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História La Guerre pour toi - La guerre pour toi


Escrita por: Elis_Giuliacci

Notas do Autor


Enfim, chegamos ao fim da guera, amores!
O capítulo leva o nome da fic, que já é uma característica dos meus textos e também é "versão estendida"! =)

Primeiro algumas considerações, por favor!
Agradeço a cada uma que comentou e deu seus pareceres e suas impressões!

Larissa e HeraHorn (Cacau)
Meninas, minha gratidão sincera e amorosa a cada uma de vocês em especial. Larissa por estar sempre presente pelo WPP. Cacau por empolgar-se com a trama e correr pra me dizer!

A tantas e todas as outras leitoras que acompanharam cada capítulo. Sofreram junto com Emma e Regina, choraram e riram junto com elas. OBRIGADA por sempre estarem por aqui e acompanharem meus devaneios malucos!

La guerre pour toi tomou uma proporção grande e uma importância de informar e problematizar além de apenas divertir. Acredito que entenderam meus recados e minhas sutilezas quase borradas no meio do texto! =D
Agradeço a paciência em esperar att ou o desespero de capítulo diários sem pausa pra respirar!

Vejo vocês mais um pouco nas Notas Finais
Não vou prolongar aqui, então...

Boa leitura!!!

Capítulo 40 - La guerre pour toi


O Dia D, 6 de junho de 1944, foi a data em que ocorreu o desembarque das tropas aliadas na Normandia (noroeste da França). Este dia é considerado por muitos historiadores como o mais importante da Segunda Guerra Mundial. Foi decisivo na vitória dos aliados contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O nome oficial deste plano militar era Operação Overlord.    

 

Eu nem atentei-me para o fato de que ainda estava na zona livre francesa e assim não teria tantos problemas em sair por aí à noite sem que fosse parada por alemães ou pela própria polícia do meu país. Na verdade eu dirigia, mas sem ver muito o que vinha à frente. Eu queria chegar em casa, apenas isso. Casa... Agora soava estranha uma palavra tão familiar e, por conseguinte, família não era mais algo seguro e confortável naquela circunstância. Meus pais se foram, Henry e Emma. Sobrara-me Zelena e eu também não poderia perdê-la, melhor mesmo não estar comigo ou correria esse risco.

Quando fui aproximando-me da região de Bourges comecei a notar mais luzes do que o normal e vi que as casas ao longe estavam bem movimentadas e isso não era um bom sinal para mim. Continuava fixada na estrada, uma escuridão adiante com apenas os farois que pouco davam-me visão do que estaria por vir. Acelerei ao passar ao lado da cidade e tentei não pensar que poderia haver alguma barreira, pois já estava muito próxima da linha que separava a zona livre da zona ocupada pelos nazistas.

Tentei cantar algo para que o tempo corresse mais rápido, porém sem muito sucesso. Qualquer coisa que saísse da minha boca lembrava-me Emma e era o gatilho para que minha lágrimas voltassem a embaçar a visão da estrada.

O caminho até Orleans ficou um tanto mais perigoso. Já podia ver movimentação bélica pelos arredores quando passava por algum vilarejo. Mais cedo ou mais tarde eu seria parada, isso era o mais certo de acontecer. Já podia avistar a região dos Chartres e os jipes foram se fazendo mais presentes ao longo da estrada que, mesmo na escuridão, deflagrava que a guerra estava presente, autoritária e fatal. Segui com mais velocidade e praguejei quando o motor daquele automóvel pareceu querer falhar, dessa forma não poderia insistir ou acabaria à pé naquele breu. Reduzi a marcha e segui em frente.

Estava prestes a atravessar Angervilliers com seu terreno todo disforme. Logo à frente uma barreira alemã e aquela imagem quase fez o carro morrer. Quase. Firmei as mãos no volante e fui adiante, não dava para contornar e fugir. Reduzi mais a velocidade até que coloquei os olhos nos alemães que também observavam-me atentos. Firmei os olhos e continuei.

"Ziehen über!"

Eu tinha duas opções. Encostar como o soldado mandara e tentar ser liberada àquela hora da noite ou, então, provar se o carro de Zelena aguentaria uma fuga por entre a vegetação irregular de Angervilliers.

Acelerei.

Estiquei minha perna atolando o pé no acelerador e só pude notar que o vidro da frente estava em cacos por um tiro logo depois que joguei o carro com toda a velocidade por entre árvores e pedras. Em um segundo, vi pelo retrovisor que um jipe descia a beira da estrada logo atrás de mim e os tiros tinham um eco longo que enchiam o ar da noite. Para onde ir? Para algum ponto em que pudesse retornar à estrada mais à frente e fugir. Não foi uma boa ideia, eu bem sabia, mas minha mente não tinha muito tempo para planejar se eu quisesse sair dali com vida.

Acelerei.

O que eu estava fazendo, afinal? Eu não consigo responder com clareza nem mesmo para mim. Quem sabe, bem lá no fundo, eu gostaria de ser morta por aqueles soldados alemães. Sabendo que não encontraria Emma em paris com vida o que eu poderia querer? Bem, na verdade, eu não tinha certeza ou simplesmente me recusava a acreditar que Emma estivesse morta, mas naqueles minutos em que o carro foi descendo morro abaixo eu tinha minha mente vazia. Realmente eu queria ser morta. E quase fui.

O carro bateu em uma árvore e parou. A pancada deixou-me zonza, mas não surda. Os tiros eu podia ouvir ao longe. Porta travada e vidros quebrados. Se eu queria mesmo morrer, então chegara a hora, de fato. Nem mesmo a capitã Elsa imaginaria uma atitude tão estúpida vinda de mim.

- Er ist hier! - um soldado estava bem próximo já aos berros chamando o restante de seu grupo. Logo eu percebi o vulto do homem parando ao lado da porta e seu rosto raivoso pelo vidro. Ele olhou para mim sério e parecia casado, então não poderia esperar uma abordagem favorável, afinal, eu estava fugindo. O porquê de não atirar logo em mim eu jamais vou saber, mas esse soldado ficou olhando para mim por um bom tempo sem mover um músculo até que outros dois apareceram.

- Töten sie die Frau auf einmal! - disse um deles já engatilhando o fuzil. Assim eu descobri o motivo de não me matarem logo. Aquele primeiro soldado era o rapaz que deixara-nos passar pela fronteira quando íamos para a Espanha. De algum modo ele sabia quem eu era ou, pelo menos, sabia quem era Emma.

- Nein! Es hat politischen wert. - depois de dizer que eu tinha valor político, ele quebrou o vidro com a coronha da arma e a puxou de uma vez só. Fiquei confusa e com medo. Voltaria para a prisão e não morreria tão cedo caso parasse nas mãos de Elsa novamente, porém, nada tinha a fazer. Eu estava sendo detida novamente e da mesma maneira de antes: colocaram um capuz na minha cabeça e amarram meus braços para trás.

Logo veio a sensação de estar em Montluc e meu estômago revirou-se. Novamente os tremores e os calafrios. Desmaiei.

Ficar em Saragoça deixou-me fraca. Estava cedendo por qualquer coisa e isso não poderia acontecer. Precisava retomar de onde parei antes de ser presa. Porém, aquele momento de completa privação de sentidos me levaria para prisão e, meu maior medo, voltar a Montluc e encarar Elsa uma última vez.

Existem alguns acontecimentos na vida que, se contarmos, pode parecer fantasioso e muito mentiroso. E isso que relato aqui é um exemplo claro de como eu fui acometida por um surto suicida e voltei para as mãos da pessoa mais improvável naquele momento.

Zelena.

