a cigana já estava a sua espera. Assim como eu, o major não concordava com as diretrizes do nosso governo e as vontades do nosso Führer, mas bem mais audacioso que eu, Kristoff colocou-se como peça fundamental para os franceses ao assumir a posição de espião dentro da Gestapo. O próprio Charles de Gaulle era quem recebia as mensagens de Kristoff e Jean Moulin as repassava para o restante dos grupos de resistência.

- Com essas operações foi possível retirar muitas pessoas daqui antes dessa noite, Emma.

- E agora? O que está acontecendo lá fora?

- Os franceses nos traíram, Emma. Pétain concordou em ajudar os nazistas e agora a polícia está levando todos os judeus e as pessoas que foram delatadas por Robin Locksley.

- E quem é esse Robin? - olhei para Ruby e ela baixou os olhos.

- O inglês que deveria nos trazer apoio e acabou por nos trair também. - eu permaneci em silêncio. Ruby percebeu o motivo e continuou - Regina estava desconfiada dele há algum tempo, Emma. Ganhou a confiança dele de alguma forma, mas não foi o suficiente.

- Robin chegou antes da data marcada e pediu que reunissem todos os grupos da resistência para dar instruções, mas o que ele queria, na verdade, era conhecer todas as lideranças para repassar a Vichy. - Kristoff provavelmente sabia o que Hook e eu fizemos à noite passada, mas ele ainda não havia dito o porquê de seu sumiço naqueles dias, porém, Ruby e o major tinham uma ligação bem maior que eu percebia e foi a cigana que explicou o que acontecera.

- O major Hook é o contato direto com o capitão Robin, Emma. Quando levantaram suspeitas que havia um espião dentro da Gestapo, primeiro recaíram sobre você, mas depois que seu pai renunciou a ideia de que você seria uma traidora, o major Hook investiu sua procura mais afundo e passou a desconfiar de Kristoff.

- Fui mandado para Lyon sem aviso prévio, então não pude informá-la. Eu fui o oficial que inspecionou o local onde Elsa vai trabalhar. - ao ouvir aquele nome vi que Ruby mostrou-se desconfortável, então lembrei que havia deixado a loira amarrada na sua suíte no Meurice.

- Será a base de tortura dela, não é? - perguntei a Kristoff, mas já sabia a resposta. Ele apenas concordou com a cabeça e tomou mais um pouco do café. Ouvimos mais gritos na rua.

- Isso será a noite toda? - quis saber Ruby abraçando o próprio corpo demonstrando medo.

- Não podemos ficar aqui... - o major olhou para a sala onde Henry estava dormindo - ... Nem ele...

- Mas Henry não tem condições de sair daqui! - exclamei temendo pela saúde do garoto. Logo levantei-me num sobressalto lembrando-me de algo que havia visto no meu quarto.

Acendi as luzes e olhei para o alto. Havia um alçapão bem acima da minha cama. Chamei Ruby e Kristoff para que ajudassem. O major, mais alto, subiu na cama e forçou a madeira. Com dificuldade aquela abertura mostrou-se para nós como um esconderijo. Kristoff procurou por um escada e realmente encontrou uma por dentro do forro. Entre Ruby e eu, a cigana era mais leve e colocou-se à disposição para subir. Esperamos que ela entrasse por aquela abertura. Kristoff firmou a escada e lá foi a cigana forro adentro. Alguns minutos depois pudemos ouvir o som abafado de sua voz.

- Acho que aqui será um bom esconderijo. - suspirei aliviada. Agora Henry poderia ficar seguro em meu apartamento. Mesmo sendo do exército alemão eu não tinha garantia que aquele lugar seria revistado mais cedo ou mais tarde, até porque eu não sabia o quanto Elsa se lembraria depois que a coloquei para dormir.

Quanto a Ruby eu não saberia o que fazer, mas Kristoff estava seguro de outro esconderijo para ela até que tudo se resolvesse. Já passava das três da manhã quando os dois sairam da minha casa, mesmo eu insistindo que esperassem, mas afirmaram que seria mais seguro caminhar pelas penumbras dos prédios. Eu não me opus e eles se foram. Olhei mais uma vez para Henry adormecido no sofá e verifiquei as janelas. O armário voltou a barrar a porta de entrada. Apenas deitei na cama, não conseguiria dormir com todo o clima de terror que alastrava-se pelas ruas de Paris. Minha arma estava debaixo do travesseiro e, de onde eu estava, podia ver o garoto.

