Em alguma estrada do México.
Héctor estava dirigindo por horas e mostrava sinais de cansaço.
- Não acha melhor pararmos em algum lugar pra descansarmos? – disse Eliza.
- Tem razão. O próximo hotel está há quantos quilômetros?
- Deixa eu ver. – disse Eliza olhando o mapa. – Fica, mais ou menos há uns 30 km de onde estamos agora.
- Ótimo, vai ser esse mesmo. – disse Héctor.
- Sabe?... Uma coisa está me deixando encucada desde a hora que saímos de Villahermosa.
- O que é?
- Já não era pra estar sendo noticiado o meu sumiço, ou a policia estar me procurando?
- Eu cuidei disso.
- Como assim?
*24 horas antes*
Enquanto Eliza dormia, ainda dopada, Héctor faz uma ligação.
- Alô, Rúbio?
- Fala aí “H”! Como é que tá?
- Preciso de seus serviços. - disse Héctor.
-
De qual tipo?
- Limpeza total. Sem rastros. E sem vítimas também.
- Poxa! E qual é a graça disso?
- Rúbio…!
- Tá legal!… Sem vítimas. Você que manda. Só me dê os detalhes, parceiro.
Algum tempo depois, na delegacia de Villahermosa, um pessoal todo engravatados entra no recinto.
- Somos do D. O. R. Queremos falar com o delegado responsável.
- O delegado Mendoza está na sala dele, senhor. - disse o policial.
- Com licença, então.
O homem acompanhado de mais um agente entra no gabinete do delegado.
- Vocês são…?
- Sou o agente Ortega do D. O. R.
- Nunca ouvi falar. - disse o delegado.
- Nem ouvirá, senhor. É um departamento secreto do governo. Viemos por causa do assassinato ocorrido aqui, ontem.
- Nós estamos cuidando do caso.
- Não estão mais, senhor. Ordens superiores. O D.O.R. vai ficar à frente das investigações de agora em diante. Esperamos que seu departamento coopere conosco.
Apesar de achar aquilo um pouco estranho, o delegado Mendoza entregou todos os dados sobre o caso.
- O corpo da vítima está no IML local. - disse ele.
- Já sabemos. O vamos encaminhá-lo ao nosso departamento. … Alguma pista da moça desaparecida?… A senhorita Eliza Ruiz, não é? - pergunta o agente.
- Ainda não. Parece que ela simplesmente sumiu do mapa.
- Compreendo. Nós agradecemos pela sua cooperação. Passar bem, senhor. - disse o agente saindo junto com o outro.
Do lado de fora, o mesmo homem engravatado entra em seu carro com os outros e pega seu celular.
- Alô, "H"?… Missão cumprida!… Ninguém vai importunar vocês.
- Obrigado, Rúbio. Te devo essa. - disse Héctor.
- Que é isso! Sabe que você é meu parceiro!
*Momento atual*
Eliza estava de boca aberta.
- Vocês enganaram a polícia?!
- Era isso, ou ficarmos fugindo pelo país como loucos, não acha?
- Mas, ainda assim, somos fugitivos.
- Porém, não temos a polícia no nosso encalço, o que aumenta muito as nossas chances disso tudo dar certo.
- Parece que estou vendo: vou ter que pintar meu cabelo, mudar de nome, de profissão…
- Não exagere. Confie em mim.
- Como se eu tivesse outras opções, Héctor! - disse Eliza cruzando os braços.
O que Héctor não imaginava é que algo muito pior que a polícia já estava em seu encalço.
***
Em Cancun.
Demétrio chega em casa alvoroçado, já que sua irmã havia ligado lhe dizendo que estavam no meio de uma crise.
- Mas que diabos está acontecendo, Sophia?!… Eu estava no meio de uma negociação importante com alguns fornecedores! - exclama ele.
- O papai colocou a mamãe pra fora de casa! - disse Sophia andando de um lado para o outro.
- O que?! Como assim?! - espanta-se Demétrio.
Don Frederico estava em seu escritório, perdido em seus pensamentos. Se perguntava como sua vida teria sido se tivesse feito tudo diferente. Se nunca tivesse aceitado a responsabilidade de cuidar dos negócios de sua família, se tivesse optado por ter uma vida simples e honesta ao lado de sua Dolores. Talvez hoje, mesmo que seu grande amor tivesse partido, ele estaria na companhia de sua filha. Sua querida Eliza, a quem ainda não conhecia pessoalmente, mas que desde que soubera de sua existência, a amara de todo o coração.
Seus pensamentos só são interrompidos com a presença de Demétrio entrando no escritório.
- Pai?… Podemos conversar?
- Se veio pra fazer uma "tragédia grega" como a sua irmã, porque eu botei sua mãe pra fora de casa, está perdendo seu tempo.
- Não, pai. Eu não vim brigar, ou discutir. Mesmo porquê, aprendi desde muito cedo que as ordens ou decisões de Don Frederico Ibáñez não se questionam. - disse Demétrio. - A única coisa que quero saber, se é que eu posso, é o que aconteceu.
- Só o que precisa saber, é que sua mãe fez por merecer.
- Tudo bem. Então ela mereceu. Mas o que ela fez?… Vamos, pai. Sou seu filho, se abra comigo. - disse Demétrio tentando ser compreensivo. O que estava deixando Don Frederico um pouco surpreso.
***
Enquanto isso, na estrada…
Trinta quilômetros depois, Héctor e Eliza chegam ao hotel que viram no mapa. Não era tão requintado como o outro onde passaram à noite anterior, mas era limpo e dava para ter um descanso tranquilo.