Acordei sobressaltada e elevei o corpo de uma só vez. Abri os olhos rapidamente e a ruivice de Zelena encarava-me em tom reprovador. Da mesma forma que sentei-me rápido ali permaneci estática como uma pedra.

- Estúpida! - minha irmã resmungou aquilo e olhou para o lado onde pude perceber outra pessoa no quarto. Um lugar que eu jamais havia visto assim como o rapaz que estava de pé também olhando Zelena. Mas, não. Aquele rapaz eu reconhecia. E por duas vezes, agora uma terceira.

- Se eu não estivesse ali você estaria morta, senhorita Mills.

Nem eu mesma podia acreditar no que estava acontecendo. Demorei um pouco para encarar os dois e dizer alguma coisa que não soasse estúpida confirmando o comentário de Zelena.

O rosto daquele rapaz era o mesmo que encarava-me na noite passada pela janela do carro de Zelena. Agora também entendia a ira dela - não havia mais carro e eu estava envergonhada. Por ter destruído o automóvel e por ter feito algo tão...

- Estúpida, Regina! Você é estúpida! - Zelena repetiu e eu não tive coragem de dizer absolutamente nada - ... O que queria fazer?! Morrer?! - nem eu mesma sabia, mas tinha um pouco de verdade nas palavras dela.

Emma havia reconhecido Hans. Eu reconheci Hans. Mas nós não sabíamos que Hans era o contato de Zelena na fronteira e costumava estar em duas travessias para resguardar qualquer movimento que fosse contrário ao regime e intervir. Bem do jeito que fizera comigo durante a madrugada.

- Como conseguiu retirar-me dali? - ele riu um pouco sem jeito quando ouviu Zelena bufar e sair dali mais nervosa do que já estava - Não deveria ter feito aquilo, Regina. Caso fosse questionada eu interviria e estava com os documentos, porque não os usou?

- Ela queria morrer! - Zelena repetiu aquilo de costas para mim observando a janela por uma fresta da cortina. Virou-se devagar encarando-me uma vez mais e agora bem séria - Vamos, Regina. Diga à ele que jogou o carro no mato para ser pega e fuzilada! Queria morrer para juntar-se à Emma.

Eu não disse uma palavra. Apenas baixei os olhos e fui levantando da cama devagar. Hans caminhou pelo quarto e despediu-se fechando a porta em seguida. Zelena não se moveu, talvez, aguardando que eu dissesse algo.

- Sinto muito pelo carro... - foi a primeira coisa que saiu - ... Eu deveria ter esperado por você... - ela revirou os olhos soltando uma lufada de ar.

- Está bem. Chega!... - sentou-se na cama de novo - ... Apenas confie em mim, Regina! Faça isso por um momento, por favor. - ela buscou alguma resposta em meus olhos, mas tudo o que fiz foi fechá-los e suspirar - ... Não precisa se desculpar pelo carro...

- E como vamos chegar em Paris?

Zelena sorriu. Um tanto desanimada, um tanto incrédula.

- Você não acredita e nem mesmo confia em mim, não é?!... - ela escancarou a cortina da janela à minha frente. Meus olhos arderam com o clarão do dia, mas pude ver agigantada ao longe a Torre Eiffel. Zelena tomou o mesmo rumo de Hans. Saiu do quarto deixando-me perdida em pensamentos. O que estava acontecendo comigo? Impulsividade nunca foi uma prerrogativa e agora tomava conta das minhas principais decisões. Se era mesmo fato que eu queria ter morrido naquela estrada já não poderia assumir qualquer ação ou colocaria tudo a perder de novo.

Eu tinha que confiar em minha irmã. Ela sabia e eu também o quão isso era difícil. Não tínhamos tanta proximidade e eu esperava que ela compreendesse isso. Efeitos da guerra, talvez. Não poderia culpar Zelena por ressentir-se sobre minhas atitudes. Ela estava certa. Eu precisava recuperar a Regina perdida antes de passar pela Gestapo, antes de Elsa. Eu queria a francesa sutilmente debochada que esgueirava-se pela cidade desafiando o melhor dos espiões alemães. Eu queria essa Regina de volta. Eu queria mais do que isso. Que queria Emma de volta.

Não tive coragem de sair daquele quarto por um bom tempo. Parecia que ainda era manhã. Não ouvia muito ruídos do lado de fora e agradeci por isso, poderia pensar melhor em como eu terminei naquela situação. Fraca e sem expectativas quanto à vida.

Os estragos que foram feitos em mim, acredito que jamais terão um fim. São cicatrizes, algumas profundas, outras doloridas e ainda algumas atordoantes. A guerra deixou esses estragos e não tínhamos noção de quando isso tudo acabaria. Eu me perdi da Regina que antes habitava em mim. Aquela que queria lutar e conseguir a liberdade a qualquer custo. Para onde essa Regina foi? Eu teria que buscá-la de alguma forma.

Se eu falhasse agora tudo o que Emma fez teria sido em vão.

"Ela está aqui?"

Aquela voz de fora do quarto causou-me um calor de alívio. Meus olhos fixaram-se na porta quando a maçaneta girou e lá de fora aquele sorriso iluminado entrou causando-me ânimo e um pouco de felicidade por estar ali.

- Ruby! - levantei-me depressa para abraçá-la. E que sensação de segurança ao sentir que estava entre meus amigos novamente. Ouvi Anna rir acompanhada de Zelena. Quando soltei-me do corpo da cigana ela segurou minhas mãos ainda com o sorriso escancarado.

- Ah, minha querida! Eu sabia que uma carta tão valiosa não seria perdida facilmente! - também sorri, mas logo baixei os olhos e afastei-me um pouco dela.

- Eu queria que outras cartas não tivessem se perdido, Ruby. - ela postou sua mão em meu ombro e seu semblante tornou-se um pouco tristonho.

- Regina, ainda não sabemos onde ela está.

- Eu preciso saber. Não vou ter sossego enquanto não descobrir.

Anna entrou rapidamente no quarto e veio com seu jeito de menina deixando-me mais confortável com outro caloroso abraço. Logo senti uma agonia e tentei conter as lágrimas pelo meu menino que havia desaparecido assim como Emma e estar ali tão próxima à Anna fazia com que meu coração doesse ainda mais.

- Estava aflita para encontrar você! Eu ainda não vou descansar enquanto não souber a verdade. - provavelmente ela falava sobre Emma e foi ali que percebi o quanto fragilizada eu estava diante dos meus amigos. Essa imagem teria que mudar logo, eu não tinha o hábito de ser consolada, mas de tomar frente das situações e resolvê-las!

- Eu sinto tanto, minha querida... - Anna riu e segurou-me pelos abraços olhando-me curiosamente.

- Pelo quê?!

- Ela deve estar falando sobre o pardal menor...

Eu estava de costas para a porta do quarto. Aquela voz fez um arrepio gelado correr por todo meu corpo. Olhei sobre os ombros e, por um segundo, acreditei estar perdendo os sentidos de novo.

- Henry?! - sussurrei arregalando os olhos e me virando em direção à porta. Era ele. O meu Henry parado recostando o corpo no portal de braços cruzados. Tinha uma aparência triste, estava tão pálido, mas o sorriso que jogava-me era tão terno e quente que não pude conter-me. O meu menino estava bem, afinal. Caminhei depressa e puxei-o para apertá-lo, quis colocá-lo bem próximo e senti-lo aconchegado em mim. Segurei seu rosto entre as mãos e olhei bem no fundo daqueles olhos que, apesar dos castigos do esconderijo, ainda brilhavam e sorriam por si somente.

- Que bom ver você! - ele era tímido e eu havia me esquecido disso, mas não esqueci daquele rosto tão vivo que trazia-me esperança em dias tensos. Agora poderia tê-lo comigo mais uma vez.

