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História La Guerre pour toi - Em Paris


Escrita por: Elis_Giuliacci

Notas do Autor


Emma narra a maior parte do capítulo.
Regina narra uma pequena parte enquanto Emma sai de Lyon e volta a Paris.

Estamos na reta final, amores! Mais dois e encerramos a história!

Boa leitura!

Capítulo 38 - Em Paris


Convencer tia Ingrid a estar em Montluc mais uma única e última vez não foi fácil. Ela tentou à todo custo impedir que eu cometesse o erro de me igualar à Elsa no caráter. Eu pouco me importava com aquilo, não era o momento de colocar a cabeça no lugar. Era hora de me vingar e eu faria isso mesmo que tivesse que passar por cima de minha tia. Porém, não foi necessário chegar a esse ponto. A coronel tinha seus argumentos e eu tinha os meus.

- Eu não vou levá-la de volta a Montluc, Emma! Isso está fora de cogitação!

- Tia Ingrid, a única coisa que preciso é ficar frente a frente com Elsa.

- Para quê?! Ela será julgada em Berlim. Chega, Emma! Acabou!... Volte para Paris ou para a Espanha, faça o que quiser, mas eu não vou colocar você naquele carro e deixá-la fazer qualquer besteira que possa arrepender-se depois.

- Quem está interrogando Moulin?

Os olhos de tia Ingrid arregalaram-se sobre mim e senti um pouco de medo de sua reação.

- Você não tem o direito de começar essa conversa!

- Como não? - indaguei no mesmo tom ameaçador - Você assumiu o controle da prisão e é provável que esteja continuando as pesquisas que são feitas lá...

- Emma, não vá adiante... - ela começou a ficar agitada e esfregava as mãos impacientemente.

- Você não é muito diferente de Elsa, tia. Veio para vigiá-la, mas sei bem que suas práticas são bem parecidas e não tente negar isso!

- E o que isso tem a ver com a minha permissão em deixá-la entrar em Montluc para confrontar Elsa?

- O que acha que vai acontecer conosco se essa guerra terminar e Hitler for derrotado, tia? - olhei diretamente para ela - Sofreremos as consequências das nossas ações e eu não vejo muita complacência por parte dos aliados. - calei-me por um segundo e esperei, mas ela não abriu a boca - ... Encaminhar Elsa para Berlim só fará atrasar sua punição e talvez ela nem tenha isso. A senhora sim.

- Ela será levada a julgamento por recomendações minhas ou você duvida que tenho poder suficiente?

- A senhora tem poder, tia, não estou dizendo que não tem, mas as circunstâncias para o eixo já não estão tão favoráveis. O que vai acontecer se Hitler cair? Será condenada assim como eu, meu pai e qualquer outro de nós que tenha se envolvido nesse genocídio! - ela baixou os olhos.

- Ainda não compreendi onde você quer chegar, Emma.

- Quero mostrar à você que não faz diferença se temos caráter ou não. Seremos colocados todos no mesmo pacote na hora da punição e eu não vou sentar num banco de réus ao lado de Elsa! Eu não sou como ela!

- E por isso mesmo não precisa matá-la, Emma! - ela levantou-se gritando e caminhou em minha direção - ... Eu sei que você quer acabar com Elsa de uma forma bem penosa para que sinta o que você e aquela francesa passaram nas mãos dela.

Encarei minha tia com firmeza e segurei as lágrimas tentando não me recordar daquela noite.

- Sim. Eu quero isso e você não vai me negar, tia!... Elsa foi responsável pelos meus piores pesadelos durante a vida inteira e eu não vou deixar com que um bando de estrangeiros faça o serviço que eu mesma posso fazer!

Ela recuou. Suspirou mostrando-se cansada, talvez pensasse se eu tinha ou não razão nas minhas palavras. Assumir que gostaria de executar uma compatriota não foi uma coisa que eu me orgulhasse, mas eu não via outra alternativa a não ser expor todas as cartas para tia Ingrid.

- Eu já não sei mais o que pensar...

- Você tem mais com o que se ocupar... Jean Moulin está sob sua custódia.