Eliza pedia aos céus que houvessem dois quartos. Depois da situação constrangedora pela qual passara no hotel em Villahermosa, a última coisa que queria era dividir um quarto com Héctor.
Ele volta para o carro.
- Pode sair, o hotel tem vagas. - disse ele.
- Graças à Deus!… Qual é o meu quarto? - ela pergunta.
- É o 32.
- Certo. E o seu?
- É o 32.
- Não. O 32 é o meu. - disse Eliza.
- Eu sei.
- Você não disse que o hotel tinha vagas?!
- E tem. Fui eu que disse ao recepcionista que só precisaríamos de um quarto.
- O que?!… Vamos dividir o mesmo quarto de novo?!
- Qual é o problema?… Assim, um faz companhia pro outro. - disse Héctor sorrindo.
Ao entrarem, Héctor pega as chaves do quarto. O recepcionista olhava para Eliza com um sorriso malicioso.
- Não tem chocolates embaixo dos travesseiros, mas o frigobar é de respeito! Podem consumir o que quiserem.
Eliza botou a cara mais feia que tinha e olhou diretamente para Héctor.
- Que foi? Por que tá me olhando assim? - ele pergunta.
- Que tipo de casal somos agora?
- Como assim?
- O cara da recepção olhou pra mim como eu estivesse carregando roupas de couro, algemas e um chicote dentro dessa mala. Aquele pervertido!
Héctor precisou segurar o riso.
- Não ria. Você está acabando com a minha reputação. - disse Eliza.
Eles entram no quarto. Era pequeno, porém limpo e arrumado. A cama também não era muito grande, e não havia cobertas extras e nem sofá. Ou seja, querendo ou não, eles teriam que dividir a cama.
Eliza sentou na poltrona que havia no quarto. Não se revistou, estava tensa. E acreditem, sua tensão não tinha nada a ver com sua situação atual de fugitiva, mas sim pelo fato de ter que dividir um quarto tão pequeno com Héctor.
Ele apenas deixa as malas e pega as chaves do carro.
- Onde você vai? - ela pergunta.
- Vou fazer o reconhecimento do lugar. Tranque a porta e não abra pra ninguém. - disse ele.
- E o que eu faço enquanto isso?
- Coma alguma coisa, descanse. Não vou demorar.
Ele sai. Eliza resolve seguir os conselhos dele. Toma um banho, coloca um nove e se deita um pouco. Entretanto, o sono não vinha. Ela vê a mala de Héctor. Dizem que quando não temos nada pra fazer, nossa mente fica maquinando coisas que talvez não sejam uma boa ideia. Com Eliza não foi diferente.
- Vamos saber um pouco mais sobre você, Héctor.
Eliza mexe em tudo. Encontra dinheiro, passaportes falsos, armas.
- Caramba!… Mas pra quê que um guarda costas precisa de tantos passaportes falsos?
Num determinado momento, ela encontra uma foto dela nas coisas de Héctor. Haviam muitas descrições atrás.
- Então foi assim que você me encontrou, não é? - disse ela dando um leve sorriso.
Ela vê uma arma escondida entre algumas peças de roupa. Eliza nunca havia segurado uma arma na vida, e depois do que lhe ocorrera, pensava que jamais conseguiria pegar em alguma. Mas a curiosidade falou mais alto.
Eliza segura a arma com cuidado, não queria que aquilo disparasse. No entanto, ela leva um tremendo susto quando Héctor segura sua mão bruscamente e tirando-lhe a arma.
- O que está fazendo?! - ele esbraveja.
- Ai! Que susto! - ela grita. - Desculpa, eu não quis…
- Quis sim! - disse ele visivelmente aborrecido. - O que estava procurando?!
- Nada demais, eu…
- Você foi procurar "nada demais" nas minhas coisas?!
- Héctor, eu sinto muito… Eu… Mas poxa! Você não me diz nada sobre você! - disse Eliza.
- Talvez porque eu simplesmente não queira falar sobre mim com alguém como você! Já pensou nisso?! - disse ele.
- Eu… Só pensei que se e soubesse um pouco mais de você, pudéssemos ser amigos, sei lá.
- E por que eu iria querer ser seu amigo?… O meu trabalho é só levar você pro seu pai.
Eliza não sabia explicar, mas aquilo a deixou magoada. Héctor pôde perceber nos olhos dela o efeito que aquelas palavras lhe causaram. Não era a primeira vez que ele era grosseiro com ela, e nem ele sabia o por quê.
- Tem razão. - disse Eliza. - Me desculpe. Eu sou uma idiota, mesmo.
Ela pega umas roupas e vai se trocar no banheiro. Héctor respira fundo, tinha dito besteira de novo. Ele vai até a porta do banheiro.
- Eliza?… Olha, me desculpa. Eu não quis ser grosseiro com você, eu… Eu fiquei com medo de você disparar aquela arma sem querer. E o que eu disse depois… Não foi… Não foi realmente o que eu queria dizer. … Abra a porta, por favor. … Eliza?
Ele abre a porta lentamente e percebe que ela havia fugido pela janela do banheiro.
- Mas era só o que faltava! - disse Héctor saindo do quarto às pressas.
Eliza se lembrou que quando estavam chegando no hotel, avistou uma lanchonete à poucos metros. Ela resolve ir até lá, ter contato com outras pessoas além de Héctor.
- Um café, por favor. - ela pede.
- Dois. - ela ouve uma voz.
Quando ela se vira, depara-se com um homem. Alto, moreno, bonito, belos olhos, um verdadeiro príncipe. Seus olhares se cruzaram.
- Olá. - ele a cumprimentou com uma voz de veludo que excitava qualquer mulher.
- Oi. - disse Eliza ainda perdida naqueles olhos.
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