- Como conseguiu escapar?

- É uma história bem absurda e terei tempo para contar.

Saímos dali para a sala.

Kristoff. Era ele quem estava com minha irmã em uma conversa sóbria e tinham olhos atentos à rua. Hans também acompanhava o movimento lá fora. Não tinha ideia do que seria, mas quis juntar-me a eles. O rosto do major alemão não tinha uma expressão agradável quando virou-se para mim e eu compreendia muito bem. Não dissemos palavra alguma e nem precisávamos dizer. Apenas trocamos um sorriso sem graça e um "sinto muito" tão silencioso que lançou o lugar e todos que estavam perto em uma névoa sombria.

Logo descobri que estávamos em um prédio desocupado pelos alemães. Ficava no Colombes próximo ao Sena. A resistência ainda permanecia viva mesmo após os eventos do Velódromo, as prisões em massa e as traições que culminaram na prisão de Jean Moulin. Porém, tínhamos a segurança que De Gaulle estava seguro na Inglaterra e, mais que isso, agora sabíamos que a Aliança tinha um trunfo mantido sob segredo e que logo poderíamos dar uma virada no comendo das coisas em Paris.

Observei a movimentação naquele apartamento e meus nervos começaram a se agitar. Eu não tinha domínio de nada. Informações, estratégias, decisões. Via os outros tomarem frente de suas ações e cumprir tarefas. Eu nada tinha a fazer e isso foi deixando-me extremamente irritada. Zelena não desgrudava sua atenção de mim talvez por medo que eu tentasse sair por Paris à procura de Emma. Kristoff e Hans detinham-se em planos. Anna e Henry trocavam olhares ternos que deixavam-me feliz, mas ao mesmo tempo com medo - não gostaria que algum dos dois sentisse o que eu sentia agora. Ruby auxiliava seu alemão de queixo quadrado, mas por vezes flagrei-a com olhos sobre mim e não gostei do que vi.

- Tem pena de mim?! - atirei aquela pergunta sobre a cigana de forma ríspida e ela demonstrou desconforto.

- Regina!? Claro que não! De onde tirou essa ideia?

- Tirei dos seus olhos sobre mim, Ruby... - revirei os olhos e bufei insatisfeita.

Ela manteve o silêncio e o meio sorriso. Depois aproximou-se e sentou-se ao meu lado no sofá. Vi as órbitas azuladas cintilarem, mas um brilho triste e por um segundo acreditei que ela choraria, mas não. Ruby na sua intensidade de romena misteriosa tinha alguns ímpetos que sua intuição comandava.

- Sabe que existe a possibilidade de não encontrarmos Emma e mesmo assim não quer desistir de procurá-la... Por que, então, você está aí apática vendo todos nós para lá e para cá reerguendo o movimento? - eu fiquei sem reação ao que ela dizia - Não somos nós que olhamos com pena para você, Regina. É você mesma!... - eu quis protestar, mas ela não me deu tempo - ... Enfrente isso que está impedindo você! É medo?! Medo do quê?! Você nunca deixou que percebêssemos isso, Regina! Então, faça alguma coisa!

- Eu não consigo! - disse entre os dentes diante do tom alterado de Ruby.

- Mas conseguiu enfiar um carro pelo mato adentro com um bando de alemães atirando em você!... - levantou-se como se quisesse ficar acima de mim nas imposições - Não será se matando que vai conseguir descobrir o que houve com Emma! Não foi para isso que ela arriscou-se tanto! - àquela altura eu já deixava lágrimas brotarem e levei outra saraivada de realidade - ... Temos trabalho a fazer se quisermos ver essa corja alemã longe daqui! Levante-se e faça alguma coisa!

E eu fiz. Levantei-me calmamente, enxuguei minhas lágrimas e fui para a cozinha. Se tínhamos tanto trabalho a fazer, alguém deveria, pelo menos, preparar um café ou algo parecido para repor as energias gastas.

A princípio pareceu uma atitude bem infantil ou uma fuga, mas não. Eu queria tempo para pensar e não ter tantas pessoas à minha volta. Ruby tinha razão em cada palavra seca que atirou-me à consciência. Mesmo tão confusa e resistente eu ouvi cada uma delas e as absorvi da melhor maneira que poderia. Assim, entre batatas e tomates eu fui tateando minha mente e retomando cada passo que havia dado ate conseguir chegar naquele apartamento no Colombes. Ouvia as conversas lá na sala e, vez ou outra, Zelena e Anna chegavam-se até mim para elogiar o cheiro bom da comida, mas queriam mesmo era verificar se eu estava bem. Ah! Eu odiava ser vigiada e ainda mais que tivessem pena de mim. Aquilo teria fim tão logo eu provasse o tempero, colocasse a tolha branca sobre a mesa de madeira, talheres, pratos e copos; até um pequeno vaso de cerâmica com flores secas. Não havia vinho, mas água seria o suficiente para fazer-me digerir cada momento ruim.

- Almoço na mesa.

Henry passou um longo e doloroso tempo escondido no forro do quarto de Emma. Ela tentou fazê-lo ficar o mais seguro possível, mas não adiantou tanto. Logo o major Hook descobriu que havia algo errado por lá e até tentou invadir o apartamento. Kristoff esteve no local onde encontraram Hook - o quarto de Emma. Ali ele observou cada detalhe. Já haviam retirado o corpo do major, mas o rastro de sangue que partia da porta para o corredor não era dele, então, admitiu-se a possibilidade de ser o sangue da própria Emma. Isso causou-me náuseas, mas eu queria saber tudo.

- Eu vi as marcas no forro. - contou Kristoff - O soldado que estava comigo disse já ter olhado pelo alçapão para retirar quem estivesse ali, mas apenas encontrou um gato morto.

Curioso como animais de estimação podem ter uma relevância tão grande em nossas vidas. A pequena e inofensiva Marie Antoinette, a gatinha que morou por algum tempo com Emma e Henry, ganhou lugar de protetora do menino enquanto ele se escondia.

- Foi muita sorte August aparecer um dia antes e levar Henry para sua casa, Regina.

- August?! Onde ele está?! - era o rapaz que estava comigo quando fui presa na noite da invasão do teatro. Como poderia esquecer dele e de tantos outros que estavam conosco naquela ocasião.

- Ele volta à noite. Estamos aguardando o comando através dele.

Estranhei Zelena não fazer piada com o almoço. Estava sisuda e pouco olhava-me. Ela ouviu Ruby dando-me aquele sermão, aliás, todos ouviram, mas ninguém se propôs a retomar o discurso. Eu limpei os lábios com o guardanapo a atirei o mesmo sobre a mesa olhando para todos ainda sentados.

- Então... Vamos ao que interessa... - postei as mãos sobre a mesa e encarei meus amigos - Quais são as perspectivas da resistência deste lado do rio, Kristoff?

Não havia muito o que fazer durante aqueles dias, segundo o major. Ele mesmo não estava nos melhores momentos com o general Swan e a desconfiança sobre ele era ainda maior depois da morte de Hook e o desaparecimento de Emma. Porém, havia uma operação em andamento, mas que não estava nas mãos dos franceses e, sim, a comando dos ingleses e americanos. Churchill e Eisenhower estavam empenhados nessa missão que levava o nome de Operação Overlord. Nenhum de nós sabia do quê se tratava e, pelo visto, era uma operação nível máximo de sigilo. O fato era que a qualquer momento ela entraria em ação e teríamos que esperar sua conclusão para agirmos dentro de Paris.