- Não mais, Emma. Ele foi transferido para Paris. - ela olhou-me e sorriu - Depois da confusão que você causou, acha mesmo que seu pai deixaria um prisioneiro valioso ficar aqui?

Então tia Ingrid contou-me sobre os acontecimentos que eu não sabia. Montluc foi considerada ineficiente e tão logo seus prisioneiros tomassem rumo certo para nossos campos de trabalho a prisão seria fechada até a segunda ordem. Portanto, Elsa estava mais próxima de Berlim e mais distante de mim. Além disso, haviam rumores de uma possível grande invasão contra nossos exércitos no território francês, mas minha tia não saberia de mais detalhes, ela estava mais preocupada com o rumo que sua própria carreira tomaria depois que deixasse Lyon. Eu fazia ideia de que nossas armadas estavam enfraquecendo, mas que a situação estava no ponto daqueles relatos eu não tinha o menor conhecimento.

- Então, o que você tem a perder levando-me para dentro da prisão novamente?

- Emma, não recomece!

- Coronel, eu não peço mais do que um curto momento com a mulher que me torturou. - olhei para ela quase que com súplica nos olhos - Você bem sabe as formas de sofrimento que causam em seus prisioneiros. Faz ideia de como Elsa deixou-me depois que terminou o trabalho? - ela deu-me as costas como se não quisesse ouvir e eu fui adiante - A senhora viu como eu estava depois que trocaram minhas roupas e curaram meus ferimentos... Não viu o sangue, os cortes abertos, os hematomas frescos..

- Não me torture, Emma, por favor!

- Imagina o que minha mãe diria caso me visse da maneira que saí daqui?

- Chega, Emma! - seu grito foi determinante e eu me calei. Estava satisfeita, mesmo que aquilo tudo não desse em nada. Se conhecia bem tia Ingrid, o apelo usando a figura de minha mãe a deixaria abalada - Eu sei que vou me arrepender até o fim dos meus dias por isso, mas a escolha é sua e eu não vou tentar mais nada para impedi-la.

Enfim, eu havia conseguido e confesso que foi mais fácil do que imaginava. Tia Ingrid caminhou em direção ao carro e abriu a porta olhando para mim.

- Se vai cumprir sua missão suicida vai precisar de proteção... - olhou para baixo na busca palavras - ... Continue escondida aqui e não faça mais nada que a coloque em risco ou eu mesma mato você! - agora era a minha tia falando - Assim que chegar o momento certo venho buscá-la para que volte à Paris em segurança.

Eu não esperava por aquilo. E para deixar-me mais nervosa ela não deu tempo para que eu contestasse sua decisão. Voltar à Paris? Eu queria entrar em Montluc de novo! E agora, Emma? Agir por conta própria? Isso deixaria a coronel muito brava e não gostaria de despertar sua ira. Esperar? Eu vi as chances de ver Elsa esvaírem-se por completo, já não era possível pensar em mais nada para que conseguisse chegar perto dela. Provavelmente voltaria a Berlim, seria julgada, sua condenação seria uma pena amena e logo depois da guerra as coisas voltariam ao normal e a capitã continuaria caminhando por aí livremente.

Quantas questões e quanto desespero, Emma! Isso era, de fato, tão importante assim? Vingança. Apenas uma vingança que consumia minhas entranhas de tal forma que já não conseguia respirar profundamente sem que o aperto no peito doesse profundamente imaginando Elsa livre.

Os dias passaram lentamente. Eu ouvia os sons abafados vindo da rua e não eram tão intermitentes, mas deixavam-se com a curiosidade aguçada. Quase perdi as contas de quanto tempo fiquei dentro daquele galpão. Ouvi a chuva cessar, vi raios de sol pelas frestas do telhado velho, senti o cheiro de mofo aumentar ao meu redor com a umidade daquele lugar abandonado.

 

***

 

Dias sem notícias de Emma.

Zelena tentou algum contato com Lyon e até mesmo em Vichy, mas nada. Ninguém tinha novidade alguma sobre Emma. Seu paradeiro era desconhecido e isso causava-me medo. Esse medo crescia a cada dia e as noites já não eram mais tão tranquilas.

