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História La Vie - And the universe said I love you


Escrita por: cabellsfairy97

Notas do Autor


Olha quem surgiu. Oh, como eu odeio demorar! Eu sinto muito por isso, mas nunca é porque eu quero. Espero que entendam. Ainda estão aí?

Capítulo 28 - And the universe said I love you


Fanfic / Fanfiction La Vie - And the universe said I love you

Minha mãe me chama para voltar exatamente meia noite. Eu já havia cochilado ao lado das Cabello, e tive que sair de mansinho para não acordar nenhuma das duas. 

Quando estou quase alcançando a porta, ouço uma voz fraca atrás de mim. 

— Fique... Fique aqui. 

Me viro imediatamente, encontrando as duas garotas totalmente adormecidas, os olhos fechados, e o corpo imóvel. Devo estar ficando louca. Viro novamente, só pra ouvir a voz fraca de novo. 

— Lauren... 

Dessa vez, viro mais rápido. E encontro os lábios de Camila se movendo. Me aproximo o suficiente para poder sussurrar.

— Camz. Estou aqui. 

Seus olhos se apertam e ela respira fundo. Está sonhando. Falando com seus sonhos como a pequena Camila. 

— Minha Lauren... Fique aqui.

— Até o fim, Camz. 

Ela parece relaxar em seus sonhos. E eu sinto que posso ir, depois de deixar um beijo no rosto das duas. 

Até o fim. O peso dessas palavras me segue enquanto eu desço a escada em direção a minha mãe. Ela sorri, e cheira a vinho e felicidade. Um arrepio percorre meu corpo quando eu penso por alguns segundos que meu pai poderia estar ali. Pela primeira vez, eu penso nele. E dói. 

Quando olho para a mulher em minha frente, sei que ela pensa o mesmo. 

— Se despediu das meninas? Podemos ir?

— Elas... dormiram.

— Mas que belas anfitriãs, hm? — Tio Ale comenta, se aproximando ao lado de Tia Sinu. Sorrio, meio sem jeito — Foi um prazer receber vocês. Nossa casa sempre estará aberta. Sempre esteve. 

Minha mãe e eu sorrimos, não sabendo bem como reagir. Ela parece diferente, mas eu ainda posso ver as mesmas sombras em seus olhos. 

— Obrigada... Por serem tão bondosos. Por nos aceitarem de volta depois de... Bem. É. Nós precisamos ir. Eu agradeço por tudo. 

Nós nos abraçamos e nos despedimos até que saímos daquela casa cheia de memórias. O caminho para casa é silencioso. Minha mente borbulhando com o até o fim, e ao mesmo tempo tentando desvendar o silêncio da mulher ao meu lado. Talvez tivesse sido intenso demais para ela. Não sei se isso é bom ou ruim, e simplesmente não consigo perguntar. Talvez o sorriso bobo nos seus lábios seja uma pista. É algo bom. Depois de anos, algo bom ocupa aquela mente. 

Quando entramos em casa, eu quase escapo rápido demais para o quarto, mas antes, ouço-a falar. 

— Obrigada, Lauren. Parece que você conseguiu me tirar da toca hoje. 

Não é novidade que eu não saiba como responder. Felizmente, ela está acostumada, e apenas assente, indicando que eu estou livre para ir. Sorrio e assinto de volta, então corro para o quarto.

Até o fim. Escrevo as palavras e encaro, como se fossem uma aberração. Qual é o fim? O quão próximo está o fim pra ela? Talvez mais do que o meu, do que o de todos nós. Eu terei forças para ficar até o fim? Ela sabe o quanto estou aqui?

Afasto as perguntas. Uma súbita determinação me atinge. Eu vou estar aqui. Eu vou estar aqui o tempo inteiro. Porque ela esteve aqui por mim, o tempo inteiro.

E é pensando nisso que na manhã seguinte eu ligo para o seu celular. Demora um tempo, mas ela finalmente atende. 

— Oi, Lo. 

— Camz...

— Oi, Lo. 

Ela ri baixinho. Travo. Não consigo falar. Minhas mãos geladas suam e tremem.

— Eu queria... huh — Droga, Lauren. Até o fim. — Não sei como colocar isso e pode soar estranho. E-Eu quero encontrar você...

— Okay... Você quer vir até aqui? Ou quer que eu vá até aí?

— Não... Não assim, Camz. Eu quero... Algo especial. Algo como um... Como um encontro — Consigo colocar pra fora, mas tenho medo do silêncio, então falo mais — Não precisamos andar muito. Pode ser, huh... Aqui. Na minha casa. Eu vou tentar arrumar e...