Pedi que mostrassem como a resistência estava àquela altura da guerra. Estávamos divididos em quatro frentes: a Resistência propriamente dita, a 2ª Divisão Blindada, a França Livre e a Guarnição de Paris. Nosso grupo permanecia na Resistência, mas agora o comendo não era mais de Charles de Gaulle que estava frente à França Livre que era, de certa forma, o comando geral das forças resistentes francesas.

A cidade estava dividida em setores entre esses comandos e aguardando ordens a partir da Operação Overlord. Nosso pequeno grupo mantinha-se à margem oposta do Sena para resguardar a fuga oeste, não teríamos presença ativa caso um confronto fosse necessário.

- Não vamos entrar em combate?

- Teoricamente não.

- E já temos estratégias para as possíveis fugas?

- Aqui. - Kristoff respondeu minha pergunta abrindo alguns papeis sobre a mesa sob olhos atentos de todos. Vi o mapa oeste de Paris dividido em quadrantes e com rotas de escape ao longo do Sena. Todas elas convergiam para apenas duas colocadas na região de Maisons-Lafitte.

- Altere essas rotas e coloque uma delas pelo Castelo de Versailles. - apontei o local com o indicador no mapa sem tirar os olhos de Kristoff.

- Regina... - ele tentou, mas fui adiante.

- ... Caso nos cerquem aqui em Colombes podemos sair pelo caminho de Boulogne-Billancourt e entrar nos esgotos aqui... - apontei novamente - ... e aqui. - senti que Zelena e Ruby fizeram um ar de riso trocando olhares, mas atentei-me em não desfocar meu intuito que era apontar as falhas na estratégia. Kristoff suspirou analisando o caminho que eu tinha determinado. Coçou o queixo protuberante e olhou para Hans longamente. O outro rapaz sorriu.

- Ela tem razão, major. - ele não poderia ir contra o que eu acabara de dizer, pois era o certo. Disso eu não tinha dúvida alguma e nem Kristoff poderia discutir sobre a sua própria rota. Ele cruzou os braços e observou todos em volta. Suspirou novamente.

- Bem... - sorriu - ... Temos Regina Mills de volta, pessoal.

 

*

 

Esse passos cautelosos ainda foram estudados durante a tarde. Estive ocupada demais tentando compreender como nos portaríamos para um possível confronto e como estaríamos preparados para dar cobertura na fuga dos que estavam no front principal. Senti muita falta de Marie e Graham. Como os dois eram necessários naqueles momentos de tensão e prévia de acontecimentos grandiosos. Ele tinha a impulsividade bruta, ela a habilidade das armas. Agora tínhamos um soldado alemão jovem que entendia de combates corpo-a-corpo. Não era uma boa aquisição em uma primeira análise, eu estava grata a ele por ter retirado-me daquela bagunça na estrada, porém ainda teria que provar sua destreza.

Quando a noite caiu não demorou muito para que August chegasse. Não era nem a sombra do homem forte que eu conheci tempos antes. Eu não deveria ficar lamentando, mas era inevitável fazer tais comparações. Todos estávamos bem diferentes - física e mentalmente. Com August lamentei mais uma vez a ausência de meus pais, assim como ele lamentava a morte do seu pai. Não tínhamos ideia de onde estariam, mas o certo era que não resistiriam aos campos e isso ficou confirmado tempos depois.

O mais importante eram as notícias que ele trazia naquela noite.

- A Operação Overlord começa em algumas horas.

Foi o suficiente para dar aquele frio na barriga. Observei a postura do grupo e não foi diferente da minha. Estávamos todos apreensivos, mas esperançosos uma vez que seria uma contenda grande e que poderia definir, de fato, a nossa sobrevivência na França. Kristoff e Hans deveriam partir sem demora, pois haviam de observar mais de perto as atitudes e resoluções do general Swanchkopf, o grande vilão da capital francesa.

Diante da situação o mais provável era esperar por mais informações e aguardar o comando de ataque. Zelena mostrou-me o quarto onde haviam armas e alguns uniformes, assim percebi o quão distante do combate eu fiquei durante minha prisão. O tempo correu e com ele a agilidade do improviso da resistência em manter-se de pé.

Anna e Ruby não demoraram para recolherem-se em seu quarto. Zelena preparou um de seus chás e logo também seguiu o mesmo destino. Apenas restaram August, Henry e eu na sala. Silêncio e expectativa.

- Não pense que deixarei você para trás novamente. - emiti aquela frase diretamente para Henry e ele compreendeu lembrando-se da noite no teatro. Sorriu.

- Digo o mesmo e nem tente me impedir. - o jeito sereno dele de alguma forma me passou segurança. Eu estava sentada em uma cadeira ao lado da janela e observava a rua. Tranquila àquela altura da madrugada. Um grupo de nazistas passou e em seguida um carro da Gestapo. Logo uma fina neblina desceu e os soldados que passaram mais tarde pareciam almas penadas vagando pelo mundo deixando o rastro de medo.

- Acredita que ela ainda possa estar viva, Regina?

- Não sei, August. - respondi prontamente para depois respirar profundamente e ponderar - Eu não posso responder com certeza se ainda não tenho evidência de um corpo ou um registro oficial.

- É uma reflexão fria para quem perdeu alguém importante... - a ironia dele incomodou-me um pouco, mas tentei não deixei transparecer.

- Eu perdi?!... - voltei a olhar pela janela - Você me viu ser apanhada e ainda assim fez pouco para que eu não fosse levada... Não foi uma atitude fria para quem via uma companheira de grupo ser presa?

- Está sendo injusta! - replicou em tom autoritário.

- Está tarde, August. - disse a ele de forma tranquila - Amanhã será um dia cheio e deve estar bem disposto para que não leve outro tiro.

Levantou-se calmamente, despediu-se de Henry e foi para seu quarto.

O menino ainda ficou um tempo quieto e eu percebia seu olhar sobre mim.

- Pergunte. - sussurrei ainda olhando pela janela.

- Por que disse aquilo? - Henry sabia que minha prisão no teatro era inevitável, August fora baleado e não teria chance caso quisesse conter os homens de Hook.

- Henry, eu estou mantendo a frieza para que consiga seguir no combate... Perder Emma fez uma ferida em mim que jamais irá cicatrizar... - olhei diretamente para ele - ... Entende que não posso ficar tecendo teorias a respeito do paradeiro dela ou eu também acabarei morta?!

Ele não respondeu. Minutos depois também levantou-se dali e tomou rumo de seu quarto. Eu permaneci observando a janela. Não afirmei aquilo apenas para Henry, queria afirmar aquilo à mim e tão absolutamente que deveria acreditar em cada palavra. Amanheci sentada naquela cadeira observando o movimento maior daquela manhã. Nem percebi Zelena na cozinha preparando o café, apenas quando ligou o rádio e de lá ouvimos as notícias vindas da região da Normandia.

           

Cerca de 155 mil soldados, com o apoio de 600 navios e milhares de aviões, desembarcaram na costa da Normandia abrindo uma nova frente de guerra no oeste. O ataque foi realizado em uma aterragem de 24 mil soldados aliados aerotransportados pouco depois da meia-noite e um desembarque anfíbio da infantaria e divisões blindadas na costa da França, com início às 6:30 da manhã. A operação foi a maior invasão anfíbia de todos os tempos, com o desembarque de mais de 160 mil homens. 195.700 pessoas das marinhas navais e mercantes aliadas em mais de 5.000 navios foram envolvidos na operação. Soldados e material foram transportados a partir do Reino Unido por aviões carregados de tropas e navios, desembarques de assalto, suporte aéreo, interdição naval do canal da Mancha e fogo naval e de apoio. Os desembarques ocorreram ao longo de um trecho de 80 km na costa da Normandia dividida em cinco setores: Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword.

