Flashfoward
Na década de 60, as mulheres passaram a denunciar as injustiças a que estavam sujeitas, buscando maiores direitos civis e políticos. Surgiu um novo Movimento Feminista, primeiramente nos EUA, com a fundação, em 1966, da Organização Nacional da Mulher (NOW) e na Europa Ocidental (Inglaterra e França).
Estamos em 1968, em Boston, no estado de Massachusetts. Há um evento do NOW onde foram convidadas mulheres que passaram pelo terror do Holocausto e dividem suas experiências e contam suas histórias de forma a inspirar outras mulheres.
Aquele palco estava na penumbra, apenas com dois focos de luz voltados para o centro onde viam-se a entrevistadora e as duas senhoras que relatavam suas histórias durante a ocupação da França na Segunda Guerra Mundial. Deveriam ter entre 55 e 60 anos. Bem vestidas, postura altiva sorriso sereno. Uma delas, a loira, acabara de dizer muito do que havia presenciado enquanto servia o exército alemão. Logo em seguida a entrevistadora voltou-se para a morena.
- A senhora tinha ideia do que acontecia naquele momento, senhora Mills?
- Eu estava apavorada. Sabia que poderia ser presa a qualquer momento, mas não imaginava que seríamos traídos da forma que aconteceu. Não sabia para onde teriam levado meus pais, só depois de uns dois dias é que soube da prisão no velódromo. E saber dessa prisão fazia parte da tortura psicológica.
- Foi levada direto para Lyon? A senhora não esteve no Velódromo de Inverno?
- Isso mesmo. Eu era considerada perigosa para estar entre os judeus em Paris. A Gestapo me encaminhou para Lyon. Fiquei presa por muito tempo em Montluc, não consigo precisar o tempo...
Um silêncio se fez por alguns segundos. Regina fitou Emma de forma tristonha, mas a alemã segurou sua mão com delicadeza e sorriu docemente. A senhora de olhos castanhos baixou a cabeça e também sorriu olhando as mãos das duas juntas sobre seu colo. Suspirou.
- Se não quiser voltar à essas lembranças todas nós entenderemos. - disse a entrevistadora com um pouco de receio, mas a francesa sorriu, meneando a cabeça.
- Não. Eu vou contar. Eu não poderia ter chegado até aqui sem Emma ao meu lado. É por ela que faço isso, a sua guerra foi por minha causa. - olhou novamente para a senhora de olhos verdes - Eu vou contar como começou meu inferno.
***
Dar as costas para Emma quando saí do Café de Marco naquela manhã doeu na minha alma. Ela não poderia ir comigo até o Théâtre de l'Odéon. Seria arriscado tanto para ela quanto mais para nós da resistência - Marie Marguerite e August não gostavam dela, definitivamente. E, além do mais, esperávamos a chegada do capitão Locksley, eu não poderia expor à Emma tudo sobre nossas operações. Ela não deveria saber o motivo da vinda de Robin e nem poderia imaginar o que eu deveria fazer enquanto ele estivesse em Paris.
A invasão à fábrica de meu pai deixou todos nós alertas. A qualquer momento poderiam nos procurar nos lugares em que mais éramos vistos e o teatro era um deles. Porém eu pouco poderia fazer, não tinha outro lugar seguro para ir. Não colocaria em risco a vida de outras pessoas que não eram ligadas à nossa causa e teria que garantir a integridade de meus pais não ficando em casa.
Naquele momento eu tinha dois grandes problemas pessoais. Emma e Robin.
Eu teria que afastar-me da loira por algum tempo e isso deixava-me triste, mas era necessário. Aguardar a chegada do oficial da Força Aérea Real era um pouco mais delicado. Desde que o senhor Moulin apresentou-nos Robin eu não fiquei satisfeita com a postura do capitão - falastrão e pouco educado - tinha piadas para horas impróprias e às vezes não demonstrava tanto comprometimento com as causas de guerra. Eu não confiava nele para ser mais exata.
Ao chegar no teatro encontrei Henry sozinho sentado no palco. Desci por entre as cadeiras e fui até ele.
