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História La Guerre pour toi - Eu não tinha escolha a não ser tentar


Escrita por: Elis_Giuliacci

Notas do Autor


Oi, voltei!

Emma narra o capítulo e está mais próxima de Regina!
Vamos torcer!

Boa leitura!

Capítulo 20 - Eu não tinha escolha a não ser tentar


Ver Henry feliz ao encontrar-se com Anna era a melhor coisa que poderia acontecer naquele dia. O garoto voltou a ter o brilho nos olhos do da em que o conheci. Aquela menina também possuía esse brilho. Percebi que esse brilho fazia parte dos olhos de todos que acreditavam que seríamos derrotados. Era o brilho de esperança. Regina tem esse brilho quando fala na liberdade da França e na vitória contra os alemães. Quero que ainda esteja com esse brilho ao encontrá-la em Lyon. Sim, eu vou para lá mesmo que todos digam que não. Vou entrar em Montluc e vou trazê-la de volta a Paris.

- Emma, você bem sabe que não será fácil entrar lá!

- Eu sei, Kristoff, mas não posso ficar aqui parada tentando encontrar uma solução fácil ou aguardar ajuda de outras pessoas!...

- Por favor, tenha paciência!... Nós sabemos que os alemães querem Jean Moulin e até agora ele está em segurança... - Anna estava sentada ao lado de Henry - Todas as prisões e torturas são para descobrir o paradeiro dele.

- E se ele for capturado agora?! O que acontece com os prisioneiros? - eu lancei aquela pergunta já com a resposta na cabeça e os olhos de todos perderam o brilho. Um silêncio desceu sobre nós e seu peso deixou-nos tristes.

Depois de um tempo pensando o que fazer e o que poderia acontecer Anna voltou-se novamente para mim.

- Temos pessoas em Vichy que poderão ajudar, mas precisamos de tempo. - ela se levantou e pôs-se a caminhar pela sala - Existem alguns homens dentro do governo que estão produzindo identidades falsas para retirar os judeus daqui, mas leva um tempo até que eles tenham o que precisam nas mãos e possam fazer os documentos sem que levantem suspeitas ao serem conferidos.

Cada vez mais eu estava firme na minha decisão de ir para Lyon sem esperar nada do que essa moça dizia. Levaria quanto tempo para providenciar um documento? Esperar isso acontecer seria assinar a sentença de morte de Regina. Não. Definitivamente eu não esperaria por nada daquilo.

Ruby passou a maior parte da conversa em silêncio, assim como Henry. Os dois tinham ares de desânimo, mas eu bem sabia que a cigana tentava ponderar as ideias para depois dizê-las. Kristoff tentava insistentemente me fazer desistir.

- Emma, eu não vou deixar que você vá sozinha! Eu vou com você!

- Você não sabe se disfarçar e nem entrar infiltrado em lugar algum... Só atrapalharia!

- E nesses últimos tempos você conseguiu?!

Pronto. Kristoff conseguiu irritar meus nervos ao máximo. Senti meu rosto queimando. Eu sabia exatamente que o que haviam ordenado para que eu fizesse, nada deu certo. Nesse instante eu quis pegar minha arma e dar um tiro naquele alemão de queixo quadrado e abusado.

- Chega. - Ruby finalmente levantou-se de sua apatia e do meu sofá - Se vão começar a brigar aqui digam logo para que eu vá embora! - eu não reagi e Kristoff foi par a cozinha - Emma, ouça o que Anna está dizendo. Há uma esperança e temos que nos agarrar nela!... Ter paciência faz parte do plano! - ela voltou-se para Anna - Existe algum meio de comunicação com essas pessoas em Vichy?

- Não daqui. Eu preciso voltar até lá. - Henry agarrou a mão de Anna e ela olhou para o garoto - Não há outra alternativa.

- Vichy é mais próximo a Lyon... - ponderou Ruby - Se houver possibilidade de uma fuga de Montluc poderíamos conseguir esses documentos mais rápido do que pensamos.

- Sim, Ruby, eu posso voltar e providenciar isso enquanto isso criamos uma forma de entrar lá... Se é possível... - elas falavam como se eu não estivesse presente e aquilo irritava mais do que as palavras duras de Kristoff.