           

Aquele dia 6 de agosto representou muito mais que a operação em si. Pelo menos para mim. Enchia-me de esperança que a guerra se aproximava do fim. Mais ainda, eu teria notícias de Emma e algo sussurrava em meu coração que esse momento estava se aproximando para que eu tivesse paz qualquer que fosse o desfecho.

No instante em que Kristoff abriu a porta do apartamento dando-nos a notícia que o ataque na costa francesa havia obtido sucesso, lembrei-me das palavras de Gaulle em um de seus mais marcantes discursos pela rádio britânica: "Aconteça o que acontecer, a chama da resistência francesa não deve extinguir-se..."

Agora era questão de tempo. Em alguns dias o reflexo do êxito da aliança chegaria a Paris e então nós entraríamos em combate mais uma vez. Os dias que se seguiram foram carregados de tensão e trabalho. Revisão de estratégias, rotas de fuga, comunicação interna. Cada detalhe visto e revisto de forma meticulosa para que nada saísse do controle.

E por mais que eu me recusasse, todos os dias perguntava a Kristoff se havia algum vestígio do paradeiro de Emma. A resposta era sempre a mesma, nada que fizesse meu coração palpitar. Apenas querer cessar as batidas.

Lembro-me como se estivesse acontecendo agora mesmo. O que vocês conhecem como Batalha por Paris começou no dia 19 de agosto. As forças francesas reunidas juntamente com parte de tropas aliadas iniciaram a retomada de Paris sob grande poderio alemão. O general Swan não mediria esforços para destruir qualquer um que fosse ameaça e, por que não dizer, destruir toda a cidade. 

- É hora de irmos, Regina! - o chamado de Zelena fez meu coração saltar. Minha boca ressecou e observei a movimentação no apartamento. Por segundos mantive-me parada no meio da sala enquanto Ruby e Anna distribuíam as armas para todos nós.

- Regina! - Henry agitou meu braço e fez-me acordar. Era hora de sair e enfrentar o inimigo.

O caos liberto nas ruas era de encher qualquer coração de agonia e desespero. Soldados nazistas em tropas invadiam os espaços e atiravam no que estivesse pela frente mostrando perigo ou não. August e Henry tomaram a dianteira seguidos por Anna e eu. Ruby e Zelena mantinham a retaguarda. Essa era a formação que teríamos que manter até chegarmos ao grupo maior no fim da Rue des Renuillers onde havia uma barricada obstruindo a passagem pelo Sena.

Não demorou muito para que fôssemos percebidos e perseguidos pelo caminho. Tiros, correria e íamos nos mantendo vivos entre pilares e esquinas. Caminhar depressa e manter a atenção para o que estava logo atrás de nós. Isso era o objetivo.

Vi Ruby tropeçar e voltei para dar-lhe cobertura enquanto Zelena mantinha fogo sob o grupo de soldados. Eram meia dúzia de alemães fardados e armados com fuzis. Um grupo pequeno, mas que mantinha a vantagem sobre nós já que não tínhamos tanta munição quanto eles. Assim que consegui fazer com que Ruby firmasse nas pernas, minha imã passou por nós e vi August voltando até onde estávamos.

- Um outro grupo está vindo contra nós. Temos que voltar!

- Como?! - perguntei empurrando a cigana para a parede de um prédio onde as portas estavam trancadas. Os civis que ainda permaneciam ali não gostariam de dar suporte para ninguém ou acabariam morrendo e eu compreendia isso.

Henry jogou-se no chão quando uma granada explodiu no caminho por onde passaríamos. Enquanto abriam fogo contra o primeiro grupo que nos perseguia, fui agachada até onde o menino estava e puxei-o pelo braço.

- Corra, Regina. Eu vou logo atrás de você!

- De jeito nenhum! - atirei no segundo grupo que se aproximava. Anna veio logo cobrindo nossa retaguarda e conseguimos chegar até onde os outros estavam. Percebemos que mais resistentes estavam espalhados pela mesma rua abrindo fogo contra os grupos de nazistas.

- Nossa posição é bem favorável! - riu Zelena mirando e atirando sem parar. E não é que ela era boa naquilo? Confesso que fiquei orgulhosa e tive um segundo para contemplar aquela cena ate que ouvi Anna gritar. Um grito agudo de dor. Ela fora atingida e caiu instantaneamente.

Henry jogou-se contra o corpo da moça ao chão e continuou ali até que August arrombou a porta de um pequeno café que estava lacrada. O dono possivelmente já havia deixado o lugar há algum tempo, mas não nos importamos muito com aquilo. Arrastamos Anna lá para dentro e logo construímos uma barreira com algumas mesas que encontramos. Ruby e Henry correram até mais ao fundo levando Anna com eles.

- Como ela está? - gritou Zelena ainda atenta ao que vinha lá da rua.

- Foi de raspão, não se preocupe! - Ruby já ia dizendo aquilo e rasgando um pedaço de sua saia para amarrar no braço da menina. Henry voltou rapidamente e colocou-se ao meu lado mirando nos soldados.

- Tínhamos que ficar tão distantes do ponto de barreira? - ele perguntou ironizando a situação, mas não deixava de concentrar-se no que era necessário. Matar alemães.

- Logo teremos uma janela e corremos para o entroncamento. - August olhava para trás observando Ruby cuidar do braço de Anna - Como ela está?

- Ela pode andar, não se preocupe! - a romena veio esgueirando-se pelo chão até chegar até uma janela. Olhou para os lados. Os tiros começaram a diminuir a intensidade.

Olhei para cima e vi algumas pessoas na parte mais alta de uma casa, deitados com fuzis apontados para a rua.

- Nossa cobertura. - mostrei para August que sorriu.

- Sim! Veja... - apontou para a rua à esquerda - ... Passagem livre! - não haviam soldados nazistas ali e poderíamos sair rapidamente.

Anna estava com o braço direito imobilizado, mas caminhava depressa até a porta de saída. Estávamos a poucos metros do nosso destino, mas era um caminho que não seria fácil. A granada deixou a rua praticamente obstruída e teríamos apenas um ponto pequeno entre os escombros para atravessar. Seguimos para lá ainda com rajadas de balas de fuzil contra nós. Aqueles homens no telhado foram de grande ajuda, uma vez que a fumaça e a poeira da rua não alcançavam sua visão.

Henry foi o primeiro a atravessar, conferindo se o espaço do outro lado estava livre. Logo que ele nos deu passagem, a primeira a atravessar foi Anna. August e Zelena mantinham-se atrás de nós com suas armas abertas em fogo contra alguns soldados que escapavam do corredor de fogo que a rua se encontrava. u estava na metade dos escombros que o muro de uma residência havia formado, acima de mim Ruby conduzindo Anna.

- Regina, sua vez! - gritou Henry do outro lado da passagem.

Olhei para minha irmã e desci ignorando o apelo do rapaz.

- Vá, Zelena... - disse já mirando minha arma - ... Estarei atrás de você.

- Regina, eu não vou deixar você sozinha aqui.

- Isso não é hora para discutir! August estará comigo!

Naquele momento um grupo de mais uma dúzia de soldados veio em nossa direção abrindo fogo incessante e logo não teríamos como sair dali.

- Regina! - minha irmã tentou gritar, mas eu não queria ouvir. Agarrei seu braço e a empurrei para trás fazendo com que subisse os escombros até onde Ruby estava, com meio corpo para o nosso lado, atirando contra os homens que vinham até nós.

Novamente a mesma situação. August e eu a ponto de sermos cercados e acabar sem munição. Ele olhou-me rapidamente e fez um sinal para que eu subisse até a passagem.