- O que aconteceu, querido? - quando colocou os olhos em mim, Henry lançou-me um sorriso seguido de um abraço apertado - Ei! Eu estou bem!
- Tive medo que descobrissem onde estava.
- Calma! - sorri - Não vão me pegar tão fácil assim! Venha e me ajude a camuflar a porta daquela sala no depósito.
Eu conhecia algumas passagens secretas além da minha própria casa. A vantagem que eu tinha diante dos nazistas é que eu nunca entrava em meu apartamento pela frente do prédio. Cheguei a pensar algumas vezes que poderia colocar Marco em perigo, mas ele nunca se opôs e preferia que fosse assim. Ele temia pelo filho - August era um rapaz intempestivo e arrogante - eu sempre tentava dissuadi-lo de suas explosões, mas quase sempre não me ouvia. Por Marco eu sempre tentava cuidar de August, porém muitas das vezes estava além das minhas possibilidades.
Durante todo aquele dia estive ocupada em organizar meu esconderijo. As ordens de Gaulle e Moulin, minhas listas de membros da resistência atualizadas e quem eu deveria convocar quando Robin chegasse à Paris. O carregamento de armas que eu deveria receber juntamente com Marie e as possíveis rotas de fuga com Ruby, caso as instruções do comendo tivessem que ser abortadas. Haviam outros grupos e, graças a Jean Moulin, todos os comandos da resistência foram unificados ficando eu mesma responsável por aquele grupo de artistas do Théâtre de l'Odéon. Não éramos em grande número, mas possuíamos um destaque junto ao senhor de Gaulle por sermos excelentes estrategistas de fuga.
- Robin chega amanhã à noite, Regina.
- Sim, eu sei, Gram. - continuei tomando minha sopa sem dar muita importância à informação - Todos sabem o que fazer amanhã, não é?
Estávamos no subsolo do teatro. Um cômodo relativamente grande que comportava nossos arquivos, nossas armas e nossas reuniões. Um porão que somente nós mesmos sabíamos da existência. O teatro era antigo e bem modesto, não chamava atenção e assim podíamos ter um pouco de sossego durante aqueles dias estranhos.
- Vai continuar com sua estratégia? - perguntou-me Ruby em tom baixo para que os outros não ouvissem. Eu concordei - E Emma, Regina? Sabe que somos observados o tempo todo!
- Isso será uma consequência que terei que assumir, Ruby. - minha voz seca deu fim à conversa e a cigana saiu dali levando seu semblante tristonho, pois ela sabia o que essa consequência poderia fazer à Emma. Porém eu estava convicta em levar adiante meu planejamento - se Robin não era confiável, eu descobriria.
Aquela noite não haveria espetáculo e nem na noite seguinte. Todos dormiram cedo, mas eu não consegui fechar olhos nem por um minuto. Estava preocupada com o que viria pela frente. Por poucas vezes senti o medo bater no meu coração - a todo momento eu visualizava nazistas invadindo o teatro e nos levando para qualquer lugar onde arrancariam nossa pele. Eu tinha medo por Henry e Anna. Eram ainda muito jovens para estarem em meio aquela confusão e poderiam morrer, mas admirava a coragem desses dois meninos. Ele estava o tempo todo atento aos acontecimentos e tinha uma visão ampla das situações. Ela ainda estava fora da cidade, em Vichy, tentando descobrir quais seriam as próximas jogadas de nosso governo ilegítimo.
Eu pensava em Emma. Certamente não teria me perdoado por tê-la deixado sozinha no café depois que saímos do meu apartamento. Eu não tinha escolha, ela não poderia acompanhar-me até aqui, mesmo que a ideia tivesse sido dela. Realmente eu não tinha pensado em vir para cá, fiquei um tanto desorientada com a invasão da fábrica de meu pai. Como ele e mamãe estavam era outra incógnita que rondava meu coração. Pensei em pedir August para conferir se estavam bem, mas não poderia deixá-lo solto pelas ruas após o toque de recolher sob um pedido meu.