Meus sentidos e cansaço venceram-me. Adormeci.

***

- Não, Elsa, por favor! Elsa!... Elsa!

Eram oito da manhã. Novamente meu sono perturbado com um pesadelo e dessa vez um pesadelo de algo real. Algo que acontecera no passado. Um passado obscuro que não gostaria de lembrar-me com frequência. Elsa.

Tínhamos entre onze e doze anos. Nossos pais encontravam-se aos finais de semana na casa de campo do pai de Elsa, o almirante Königin. Elsa era uma menina linda e tornou-se, de fato, uma mulher belíssima. Porém o que havia no interior daquela loira deslumbrante era algo que ninguém gostaria de constatar.

Gostávamos de caminhar pela mata que havia perto da casa e o pai de Elsa tinha muitos animais o que divertia-me muito. Adorava coelhos. Elsa nunca importou-se muito com os animais, ela preferia caminhar quieta pelo meio do mato - ela dizia estar pensando no que seria quando crescesse e o que faria se tivesse poder nas mãos - dizia que seria uma militar assim como seu pai mesmo que mulheres não ocupassem postos de destaque e naquela época não ocupavam mesmo. Ambas tivemos privilégios através de nossos pais.

Em um desses finais de semana que estivemos no campo, ela quis fazer seus passeios habituais, mas eu preferi ficar perto da casa e brincar com os coelhos, o que deixou Elsa bem desgostosa, mas não abalou-se e insistiu para que eu fosse. Ela tentava convencer-me, mas eu não queria. Quando cansou-se, enfim, tentou arrancar o coelho que estava no meu colo, mas eu relutei e não deixei. Nesse momento eu tive a primeira certeza que Elsa não era uma criança equilibrada e o pavor tomou conta de mim quando ela puxou o pequeno animal de mim e torceu-lhe o pescoço gritando que eu deveria fazer o que ela quisesse.

Eu quis correr, quis chorar, mas apenas fiquei olhando para o animal morto segurado pelas orelhas. Elsa exibia aquilo para mim e sorria dizendo que era isso que acontecia caso ela não conseguisse o que queria. Meu estômago deu várias voltas dentro de mim e inclinei-me para vomitar. Logo o choro veio e eu olhei para a casa tentando ver se algum adulto estava por perto. Ninguém. Elsa lançou o coelho no chão e abaixou-se bem perto do meu rosto. Eu tremia sentindo que ela poderia fazer o mesmo comigo, mas não. Ela tornou-me um semblante calmo e um sorriso delicado, tudo isso para ameaçar-me - "Se contar para alguém o que houve aqui, faço o mesmo com seu cachorro!"

Lembro-me de ter passado o restante do fim de semana calada e, por mais que meus pais insistissem para que eu dissesse o que havia acontecido, eu tinha muito medo. Para deixar a situação pior, a única criança que havia ali era Elsa e eu não tinha justificativa para recusar-me a ter contato com ela, até porque seria uma ofensa aos nossos anfitriões. Levar uma surra de meu pai não era uma opção aceitável. Não mesmo.

De tanto lembrar e sentir aquelas sensações estranhas da minha infância, eu permaneci na cama durante um tempo chorando. Elsa deixou-me marcas muito profundas - o episódio do coelho fora o primeiro de muitos. Eu tinha medo dela, mas não consegui afastar-me durante alguns anos. Estranhamente eu sentia atração e ela conseguia ludibriar-me com o quer que fosse. Somente depois que começamos a servir eu afastei-me de uma vez. Após ver o que ela pesquisava e o que mantinha no laboratório financiado pelo partido. A menina que queria poder havia conseguido e sua mente maligna estava livre.

Olhei rapidamente para o sofá e Henry havia sumido. Saltei da cama empunhando minha pistola e caminhei depressa em direção a cozinha e o encontrei bebendo café.

- Bom dia, major! - sorriu-me com alegria como se não tivesse apanhado na noite anterior.

- Não deveria estar de pé!

- Eu sei, mas estava com fome... - mordeu um pedaço de pão amanhecido - Mas eu nem sinto mais dores! - falando de boca cheia foi mostrar-me o braço e acabou fazendo uma careta de dor.

