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História La Guerre pour toi - Helga Schultz


Escrita por: Elis_Giuliacci

Notas do Autor


Antes de qualquer coisa, leiam com bastante atenção, por favor!
Não é um capítulo fácil de digerir!

Eu aviso desde o início que essa fic tenta ser o mais realista possível, então estejam preparadas! =O

Boa leitura!

Capítulo 21 - Helga Schultz


Quando coloquei-me de pé o sol ainda dormia. Eram quatro da manhã. Olhei pela janela e tudo tão quieto dava um ar de perigo pelas ruas que eu conseguia ver dali. Estava nervosa, mas confiante que daria tudo certo se eu fosse cautelosa e rápida. Mentalmente fui passando tudo o que deveria fazer. Retirei da mochila o que precisaria para que meu disfarce fosse convincente. O uniforme, as maquiagens, uma peruca, a identidade e a identificação de serviço nazista.

Minha pele precisava ficar mais escura e minha aparência mais velha. Com o pó certo, um lápis preto bem fraco colocava-me rugas nos cantos dos olhos e não poderia usar um batom muito forte - Helga era uma senhora comprometida com seu trabalho e muito séria. Eu prometi que não colocaria mais aquilo na boca, mas agora a ocasião exigia - uma prótese com dentes amarelados - além de ter um gosto horrível, minha articulação ficava limitada, mas seria necessário. Fiquei na dúvida se uma peruca poderia ser muito artificial e descartei no momento em que a coloquei e olhei no espelho. Não, Emma, isso está estranho demais. O certo seria um coque baixo para que o pequeno chapéu que compunha o uniforme coubesse na minha cabeça. Vesti-me. Um vestido branco até os joelhos com a cruz vermelha no peito e a suástica nos braços. Meias e saltos. Perfume? Acredito que não deva usar. Uma pequena bolsa branca onde levaria meus documentos falsos. Nas meias finas coloquei uma cinta de cada lado para que minhas pistolas ficassem bem presas e fáceis ao meu alcance. Por último os óculos de armação preta com grandes lentes que deixariam meu rosto um pouco mais encoberto para auxiliar a maquiagem. Conferi item por item e verifiquei as armas.

Eu estava pronta para entrar em Montluc.

Desci as escadas do hotel com cuidado. Pela hora ainda não havia movimento de hóspedes. Apenas o recepcionista na parte da frente. Procurei alguma saída alternativa e apenas uma que passava pela cozinha. Eu teria que arriscar ser pega ali, mas não poderia ser vista pelo rapaz da recepção. Já tinha comigo a mochila com o restante dos meus pertences - essa ficaria escondida fora de Montluc para que eu pagasse depois, mas não me importaria ficar sem aquilo, era apenas meu uniforme e meus documentos verdadeiros. Provavelmente eu sairia daquele lugar levando Regina e poderia não ser mais bem vinda ao exército alemão. Mas isso eu pensaria mais tarde, agora só o que eu levava na mente era entrar, reconhecer o local, procurar por Regina e tirá-la de lá. Como? Na noite anterior, eu vi que a prisão tinha três entradas e uma delas menos vigiada, era por onde caminhões e carros entravam levando os prisioneiros e, portanto, se conhecia bem meus compatriotas, era também por onde levavam os cadáveres para serem incinerados ou jogados nas covas que outros prisioneiros abriam.

Quando passei pela cozinha do hotel, uma camareira passou por mim e desejou-me bom dia. Era tudo o que precisava - um dia bom e favorável! Pensei que seria mais difícil, mas cheguei à porta da cozinha que dava para os fundos do lugar em menos tempo e sem ser vista por todos os funcionários. Depois da camareira, apenas o garoto da copa me viu e, da mesma forma, desejou-me um excelente dia mesmo estranhando minhas roupas - olhou-me de cima a baixo, mas continuou seus afazeres.

Eu já sabia de antemão que alguns profissionais que trabalhavam nessas prisões não moravam necessariamente dentro delas. Elsa vivia ali e disso eu tinha certeza. Se a minha experiência em Frankfurt pudesse valer ali, então, por volta das seis da manhã algumas pessoas começariam a chegar ao portão secundário, não o de veículos, mas um outro lateral por onde passariam para mais um dia de trabalho. Enfermeiras, soldados e até alguns médicos - não descartei que Elsa poderia ter levado parte de seu laboratório para lá. Seria uma oportunidade de praticar suas maldades científicas e lembro-me de Kristoff ter dito algo sobre algumas portas trancadas aguardando apenas o acesso da capitã-chefe de Montluc.