Ouvi os primeiros pássaros cantando e as primeiras movimentações do exército alemão pelas ruas. Logo fui até a cozinha e encontrei Ruby já de pé preparando o nosso café. Sentei-me e continuei em silêncio. Ela veio e sentou-se também.
- Ela ficará bem, Regina. - aquela cigana assustava-me às vezes. Ela sabia ano que eu pensava e percebia os sentimentos de todos à sua volta. Por mais que eu não acreditasse nos dons sobrenaturais desses romenos eu tinha que admitir que Ruby era sensível para além da normalidade.
- Eu preciso encontrá-la novamente, Ruby.
- Você sabe que isso irá demorar, mas tenha paciência.
- E se acontecer algo à ela e por minha causa?!
- Ela não pertence à linha de frente da SS, Regina, tenha calma!
- Não sei, Ruby... Eles são capazes de usar toda a força que dispõem para aniquilar nosso movimento.
Ruby sorriu e serviu-me uma caneca de café. Eu fiquei em silêncio observando o rosto da cigana transformar-se em calmaria como se tivesse noção real do que aconteceria com Emma.
- Querida, ela não correrá risco algum. Ao contrário, ela correrá contra o tempo para tentar mudar as coisas que estão erradas... - contornou a mesa e veio até mim sentando-se ao meu lado. Agarrou minha mão e olhou-me diretamente. Nessa hora eu tive mais medo, pois Ruby fechou-se em um olhar sombrio e triste - Cuide-se, Regina, por favor! Tenha muito cuidado com quem se envolve e por onde anda. Se por um lado Emma ficará a salvo, você poderá não ter a mesma sorte... - puxei minha mão soltando-me de Ruby rapidamente e cortei o contato visual.
- Eu tenho medo de você, Ruby! - balbuciei aquilo e tomei um gole do café forte e amargo da cigana. Ela gargalhou, levantou-se rápido fazendo sua longa saia estampada esvoaçar pela cozinha dando um pouco de graça naquele lugar cinzento.
- Não é você que não acredita nas minhas bobagens ciganas!? Não tenha medo, querida... - novamente ficou séria - Antes que tenhamos paz, os dias serão de horror, Regina...
Ruby estava errada. Não eram dias de horror, as horas eram assustadoras. Quanto mais ficava aflita, o tempo parava e deixava-me em agonia. Estávamos próximos de receber orientações para um ataque grande à sede da Gestapo, isso poderia ser o nosso próprio 14 de julho, a nossa queda da bastilha. Se desse certo, as forças francesas teriam poderiam retomar o controle de Paris e expulsar Hitler de nossos pesadelos.
Os preparativos daquele dia foram intensos. Todos os comandos avisados com todo o cuidado para que seus líderes comparecessem ao encontro com o capitão Locksley. O local escolhido: a região de Boulogne-Billancourt. Área afastada do centro e cercada pelo Sena. Um vigia em cada ponte do rio para garantir a segurança e o prédio abandonado escolhido com esmero para que não houvessem imprevistos. August e Graham providenciaram a iluminação do local e o andar que ficasse distante dos olhares das rondas alemãs. Blanchard certificou-se que todos estariam bem armados, ela era boa em manusear armas e sabia como usá-las como nenhum outro de nós, nem mesmo os homens do comando atreviam-se a desafiá-la.
Às 16 horas em ponto eu recebi a informação de que o capitão Locksley estava em Paris. Ele deveria chegar através da via de escape que a resistência usava pelo porto de Deauville. Com apenas uma parada em Lisieux chegaria a Paris aguardando meu contato em um das sedes da resistência na região de Châtillon, próximo onde nos encontraríamos. O estranho era que Robin deveria estar na cidade às 22 horas, o caminho de Lisieux até Paris estava cheio de barreiras nazistas e deveriam tomar outras vias para chegarem até aqui.
- Tem certeza que levará isso adiante?
