Senti a umidade daquele lugar. Tremia de frio. Ouvia longe ruídos abafados.
Talvez já fosse dia. Talvez não.
Tive medo de abrir os olhos. Não senti a alemã próxima.
- Kristin?! - assustei com a minha própria voz. Estava mais rouca que o habitual. Veio logo uma dor profunda nas pernas. Gosto e cheiro de sangue seriam recorrentes e eu teria que me acostumar com eles.
- Sim, querida. Estou aqui. - voz sem sentimento nenhum. Um choro na penumbra daquela cela. Girei a cabeça tentando buscá-la com o olhar, mas quase não pude enxergá-la no canto mais escuro.
- Já é de manhã?
- Está amanhecendo... Veja... - ela apontou para a pequena abertura no alto da parede - ... A luz mudou a direção...
Eu tentei levantar a cabeça, mas a dor era forte. Preferi encolher-me e ficar em silêncio. Tentei relembrar todas as imagens da noite anterior até onde eu me encontrava. Como pude ser tão cega e não perceber rapidamente os passos daquele maldito inglês?
Agora eu estava ali. Jogada numa cela cercada de alemães por todos os lados. Até a minha companheira de cela é alemã! Regina, você já foi mais esperta! O que aconteceu? De olhos fechados fui tateando meu próprio rosto e a sensação foi assustadora. Estava inchado e dolorido. Com a língua certifiquei-me se todos os dentes ainda estavam lá e, para meu alívio, ainda permaneciam no lugar, mas o gosto de sangue deixava-me cada vez mais enjoada. Sentia frio. Tive dificuldade de dobrar os joelhos tamanha era a dor e as feridas abertas neles. Ainda tinha meus sapatos, os pés ainda estavam quentes. Em partes. Eu tremia, mas não sabia se era apenas frio ou medo. Um silêncio estranho passava pelas frestas da porta e das paredes. Comecei a abrir os olhos devagar e examinar melhor o lugar onde estava. Pedras geladas, alguns buracos entre chão e paredes. Provavelmente os ratos transitavam por ali com mais liberdade que nós mesmos.
De repente ouvi a voz fraca daquela loira apática. Eu via seu vulto, mas não distinguia suas feições.
- Estou muito cansada... - suspirou, fez uma pequena pausa e continuou na sua língua materna:
Ich bin sehr müde
Mein Fenster lehnt sich weit in den Abend hinaus,
Die Wolken stehen über den Dächern, ein Blumenstrauß,
Die Luft streichelt mich und ist sanft und voll großer Güte.
Ich aber halte die Hände gefaltet, denn ich bin müde,
Und höre verwundert auf das beschwingte Schreiten
Der Menschen, die auf der Straße vorübergleiten,
So sehr sind ihnen heute die Glieder leicht.
Nur ich liege, schwergebettet in meine Müde.
Manchmal höre ich einen Schritt, der Deinem gleicht,
Dann bin ich, Geliebter, wie die Musik der Schritte leicht
Und wie die Wolken über den Dächern silberne Blüte.
Apesar daquela pronúncia parecer tão agressiva, Kristin tinha um tom tão triste que chegava a ser cruel. Parecia um lamento, um choro mudo que implorava por ajuda. Meu alemão não era tão bom e mesmo não compreendendo tanto as palavras, eu caí em próprio lamento. Chorei. Deixei as lágrimas lavarem meu rosto sujo de sangue e suor e aquilo veio como um alívio. Até que ela parou. Ficamos as duas em silêncio contando as lágrimas que saíam facilmente e os soluços que teimávamos em abafar.
- O que é? - fui curta na pergunta tentando firmar a voz trêmula.
- Um poema, minha querida... - ao contrário de mim, Kristin não se abalava se eu a ouvisse ou visse chorar.
- Sobre o que é? - imóvel eu tentava ainda ver o rosto da alemã, mas ela não se movia, assim como eu. Talvez estivesse esperando que eu fizesse o mesmo.
- É um lamento, Regina... Um lamento chamando pela morte... - fechei meus olhos novamente e encolhi-me mais ainda. Eu não queria morrer, mas começava a acreditar que isso estava bem próximo de acontecer - ... Quer saber o que ele diz? - Kristin agora rastejava com dificuldade para mais perto de mim, mas não tão próxima, ainda nas sombras.