Até aquele momento tudo estava acontecendo como eu previa. Quase ninguém nas ruas e a cada metro que me aproximava de Montluc ia vendo alguns carros da Gestapo e soldados. Quando cheguei mais próxima do portão que tentaria passar, vi as pessoas chegando assim como eu. Cumprimentos de bom dia, mas nenhum rosto amistoso. Algumas enfermeiras e dois soldados chegavam na minha frente, então, fizemos uma pequena fila para que o vigilante pudesse conferir os documentos para a entrada na prisão. Cada passo que dava meu coração explodia e cada vez que via aquele soldado observando os papéis e olhando no rosto daquelas pessoas, meu estômago pedia para embrulhar-se dentro de mim. Chegou a minha vez e o vigia logo pediu os documentos. Respirei fundo. Enfiei a mão dentro da pequena bolsa que levava e apanhei os documentos, exibindo-os em seguida. O soldado pegou e conferiu. Em silêncio. Se ele pudesse ouvir saberia que meu coração condenava-me, batia acelerado. O homem olhou-me por duas vezes, parou mais uma vez com os documentos na mão e depois entregou-me apressado dizendo para que eu passasse rápido. Obedeci prontamente.

Eu estava dentro de Montluc.

Parece que meu trabalho em Frankfurt não foi replicado para todas as unidades alemãs. À época em que invadi aquele hospital militar, apresentei meu relatório sugerindo várias modificações na segurança, entre elas, uma lista completa das pessoas que frequentavam diariamente o local. Bem, para a minha sorte isso não foi aplicado em Lyon.

Amanhecia. Segui com as outras pessoas para dentro do prédio principal. Silêncio, exceto pelo barulho das vassouras. O térreo era onde haviam escritórios e demais instalações do exército e passava por limpeza àquela hora da manhã. Ao final de um corredor havia um balcão onde as enfermeiras apanhavam pranchetas e recebiam instruções, era para lá que eu deveria seguir, mas preferi subir uma escada antes que chegasse até lá. Parei e pensei melhor - caso fosse abordada sem nada nas mãos eu não teria como continuar, então, voltei ao balcão da enfermagem. Haviam algumas mulheres ali e uma alemã com cara de poucos amigos pediu meus documentos novamente. Entreguei à ela e aguardei. Ela saiu dali do balcão e minutos depois voltou com um crachá, apanhou uma bandeja com seringas e ampolas e entregou-me tudo.

- Segundo andar. Prepare os prisioneiros para os testes da manhã.

Elsa estava mesmo fazendo experimentos aqui. Tive medo que Regina estivesse entre esses prisioneiros, estaquei na frente daquela mulher olhando para a bandeja e ela foi enérgica comigo.

- O que há? Suba lá e aplique isso em todos eles!

Coloquei o crachá, peguei aquela bandeja, virei nos calcanhares e saí dali depressa indo pela escada que subiria minutos antes. Quando cheguei no segundo andar vi fileiras de portas dos dois lados, mas apenas na metade do grande corredor. Olhei para o alto e vi as grades, lá em cima mais um andar de celas, talvez. Dois soldados se aproximaram e perguntaram o que eu queria. Anunciei a tarefa que deveria fazer. Um deles gritou para uma outra enfermeira, mais jovem, que estava do outro lado do corredor para que ela auxiliasse na tarefa de aplicar os medicamentos nos prisioneiros. O outro esperou que a moça chegasse até nós e acompanhou-nos cela por cela. Eram ao todo dezesseis. Nas dezesseis celas haviam duas pessoas aprisionadas. Não havia janelas, não havia camas, não havia vida dentro de nenhuma das dezesseis celas, apenas pessoas aterrorizadas e torturadas. Eu passei uma a uma. Cada vez que o soldado abria uma porta meu coração gelava. A enfermeira ao meu lado fazia todo o trabalho - ela ignorou que eu tinha o comando daquilo e agradeci por ela ser tão prestativa. Eu apenas segurava a bandeja e dava-lhe os materiais. Ela injetava aquele líquido incolor como se estivesse temperando uma carne qualquer, limpava a área do braço do prisioneiro, encontrava a veia e enfiava a agulha com tanta rapidez que quando percebia ela já estava repondo tudo na bandeja novamente.