- Vamos acabar isso juntos. - fui determinante, mas ele ignorou o meu apelo.

- Não seja teimosa! Outra vez não!... - continuava a atirar e víamos cada vez os soldados mais próximos. Do outro lado ouvimos também os gritos de Ruby.

- Temos reforços aqui!

- Vá! - numa fração de segundos e pareceu-me os segundos mais longos da minha vida. August levantou-se um pouco e conseguiu empurrar-me para trás dele fazendo com que eu ficasse mais perto da passagem e conseguisse subir até lá com seu próprio corpo de escudo. No movimento minha arma caiu e não pude fazer outra coisa a não ser obedecê-lo.

Os tiros ficaram mais próximos daquele lado.

Quando atravessei um grande grupo de franceses resguardava o final de nosso trajeto. Os homens caminharam escombros acima mantendo a segurança da passagem até que corrêssemos em direção à próxima esquina onde estavam nosso ponto de encontro.

Sobre August apenas ficou a impressão de que ele quis cumprir o que eu mesma cobrei naquela noite no apartamento. Seu corpo foi levado até nós no final do dia quando o fogo cessou parcialmente e pudemos contar nossas baixas e nossas aquisições de campo.

Uma semana de combate cerrado dentro de Paris. Sete dias avançando sobre os alemães e mantendo nossas rotas intactas daquele lado da cidade. Ninguém passava sem que percebêssemos ou autorizássemos. Tínhamos aquele ponto da cidade em vigilância e segurança.

Logo Anna recuperou o movimento e pode contribuir com o transporte de provisões que vinham de Sartrouville. Henry se preocupava com ela e mantinha sua atenção redobrada. De certo modo era reconfortante observar os dois, mantinha minha crença na felicidade ainda um pouco viva. Se Henry mantinha atenção em Anna, Zelena não retirava os olhos de mim, parecia vigiar-me a todo instante, porém não deixava de fazer o que lhe era cabido: manter contato externo com Vichy e a região de fronteira com a Espanha. Não haviam muitas mudanças por lá e, através de Daniel, soubemos que o governo ilegítimo instalado havia sido rendido. Com aquele acontecimento poderíamos contar com a rendição dos alemães em pouco tempo.

Em 24 de agosto, recebemos ajuda da organização França Livre e da popular 4ª Divisão de Infantaria dos Estados Unidos. Em 25 de agosto, a liberação de Paris encerrou com a rendição da última guarnição presente na cidade. Esta batalha marcou o final da Operação Overlord, que atingiu seu objetivo de libertar a França das forças do Eixo.

 

*

 

A alegria no rosto das pessoas chegou a ser indescritível. Pessoas comemorando a liberdade, pessoas chorando suas perdas. Para cada lado que eu olhasse uma lembrança da minha alemã de olhos verdes. Eu guardei o luto em silêncio e substitui pela vontade de vencer aquela batalha. Agora eu era lançada no poço de tristeza novamente e jamais admitiria que alguém cobrasse uma atitude diferente naquele momento.

Retornei para meu antigo apartamento. Não usei o caminho subterrâneo do café de Marco para chegar até lá. Não queria lembranças que me fizessem sentir mais triste e culpada. Não. Naquele momento eu queria ficar só.

E foram alguns dias dessa maneira. Zelena permaneceu com o grupo e deu todo o suporte possível que pudessem necessitar. Não precisava me preocupar com nenhum deles, a guerra estava em seus instantes finais, aquilo já era fato e ter Paris em liberdade era um sonho sendo reconstruído aos poucos.

Porém o meu sonho havia se esvaído pelos esgotos da cidade como um dejeto que se descarta. Eu me sentia inanimada diante de tanta tristeza. Os dias avançaram sobre mim e as noites engoliam-me sem nenhum escrúpulo.

Eu não me importava em definhar ali sozinha naquele apartamento. Depois de tanto tempo e depois de todos aqueles acontecimentos seria muito difícil e praticamente impossível eu ter notícias do desaparecimento de Emma. Era hora de admitir que ela estava mesmo morta e eu não teria chance de despedir-me uma última vez.

Sentia sua presença dentro de casa o tempo todo. Cheguei a ouvi-la chamar meu nome por diversas vezes e sonhar com Emma já era rotina nas noites que eu conseguia adormecer, raras as noites em que conseguia descansar. Meus amigos tentaram contato, mas em vão. Ruby esteve à porta e bateu diversas vezes, apenas pedi que fosse embora e ela respeitou minha vontade. Outras duas vezes pareceu-me que Kristoff chamava por mim, mas ignorei. Eu não queria vê-los.

- Quando trouxerem Emma eu abro a porta para vocês! - foi o que gritei quando ouvi Henry chamar por mim enquanto Zelena resmungava sobre minha teimosia.

Não sei precisar o tempo, mas em uma certa manhã após tomar café eu resolvi ler um livro que ganhara de meu pai em um de meus aniversários. Assim que coloquei-me no divã da sala ouvi batidas à porta. Fechei o livro que acabara de abrir e atirei contra o sofá ao lado já irritada com quem estava tão cedo insistindo em me ver.

- Vá embora! - quem estava lá fora bateu novamente, mas não disse palavra nenhuma. Apenas bateu de novo - Não ouviu o que eu disse? Eu não quero ver ninguém!

Fui ignorada e isso tornou-se um incômodo. Levantei-me e, por um instante, passou pela minha cabeça não atender, trancar-me no quarto até que a pessoa desistisse. As batidas foram ficando insistentes e eu cedi. Furiosa! Mas acabei cedendo aquela pessoa inconveniente que quase colocou minha porta abaixo de tanto esmurrá-la.

- O que você quer? - gritei e abri a porta de uma vez sem perceber quem estava ali diante de mim.

- Você é uma pessoa irritante, senhorita Mills!

Eu não conhecia aquela mulher, mas seu sotaque era característico. Uma alemã batendo à minha porta nas primeiras horas do dia.

- Quem é você?! - olhava para ela de maneira curiosa e quase incrédula, mas a mulher foi mais abusada e adentrou minha sala sem pedir passagem.

- Você não me conhece, mas sei mais sobre você do que gostaria... - continuei com a porta aberta com cara de poucos amigos - ... Meu nome é Ingrid, Regina. Sou tia de Emma.

A confusão tomou conta da minha cabeça e imediatamente fechei a porta indo até aquela loira de olhos azuis. Parei diante dela e encarei sem expressar emoção alguma. Uma mulher magra e bem vestida que também não mostrava expressões, apenas um olhar gelado.

- O que quer de mim?

- Eu não poderia deixar de vê-a antes de partir...

- Partir? Está fugindo? - minha primeira intenção foi rendê-la, era notável que eu tinha uma oficial nazista diante de mim.

- Eu vim por Emma. Ela precisa de você.

Senti o chão desaparecer debaixo de meus pés e a sala girou várias vezes em volta de mim. O som da voz daquela mulher desapareceu dando lugar a um zunido grave. Senti o corpo inclinar e as mãos frias de Ingrid segurando-me. A escuridão tomou conta dos meus olhos, mas não perdi os sentidos. Era demais para processar, uma pequena frase que jogou-me aos prantos e pouco importei-me que Ingrid visse meu choro. Ela ajudou-me a caminhar até o sofá e sentou-se ao meu lado.

- Onde ela está?

Foi a única coisa que eu consegui pronunciar enquanto olhava para Ingrid que sorria calmamente consternada com minha reação.