- Eu não tenho escolha, Ruby. Eu preciso fazer isso. - a cigana preocupava-se muito, mas eu precisava tentar observar mais de perto aquele homem estrangeiro e o melhor modo de fazê-lo seria envolvendo-me com ele. Isso já tinha acontecido quando estive no Marrocos pela última vez e soube que Moulin havia contatado Locksley. Ele mesmo nos apresentou e logo de início estranhei o comportamento daquele homem. Agora seria o momento crucial de descobrir quais eram as intenções reais dele - ajudar-nos ou trair-nos.
Duas horas mais tarde eu estava na esquina da Rue Victor Hugo e Avenue de Paris. Logo um rapaz veio até mim e levou-me para o interior do prédio menor que havia ali. Era um conjunto de pequenos apartamentos e estavam todos habitados. Famílias inteiras usavam as estrelas amarelas em suas roupas e viviam de forma precária. Aquela visão deixou-me triste. Crianças tão pequenas vivendo daquela maneira. Fomos adiante até chegar no fim do corredor do terceiro andar e o rapaz deixou-me frente a uma porta entreaberta. Ele se foi e eu compreendi que deveria entrar. O fiz com cuidado colocando meio corpo para dentro e observando o local. Estava praticamente vazio, a não ser pela cama no canto do cômodo e uma pequena mesa com uma cadeira velha.
- Bem na hora, senhorita Mills! - ele surgiu do fundo do apartamento e senti um calafrio ouvindo sua voz. Sorri imediatamente e entrei fechando a porta logo em seguida. Ele veio até mim e beijou-me no rosto.
- Fez um boa viagem, querido? - sorri de volta.
- Viajar em um caminhão de porcos não é o que teria como uma boa viagem, mas foi preciso, não é? - ele usava um uniforme cáqui, tinha barro nas botas e a barba por fazer. Cheirava a uísque e isso deixou-me enjoada - Está tudo pronto para daqui a pouco?
- Sim. - olhei ao redor e não vi bagagem - Onde estão suas coisas?!
- Eu não vou me demorar em Paris, Regina. - sorriu - Tão logo o encontro terminar devo voltar a Inglaterra. O Rei George tem planos urgentes para a Força Aérea Real.
- E o que vai usar durante a reunião?
- Regina... - ele veio e segurou-me pela cintura puxando-me para mais perto - ... Relaxe... Ainda temos um tempo antes dessa reunião... - beijou-me. Fechei os olhos e deixei-me nas mãos dele. Senti o grosso daquela barba áspera e o arrepio veio novamente, beijava-me o pescoço e suas mãos desesperadas corriam por todo o meu corpo apertando-me de forma bruta. Afastei-me um pouco se jeito e mordi os lábios.
- Não acha melhor deixarmos para o fim da reunião?! - puxei-o pelo colarinho e passei a língua em seus lábios.
- Acredito que teremos bastante tempo antes dessa reunião, Regina... Fique tranquila... - ele agarrou-me e me atirou sobre a cama. Olhei para ele assustada e quis sair dali, mas era tarde, jogou-se sobre mim e seu peso impediu-me de escapar.
O rastro de saliva que aquele homem deixou no meu pescoço e colo era um visgo. Ele subiu meu vestido e forçou-se sobre mim. Vamos, Regina, faça o que se propôs... Foi a única coisa que disse para mim mesma antes que aquele homem tomasse posse de mim. Foi tudo tão rápido e mecânico que, quando terminou, eu já havia esquecido das mãos apertando-me e invadindo-me; dos beijos suados e o cheiro forte da sua loção. Os chupões em meus seios e Robin dentro de mim de forma tão animalesca que repensei se aquela tarefa era mesmo tão necessária. Eu sabia fingir qualquer reação, um orgasmo manipulado não era problema e assim eu fiz. Robin deitou-se ao meu lado e repousou seus dedos entre as minhas pernas sentindo o calor do meu sexo, mas sem qualquer vestígio de excitação alguma. Ele olhou-me intrigado.
- O que foi? - perguntei acariciando seu rosto.
- Não está aqui... - sorriu sem jeito - O que aconteceu?
- Claro que estou, Robin! - dei-lhe um beijo selado.
- Tudo bem, minha querida. - relaxou o corpo na cama e suspirou - Está preocupada e compreendo.