- Qual seu nome? - perguntou-me olhando para o meu crachá - ... Helga... É a sua primeira vez aqui? - quis saber quando saímos da sexta cela.

- Sim. Estava em Paris e fui designada para cá. - caminhamos até a porta da sétima cela.

- Acostume-se. Logo irá para o laboratório principal e a capitã Elsa não vai gostar nada dessa sua cara de medo.

- Não estou com medo. - sorri enquanto entrávamos na cela - Você é muito rápida! - dizendo isso olhei para dentro do lugar e vi uma mulher morena. Meu coração acelerou, mesmo eu achando que era impossível ele ir além do que já estava. Era uma mulher de cabelos pretos que estava deitada de costas para a porta. Tremi e levei a bandeja comigo.

- O que foi?! - perguntou o soldado. Não tive tempo de responder. A enfermeira abaixou-se junto ao corpo daquela mulher e pediu ajuda ao soldado.

- Venha, tire esse corpo daqui. Ela está morta. - quando ela puxou o corpo inerte e virou para que víssemos o rosto, meus olhos arregalaram-se de imediato e por pouco uma lágrima não saltou, mas respirei o mais profundo que pude para depois liberar o ar aliviada. Não era Regina.

A enfermeira continuou o seu trabalho e avançou sobre a outra mulher que estava mais ao fundo da cela encostada na parede. Eu a segui, ela terminou seu serviço e continuamos pelo corredor. Não pude ver com certeza, mas os soldados que retiraram aquele corpo o levaram para baixo, mas não pela direção que eu subi. Eles seguiram o corredor para descer pelo outro lado, então, pude concluir que para chegar aos fundos do prédio eu deveria seguir por lá também.

Ao final das celas a enfermeira voltou-se para mim com um sorriso estranho. Satisfação. Exibiu a bandeja e apontou as ampolas vazias.

- Rápidas e eficientes!... - eu concordei automaticamente sorrindo como ela - Agora precisamos passar no laboratório para checar todos os equipamentos antes que a capitã suba! - aquela informação era preciosa, Elsa ficava no térreo, mas onde? Eu não precisei andar muito para que meu ânimo caísse por terra. Quando passamos o primeiro corredor eu percebi que havia mais outro como aquele ainda com mais celas. Segui aquela mulher e ia ouvindo o choro abafado vindo de cada porta.

- Quantos mais estão aqui? Não parecem apenas dois como no outro corredor.

- Você é nova aqui, não é? Estamos mesmo precisando de mais gente... Essa ala do segundo andar é das cobaias de congelamento, altura e pressão... Acredite, em cada cubículo desses podem haver uns cinco ou seis deles. - eu vi o tom de prazer na fala daquela mulher e ele parecia conhecido. Era o mesmo tom de prazer na voz de Hook quando referia-se aos judeus.

Cruzamos o segundo corredor indo parar num terceiro e a cada passo minha esperança em encontrar Regina de forma rápida ia sendo deixada para trás. Eu demoraria muito tempo para saber em que cela estaria. Olhava para o alto de vez em quando e a mulher à minha frente percebeu.

- Não se preocupe com o terceiro andar. - estranhei a calma dela ao falar seguida de um riso irônico.

- Por que? Não há prisioneiros lá em cima?

A enfermeira parou e olhou-me de frente de modo estranho, como se desconfiasse que não era para eu estar ali.

- Em que mundo você está, Helga? - apontou para o alto - Ali estão os presos mais valiosos!... - eu inclinei a cabeça como se não tivesse entendido, mas eu compreendia perfeitamente, só aguardei sua confirmação. Ela virou e continuou caminhando e eu a seguia - ... Ali em cima estão os prisioneiros da resistência francesa, minha cara... E estes são tratados diretamente pela capitã Elsa!

Uma coisa positiva naquelas informações obscuras - Regina não estava em nenhuma daquelas celas de cobaias. Palavra macabra, pois tratava-se de pessoas. Eu não tinha o que questionar, segui a enfermeira para o final da terceira ala do segundo andar que, pelo que pude ver, não tinha tantas celas, mas tinha outra coisa que deixou-me apreensiva - o laboratório principal de Elsa ficava ali mesmo naquele andar, bem perto de seus prisioneiros. Haviam três guardas próximos e um homem vestido de branco abriu a porta assim que nos viu chegar. Eu estava mentalizando e contabilizando o número de vigilantes e quem mais trabalhava ali, precisava da exatidão nesses detalhes ou não conseguiria resgatar Regina e talvez nem mesmo sair com vida dali.