- Por favor, Kristin... Talvez eu precise dele tanto quanto você...
Assim, a enfermeira alemã começou a declamar em um francês arrastado e feio aquelas palavras que pareciam doces, mas jogaram-me num mar de escuridão profunda.
Estou muito cansada
Na noite, ao longe, minha janela se inclina.
Sobre os telhados, as nuvens, ramos de flor fina;
a brisa me afaga, bondosa e delicada.
Eu, porém, mantenho as mãos fechadas, pois estou cansada
e escuto, admirada, alados sons de passos,
das pessoas, na rua, a passar. Seus braços
e pés, parecem-lhe tão leves. Somente eu
me deito, em meu grande cansaço acamada.
Às vezes ouço o som de um passo como o teu,
e então, amado, como a música dos passos, leve fico eu,
como as nuvens sobre os telhados – ramo de flor prateada.
Ouvimos passos apressados e descompassados pelo corredor. Dessa vez ela não se afastou amedrontada. Parecia até saber que nossa porta não abriria. Uma porta próxima se abriu e ouvimos um grito de mulher para, em seguida, a porta bater.
Kristin deu um salto e colocou-se de pé em alerta. Ela parecia fraca, mas num instante mostrou-se atenta ao que acontecia fora das nossas paredes. Arregalou os olhos e caminhou mais perto da parede ao nosso lado. Apesar de não ter o mesmo ânimo para colocar-me de pé, fiz o mesmo, agucei meus ouvidos.
Uma mulher chorava baixinho. Soluçava e gemia. Era desesperador ouvir aquilo e não ver quem sentia aquela dor. Depressa Kristin encostou na parede e desceu até um pequeno buraco.
- Quem está aí? - parecia uma louca daquela maneira - Quem é você, querida?! Está sozinha na cela? - silêncio. A alemã olhou para mim com certo desânimo, mas logo um pequenino sorriso brotou em seus lábios quando ouvimos a voz do outro lado da parede.
- Estou ferida... - a voz fraca tinha um peso de dor, mas vinha melodioso como uma boa francesa.
- Marie?! - gritei. Da mesma forma que assustei-me ao ver Kristin colocar-se de pé, num pulo eu também me vi fazendo a mesma coisa. Qualquer dor e desânimo que poderiam haver no meu corpo e na minha cabeça foram mandados para longe ao ouvir a voz familiar daquela atriz. Mancando fui até onde Kristin também estava e abaixei-me tentando enxergar para além da minúscula abertura, mas seria em vão. Do outro lado estava tão escuro quanto este lado - ... Marie?! É você, minha querida?!
- Regina? - o som do outro lado veio fraco e pausado.
- Está ferida? O que fizeram?
- Eu estava tentando fugir e levei um tiro... - as palavras vinham cortadas e sua respiração estava falhando. Um desespero subiu em forma de arrepio pelo meu corpo e quis chorar, mas tomei fôlego.
- Calma, Marie. Diga-me onde foi atingida... - a resposta não veio.
- Não se preocupe, Regina. Eu vou ficar bem... - uma pausa e minha aflição aumentava - ... Como você está?
- Tenho alguns arranhões, mas não vão conseguir nada além disso! - tentei ser positiva e fazer uma voz animada, mas nada adiantaria. Eu queria derrubar aquela parede e ver, colocar meus olhos sobre Marie para certificar-me que seu ferimento não representava perigo.
- Regina, mantenha-se firme!... Henry está bem. Ele e Ruby foram levados por Kristoff e Emma...
O nome pronunciado com dificuldade foi jogado aos meus ouvidos e deixou-me paralisada. Como?! Emma?! Eu tentei compreender o que Marie acabara de dizer, mas as palavras escapavam.
- Emma estava com vocês? - sabia que seria injusto fazer tantas perguntas para aquela mulher na outra cela, mas eu tinha que saber o que havia acontecido. Então, Marie contou como minha loira alemã e nosso espião conseguiram tirar Ruby e Henry da prisão e da tortura. Senti novamente um alívio. Henry estava bem. A cigana que deixava-me louca com suas suposições de cartas de baralho também havia escapado, mas eu tinha que ir além. Eu precisava saber mais. - ... Ela está bem, Marie?