- Eu vou entrar lá!

- Precisamos de uma janela. - murmurou Henry. Olhei rapidamente para ele estranhando a expressão ao que ele retornou com um olhar preocupado - Precisamos saber o momento certo de entrar lá, Emma. Montluc é uma prisão muito bem guardada, se não houver o momento exato tudo pode dar errado e perderemos Regina.

- E o que é possível fazer no momento?! - exclamei em tom irônico. Eu já não aguentava mais os apelos de espera e paciência. Nenhum deles deu uma resposta. Silêncio de novo. Silêncio até que o major resolveu aparecer.

- Observar, Emma. Isso você sabe fazer e muito bem!

Respirei fundo. Eu estava cega pelo desespero e teria que me acalmar para não colocar tudo em risco. Todos eles estavam cobertos de razão, algo que eu não usava há muito tempo. Sentei-me novamente e partimos em busca de uma forma de retirar Regina de Montluc. Tenho que dizer que meu medo não era ela estar presa, apenas. Minha aflição era Regina estar presa em Montluc sob ordens de Elsa.

Anna voltaria no dia seguinte para Vichy encontrar-se com as pessoas que ela dizia que poderiam providenciar documentos que tirariam Regina da França para um lugar seguro. Que lugar seria esse? Colocamos várias possibilidades na mesa. Espanha era a melhor delas. Fui descobrindo aos poucos que a rede de resistência francesa tinha uma organização tão eficiente quanto a nossa, o que separava o resultado positivo era o poder bélico e a vantagem de nós, nazistas, estarmos em maior número.

O caminho que Anna faria de volta a Vichy era perigoso e apenas uma pessoa poderia ter o privilégio de obter aqueles documentos falsos. Nem Ruby ou Henry e a própria Anna poderiam tentar sair dali naquele momento. Senti-me responsável pelo risco que eles corriam. Já estavam em uma situação de perseguição, não poderiam sair do país para que Regina pudesse ter aqueles documentos e ainda teriam que se arriscar para eu entrasse em Montluc e retirá-la de lá. Eles estavam dispostos a qualquer coisa, disso eu tinha plena certeza.

O tempo que Anna levaria para estar em Vichy e entrar em contato com as pessoas do governo francês e retornar era o mesmo que Kristoff e eu teríamos para transitar pela Gestapo a procura de informações sobre Lyon e equipamentos que eu precisaria para entrar lá. Não seria nada fácil, mas era a única opção. Henry não gostou nada da ideia, mas teria que passar mais tempo no forro do meu quarto, depois daquela suposta invasão no apartamento teríamos que tomar mais cuidado com a permanência dele ali. Se houvesse algo de errado enquanto eu estivesse Lyon eu não me perdoaria. Ruby continuaria no apartamento de Kristoff na mesma condição que o garoto. Assim que a tal "janela" aparecesse a cigana iria para Lyon juntamente com Kristoff para serem meu apoio na invasão. Invasão. Do plano foi a única coisa que não falamos. De que adiantaria naquele momento? Precisaríamos esperar Anna retornar de Vichy com o nome do nosso contato e onde o encontraríamos em Lyon.

- Agora você está pensando e agindo como uma boa estrategista, major Swan! - Kristoff lançou-me um sorriso confiante quando terminamos de repassar todos os itens de nosso plano de espera e equipagem. O relógio marcava mais de uma da manhã quando terminamos. Maria Antonieta passou todo o tempo no colo de Ruby dormindo tranquilamente.

Com cuidado extremo eles voltaram para o apartamento de Kristoff, Henry para o forro e eu tentei dormir. Refiz os planos na minha mente e pensei em todas as possibilidades de erro e alternativas para burlar obstáculos. Eu realmente era boa nisso, mas tinha esquecido-me completamente. Minha razão voltava aos eixos e meu sono também.

Quisera eu não ter adormecido. O pesadelo que veio atormentar-me era uma de minhas piores lembranças de Elsa.