Não entramos. Ao contrário, recebemos ordens para aguardar ali. Ficamos de pé ao lado da porta por uns dez minutos até que outras três enfermeiras apareceram e colocaram-se assim como nós duas. Ouvi longe um barulho acelerado de saltos juntamente com botas ecoando por algum lugar que encaminhava-se para onde estávamos. Prendi a respiração. Não precisava esperar para saber quem estava chegando. Logo Elsa apareceu no lance de escada frente para nós e subiu com mais dois soldados. Ela não deu muita importância para qualquer um que estivesse parado ali, sua arrogância seria um ponto a meu favor, sendo um mera enfermeira não olharia diretamente para mim e eu teria que estar sempre de cabeça baixa se ela estivesse por perto.

Elsa passou pelas portas e tivemos nossa ordem para entrar atrás dela. A sala era grande e toda iluminada com mesas cirúrgicas, gaiolas grandes e cadeiras todas cheias de fios. Era um cenário de horror. Mary Shelley não teria tanta imaginação para acompanhar aquela mente doentia. O seu Frankestein não teria impacto nenhum caso Elsa começasse a relatar suas façanhas manuseando todo aquele equipamento.

- Está tudo pronto para os testes?

- Sim, senhora. - respondeu o soldado que nos acompanhou durante a aplicação das injeções. Um pouco mais afastada percebi Elsa olhar seu relógio de bolso e sorrir.

- Podem trazer os quatro primeiros, pelo tempo já estão preparados. - virou-se para nós, as enfermeiras e deu a ordem - Preparem as mesas, quero meu jaleco e minhas luvas. Caminhou até um armário e retirou o quepe. Cumprimos as ordens, ou melhor, as enfermeiras iam executando o serviço e eu acompanhava observando o que faziam. Colocar lençol, preparar mesa auxiliar com bandejas de ferramentas - bisturis, tesouras, pinças de todos os tamanhos, seringas, agulhas e mais ampolas com líquidos de diferentes cores. Tão logo terminamos de preparar duas mesas, Elsa também já vestia seu jaleco, usava um avental que cobria-lhe até as canelas e luvas grossas azuis que iam até os cotovelos.

- Onde os colocamos, capitã? - um soldado estava na porta do laboratório, os prisioneiros haviam chegado. Um a um eles foram sendo levados para dentro daquela grande sala. Usavam roupas cinzas, cabeças baixas e aparência cadavérica - Elsa já havia feito algo com eles, agora seria outra etapa da mesma loucura.

- Aqueles dois nas cadeiras e estes dois nas mesas. - ela ia mestrando toda a movimentação da sala enquanto nós ficávamos em silêncio apenas observando os soldados disporem os homens da forma que ela mandava. Em seguida, dirigiu-se à enfermeira que estava comigo o tempo todo - Você fica e preciso de mais uma... - ela passou lentamente na nossa frente e observou cada uma de nós, mas sempre nos mantínhamos de cabeça baixa. Voltou mais uma vez olhando insistentemente para cada uma e as duas vezes que passou por mim, senti um calafrio subir pela espinha, caso ela me reconhecesse eu estaria perdida por completo. De repente Elsa ficou parada e em silêncio. Uma eternidade. Batia o pé no chão - Há quanto tempo está aqui? - perguntou para a enfermeira mais próxima dela, que estava ao meu lado.

- Cheguei com o restante da sua equipe direto de Berlim, senhora. - a capitã suspirou.

- Você também fica. Todas as outras estão dispensadas.

Eu suspirei em pensamento. Senti um alívio intenso por não ser escolhida. O homem que usava branco entrou rapidamente e antes que nós saíssemos. Assim que nos afastamos dali a porta fechou-se. Eu não quis imaginar o que poderia acontecer lá dentro. A escada que levaria ao terceiro andar estava há pouco metros de mim e a vontade era seguir para lá naquele momento, mas um soldado postou-se à nossa frente e mandou que descêssemos para aguardar novas ordens. Obedecemos.

Fiquei o restante da manhã na sala da enfermagem. Abastecendo armários e organizando equipamentos. Porém, não foi uma manha perdida. Aquelas mulheres conversavam entre si enquanto não haviam oficiais por perto e o que elas diziam era muito valioso para mim. Os prisioneiros da resistência francesa que foram trazidos para Montluc eram prováveis suspeitos de saber o esconderijo do tal Jean Moulin, o braço direito de Charles de Gaulle, líder do movimento. O objetivo seria tirar deles as informações necessárias para apanhar Moulin e encaminhá-lo para Lyon. Seria outra vítima de Elsa.