Em uma delas acordei assustada. Sentei-me na cama ofegante e logo Zelena acendeu a luz voltando-se para mim preocupada.

- Outro pesadelo?

- Eles não me deixam em paz, Zelena! Enquanto não souber o que aconteceu à Emma eu não vou ficar tranquila...

O casal que receberíamos já havia chegado e dormia no andar debaixo do casarão. Eram dois russos que faziam parte do grupo de espionagem vermelha. Corajosos, mas era hora de parar. Eles disseram isso durante o jantar da noite passada. Já não era seguro arriscar qualquer investida, além do mais as forças da resistência tinham sofrido algumas baixas consideráveis, assim como Jean Moulin, por exemplo. Quando recebemos a notícia de sua morte pensávamos que ele estivesse em Lyon, mas Yuri e Katrina chegaram com a notícia que ele fora levado para Paris sob ordens do general Swan e, quando era transportado para um campo de trabalho, faleceu durante a viagem. Não tínhamos mais detalhes, apenas isso. Charles de Gaulle ainda estava na Inglaterra, estava em segurança e, pelo que nossos hóspedes disseram, as forças aliadas tinham uma nova estratégia para tentar recuperar o território francês, mas tudo sob o maior sigilo e repassado por códigos que nem mesmo a Gestapo poderia decifrar. Segundo eles era uma chance única de derrotar as tropas nazistas dentro do nosso território.

Na manhã que os russos deixaram o casarão o dia estava um pouco mais sombrio. Tomamos café juntos e Zelena ainda tentou amenizar o clima ruim de tensão antes da partida. Eles iriam para o Marrocos e de lá partiriam para Brasil. Katrina estava grávida e isso aumentava a preocupação de seu esposo.

- Pensem que começarão uma nova vida, o bebê nascerá numa terra sem conflitos e logo poderão voltar para a Europa.

- Não sabemos o que vamos encontrar nesse lugar, senhora. - disse Yuri com peso na voz - E além disso, não sabemos até quando estaremos livres dos alemães.

Não havia muito o que prever, isso era fato. Uma terra desconhecida em tempos de conflito que envolvia o mundo todo. Eu não gostaria de estar na pele daqueles dois, mas também pensava em minha própria realidade presa à lembrança de uma alemã á solta na França buscando vingança, amigos perseguidos. Buscando sobreviver e voltar para mim. Eu não vou perdoá-la se não voltar para mim, major Swan! E isso é uma promessa!

Estava tão absorta no paradeiro de Emma que aqueles dias eram como um suspiro. Rapidamente a manhã transformava-se em tarde e logo a noite caía sobre nós. Eu não tinha sossego dentro daquele casarão e quase tirei Zelena de sua serenidade. Ela observava meus passos e meu olhar perdido atravessando as janelas. Yuri e Katrina se foram. O leiteiro trouxe novos papeis, mas nenhum deles continha notícias de Emma. Uma tortura velada que carregou minha constância durante todos aqueles dias. O tempo foi levando meus pensamentos para mais perto da França e a cada dia a vontade de voltar para meu país aumentava. Não poderia compartilhar o desejo com minha irmã ou ela teria um surto e jamais me deixaria colocar os pés na rua. Isso eu já não fazia mesmo, o medo de que reconhecessem meu rosto era constante ou levantasse suspeita sobre o casarão. Aquilo era um quartel general de fuga onde a única comandante, Zelena, levava a rotina com punhos de ferro, portanto, se eu quisesse voltar para Paris ou qualquer que fosse o destino, teria que passar pelo crivo ferrenho dela.

Certa noite eu quis dormir mais cedo. A cabeça estava confusa com tantos pensamentos negativos e vontades perigosas. Voltar à França em busca da minha alemã não era um ato positivo e tampouco longe de qualquer risco, mas eu queria muito. Queira tanto que minha mente já realiza planos para desenvolver e até mesmo uma forma de despistar Zelena eu já havia arquitetado.