- Diga-me, capitão... - sentei-me na cama - O caminho de Lisieux foi tranquilo?
- Muito! - ele levantou-se e foi vestindo-se - Vocês franceses estão bem organizados e acredito que o que deverão fazer amanhã será de grande valia para os aliados!... - estendeu sua mão para que eu a pegasse. Assim que o fiz ele a beijou - Vista-se, querida, precisamos ir...
- Como você disse... ainda é cedo! - algo estava muito estranho e eu precisava descobrir. Como aquele homem chegou da Inglaterra sem nenhuma bagagem? O combinado era que ficasse em Paris três dias, além do mais ele chegara antes do combinado. Deveria estar aqui uma hora antes da reunião e não chegar com um tempo tão grande de espera.
- Primeiro as obrigações, Regina... - ele riu - Mais tarde podemos voltar para cá, o que acha?!
- Claro... - respondi ainda curiosa, mas vesti-me rapidamente e saímos dali em quinze minutos.
Um carro nos aguardava na esquina do quarteirão seguinte. Entramos sem muita conversa e tomamos rumo de Boulogne-Billancourt. Robin permaneceu em silêncio até que chagamos próximos ao prédio. O motorista nos alertou que deveríamos esperar a ronda alemã passar para podermos prosseguir. Ele estacionou o carro em um beco bem estreito que quase não coube o Ford. Nossas respirações podiam ser ouvidas. Eu estava com o coração acelerado e pensava todo o momento sobre o que estaria acontecendo no prédio, se as pessoas estariam lá, se correria tudo conforme as instruções que receberíamos e como eu agiria depois que voltássemos para o apartamento onde Robin estava escondido.
Ouvimos as sirenes do toque de recolher. O silêncio da noite cortava meus nervos. Em seguida, ouvimos a marcha da ronda. Um grupo de alemães fardadas passaram pela rua e pudemos ver suas silhuetas através daquele beco escuro, não poderiam ver o carro e logo que os passos ficaram inaudíveis, o motorista, cautelosamente, ligou o carro e prosseguimos até o endereço marcado.
Saltamos do Ford rapidamente e entramos no prédio.
Quando subimos as escadas e chegamos ao andar onde seria a reunião, as luzes foram sendo acesas novamente. Apagaram pela ronda alemã, certamente. Agora tudo era iluminado e eu fiquei um pouco assustada com a quantidade de pessoas. Sabia que éramos muitos comandos, mas todos estavam presentes. Jean Moulin soube fazer seu trabalho de unificação muito bem, então poderia arriscar dizer que seríamos vitoriosos em nossa incursão sobre os alemães. Eu senti esperança naquele momento.
- Pronto! - exclamou meu pai - Podemos começar!
Caminhamos até a mesa onde seriam dadas as instruções. Robin agarrou-me pela cintura e beijou-me. Retribui com um afago em seus cabelos e sentei-me ao seu lado na mesa. Ruby olhava-me de longe reprovando as minhas atitudes, mas não pude dizer à ela que estava bem próxima de descobrir algo relevante sobre aquele inglês.
- Bem, senhores, é um prazer poder ajudá-los e venho com cumprimentos pessoais do Rei George! Ele acredita que irão ter êxito nessa investida! - Robin mostrava-se seguro e rapidamente foi comandando a reunião - Eu preciso que repassem todos os endereços dos locais de onde sairão as armadas e o horário exato para o ataque.
As pessoas não hesitaram em acatar seus apelos e foram escrevendo onde estariam, um por um, foram todos anotando e repassando para Robin. Ele tratou das estratégias de ataque e logo August aproximou-se animado com a oratória do inglês. Ruby continuava a olhar-me de forma inquisidora e por mais que eu tentasse desvencilhar-me dela, a cigana aproximava-se cada vez mais da mesa onde eu estava.