- Existem muitos deles? - meu ar de ingenuidade poderia irritar algumas daquelas mulheres, mas outras estavam prontas a responder.

- Não. Um dos guardas disse ontem que existem apenas dez prisioneiros no terceiro andar. Parece que virão mais a partir de amanhã.

- E vocês sabem quem são os prisioneiros que estão lá em cima? - minha prótese dentária estava machucando e senti que poderia babar a qualquer momento. Desagradável.

- Helga, você pergunta demais! Nosso trabalho aqui é auxiliar a capitã Elsa.

- Ouvi boatos sobre esses prisioneiros... - sorri enquanto lavava alguns utensílios - ... Eu sou muito curiosa, desculpe... - fingi constrangimento diante da mulher que estava trabalhando ao meu lado, mas ela foi adiante com suas histórias.

- Não há problema, Helga... Todas aqui sabemos de alguma coisa. Ouvimos aqui, vemos ali, mas precisamos manter distância de problemas ou a capitã manda nos fuzilar. - arregalei os olhos e ajeitei os óculos - Não se assuste! Ela não nos fará mal se não formos indiscretas! - concordei acenando a cabeça e continuei meu trabalho, mas não sem antes uma última pergunta.

- São só homens lá em cima? - ela não respondeu, mas parou seu trabalho e fitou-me demoradamente.

- Helga, você sabe de alguma coisa além do que contei, não é?

- Ouvi muito a respeito das mulheres da resistência em Paris. Disseram que atiram e matam como homens!

- Sim!... Eu também soube disso... - ela continuou guardando pequenas caixas em um armário virada de costas para mim - ... Há dois dias chegou uma mulher... Ela foi levada direto lá para cima, mas nenhuma de nós teve contato com ela, apenas Gerda, a enfermeira que atende na ala das salas de tortura...

Outro hiato de silêncio, mas eu mantive firmeza na voz para ir adiante.

- E onde ficam essas salas de tortura?

- Você esteve perto delas. É no segundo andar seguindo o laboratório... Todas as vezes que a capitã está por lá a luz fica mais fraca... - ela sorriu e deixou-me sozinha levando pacotes de seringas nas mãos.

Apoiei-me na pia e respirei fundo. Fechei os olhos. Minha tensão estava quase estourando meus nervos, mas eu não poderia perecer. Tinha que juntar todas as minhas forças para chegar até o terceiro andar e encontrar a cela de Regina. A única mulher que estava presa lá era ela.

Chegou a hora do almoço e nos dirigimos para o refeitório. Recebemos bandejas com salsichas e sopa de batatas. Tudo muito mal cozido e sem tempero. Não consegui comer muito daquilo e o que viria depois me faria vomitar se tivesse comido. Assim que terminamos o almoço recebemos ordens para levar a comida dos prisioneiros. contornamos o nosso refeitório e chegamos a uma sala menor onde haviam caixas amontoadas e bandejas menores que as nossas. Dentro das caixas pedaços de pão e estavam todos mofados, cheiravam forte. Distribuímos tudo nas bandejas e colocamos em pequenas prateleiras de rodas para subir até o segundo e terceiro andar. Ao ouvir que estaria no terceiro andar, meu coração acelerou novamente. Seria a oportunidade única de descobrir qual era a cela de Regina e, com sorte, poder vê-la. Mas eu tentei mentalizar a reação mais fria possível, não sabia qual a minha atitude ao ver a francesa naquela situação. Qual situação? Eu não sabia como ela estava, só os comentários de uma enfermeira que gostava de comentar tudo o quanto podia.

Assim saímos dali subindo rampas com as prateleiras cheias de bandejas com pães estragados. O cheiro já estava me deixando enjoada. E para aumentar o mau estar, um soldado pegou a prateleira que eu levava e conduziu-me para o segundo andar. Vi uma enfermeira subir a rampa de acesso ao terceiro andar e cada vez mais distante de mim vi a chance de encontrar Regina escapando por entre meus dedos.