Nessa época éramos adolescentes e nosso gosto por meninas já estava bem evidente e claro uma para a outra, mas até então, não havia acontecido nada entre nós duas. Elsa relacionava-se com meninos, mas ela deixava claro que queria a mim como primeira mulher de suas experiências. Eu achava aquilo um tanto doentio, mas divertia-me com ela e todas as suas aventuras. O episódio do coelho já estava distante e depois disso não tínhamos tanto contato devido ao trabalho de nossos pais.

Foi num verão desses que minha família foi passar um final de semana com a família de Elsa naquele mesmo lugar onde haviam os coelhos. A pequena cidade mais próxima estava comemorando uma data importante para eles que não me lembro qual era, mas tudo era festa naquele vilarejo. Elsa e eu fomos até lá e, enquanto nossos pais divertiam-se jogando com os adultos, nós duas passeávamos entre as pessoas observando e procurando o que nos divertiria. Havia uma barraca na praça central onde algumas moças aglomeravam-se procurando algo. Era um jogo onde tentava-se acertar aberturas em uma lona com bolas feitas de pano. Elsa logo entediou-se com a brincadeira, mas uma moça fez-me interessar por aquilo. Era linda e tímida, mas correspondeu ao meu sorriso e deixou-me jogar em seu lugar. Logo eu acertei aquele brincadeira estúpida conseguindo o prêmio para Evelyn, esse era seu nome. Tinha mesmo uma pele com textura de avelãs e um sorriso doce. Tão logo nos afastamos da barraca daquele jogo, Pedi que ela nos acompanhasse no passeio. Não seria problema algum, mas para Elsa era a deixa para praticar suas maldades.

Havia um lago, um açude na verdade, onde os moradores da vila usavam a água para seus afazeres diários. Caminhos pela margem por um bom tempo até que nos distanciamos do vilarejo. Evelyn contava sobre o que fazia na vila - ajudava seu pai que era padeiro e, inclusive, eram os pães de sua padaria que comíamos no sítio dos Königin. Elsa passou boa parte do tempo em silêncio até que propôs uma brincadeira. "Atirar pedras no lago e ver quem conseguia atirar mais longe". Se ela achava a brincadeira com bolas de pano tediosa, aquilo também não ficava longe disso. Evelyn aceitou para, acredito eu, ser gentil com Elsa, já que ela ficara calada o tempo todo e não mostrava nenhuma simpatia. E assim retiramos nossos sapatos e caminhamos para mais perto da água. Elsa apanhou várias pedras pelo caminho e sua animação tinha voltado, seus olhos brilhavam. Eu estava desconfiada de algo que não conseguia descobrir, mas depois de uma meia dúzia de pedras lançadas na água Elsa foi-se aproximando de Evelyn e perguntou à moça de quem ela havia gostado mais. Sem resposta. Evelyn ficou um tanto desconcertada com a pergunta e recusou-se a responder. Elsa insistiu. Então lembrei-me dos coelhos e pedi que ela parasse com aquilo.

Ela não parou. Agarrou a moça pelo pescoço segurando um de seus braços e jogou-se com ela dentro da água. Eu gritei. Elsa estava tentando afogar Evelyn. Ajoelhou-se sobre a moça e à medida que ia afundando o corpo dela dentro da água olhava para mim sorrindo. "É isso que quer? Quer que ela morra Emma?!" Evelyn debatia-se desesperada e eu perdi a força nas pernas, o que passava pela minha cabeça era o pescoço do coelho sendo torcido bem no meu colo. Se eu fosse até as duas, Elsa poderia fazer o mesmo com aquela moça. Não. Elsa levantou a cabeça de Evelyn e ouvi a respiração afobada e o desespero maior nos olhos dela. "Você gostou dela, não é?!" Segurou a cabeça dela apontando para mim. Elsa fez aquilo duas, três vezes. Eu apenas consegui chorar e pedia que parasse com aquilo. Quando eu achei que Evelyn tinha morrido afogada. Ela parou de debater-se e Elsa a soltou deixando-a na água. Caminhou calmamente até uma cerca de madeira, começou a retirar suas roupas molhadas e estendê-las na cerca.