- Eu os deixei a caminho da casa dela, Regina... - ela gemeu e meu coração acelerou. Sua voz cessou.
- Marie?!... - ela não poderia me deixar sem as respostas que eu queria - ... Marie! - logo senti a mão magra e gelada de Kristin apoiando-se em meu ombro.
- ... Deixe que ela descanse, Regina...
Encostei na parede e permaneci ali. Pensando em Emma. Atenta ao som da cela ao lado. Nada. Ao mesmo tempo que fiquei feliz por ter notícias lá de fora, meu coração apertou-se por saber que se tivéssemos, August e eu, seguido com Henry e Ruby eu teria encontrado Emma. Pare, Regina!... Se tivesse sido pega com eles, aquela hora estariam todos na mesma situação que você! Se prenderam e torturaram uma enfermeira alemã, o que poderiam fazer com uma major traidora?
Fechei os olhos e tentei não pensar em mais nada daquilo.
Inútil.
Gritos, tiros, som de carros e passos desordenados, correria. Tudo era muito latente na minha cabeça. Se já não bastasse as dores das agressões de Hook, agora e mais uma vez, as imagens das minhas últimas horas retornavam e retornavam. Eu pedia que parassem, mas elas insistiam. Será que eu ficaria como Kristin? A escuridão daquela cela absorveu a lucidez da mulher que me fazia companhia e eu temia ficar assim como ela estava. Agachada sobre os próprios calcanhares deslizando os dedos pelo chão e sussurrando algo que eu não fiz questão de compreender. Não. Eu não queria outro lamento, não queria chamar pela morte. Eu fixei meus olhos firmemente na porta - eu queria que Emma entrasse por ela e me levasse dali.
A porta se abriu, mas não foi Emma quem apareceu de pé ali na minha frente.
- Regina! - com sussurro e um movimento bem rápido, Kristoff agachou-se diante de mim segurando minhas mãos e tentando analisar meu rosto e meus ferimentos mais aparentes - Tive medo que estivesse morta! - agarrei seus braços e puxei pelo ar que faltava-me pela ansiedade em saber:
- Onde está Emma?
- Calma, querida... Emma está bem... Henry e Ruby também...
- Eu sei, Kristoff, Marie está na cela aqui ao lado... - virei a cabeça em direção à parede onde estava recostada e ele endireitou o corpo.
- Precisamos tirá-las daqui! Querem Moulin e vocês serão torturadas para dizer onde ele está...
- Kristoff, escute!... - ele parou por um momento e fitou-me nos olhos - Diga à Emma que eu sinto muito e que a amo!... Prometa que vai proteger Ruby e Henry...
Ele sacudiu a cabeça como se não quisesse ouvir aquilo, mas eu tinha que dizer e tinha que fazer com que Emma recebesse as minhas palavras.
- Regina... - ele tentou fazer-me parar, mas eu tinha que continuar.
- Diga à Emma, por favor! - sacudi seus braços com um pouco de força que ainda eu tinha naquele momento. Ele se calou e olhou ao redor. Quando viu Kristin, disse algo em alemão que eu não pude entender, estava zonza. Ela respondeu e sorriu. Ele voltou os olhos para mim.
- Fique firme! Nós vamos tirar vocês daqui!
Kristoff saiu depressa. Ainda pude ouvir sua voz carregada dando ordens à alguém bem próximo da porta, mas ele não entrou na cela de Marie.
Calmamente deitei-me ainda encostada na parede. Marie estava quieta. Kristin estava quieta. Olhei para o alto e detive-me na pequena abertura de iluminação na parede oposta. A luz da manhã estava bem fraca, ainda era muito cedo.
Ruby e seu tarô cigano.
Cada carta bem colocada e acertada. Eu tinha os valetes todos ao meu redor. Não tão perto e não tão distantes, mas a rainha de copas tinha uma visão, ainda que desfocada, do jogo que armara-se aqui. Eu nunca acreditei em nada que a romena dizia e agora duvidava das minhas próprias atitudes.