Era uma coronel que deveria fugir da cidade em poucas horas, mas preferiu procurar-me antes de partir. Era um dever, segundo ela. Deveria contar-me o que aconteceu com sua sobrinha para que partisse com a segurança que Emma estaria a salvo comigo. Durante todo o tempo em que Ingrid esteve em minha casa eu não conseguia acalmar meu coração e minhas lágrimas. Era um misto de todos os sentimentos possíveis diante da notícia que Emma estava viva e esperando que fosse até ela. E porque não poderia vir até mim? Ingrid colocou um envelope nas minhas mãos e foi-se sem muita demora apressada pelo corredor do prédio. Ainda ouvia seus passos descendo as escadas rapidamente quando um calafrio tomou conta do meu corpo. De repente senti frio e corri ate a janela para fechá-la. Olhei para o envelope nas minhas mãos e hesitei em abri-lo.

Demoradamente fiquei observando o que tinha em mãos. Uma armadilha? Regina, a paranoia está tomando conta de você de novo! Abri o envelope. Ao ler o que era deixei-o sobre o sofá e corri para preparar-me para sair. Veria as cores de Paris depois de dias enclausurada e pela primeira vez depois de muito tempo sem o temor da repressão alemã.

Emma está viva. Meu coração batia repetindo essa afirmativa. Emma está viva. Caso fosse uma armadilha ou vingança de algum nazista eu sucumbiria, mas morreria feliz, afinal com a esperança refeita de que veria os verdes olhos da major brilhando para mim.

Ganhei a rua tão depressa que quase um carro atropelou-me. Andei por ruas e avenidas observando as pessoas ao meu redor sem perder a direção que deveria tomar. Loucura pensar que atravessei o centro de Paris à pé para deliciar-me com a paisagem livre que se pintava de novo bem à minha frente.

 

Vá até o Pitiê-Salpêtrière Hospital e procure por uma paciente chamada Joana D'arc na ala dos desconhecidos.

 

Era o que dizia no papel.

Cada passo pela cidade aumentava minha agonia em rever Emma. Voltar a contemplar seus olhos e retomar seu sorriso com propriedade. Era meu. Meu sorriso, meus olhos verdes, minha major, minha mulher. Já não me importava com o que havia acontecido com ela, isso eu pensaria mais adiante assim que colocasse os olhos nela e visse seu peito se movendo mostrando que está respirando. Isso já me bastava durante o percurso até o hospital. O resto eu pensaria no que fazer depois.

Depois de vê-la. Depois de levá-la para casa, depois de dizer o quanto eu amava e estava com saudades.

Havia um movimento bem grande na porta do hospital e eu quase não consigo entrar no hall, mas fui me colocando entre as pessoas pedindo licença até que cheguei ao balcão. Houve uma demora para que a enfermeira dissesse o que eu queria: o rumo da ala dos desconhecidos. O nome Joana D'arc era o codinome que Ingrid criara para a sobrinha e, quem sabe, protegê-la de quem fosse procurá-la.

Assim que fui atendida e informada, sai como louca por entre as pessoas e já não me importava com a boa educação, já empurrava quem estivesse no meu caminho. Subi dois lances de escadas e parei na frente da porta de uma grande enfermaria. Ali outra enfermeira veio até mim perguntando quem eu procurava. Repeti o codinome e ela pediu que eu a acompanhasse.

Hesitei. E se fosse uma brincadeira de mal gosto de Ingrid? E se ela quisesse me fazer sofrer ou algo parecido?

- Senhora? - chamou a enfermeira. Acordei do transe e pus-me a segui-la.

Passamos por alguns leitos e pude perceber as mutilações, lacerações, debilidades e fragilidades das outras mulheres que estavam internadas ali. Cheguei a ter náuseas, mas segui firme atrás da enfermeira minha guia. Ela parou dois leitos à frente e apontou-me o seguinte.

Havia uma mulher muito pálida e com cabelos loiros deitada nele. Fui caminhando devagar. Agradeci a enfermeira que se foi rapidamente. Continuei meus passos cautelosos e percebi que a mulher deitada estava acordada. Olhava para outro lado, talvez perdida em pensamentos e devaneios. Depois de tanto tempo ali eu também me perderia em divagações desnorteadas.

- E-Emma?... - chamei baixinho quase um sussurro. Ela virou a cabeça devagar e olhou diretamente para mim.

Ah! As esmeraldas tão verdes enxergaram-me depois de tanto tempo.

Segurei na grade dos pés da cama e a observei. Seu sorriso veio devagar e fraco, mas os olhos ficaram avermelhados e as lágrimas desceram pelos cantos do rosto.

- É você!... - disse baixo e com um meio sorriso mostrando a exaustão. Aproximei-me devagar e sentei ao seu lado na cama. Eu não sei precisar o tempo em que fiquei ali observando Emma em cada detalhe de seu rosto e de suas expressões. Apenas peguei sua mão e levei até meu rosto sentido sua pele e seus dedos.

- Sou eu, meu amor... - dizia aquilo entre lágrimas assim como ela também queria dizer algo, mas o pranto impedia - ... Eu vim buscar você!...

Sorrimos juntas. Um riso de alívio. Também um arfar de cansaço. Acabara a busca. Acabara a agonia. Era a minha major ali diante de mim mostrando uma fragilidade tamanha que poderia colocá-la no colo e levá-la para casa o quanto antes. Por hora eu queria apenas contemplá-la e certificar-me que era mesmo a minha major Emma Swan viva trazendo a felicidade de volta para mim.

Seus dedos tatearam meu rosto com delicadeza e a cada toque ela sorria anda mais. Mordeu o lábio inferior e vi o brilho de seus olhos aumentar. De repente ela os fechou e sussurrou.

- Tire-me daqui! - rimos juntas novamente e dessa vez mais alto incomodando os leitos mais próximos. Olhei ao redor sem perder o humor, estava feliz e queria que todos soubessem e sentissem isso. Aproximei meu rosto do seu e falei bem junto ao seu ouvido.

- Eu vim cobrar aquela dança, major. - delicadamente toquei sua coxa e apertei. Emma arregalou os olhos e corou de uma só vez convulsionando choro. Isso deixou-me confusa - O que aconteceu, Emma?

- Tia Ingrid não disse, não é?

- O que houve, minha querida? - eu não compreendia e quanto mais perguntava as lágrimas de Emma multiplicavam-se até que ela cessou de repente olhando para o alto e tomando fôlego. Olhou diretamente para mim firmando o olhar e cerrando o cenho para que não chorasse de novo.

- Eu não consigo andar, Regina.

Olhei de repente para as pernas dela sobre o lençol e novamente para ela. Meus olhos agigantaram-se de pavor e meu peito comprimiu-se de dor. Levei a mão à boca tentando bloquear o espanto e o medo, mas não consegui. Emma fechou-se. Sua expressão tornou-se dura e ela virou o rosto de modo que não poderia vê-la.

- Emma, olhe para mim.

- Vá embora. - resmungou.

- Não. Vou levá-la para casa e vamos dar um jeito nisso!

- Como?! - foi a vez dela gritar atraindo a atenção de toda a enfermaria - Não existe magia nesse mundo, Regina! Não há o que ser feito. Eu fui atingida pelas costas e agora não posso andar...

O major Hook completou sua tortura contra mim, afinal. Ver a revolta e a dor nos olhos de Emma era uma tortura muito maior que qualquer outra que eu sofri. Sentei-me mais próxima à Emma.

- Vamos conseguir vencer isso também, Emma!

- Você não entende, Regina?! Eu não vou andar! Eu não consegui salvar Henry e ainda acabei aqui nessa cama de hospital sem mover minhas pernas!... - suas palavras cortavam-me a razão até que ela mencionou Henry. Baixei o corpo e segurei sua cabeça entre as minhas mãos tentando chegar meus lábios até os dela.