Corri até Evelyn para certificar-me que ela não estava morta. "Ela vai sobreviver, querida!" Elsa ria olhando-me de longe. A moça estava respirando, mas tonta e apavorada. Saímos da água e fui caminhando para longe dali abraçada à sua cintura. Ela não conseguia caminhar. Quando estávamos um pouco mais distantes de Elsa pude ouvi-la gritar em tom de ameaça: "É isso que acontece com quem fica entre nós duas. Sempre será assim, Emma!"

Elsa era doente e tinha fixação por mim. Eu demorei a livrar-me dela, eu sei que fui fraca, mas era como um ímã e, por mais que eu tentasse me afastar, ela me atraía. Eu não sei como explicar isso. Nunca mais ouvi falar ou estive com Evelyn. Depois do que aconteceu no açude, voltamos para a casa dela e a ajudei a trocar-se. Ela estava assustada e mal deixou que eu me aproximasse dela. Voltei para o sítio dos Königin com meus pais no final do dia. Elsa já estava em casa quando chegamos e mal olhou-me nos olhos. Somente à noite que ela apareceu no meu quarto e deitou-se comigo pedindo desculpas e prometendo que não faria aquilo de novo. Eu acreditei.

Lembrando-me da agonia de Evelyn naquele dia, acordei sufocada procurando pelo ar desesperadamente. Sentei-me na cama. Estava suada e tremia. Olhei para os lados, na penumbra, tentando enxergar algo ou alguém naquela escuridão. Estava assustada. Olhei para o alto e tentei ouvir Henry. Provavelmente estava dormindo. Eram quatro e meia da manhã.

Levantei-me com cuidado para que o garoto não acordasse e fui até o meu guarda-roupas. Havia uma caixa no fundo, uma grande caixa. Levei-a para cima da cama e abri. A fraca luz que vinha da janela era suficiente para ver o que eu possuía ali dentro. Tinha mais uma arma, cartuchos, roupas, documentos e outras coisas que eu usava nas minhas missões. O que eu mais queria encontrar ali dentro estava no fundo, entre algumas peças de roupa. Um uniforme. Mas não era um uniforme militar. Eu havia feito uma incursão de teste para verificar se as fortificações de Frankfurt estavam adequadas para receber o Führer durante uma de suas visitas. Era um hospital militar e eu era uma enfermeira. Emma, pense rápido!

Estava decidido. Ninguém passaria o perigo de se colocar entre Elsa e eu. Já bastava Regina estar nas mãos dela e eu não tinha como "tirá-la da água". A capitã tinha a mente doentia e eu não arriscaria mais ninguém cair nas suas mãos. Eu tinha que fazer alguma coisa naquele momento e o faria sozinha. Iria para Lyon no  primeiro trem da manhã.

Maria Antonieta trançou por entre minhas pernas o tempo todo que preparei meus equipamentos e bagagem para a viagem. E nem havia muito o que levar. Armas, o disfarce, os documentos falsos com minha foto e tudo o que precisava para estar dentro de Montluc antes que o próximo dia chegasse. Se eu estava louca? Acredito que sim, mas depois daquelas lembranças sobre Elsa eu tive medo que mais alguém sofresse por minha causa e não seria nenhuma daquelas pessoas que estavam próximas à mim. Kristoff não poderia ir atrás de mim, isso eu tinha certeza, pois ele aguardaria minha presença na Gestapo às dez horas, mas quando isso acontecer eu já estarei no caminho para Lyon.

Estava amanhecendo quando arrastei a abertura do forro e chamei por Henry. Ele ainda estava dormindo e era melhor que continuasse. Apenas deixei comida e água o suficiente para alguns dias. Eu voltaria para buscá-lo, era uma promessa que fazia naquele momento. Não deixaria o garoto à sorte de um apartamento abandonado correndo o risco de ser descoberto pelos alemães. Maria Antonieta ficaria ali, mas deixei a janela da cozinha aberta apenas o tanto que ela conseguiria se virar. Pedi desculpas às ela, mas ficaria sem seu leite diário por um tempo. Caso eu não voltasse, ela poderia sair para procurar se virar como todo bom gato. Gata.