Deixei-me ser enganada e usada pelo valete de ouros, perdi-me do meu valete de paus, estou presa pelo valete de espadas e o valete de copas surge para causar-me mais aflição!
E pensar que a rainha de espadas esteve tão perto... Emma... Ainda faltavam duas rainhas do baralho de Ruby... Segundo ela, poderiam ser inimigas, pois as mulheres de nosso grupo sempre mostraram-se como peões, cartas menores a serviço da resistência. Será que a rainha de paus e a rainha de ouros estavam por perto? Eu não fazia ideia de quem fossem, mas eu tinha medo. Ruby deixara esse medo plantado em mim.
Uma onda de vozes ecoava do lado de fora nos corredores.
Tratei de me levantar, com dificuldade, fui até onde Kristin estava. Aguardamos o que poderia acontecer. Ao longe portas iam se abrindo e com elas gritos começavam a saltas das celas do corredor. Alemães e franceses gritando.
A nossa porta se abriu. De uma vez e brutalmente.
Dois soldados entraram, mas levaram apenas uma de nós. Eu.
Avançaram sobre mim, mas eu não mostrei resistência. Certamente voltaria para a sala de tortura do major Hook e ele estaria lá aguardando para se divertir às minhas custas. Soltei o corpo e deixei-me levar. Cada um de um lado segurando-me pelos braços, arrastaram-me.
De repente um pânico tomou conta do meu peito e minha cabeça girou em torno do lugar. Eu estava sendo levada para fora do prédio da Gestapo. Logo que passamos pela porta de entrada a luz da manhã cegou-me por um tempo, mas nem poderia usar as mãos para proteger os olhos. E nem fazia tanto sol naquela manhã, pelo contrário, o tempo estava tristonho, era um aviso de chuva, talvez. Meus sapatos faziam com que eu tropeçasse, mas os soldados ignoravam qualquer dificuldade, continuavam a arrastar-me.
Um tumulto de soldados de prisioneiros, muitos feridos e até desmaiados. Eram jogados em caminhonetes cobertas de lona escura. Mesmo sendo levada aos solavancos prestei bastante atenção nos rostos mais próximos, se houvesse algum conhecido eu já ficaria tranquila por ainda estarem vivos. Não. Nenhum rosto familiar. Fui empurrada para cima daquela caminhonete e sentei-me bem na ponta onde poderia ver o caminho que faríamos.
No veículo mais próximo que estava atrás do meu, vi um corpo de mulher sendo jogado de qualquer maneira. Aquele corpo era familiar, suas roupas eu conhecia bem e, com aquele cabelo tão preto e curtinho, não era difícil de reconhecer. Marie. Estava desmaiada, mas não pude ver o quanto estava ferida. Foi tudo muito rápido e muito confuso. Ao meu lado eu só via homens, nenhuma outra mulher além de mim seria transportada naquele veículo e nenhum daqueles homens era conhecido, mas todos eles tinham as mesmas marcas que eu.
O soldado deu partida no motor e a caminhonete começou a rodar por Paris.
Baixei um pouco os olhos e tentei observar furtivamente. Saímos da Avenue Foch e seguimos até o Arco do Triunfo sentido Avenue de Friedland. O motor barulhento desorientava meus sentidos e fui ficando mais zonza ao longo do caminho. Haviam outros veículos e outras pessoas. Mais soldados e pedestres curiosos que observavam o comboio. O destino desse comboio era a Gare du Nord, a estação ferroviária que os nazistas utilizavam para transportar judeus para seus campos de trabalho. Cruzei os braços, apertei contra o corpo e proibi a mim mesma de chorar. Estaria fora de Paris em minutos. Todas as pessoas que correram por meus pensamentos nas últimas horas jogada naquela cela ficariam há quilômetros de distância e eu não teria garantia alguma que estivessem vivas para vê-las novamente. Que garantia tinha de que eu mesma pudesse estar viva depois que aquele trem chegasse ao seu destino. Qual era? Eu não fazia ideia.