Aquele homem foi acompanhando meus passos até que eu cheguei no limite do que conhecia do segundo andar - parei na frente do laboratório de Elsa. Ele olhou-me direto nos olhos e apontou para frente - a ala das salas de tortura que aquela mulher havia dito. Por que? Haviam mais prisioneiros ali? Não havia outra enfermeira comigo. Éramos apenas eu e aquele guarda mal encarado. Empurrei a prateleira e segui em frente, andando devagar e observando tudo à minha volta. Não havia muito o que ver, só o corredor e portas fechadas. Poucas portas. Ele foi até uma delas, abriu e esperou que eu chegasse até ele.

- Deixe aí e entre. - referia-se à prateleira. Obedeci, mas com o coração aos pulos. Caminhei lentamente até a entrada e olhei para dentro da sala. Uma cadeira elétrica, mesas com ferramentas de tortura e uma outra cadeira ao fundo. Senti a mão do soldado apertar meu braço e seu corpo colar no meu jogando-se para dentro da sala. Empurrou-me até fazer com que eu me sentasse na cadeira de tortura. Eu tentei revidar, mas pegou-me de surpresa, tudo muito rápido. Segurou-me os braços com força.

- Por que está fazendo isso? O que está acontecendo? - ao mesmo tempo que eu queria gritar, não poderia. Atrair a atenção para aquela sala seria pior. Ele amarrou meus braços usando o peso de seu corpo para prender-me.

- Calma, minha querida... Fique tranquila.

Meu corpo inteiro estremeceu e eu cedi à brutalidade daquele soldado deixando que ele terminasse de amarrar as fivelas dos braços da cadeira. Não por minha vontade, mas pelo medo ao ouvir a voz de Elsa. Ela entrou na sala e parou ao lado da cadeira enquanto o guarda ainda me prendia.

- O que está acontecendo? - insisti na pergunta, mas percebi que era tarde demais para qualquer resposta.

- Pensou que poderia me enganar? - ela tinha uma seringa na mão e ainda usava luvas - Eu não sabia dessa sua particularidade, Helga Schultz... - observou meu crachá e riu - alto e preparou a seringa verificando a agulha - ... Quando entrou no laboratório eu não notei que era novata aqui, mas a desconfiança veio quando observei seus olhos verdes... - ela caminhava de um lado para o outro - Depois que terminei os procedimentos fui até o escritório da vigilância e pedi a listagem de quem entrou no prédio essa manhã e a única pessoa diferente de todos os dias era você, Helga!... - retirou meus óculos e levantou meu queixo aproximando seu rosto bem perto do meu - ... Que dentes estranhos são esses? - colocou a seringa entre os dentes, com uma mão segurou meu rosto apertando as bochechas até que conseguiu retirar a minha prótese jogando-a no chão. Pegou novamente a seringa - Sabe, Helga, eu passei um tempo em Paris e encontrei uma velha amiga. Ela tentou se afastar de mim há muitos anos, mas ainda assim ela gosta de estar por perto... - foi até o fundo da sala e pegou a cadeira que estava lá - ... Eu não esperava que nosso último encontro acabasse como terminou. Essa minha velha amiga deixou-me presa numa cama e não deu mais notícias... - sentou-se na minha frente - ... Diga-me, Helga, o que eu deveria fazer com essa minha amiga?

- Acabe com ela! - eu soltei aquelas palavras com o peso da toda a raiva que sentia naquele instante. Elsa havia descoberto que invadi Montluc. Eu não tinha outra alternativa. Que ela acabasse logo com aquilo tudo e acabasse comigo, pois sabia que em seguida ela teria prazer em matar Regina. Mas, a capitã ficou parada olhando para mim de forma estranha. Olhou para a seringa e suspirou voltando-se a mim novamente.

- Ah, Emma... Por que fez isso?... Poderíamos ter sido felizes juntas!

- Eu tenho nojo de você, Elsa! - gritei com todas as forças que sobraram. Acabou.

Lentamente, Elsa foi segurando meu braço esquerdo e procurando uma veia para aplicar o líquido da seringa. Eu só pude desejar que a morte fosse rápida. Senti a ponta da agulha penetrando na pele.

- Emma, Emma... Eu não vou matar você!... Tenho uma ideia melhor, mas preciso que fique calma... - quando terminou de dizer aquilo ela puxou a agulha de uma vez e vi uma gotícula de sangue brotar no meu braço.

Elsa recostou-se na cadeira e esperou. Não demorou muito para que eu me sentisse sonolenta e fraca. A visão foi escurecendo e tudo ao meu redor girou.

Eu fui pega em Montluc.


Notas Finais


Eu não sei quando volto com o próximo... =P
Bjusss

Até mais!!!


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