- Não sente dores, não é? - cruzei os braços e fiquei observando a figura daquele garoto que era muito jovem para estar no meio do caos da guerra - Você não pode mais sair daqui.

- Como?! - olhou-me assustado.

- Sim. Lá fora a polícia francesa está predendo todos os judeus e membros delatados da resistência. Se sair será pego.

- Vai me deixar ficar aqui? - ele sorriu novamente quando eu concordei.

- Estará seguro no forro do meu quarto.

Henry terminou seu café e depois fui mostrar-lhe onde ficaria escondido. Um garoto de dezessete anos estava achando aquilo tudo divertido, mas mesmo assim via em seus olhos certo receio. Logo que conversamos sobre a segurança e o cuidado com barulhos e possíveis buscas, Henry subiu - com mais dificuldade por causa do ferimento no braço. Vesti-me rápido e parti em busca de provimentos para que ele tivesse o que comer lá dentro. Caso as coisas ficassem mais sérias, talvez eu não pudesse ficar o tempo todo no apartamento, mas ele ficaria bem mesmo assim.

O cenário das ruas era mais terrível do que ouvir os gritos e tiros. Novamente a polícia estava agindo naquela manhã. Enfileiravam as pessoas e faziam-nas ajoelhar para serem humilhadas antes de serem levadas. Entrei apressada em uma padaria e comprei pães, leite e queijo. Eu tentava desvencilhar meu olhar, mas era impossível, a crueldade daquela situação dava-me náuseas.

Crianças sendo arrastadas. Senhores andando com dificuldade e sendo agradidos por isso. Mulheres desesperadas por não saberem o que poderia acontecer com seus filhos. Os homens mais resignados apenas abaixavam os olhos e seguiam as ordens dos soldados. Aqueles revoltosos tentavam revidar, mas com apenas um disparo acabava a coragem e a vida.

Eu queria logo voltar para casa.

Caminhava apressada de volta a Place des Victoires quando um carro da Gestapo foi parando devagar ao meu lado. Tentei ignorar e caminhei um pouco mais depressa.

- Onde vai nessa pressa, querida? - era o major Hook e toda a sua arrogância - Entre, dou uma carona à você.

- Não precisa, major. Estou perto de casa.

- Ora, Swan, deixe de ser teimosa! - ele riu - Nem mesmo para saber o que aconteceu com sua francesa? - parei. O carro parou. Hook olhou-me diretamente - Entre. Vamos conversar na sua casa, querida.

Não levou nem dez minutos para que estacionássemos na porta do meu prédio. Hook acompanhou-me pelas escadas em silêncio. Minha respiração estava curta. Pensava em Henry escondido no forro do meu quarto. Quando entrei, logo dei um jeito para que o garoto ouvisse que eu estava acompanhada e tomasse cuidado redobrado - conversei mais alto do que o habitual.

- O que está havendo aí fora, major? Ouvi gritos a noite toda e agora a polícia francesa está nas ruas! - ele sentou-se no sofá e esperou que eu guardasse as compras que havia feito.

- Lembra-se da noite que estivemos no telhado observando os revoltosos? Foi a partir dali que essa operação começou, querida.

- Não me chame assim, por favor! - perdi a minha paciência e ele apenas riu.

- Ela foi presa, Emma. - a satisfação em seu olhar encheu-me de ódio - Pegamos Regina no teatro com mais outros franceses resistentes à prisão... Pena que ninguém foi morto. Alguns fugiram, mas é uma questão de tempo para pegarmos todos!

- Para onde estão sendo levados?

- O que vai fazer? Vai até lá tentar resgatar sua francesa? - Hook acomodou-se no sofá sem parar de sorrir ironicamente - Creio que não poderá fazer muito, Swan. Todos os judeus que a polícia francesa apreendeu estão sendo encaminhados para o Vel D’Hiv...

- Por que o Velódromo?

- Porque tem mais espaço para comportar toda essa corja! - ele levantou-se - Não poderá intervir, major, não temos poder nessa incursão... Não agora... Depois teremos todo o domínio sobre os presos.

- O que vai acontecer? - já não perguntava apreensiva, apenas queira as informações. Mesmo ele dizendo que adiantaria eu iria tentar entrar naquele lugar.