Minha irmã estava na sala do piso superior lendo um romance. Ela era muito sensível e tinha um gosto apurado pela leitura. Era O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Brontë. Zelena amava aquela obra e perdia-se nas juras de amor entre Heatcliff e Cathy. Passei um tempo ao seu lado procurando algum sentido nas palavras de Jane Austen. Tinha nas mãos Razão e Sensibilidade, uma obra belíssima, devo admitir, mas não enxergava nada na minha frente a não ser um amontoado de letras ao longo das páginas. Logo a senhora Dashwood e suas filhas deixaram-me bem irritada e lancei o livro sobre o sofá tirando a atenção de Zelena.

- Algum problema? - ela sabia bem o que andava deixando-me agoniada, mas tinha aquele tom irritantemente irônico na voz.

- Jane Austen é balela! - exclamei arrancando uma gargalhada de minha irmã.

- Ora, Regina! Vá dormir! - ela fechou o livro por um instante e olhou-me com carinho - Meu amor, descanse e tente se acalmar.

Bufei. Estava casada de ouvir que eu tinha que me acalmar. Eu não estava calma. Eu não queria ficar calma! Eu só queria Emma. Levantei-me, dei-lhe um beijo no rosto e fui para o quarto. Logo que deitei fitei o brilho da noite na janela e senti por segundos a presença de Emma junto a mim. Quis chorar, mas proibi-me. Tentei dormir, era a única coisa que poderia fazer.

Eu não me lembro o quanto demorei para pegar no sono e nem senti quando Zelena veio para o quarto. Só acordei gritando, assim como todas as outras noites que os pesadelos tomavam conta da minha madrugada, mas dessa vez era uma agonia terrível e as imagens muito nítidas na minha cabeça. Quando dei por mim e, realmente, despertei, minha irmã estava sentada na beirada da cama tentando segurar meus braços. Olhei para ela de repente e agarrei seu corpo na tentativa de que ela me tirasse daquele mundo sombrio em que estava presa minutos antes.

- Regina, querida... Foi só um pesadelo... - ela acariciava meus cabelos tentando embalar-me em seu colo. Eu apenas chorava e tentava contar o que eu tinha visto.

- Foi horrível, Zelena!... Emma estava deitada no chão... Eu chamei por ela, mas ela não se mexia... - olhei para Zelena - ... Ela não se mexia!

- Foi um pesadelo, Regina... - ela foi deitando-me novamente e ficou ao meu lado - ... Não se preocupe. Emma sabe como se defender e nada de ruim vai acontecer à ela. Logo teremos notícias, só precisamos ter paciência...

Meu peito queimava em desespero e por mais que eu tentasse as imagens de Emma caída no chão não desapareciam da minha mente. Zelena continuou ao meu lado na cama, deitou e abraçou-me com carinho. Sentia o calor do seu corpo e mesmo assim eu não consegui relaxar. Algo muito ruim estava acontecendo e precisa de notícias de Emma, agora mais de nunca.

 

***

 

Viajar no meio de galinhas. Lembrei novamente de Neal, mas não era ele ao volante dessa vez. O cheiro estava insuportável na traseira da caminhonete, mas eu não tinha escolha- lá na frente havia uma família inteira de franceses que deixaram-me ir com eles em troca do meu relógio. Enfim, barganhas de guerra, eu não poderia esperar mais para voltar à capital francesa e atrasar mais a sorte de meus amigos, principalmente de Henry que era a minha preocupação maior.

Cheguei a Paris tarde da noite e a ronda dos alemães já tinha acontecido após o toque de recolher. A caminhonete deixou-me próxima de onde morei, bem no centro da cidade. Agradeci àquela família assustada. Eles estavam com medo que eu fosse descoberta e que acabassem mortos por isso, ao contrário o caminho foi tranquilo e à noite não correríamos o risco de sermos pegos em flagrante.

Tão logo a caminhonete se foi, esgueirei-me por becos e ruas bem escuras tentando fazer o mínimo de barulho, mas a cidade não dava a menor importância. Parecia uma cidade fantasma. Lyon tinha o mesmo aspecto, mas Paris era mais assustadora pela imponência de sua arquitetura que agora estava ofuscada pela guerra.