Ela recusou-se a me beijar, mas eu insisti.

- Emma, por favor... - chorávamos juntas e permaneci naquela posição durante um tempo até que ela cedeu. Selei seus lábios devagar e de forma carinhosa. Ah, sentir a boca de Emma novamente em contato com a minha dava-me um prazer muito superior ao carnal. Era a sensação de que estava de volta às portas do céu pedindo para entrar e teria meu desejo atendido.

Suas mãos entrelaçaram meus cabelos e nos desligamos do mundo. Bastou um toque mais íntimo como aquele beijo para que a revolta de Emma diminuísse e eu conseguisse conectar-me à ela novamente.

- Regina... - abriu os olhos tentando ligar-se aos meus e eu afastei-me um pouco para aproveitar e acalmar seu coração agoniado.

- Henry está vivo, major.

- O quê?

Voltei a sentar-me comportada na beirada da cama. Depois de tanto tempo as pessoas ao redor já estavam incomodadas com nossas carícias. Uma enfermeira passou por nós e "shiii!". Sorrimos daquela atitude. Contei toda as histórias, todos os momentos e as batalhas que vencemos até estar ali sentada ao seu lado. Relatei o que contaram-me sobre Henry e a gatinha Marie Antoinette. O choro de Emma foi de alívio e gratidão por ter não ter perdido o "garoto" como ela mesma gostava de chamá-lo.

Eu ainda disse que tranquei-me em meu apartamento para esperar pela morte e ir encontrar-me com ela.

- Que dramática! - aos poucos o humor de Emma voltou e ela conseguia sorrir mais abertamente comigo. Dei todas as notícias possíveis sobre nosso grupo e, principalmente, sobre Kristoff. O major estava bem e não sofreria as represálias.

Passamos boas longas horas conversando.

Longos olhares silenciosos e cheios de intenções.

Toques com as mãos que mais pareciam uma dança erótica insinuando o desejo.

Desejo por tê-la novamente e para sempre em minha vida.

Minha major alemã.

Consegui retirar Emma do hospital graças ao novo governo provisório que instalava-se em Paris e era também uma forma de esvaziar os hospitais de um jeito mais rápido. Eu poderia assumir a responsabilidade de recuperação e levá-la para casa. Assim pude ter Emma em minha casa e cuidar dela como deveria e como ela merecia.

Perguntou-me por Kristoff numa manhã quando ouvia pelo rádio que as pessoas que ajudaram a resistência receberiam condecorações tão logo a guerra acabasse. Eu não soube responder, mas as notícias sobre ele vieram com Ruby quando a cigana apareceu para nos visitar. Até o fim da guerra o major ficaria sob os cuidados de Zelena na Espanha. Foi dessa forma que também tive notícias de minha irmã e sua tarefa incansável de proteger as pessoas.

Quem sempre nos visitava eram Henry e Anna. E a euforia de Emma ao revê-lo foi comovente. Minha alemã havia tomado para si o cuidado que eu mesma tinha por ele. Juntos e aos poucos começamos um trabalho vagaroso com minha alemã: o de fortalecer seus músculos e tentar fazê-la caminhar. No início foi resistente. Emma sempre tão teimosa! Mas, foi como eu disse, um trabalho vagaroso que ela foi aceitando também com vagar.

Cada vez mais forte e confiante, Emma observava o movimento do fim da guerra aproximando-se. Não tinha notícias de seu pai. Ela acreditava que ele estivesse preso, mas eu tinha uma leve impressão de que o general havia fugido assim como tantos outros oficiais nazistas. Meses depois de encontrá-la naquele hospital, era notável sua recuperação. O sorriso da minha major era mais vivo e seus olhos brilhavam a cada avanço que dava. As pernas mais fortes e os passos mais firmes.

Essa guerra também foi vencida. Aos poucos Emma foi conseguindo colocar-se de pé e necessitava apenas uma bengala para apoiar-se. Ela afirma que meu amor conseguiu trazê-la de volta e eu não nego. O amor dela não me deixou morrer na prisão e agora era a minha vez de amá-la com tamanha vontade que ela se recuperaria.

Quando soubemos dos bombardeios atômicos no Japão tivemos medo do que se tornaria o mundo com tanto poder bélico. Alguns dias depois e os japoneses rendiam-se aos americanos. Dia 2 de setembro de 1945, oficialmente a segunda grande guerra terminava com números de destruição e morte apavorantes.

Eu estava nos arredores da Torre Eiffel quando soubemos da notícia do fim da guerra. Emma olhou-me com demora e seus olhos marejaram. Apoiada na bengala ela olhou ara o alto e sorriu. Fechou os olhos e sentiu a brisa ouvindo os murmúrios e as comemorações das pessoas mas exaltadas. Eu passei o braço pela sua cintura e aproximei-me um pouco mais dela. Ao abrir os olhos ela conseguiu ter os meus apenas para ela. Suspirou.

- Acabou, major!

- Regina! - disse em tom de reprovação. Mas sempre a chamaria de minha major.

- Acabou, Emma... - acredito que as pessoas ao nosso redor nem perceberam que duas mulheres estavam ali de pé entre elas comemorando o fim da guerra aos beijos e abraços. Eu pouco me importei, queria apenas ter Emma em meu braços durante aquele momento tão significativo para nós duas. Ela deixou a bengala para apoiar-se em meu corpo e diminuir ainda mais nossa distância. Pude ter minha alemã por completo em um beijo profundo. Apenas por faltar o ar e que nos soltamos. Uma pessoa ou outra olhava com estranheza e até com asco, mas eu sorri e as cumprimentei de forma descontraída. Emma continuou segurando-me pela cintura sem dizer palavra nenhuma.

Ouvimos os tiros de fuzil que os franceses da resistência atiravam para o alto comemorando. Carros buzinando e gente e mais gente gritando. De repente o hino francês começou a ser balbuciado entre algumas pessoas que caminhavam pelas Champs-Elysèes e a atitude tomou corpo alcançando outras pessoas até que a massa entoava o hino com uma forte conotação de vitória.

- Vencemos. - era a primeira palavra que Emma dizia depois de um longo tempo a olhar-me. Eu sorri para ela e dei-lhe um beijo selado.

- Eu amo você, Emma. É o sopro de vida que veio acalentar-me mais uma vez. Por causa de você eu resisti a tudo e a todos. Eu a amo por nunca ter desistido de buscar-me no inferno. Eu a amo por me amar com tanta grandeza e dedicação. É a minha mulher e a minha vida.

Emma sorriu de maneira tímida e vulnerável. Encostou sua testa na minha.

- Vencemos as nossas guerras, minha querida. Eu venci por tê-la mantido viva e você venceu a sua trazendo-me de volta! Não lutamos sozinhas, tivemos uma a outra e esse amor que emana de nós duas... - ela observou mais uma vez as pessoas ao nosso redor e sentiu a brisa fria. Voltou-se para mim e as esmeraldas queimaram em suas órbitas - Ich habe der krieg für sie! - exclamou em alemão aos solavancos, mas eu bem sabia o que ela queria dizer com aquilo. Eu não fiz outra coisa a não ser respondê-la da mesma forma, mas na minha língua materna:

- J'ai gagné la guerre pour toi!


Notas Finais


Deixei a possibilidade de um Epílogo
... Mas vai depender única e exclusivamente dos comentários de vocês! hahahaha

Tenho alguns outros pontos a tratar e até cenas extras para inserir, portanto, fiquem à vontade para falarem!
Por favor, não se sintam envergonhadas! Escrevam pra mim!

Vejo vocês daqui a pouco... ou não! rsrsrs


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