- Vocês precisam sincronizar as entradas do prédio da Gestapo. Eu sei que já observaram as trocas de guarda e a quantidade de soldados na vigilância do prédio, mas ainda assim tentem manter a vigia amanhã... - o capitão fez uma pausa e acendeu um cigarro, foi o momento em que colocou os olhos nos endereços dos comandos. Tragou profundamente e sorriu - Perfeito! Estão bem distribuídos e isso ajuda a confundir os alemães... - parou por uns instantes e pensou. Todos ali esperavam mais alguma palavra dele e meu pai, com todo o seu jeito encabulado, tomou a dianteira.
- O que vai fazer agora, capitão? Estamos aguardando sua chegada para esse momento.
- Senhor Mills, a minha presença aqui é para garantir auxílio da Inglaterra à vocês. Tão logo eu volte para meu país, o Rei George e as forças inglesas tomarão decisões em que a França estará incluída. Não serão desamparados, estou convicto quanto a isso!
- Precisamos retirar mais pessoas da cidade, capitão. - um homem mais velho, líder de um comando da periferia adiantou-se até nossa mesa acompanhado de sua esposa - Sabemos que vocês ingleses têm tropas próximas dos limites do nosso país, então, podem nos dar cobertura.
- Claro, senhor Rumple!... Eu sei que pessoas começaram a desaparecer e isso não é bom... Temos notícias dos campos de trabalho dos nazistas e desconfiamos que não são bem locais de trabalho. - ele olhou para Belle, esposa de Rumple - Sua esposa não é francesa?
- Não. Sou belga... - apontou a estrela amarela no vestido - Belga e judia.
Robin franziu o cenho e tragou o cigarro novamente.
- Não se preocupem... - sorriu - Assim que tiverem êxito nesse ataque de amanhã, vamos começar a retirá-los todos daqui.
Mais uma hora de reunião e foi-se resolvendo mais detalhes sobre armas, transportes e as posições de cada comando na invasão à sede da Gestapo. Robin acompanhou todas as decisões de perto. Ao encerrarmos, meu pai despediu-se de mim com um olhar temeroso.
- Tenha cuidado, filha. Tem certeza que não é melhor que volte comigo para casa?
- Não, pai. Essa noite ainda tenho um trabalho a fazer.
Enquanto Robin conversava com outros homens, Ruby veio até mim e puxou-me para um canto do salão. Ela não tinha nenhum aspecto otimista e suas mãos estavam geladas.
- Por favor, Regina, vá com seu pai para casa!
- Não, Ruby! Sabe que não posso fazer isso!
- Regina... - ela olhou Robin e continuou - Ele é o valete de ouros!... - eu ri, mas deixei que ela falasse - Ele é perigoso e perverso... Nunca trás boas notícias e sua característica é trair... - eu fiquei olhando a cigana por um momento e não tive reação ao que acabara de ouvir, esperava que dissesse mais - Eu sei que não acredita em nada, mas tenha cuidado, Regina... - abracei Ruby instintivamente. Aquele abraço fez-me sentir leve e eu não fazia ideia que não veria aquela moça por um longo tempo. Despedimo-nos e eu fui até Robin.
- Podemos ir? - ele assustou-se quando cheguei e corou.
- Podemos nos encontrar em outra hora? - eu não disse uma palavra. Esperava uma explicação - Eu estou com todas essas informações e preciso me preparar para repassá-las aos ingleses...
- Tem certeza que não quer minha companhia? - eu ainda insisti em ficar junto dele para saber o que faria em seguida, mas Robin dispensou-me solenemente.
- Eu preciso descansar, minha querida... - beijou-me a testa e preparou-se para ir embora - Ainda nos encontraremos, não se preocupe! Antes que sinta saudades eu estarei na sua frente! - riu e saiu do salão junto com outros dois rapazes que eu não consegui reconhecer e nem saber de qual comando faziam parte.
Meu pai já havia ido para casa. Esperamos que todos saíssem do prédio ficando apenas August, Marie e eu. Voltaríamos pelos becos que contornavam o Sena até estar de volta ao centro da cidade e ao teatro. Eu conhecia um caminho mais rápido e pouco iluminado, mas também muito sujo. Eles não se importaram e seguimos rápido de volta ao nosso esconderijo.
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