- Ora essa! Nem parece uma oficial alemã, Emma! - mostrou-se indignado - Você bem sabe das construções de locais para acomodar os judeus. Quando os agentes franceses terminarem seu trabalho começaremos o nosso: vamos levar os presos para Auschwitz e qualquer outro lugar onde caibam esses porcos. - ele aproximou-se de mim e encarou-me com ar vitorioso - Eu disse que pegaria sua francesa, Emma. - recolocou o quepe e saiu batendo a porta.

Corri até a entrada e garanti que ele havia ido embora. Tranquei a porta e corri para o quarto olhando para o alto.

- Henry?! Está tudo bem?

- Está sim. - sua voz abafada estava forte e isso me deixou mais tranquila. Apanhei um pouco da comida que havia comprado e coloquei na abertura do forro. Antes de descer dali prestei bem atenção no rosto de Henry e o adverti - Você sabe quem estava aqui, então sabe que esse não é um lugar tão seguro... Por favor, tome cuidado, certo?

- Tudo bem, Emma, eu vou tomar cuidado. - quando eu ia descer ele novamente chamou - Emma, vai atrás de Regina? - eu apenas olhei para ele e sorri desanimada.

- Vou tentar, garoto... - fechei a abertura do forro e durante aquele dia não mais vi e nem ouvi Henry.

O gato não estava na janela da cozinha. Fui até lá fechá-la e um vento frio veio e congelou meu ânimo. A única indagação dentro mim era se conseguiria encontrar Regina no lugar que Hook havia dito. Tranquei a porta do apartamento com a inquietação sobre Henry ficar em segurança ali dentro. A todo momento eu imaginava o lugar sendo invadido - Emma! Afaste essa ideia da cabeça e foque em Regina - Ela teria que estar no tal Velódromo e eu haveria de tirá-la de lá!

Corri a escadaria do prédio e ganhei a rua no momento em que um caminhão de porte pequeno passava em frente. Várias pessoas na caçamba mal ajeitadas, algemadas, feridas. O que mais doía era ver as crianças sem compreender o que estava acontecendo. Não tinham mais do que 7, 8 anos e seus olhos já enxergavam a amargura de fazer parte de uma povo perseguido por outro. Era a hora de saber para que lado era o Velódromo de Inverno.

- Ei! - gritei para um polícial que acompanhava o caminhão - Para onde estão levando os prisioneiros?

- Velódromo de Inverno, senhora. - ele examinou-me de cima a baixo observando o meu uniforme, com um semblante hostil.

- Eu vou junto! - eu não tinha outra opção, teria que arriscar. O homem olhou-me com desconfiança, mas fez sinal para o caminhão parar. Logo atrás vinha um carro da agência de segurança francesa e ele caminhou até o motorista. Conversaram algo que não pude ouvir, mas o motorista do carro olhou-me também com desconfiança. Endireitei o corpo e marchei até eles.

- Por que quer ir até o Velódromo, senhora? - perguntou-me o primeiro soldado.

- Eu sou a major Emma Swan e tenho livre acesso a qualquer lugar.  Ele não disse nada e fui em frente - Eu vou até lá conferir o trabalho que estão fazendo. - o motorista olhou para o outro e sem dizer nada, apenas fez um sinal para que eu entrasse na viatura.

Primeira etapa concluída. O caminho para o Velódromo era completamento o oposto do qual eu estava acostumada e demoraria mais de uma hora caso fosse a pé. Passamos pela Place de Republique e seguimos em direção ao Parc Belleville ate chegarmos no Saint-Fargeau. Foi quando meu pavor cresceu diante da quantidade de caminhões como aquele que estava a frente da viatura. Eram inúmeros transportes e milhares de pessoas sendo enfileiradas para entrarem no Velódromo. Demorei um pouco a sair do carro. O motorista ainda ficou olhando-me com estranheza.

- Chegamos, major. - ele mostrou a entrada do Velódromo. Pisquei rapidamente e olhei para todos os lados. Respirei fundo e desci do carro. Logo estava em meio a policiais e prisioneiros.

Todos os olhares sobre mim eram de medo e ódio.

Caminhei em direção à entrada e dois policiais colocaram-se na minha frente.

- Não podemos deixá-la entrar. - olhei ao redor e, a princípio, não haviam outros oficiais nazistas e nem soldados. Voltei o olhar para aquele policial e franzi o cenho.