O Rei Sol estava no mesmo lugar em que o deixara, sobre seu cavalo com a postura arrogante e olhando para quem invadisse seu território na praça. Ao seu redor os súditos adormecidos esperavam que a guerra acabasse. E eu mais do que eles próprios.

Tateando paredes com todo cuidado consegui entrar em meu antigo prédio pelos fundos. Escuridão apenas. Acredito que já passava das três da manhã quando comecei a subir pelas escadas do prédio tentando fazer o mínimo de barulho, mas as madeiras rangiam e cada vez que isso acontecia minha respiração pesava e meus movimentos ficavam mais endurecidos. Eu não poderia prever quem estaria ali, morando ou espreitando, a qualquer momento uma daquelas portas se abriria e eu estaria perdida.

Quando cheguei no meu andar retirei a lanterna da pequena mochila que levava e caminhei vagarosamente pelo corredor em direção à porta do meu antigo apartamento. Eu estava com muito medo, isso não poderia negar para mim mesma, mas havia outra coisa dentro de mim que me levava adiante - a vontade de ver os olhos brilhantes de Henry mais uma vez.

Abri a porta sem muita dificuldade e a escuridão do apartamento deixou-me mais aflita. Silêncio e escuridão. Nada mais. Ouvia minha própria respiração e senti meu corpo estremecer a cada passo que dava em direção ao meu quarto. A lanterna titubeava na minha mão e assim que parei na porta do quarto fui levantando o foco de luz em direção ao forro onde o garoto estava.

A lanterna foi ao chão.

Tapei a boca e minha agonia fez com que minhas pernas não respondessem, fui deslizando pelo portal.

O forro estava cravado de balas e havia pequenas manchas de sangue num canto.

Minhas lágrimas desciam enquanto eu tateava o chão em busca da lanterna. Ao pegá-la percebi o quão descontrolada eu estava. As mãos tremiam e o suor começava a brotar na minha fronte.

- Henry... - a voz engasgada e baixa - ... Henry?!... chamei o garoto de novo, mas nenhuma resposta. Dei mais dois passos e fiquei bem embaixo do canto do forro onde estavam os buracos de bala e as manchas de sangue. Tentando manter o foco da lanterna firme, mas em vão, eu não conseguia parar de tremer e chorar.  Procurei pela abertura do lugar e não estava fechada. Alguém havia invadido meu apartamento.

Eu não consigo lembrar o momento exato, as imagens ainda ficam confusas na minha cabeça, mas depois que conferi que a abertura do forro não estava no lugar a luz se acendeu e meu coração disparou de uma tal maneira que a lanterna caiu novamente e só tive tempo de levar as mãos no coldre e sacar a minha pistola.

- Há quanto tempo, Emma!

A figura grotesca do major Hook veio como uma onda de perversidade e o som de voz parecia as próprias trombetas do inferno anunciando um apocalipse maior que a guerra. Ele apontava sua arma para mim parado na porta observando-me atentamente com aquele sorriso irônico nos lábios.

- O que fez com o garoto?

- Veja você mesma, querida! - apontou o teto - Eu estava em missão pela vizinhança e resolvi visitar sua casa... Eu fiquei muito satisfeito quando percebi essa portinhola aberta e um barulho oco por dentro do forro... - ele riu - ... Não pensei duas vezes... - fez um gesto com sua própria arma apontada para cima.

- Você é um animal!... - eu não conseguia conter minhas lágrimas e ele ria cada vez mais.

- Calma, Emma, ele não sofreu... Nem gemeu para ser sincero...

Novamente minha mente me trai ao contar essa parte da história. Não sei se a adrenalina ou o ódio ou a fúria, não sei ao certo dizer o que tomava conta de mim naquele momento, mas o certo é que foi tudo tão rápido que não pensei, não planejei. Só me atirei sobre ele e a sua arma.

Tão rapidamente tomei fôlego e lancei-me sobre o corpo do major Hook. Ele não esperava por aquilo e até tentou atirar, mas a sua arma falhou. Sorte minha. Caí sobre ele e tentei imobilizá-lo. Nessa hora odiei meus dias de ócio em Lyon, estava fraca e lenta. Ele segurou-me pelo pescoço com uma das mãos enquanto a outra tentava engatilhar a arma. A minha pistola tinha caído na hora do salto e eu nem fazia ideia de onde poderia estar, eu só conseguia manter-me firme para que ele não me enforcasse.