Em poucos minutos chegamos até a estação. Novamente a gentileza nazista nos arrancou dos veículos. Aos trancos, esbarrões e empurrões um número considerável de pessoas foram sendo colocadas nas plataformas aguardando os trens. A agitação do lugar ficava mais confusa com a fumaça que o vapor das locomotivas soltava, logo éramos tomados por uma espécie de nevoeiro que lembrava Londres, mas era apenas fumaça, fuligem e medo. O curioso e muito pavoroso foi que um grupo de seis pessoas foi encaminhado para outro lado de uma plataforma mais distante de onde o grande bolo de gente havia ficado. Éramos eu e mais cinco homens e apenas um deles chamou minha atenção, pois seu rosto não era de todo estranho.
- Como vai, senhorita Mills? - claro! Era aquele senhor que esteve na reunião que nos delatou. Ele estava preocupado com a esposa, uma judia belga. Agora ele usava apenas um paletó rasgado, calças sujas, estava descalço e desprovido de sua bengala. Isso fazia com que ele mancasse de forma mais acentuada.
- E sua esposa? - eu não sabia medir minhas palavras e a partir dali era o exercício que eu menos faria, então fui direto ao ponto. Antes não tivesse feito. Os olhos do homem se encheram de lágrimas e ele gemeu baixinho encolhendo-se nos ombros.
- Eu não sei... - um alemão veio ao nosso encontro e puxou Rumple pelo braço dizendo palavras agressivas e ameaçando caso ele não parasse com o choro. Continuamos nossa caminhada oposta aos outros presos até que paramos no final da plataforma em frente a um vagão diferente dos outros. Ele não era feito de madeira simples onde as tábuas eram apenas pregadas de qualquer maneira como se fosse preparado para transportar animais. Não. Aquele vagão era reforçado em suas laterais e havia grades nas janelas, poucas e estreitas demais. O vagão também era menor, porém, com um número maior de soldados que estavam a postos dentro e nas laterais dele.
Todos fomos colocados em fila, uns ao lado dos outros. Veio um oficial e foi parando em frente a cada um. Levava uma prancheta e foi dizendo nossos nomes em voz alta para que outro soldado levasse o prisioneiro chamado dentro do vagão. Eu fui deixada por último. Vi todos os homens serem colocados dentro daquele vagão-gaiola. Quando meu nome foi dito, não percebi, apenas ouvi passos lentos, mas, de relance vi uma mulher se aproximando. Eu não sei descrever o que aconteceu dentro das minhas vísceras, mas acredito que todos os meus órgãos tenham entrando em ebulição quando vi, de fato, quem estava chegando até mim. Ela surgiu da fumaça dissipada das plataformas ao redor dizendo meu nome pausadamente como se estivesse pronunciando um prêmio, um achado, uma prisioneira valiosa.
- Regina Mills... - ela tinha nas mãos um chicote. Usava calças e botas ao invés da saia envelope. Seu casaco cheio de estrelas polidas e o sorriso tão irônico quanto o azul dos seus olhos - Será minha convidada durante um tempo, mein lieber!... - parou na minha frente e observou-me dos pés à cabeça - Espero que goste de Lyon. - batia aquele chicote de maneira ritmada na perna e continuou a olhar-me até que o oficial que estava próximo alertou que deveríamos partir para não chegar a Lyon tão tarde. Eu continuava estática aguardando mais alguma ação dela, mas não. Elsa Königin virou-se, bateu o chicote na lataria do vagão-gaiola e afastou-se dali.
Um soldado pegou-me pelo braço e fez com que eu subisse no vagão.
Não observei nada naquele primeiro momento, eu estava atordoada com a ideia de que passaria pelas mãos da torturadora mais famosa do exército de Hitler. Elsa era conhecida pelo que fazia de melhor - ela sangrava pessoas até a morte, usava homens, mulheres, crianças, não tinha escrúpulo algum e servia-se deles para seus experimentos científicos das maneiras mais estranhas e crueis possíveis.
Sentei num canto, isolada. Pensando em tudo o que conhecia sobre a capitã Elsa eu não tinha vontade de falar com ninguém. Vi que Rumple também isolara-se em outro canto do vagão. Depois de ver quem seria nossa anfitriã em Lyon, acredito que todos nós aproveitaríamos para nos despedir de qualquer coisa e pessoa em silêncio. A única certeza que todos nós tínhamos naquele momento era que nenhum de nós sairia das mãos de Elsa com vida.
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