- Acredito que o governo de Vichy será informado que um major da SS foi barrado e isso não será bom para você, soldado. - as palavras rolaram da minha boca de tal forma que eu mesma fiquei assustada, mas surtiu o mesmo efeito no policial. Ele apenas afastou-se para que eu pudesse entrar.

Antes não o tivesse feito.

O que acontecia lá dentro era bem pior do que eu vi do lado de fora e nas ruas.

Fileiras e fileiras de pessoas amontoadas, feridas e sem nenhuma condição de higiene ou alimentação. Eu não vi nada que desse suporte para isso. Os policiais apenas lançavam aquelas pessoas ali dentro e organizavam para que coubessem cada vez mais. E a cada caminhão que chegava, todos eram jogados dentro do Velódromo. Todas a arquibancada era tomada aos poucos e a pista onde os velocistas faziam suas competições era agora tomada por judeus e mais judeus. Caminhei vagarosamente buscando em cada rosto alguém conhecido. Era inútil. Quanto mais andava, mais ficava desesperada. Olhava para todos os lados. O choro convulsivo das pessoas deixava-me mais apavorada e murmúrios pedindo ajuda eram como fantasmas arrastando suas correntes dentro da minha cabeça.

- Major... - procurei por todos os lados quem havia dito aquela palavra e novamente o chamado - ... Major, aqui... - quando olhei mais adiante à esquerda, vi uma mulher deitada em uma maca com parte do rosto tomada por um grande hematoma. Era a atriz de cabelos curtinhos, Marie Blanchard. Fui até ela e abaixei-me - ... Ela não está aqui... - sua voz saía fraca e quase não podia ouvi-la em meio ao caos ao nosso redor - ... Regina não foi trazida para cá...

- Onde ela está? - meu desespero era tamanho que não conseguia conter o tremor do meu próprio corpo. Blanchard respirava com dificuldade, olhei para baixo e vi que sangrava um pouco no abdomem - Por favor! - gritei olhando ao meu redor - preciso de ajuda aqui! - senti a mão de Marie segurando a minha e olhei mais uma vez para ela.

- Regina foi levada para fora de Paris, major. - com aquela afirmação senti minha cabeça zonza e não ouvi mais nenhuma palavra ou barulho que aquele lugar emitia, apenas o apelo da atriz - Tem que impedi-los, major... É a única que pode!

- Tenho que tirá-la daqui! Precisa de atendimento!

- Não se preocupe comigo. - ela sorriu de maneira cansada e olhou para baixo mostrando seu ferimento - Eu encerro meu ato aqui, major. - apertou minha mão com mais força e puxou o ar para mais um último apelo - Precisa encontrar Regina! - soltou minha mão e permaneceu quieta.

Levantei-me e procurei em volta. Quem mais poderia estar ali? Olhei de novo para Blanchard e ela havia adormecido em um sono que não despertaria nunca mais.

Caminhei adiante. Procurava por mais algum francês conhecido, mas foi em vão. Fiz todo a volta da pista do velódromo mais de uma vez e cheguei a alcançar alguns degraus das arquibancadas. Um menino agarrou minhas pernas em um choro dolorido procurando pela mãe. Peguei-o no colo e caminhei por mais alguns metros. Uma senhora aparentando não mais que trinta anos veio com toda a velocidade e retirou o menino do meu colo bruscamente. Apertou-o em seu peito e voltou os olhos raivosos para mim.

- Deixe meu filho em paz, seu demônio!

Não tive forças para nada mais. Desci as escadas das arquibancadas e tomei o rumo da porta de saída. Eu não era bem vinda nem pelos presos e tampouco pelos policiais. Regina não estava ali. Eu precisava descobrir para onde a teriam levado.

Saí no meio daquela confusão. Voltaria caminhando. Chegaria a sede da Gestapo e tentaria descobrir mais sobre a prisão de Regina. Um caminhão passou por mim e observei a carroceria, logo distingui dois rostos que já conhecia. Os pais de Regina estavam chegando ao Velódromo.

 

Entre os dias 16 e 17 de Julho, 13.152 pessoas, das quais quase um terço eram crianças, foram presos em Paris e seus arredores. Desse total, 8.160 foram detidos no Velódromo de Inverno durante quatro dias sem água e comida até que foram levados para os campos de concentração nazistas.


Notas Finais


Até o próximo!

Bjusss


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