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História La Vie - Call.


Escrita por: cabellsfairy97

Notas do Autor


oi oi pessoas, 3/3! Espero que tenham gostado dos capítulos, e espero que estejam entendendo a história.

Capítulo 17 - Call.


Minha mãe me olha estranho quando chega do trabalho e me vê plantada ao lado do telefone da sala.

— Oi — Eu digo, em um tom que quase implora para que ela não pergunte. Mas..

— Oi. Esperando uma ligação?

Meu corpo estremece com o seu olhar sugestivo, mas logo ela desvia, cansada demais para me interrogar. Por um segundo, quero que ela pergunte. Quero que ela seja como uma mãe normal e faça mil perguntas, que se preocupe, quero que não esteja tão cansada que não pode se importar com a própria filha. Mas logo eu encolho meus ombros e me lembro. É sempre assim, desde que papai se foi. Nós somos estranhas.

— Você está com fome? — Clara pergunta, de repente — Estou exausta, pode me esperar tomar um banho? Farei a janta logo...

— Na verdade, eu acho que... vou me deitar. Estou um pouco cansada.

— Como foi seu dia?

Sinto algo vindo pela garganta, arranhando. Uma ferida sendo aberta, rasgada. E antes que eu possa contar até dez, estou de pé, fervendo de raiva.

— Oh, você quer saber o que eu fiz durante o dia? Será que você quer saber mesmo ou vai fugir para o trabalho antes que eu termine? — Pare. Minha mente alerta. Ela não tem culpa, você sabe que não. Mas agora é tarde. É como as palavras que eu engoli estivessem escapando, sem controle, assim como as malditas lágrimas. Falar com ela sempre me deixa hiper sensível  — Por que você não me perguntou como foi meu dia quando eu cheguei da escola cheia de hematomas? Por que você não me perguntou nada mesmo vendo minhas cicatrizes, mesmo me vendo no hospital, me vendo morrer, mãe.

A mulher parada na minha frente é feita de medo e dor, e pedidos de desculpas. Continuo ali enquanto ela cobre a boca com a mão e me olha, triste e cansada.

— Eu estou tentando, Lauren. Estou tentando desde que ele se foi. Você não vê? — Ela quase grita, agitando as mãos — Eu sei que você está sofrendo. Eu estou sofrendo por saber disso. Mas eu preciso trabalhar ou nós duas vamos afundar nisso. Não há escolha —Me calo. Eu não faço ideia de qual é a outra opção que temos, e não posso ajudar em nada. Talvez devesse ter me mantido calada desde o início. Minha mãe balança a cabeça negativamente várias vezes  — Eu sinto muito por tudo isso. Mas nós não podemos mudar o que aconteceu. Tudo o que podemos fazer é nos manter de pé. 

Depois disso, Clara apenas finge um sorriso e sobe as escadas até seu quarto. Eu a odeio por um minuto. Por não reagir. Por não me encorajar a reagir. Por permitir que fiquemos acorrentadas ao passado quando há alguém tentando me livrar disso. Alguém.

Encaro o telefone que não toca e depois a pulseira em meu pulso. Ela sempre liga. 

Preocupação é a minha sina. Como não tenho coragem de ligar para a casa dela, a última opção vem a minha mente: meu celular. O aparelho estava desligado há alguns anos desde que eu decidi que não precisava mais manter contato com ninguém, e agora eu estava ali, procurando-o e ligando-o, só por ela.

Torço para que não tenha desaprendido a usar. Meu papel de parede ainda é uma imagem de várias flores vermelhas, e todas as antigas fotos e músicas ainda estão lá. Procuro o nome na agenda de contatos, torcendo para que não tenha apagado o número dela. Por favor, não, Lauren.

Quase salto quando leio o nome. CamEEla CabeYO. Está bem ali. Só espero que ela não tenha mudado de número. Decido que estou nervosa demais para ligar e falar, então mando uma mensagem.

Lauren:

Camila?

Espero a resposta por cinco minutos antes de achar que fui estranha ao chamá-la apenas de Camila. Tento outra vez.

Lauren:

Camz?

Espero por mais cinco minutos, dando voltas pelo quarto, impaciente. Será que ela não quer me responder? Será que não viu a men...

Ai meu Deus. Eu sou definitivamente uma burra. É claro que ela não viu a mensagem, droga. Ligo para o mesmo número, com as mãos geladas e trêmulas, jurando que vou desmaiar se ela demorar dois segundos para atender. Odeio ter ansiedade. 

— Ei! Quem é?—Ouvir sua voz do outro lado da li nha me faz respirar aliviada. É ela. Abro a janela do quarto e coloco a cabeça pra fora, respirando o ar puro da noite fresca. 

— Uma psicopata olhando para a sua casa da janela. 

Ela ri alto, e eu sorrio para o nada. Lauren Jauregui, a trouxa. 

— Isso é assustador. Definitivamente. Eu colocaria a cabeça para fora da janela para procurar você mas espere... eu sou cega. 