Eu preocupava-me em vão. Kristoff poderia entrar no apartamento a hora que bem quisesse. Henry teria apoio caso algo desse errado em Montluc. Não vou dizer que estava confiante. Não! Eu estava amedrontada com a ideia de invadir um lugar onde Elsa tinha domínio de um exército particular. Eu não tinha escolha a não ser tentar.

Parti. Deixei o apartamento e rumei pra a estação. Tomei cuidado para não ser vista e procurei caminhar por ruas pouco movimentadas, levou um pouco mais de tempo, mas seria mais seguro dessa forma. Eu sabia que poucos oficiais conheciam-me, porém quem conhecia era o suficiente para trazer-me problemas e o maior deles era o major Hook. Atravessei ruas e vielas rapidamente com uma mochila nas costas, uniformizada e com um semblante sério, mas a preocupação que havia dentro de mim gritava. Eu não tinha ideia do que encontraria lá e nem como encontraria. Eu não tinha escolha a não ser tentar.

Chegar na estação não foi tão difícil. O pior era transitar pelas plataformas e buscar um vagão no trem que partia para Lyon onde não houvessem tantos soldados. Tinham várias pessoas ali aguardando o trem, usavam a grande estrela amarela costurada as roupas. Ouvi um soldado dizer que iriam para Gurs e Auschwitz. Meu coração gelou ouvindo aqueles nomes, pois a certeza era de que mais da metade daquelas pessoas não voltaria de lá. A estação de trem causava-me náuseas. Cheirava à morte. Morte traiçoeira que enredava suas vítimas com tal vileza que me corpo estremecia a cada pessoa que passava por mim. Seus olhares longos e pesarosos, expectadores do próprio fim. Eles sabiam que a viagem que estavam por fazer levaria ao nada. Morte. Estava parada numa plataforma observando as ovelhas do Führer se encaminharem para o próprio sacrifício. Eu desejei ser um deles. Desejei nunca usar aquele uniforme. Eu desejei tanto aquela judia. E eu simplesmente não pude evitar o óbvio. Levaram Regina. Eu não poderia acreditar em meus mais assombrosos pesadelos que aquilo estava acontecendo. Meu desespero era tamanho que senti medo de algum de meus compatriotas perceberem aquele desassossego no meu rosto. Comecei a caminhar entre as pessoas e o cheiro da morte atiçou-se ao meu redor não me permitindo mais saber para onde eu estava indo. Soldados com fuzis, outros segurando seus grandes cães e alguns outros com pranchetas. Logo ouvi um deles pronunciar "Lyon", enfim, eu estava na plataforma que me levaria até a minha francesa. parei na frente do soldado que observava as pessoas que embarcavam e prontamente ele bateu continência fazendo aquela reverência que causava-me asco, saudando o Führer como a um deus. Não precisei mostrar nenhuma identificação, apenas embarquei e procurei o vagão mais vazio o que não foi muito difícil. Enquanto o trem não partia eu observava na outra plataforma as pessoas embarcando para os campos e virei meu rosto. Vergonha. Foi a única coisa que senti.

Quando trem começou a se mover, senti ao mesmo tempo medo e alívio. Estava indo ao encontro de Regina, mas Elsa também estaria lá. O balanço do trem deixou-me enjoada e respirei fundo para ficar bem. Estava sonolenta, precisava dormir. Haviam soldados nazistas dentro do vagão, mas não me preocupei nem um pouco com eles. Tema apenas que algum oficial de patente superior aparecesse e cobrasse-me as ordens que me levavam a Lyon. O que eu poderia fazer? Dizer a verdade, inventar alguma história ou pular do trem? Tentei ignorar aquele pensamento absurdo e consegui. Adormeci.