Eu estava mesmo bem destreinada para uma luta corpo a corpo, ainda mais com um homem do porte do major. Ele era bem forte. Tentava apertar meu pescoço e eu tentava tirar sua mão dali. Com a outra mão eu consegui imobilizar sua arma, mas não por muito tempo, estava ficando sem ar e cada vez mais sem forças. Ele veio com o cano da pistola em direção ao meu rosto e eu segui seu movimento segurando-a do lado contrário. Senti o calor do meu rosto e o ar faltava a cada movimento. Fixei toda a força que me restava na tentativa de baixar a arma do major. Aos poucos senti que ele cedia, mas ainda assim possuía mais força.

Meu antebraço foi parar na sua garganta e isso me deu uma vantagem. Ele sentiu o ar faltar assim como eu, mas sua mão apertava meu pescoço com mais força. Quando consegui agarrar o cano da arma com mais firmeza colocamo-nos num embate de forças que o silêncio retornou ao quarto e nem mesmo a dificuldade de respirar poderia quebrá-lo tamanha concentração e desespero.

Debrucei-me mais e joguei todo o peso do meu corpo sobre Hook quando, enfim, a arma saiu do rumo da minha cabeça.

Mais alguns segundos.

Um estampido abafado.

Ele arregalou os olhos para mim e não disse nada. Eu olhei para ele na mesma intensidade de antes, meu ódio era o mestre naquele momento. Aos poucos um sorriso torto brotou no canto dos lábios de Hook e um filete de sangue minou da sua boca.

Puxei o ar com desespero, mas nem assim ousei sair de cima dele. Até que senti seus membros afrouxarem e sua mão deixar meu pescoço livre.

Fui saindo de cima do corpo do major bem devagar. Ele tossiu e mais sangue desceu pelo seu rosto. O tiro acertara seu peito.

- Muito bem, Swan... - ele riu com dificuldade. Levantei-me e joguei a arma no chão - ... Para onde vai agora?

- Buscar por outras pessoas que você não conseguiu matar... - olhei ao redor e novamente para o alto lamentando a morte de Henry. Eu não subiria ali para conferir nada. Não queria ver nada do que estava além daquele forro. Olhei de novo para Hook e ele ainda arfava tentando levantar-se. Coloquei o pé no seu peito bem em cima do ferimento e ele urrou. Olhei seus olhos fecharem bem devagar e sua respiração cessar.

- Que o demônio receba sua alma... - sussurrei enquanto via o corpo dele ficar imóvel.

Senti prazer, não posso negar.

Procurei minha própria arma e recoloquei no coldre. Fui saindo dali sem apagar a luz nem remexer em qualquer outra coisa. Caminhei em direção à porta de saída.

Outro estampido.

Senti uma dor aguda nas costas como uma picada. Logo um líquido quente desceu pelas minhas pernas.

- Eu vou para o inferno, Swan... Mas você vai comigo.

Ele não estava morto.

Conseguiu mirar e mesmo morrendo atirou em mim.

A dor que sentia era lancinante. Revirei os olhos, gemi, chorei. Alcancei o corredor do prédio com dificuldade e foi ali que notei que não tinha moradores como antes. Estava mais abandonado do que eu mesma estava naquele momento. Arrastei-me pelo corredor e foi assim, arrastando-me com mais dificuldade a cada lance de escada, tentei chegar até a rua. Precisava encontrar alguém, qualquer pessoa, qualquer ser vivente que pudesse me ajudar. Nada.

Meu uniforme estava empapado de sangue e minhas pernas estavam travando.

Mesmo assim arrastei-me para fora do prédio deixando para trás um rastro vermelho pavoroso.

A última imagem que me recordo?

O Rei Sol olhando para mim do alto do seu cavalo.


Notas Finais


Vejo vocês no capítulo 39, penúltimo, enfim! Bjusss


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