— Coloque mesmo assim, Camz. Eu q-quero... ver v-você — Eu realmente tenho que gaguejar assim agora? Eu realmente tenho que ser estranha alguma hora? Escuto os movimentos da garota do outro lado da linha, um tropeço, uma quase queda, e logo ela está na janela. 

— Vamos fingir que eu consigo te ver. E que eu não estou parecendo um trapo — Ela quase  sussurra a última parte, rindo baixinho. Eu não consigo mais reagir. Não consigo mais responder a partir do momento que vejo aquela garota na janela. Não é como se eu estivesse há anos sem vê-la, mas depois da minha confissão para mim mesma, o sentimento parece mais real com ela bem ali. E sinceramente, ela está um trapo desde que um trapo signifique inexplicavelmente maravilhosa usando um simples moletom amarelo. Quando eu fiquei tão gay? — Lo?

— Estou aqui — Respondo, me xingando mentalmente. Posso vê-la encarando um ponto fixo, que fica um pouco ao lado da minha janela.

— Você não me liga pelo celular. Está tudo bem?

Deixo escapar um suspiro triste, sem querer, pensando nas palavras trocadas com minha mãe, imaginando que ela provavelmente está chorando no quarto ao lado agora e nós vamos nos distanciar mais ainda.

— Nós nos parecemos muito, sabe? Eu e minha mãe — Começo a falar antes que possa perceber e quando percebo não quero mais parar, apesar de estar tremendo — Eu odeio como ela foge dos seus monstros ao invés de enfrentá-los. Eu odeio como ela aceita a situação e tem medo da mudança. Medo de arrancar o band-aid. Eu odeio quando ela age como se... como se pudesse consertar tudo e segurar tudo. Mas o que eu mais odeio, Camz, é ser igualzinha a ela em tudo isso.

Estou chorando, e pensar no quão idiota é estar chorando no telefone desabafando com a garota que você provavelmente gosta me faz chorar mais ainda. Ela fica em silêncio. Posso vê-la da janela, apertando o celular  contra o ouvido, com uma expressão indecifrável de onde eu estou. Meu choro diminui gradativamente, e antes que eu possa pedir desculpas e permissão para desligar e me matar porque acabei de estragar tudo com a pessoa mais legal do mundo, ela responde.

— Ela só precisa de ajuda, Lo. Todos nós precisamos de alguém quando não conseguimos nos levantar sozinhos.

— Ela não quer ajuda!

— Bem, você também não queria ajuda, olhos verdes. Vocês são iguais, lembra? Isso não é ruim. Quer dizer que você sabe melhor do que ninguém como salvá-la.

Camila é pura esperança e amor e isso é tão bonito que me faz suspirar. E por um momento, eu acredito nela.

— Mas e se isso, ajudá-la, sugar todas as minhas energias e me derrubar, Camz? Eu não sou tão forte.

— Ei, ei. Olha para o seu pulso — Pede. Meus olhos encontram a pulseira cheia de significado e eu sorrio — Essa pulseira significa que enquanto eu estiver aqui, você vai me ter ao seu lado. Tá bem? Eu também não sou tão forte, mas se nós juntarmos nossas forças... imagine só o que podemos conseguir.

— Você é um Smurf, Camila Cabello.

Nós rimos, ao mesmo tempo, e paramos de rir ao mesmo tempo. Se ela pudesse me ver agora, estaria olhando bem para minha janela, olhando para mim, com uma intensidade assustadora, aquele olhar que diz "nós estamos conectadas". Eu quase posso ver isso.

— Ei, saia da janela. Está ficando frio pra você — Ordeno. Não está, mas ela obedece mesmo assim, rindo fraquinho.

— Muito mandona. Eu tinha me esquecido disso.

— Eu não era mandona com 11 anos de idade, Camila.

Ela ri enquanto eu saio da janela e fecho. Aquela risada doce e sincera, de quando ela realmente acha algo engraçado. Fecho os olhos para tentar imaginar.

— Você era sim. A garotinha de 11 anos mais mandona que eu já vi. "Camila, vai fazer a tarefa agora ou a gente não vai poder brincar mais tarde" "Camila, você tem que colocar um casaco ou vai ficar resfriada". Sempre a mamãe mandona.

— Eu só tentava cuidar de você... Hm, não sou tão boa quanto Dinah, mas...

— Lolo, — Ela chama, a voz  um tom mais baixa — Vocês duas são igualmente chatas... e especiais. Você é especial... de um outro jeito...

Meu coração decide sapatear quando ela diz aquilo, mesmo que sua voz esteja realmente muito baixa e fraca. De que jeito? Diga, diga. Minha mente implora. Mas ouço sua respiração suave, e quase consigo vê-la de olhos fechados, pegando no sono devagar. Seria um pecado acordá-la. Seria um pecado interromper o silêncio, ou fazer com que o pequeno, leve e doce ronco que sai dos seus lábios provavelmente entreabertos parasse. Então fico ali, em silêncio, ainda na linha, ainda ouvindo, porque de alguma forma aquilo me faz sentir melhor em uma madrugada de insônia. Eu tenho alguém. Eu finalmente tenho alguém.



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