Agradeci por não ter mais nenhum pesadelo naquela viagem. Quando acordei já estávamos na metade do caminho. Olhei pela janela para admirar uma paisagem que não era minha. Não conhecia Lyon. O sol estava no alto do céu dominando a tarde. O azul daquele céu dava-me tranquilidade. A tranquilidade que eu precisava para enfrentar que estaria a minha espera. notei, porém, que os campos já não tinham vegetação, era apenas o negro de óleo e cinzas. O verde fora apagado. Por nós. Senti aquela vergonha novamente. Quando tudo isso acabaria? Haviam tanques de guerra pelo caminho e soldados e mais soldados nas barreiras vigiando qualquer coisa que se movesse por ali. Desejei que Anna chegasse em segurança à Vichy.

Observei a apatia nos olhos dos passageiros que estavam no vagão. Olhava para cada um deles e pensava no que tinham a fazer em Lyon ou quem estava à espera deles quando chegassem. Um casal mais à frente conversava aos sussurros e pareciam bem á vontade com um soldado bem na frente deles, depois que percebi que era alemães. Haviam outras pessoas, mas não conseguia perceber se eram franceses ou mais alemães, apenas uma senhora mais velha com duas crianças estavam no fundo do vagão e ela parecia muito nervosa, evitava olhar para frente. Suas crianças estavam quietas e com o medo estampado nos olhos. Esses deveriam ser franceses.

Não fizemos nenhuma parada. Quando cheguei a Lyon o calor fazia-se mais presente, mas notei que havia chovido no lugar. Eu continuei enjoada apesar de desembarcar, pois a fuligem e a fumaça da composição na plataforma fazia meu estômago revirar-se dentro de mim.

Caminhei pra fora da estação e abordei um rapaz pedindo informações sobre um hotel para ficar. Ele gaguejou para responder e só depois fui me ater que o meu uniforme deixou-o bem nervoso. Mesmo assim indicou-me um hotel próximo à estação. Corri pra lá e hospedei-me sob o nome de Helga Schultz.

Essa mulher era um enfermeira alemã enviada a Lyon para trabalhar na prisão de Montluc. Bem, essa seria a história inicial de meu personagem naquela cidade. O hotel era bem simples e isso era fundamental para que eu tivesse êxito, estaria menos vulnerável. Fui para o quarto reservado e permaneci em silêncio com meus pensamentos até anoitecer. As horas mais lentas. Do quarto eu conseguia ver pouco das ruas e quase não havia movimento. Soldados alemães e poucos civis. Eu seria um deles em pouco tempo. Vesti-me para observar as ruas até Montluc - Kristoff havia deixado seu desenho bem feito e não foi difícil decifrá-lo - como era a minha primeira vez na cidade teria que ser cautelosa. E eu fui.

Para minha felicidade, Montluc era próxima à estação de trem e o hotel onde estava. Caminhei pouco, mas o suficiente para observar toda a movimentação de soldados. Era menor que em Paris, mas nem por isso menos perigosa. Recebi olhares de desconfiança, mas segui adiante. O prédio da prisão colocou-se diante de mim como um monstro. Era enorme e meu medo cresceu. Como entraria ali não era o mais difícil. O problema seria estar ali dentro e encontrar Regina e depois sair com ela sem que fôssemos vistas. Emma, pense rápido!

Caminhei por entre as sombras das árvores ao redor de todo o perímetro da prisão. Haviam guardas espalhados por todas as guaritas e sentinelas. Montluc parecia ser intransponível, mas eu não tinha escolha a não ser tentar. Não demorei a voltar para o hotel, assim como em Paris ali também existia o toque de recolher e eu não possuía a vantagem de estar uniformizada para passar despercebida pelas rondas nazistas.

A volta para o hotel foi rápida e quase não vi muitos soldados, para a minha sorte. Eu sentia um frio incomum, sentia medo. Aquela noite eu não poderia ter mais pesadelos, teria que descansar. O dia seria longo e tenso. A primeira tarefa era passar pelos portões. Helga Schultz teria que apresentar-se para seu primeiro dia de trabalho nas instalações. O segundo passo era ficar o mais distante de Elsa e procurar onde Regina estava presa. Depois que conseguisse encontrá-la começaria nosso plano de fuga e eu já tinha um planejado. Desejei ter sorte. Eu não tinha escolha a não ser tentar. Desejei uma noite tranquila. E tive.


Notas Finais


Emma vai conseguir?!

Até o próximo!


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