Ela suspira, e eu sei que está sorrindo. A imagem que vem a minha mente me desarma. 

— Lolo? Pode repetir, o pedido? Talvez eu esteja sonhando.

Sorrio, e repito, devagar. Você quer sair comigo?  Ela parece estar tendo dificuldades de reagir, repetindo "ai meu Deus" mil vezes. Mas aceitou. Camila aceitou e agora eu tenho uma missão. Trabalhar em algo perfeito, para que ela me sinta aqui da forma mais intensa.

...

Depois de três horas, eu penso que a palavra perfeito foi um pouco demais. Minha ansiedade permite que eu faça planos e mais planos, pense em possibilidades e mais possibilidades, mas nada que eu consiga colocar em prática. Depois de três horas, eu continuo sentada vendo as mesmas coisas, mesmo com duas folhas cheias de planos. Desesperador. 

Antes de jogar tudo para o alto, vou até a janela tomar ar. E jesus, eu não acreditava nessas coincidências, essas coisas aleatórias que acontecem de repente e mudam tudo de uma vez. Mas quando eu olho para a janela da casa ao lado, eu vejo Camila rodando em um vestido adorável. Ela parece estar rindo, e Sinu e Sofi estão bem do lado, aplaudindo. Não há nada que me impeça de ficar ali, colada no chão, aplaudindo mentalmente. Mas eu saio. Saio porque algo dentro de mim começa a saltar no instante que eu a vejo rodando, tão animada. 

Ligo para minha mãe, e aviso sobre o que vai acontecer. Ela parece chocada e orgulhosa de certa forma. A ligação me faz pensar em um monte de coisas. Como: não tenho comida. Não tenho nada para oferecer em um encontro. Quase me desespero, mas ouço a voz dela vir como uma luz repentina. 

— Eu vou trazer algumas coisas para casa, então. O que você sugere? 

— Bem... 

Minha mãe começou a listar várias coisas, tendo o cuidado de incluir coisas com banana. Eu estava quase desmaiando de confusão, quando ela disse:

— Eu cuido da comida. Fique tranquila sobre isso, ok? Até mais, Laur.

 Ela desliga, e eu fico pensando enquanto sorrio. Deve ser isso que uma mãe e uma filha normais fazem. Provavelmente é isso. Estamos no caminho. 

Depois disso, é uma confusa maratona para tentar focar e deixar meu quarto menos escuro e sinistro. Rio sozinha, percebendo o quanto estou caída. Tentando arrumar um pouquinho minha bagunça, pra agradar a garota que me faz querer tentar.

Depois que a sujeira sai, olho em volta. O quarto parece mais claro e agradável, mas ainda tem coisas minhas por todo lado. No entanto, não sinto que deva tirar. Os post-its colados na parede, com coisas que importam pra mim. As fotos que agora são visíveis. Os desenhos, a pilha de HQs, os vários livros enfileirados. Todos eles fazem parte da minha bagunça, a que não parece assustar Camila. A que parece fazê-la querer ficar. Então eu deixo tudo ali. E isso me faz sentir bem. Como é bom ter alguém para amar sua bagunça...

No fim da tarde, minha mãe chega. Abre a porta como se estivesse fugindo de uma guerra, e me deixa assustada.

— Ei! O que houve? Está tudo bem? 

— O que? Está, eu achei que estivesse atrasada... Camila está aqui? 

Sorrio, pegando as sacolas das suas mãos e colocando sobre a mesa. Então nós estamos mesmo evoluindo. Ela se importa. 

  — Acho que ela só vem de noite, eu não defini um horário. Huh... Eu consegui arrumar o quarto e um pouco das coisas mas... hm... eu não...

Não tenho ideia de como falar isso sem soar idiota. Como dizer que eu não sei como as coisas vão acontecer, já que eu sou péssima com todas as situações do mundo. Ela me olha por alguns minutos, com um sorriso gentil que parece com o meu, e então se aproxima silenciosamente, e mexe em uma das sacolas. De lá, tira uma pequena florzinha amarela. Pequena e delicada, logo vem parar nas minhas mãos. 

— Achei no caminho. É pra dar sorte. Vai ser bom, eu sei que vai. Vocês se conhecem desde o berço, se dão tão  bem...

Me sinto mais confiante, e não sei como agradecer. Me aproximo e dou um rápido abraço desajeitado na mulher em minha frente, que parece mais próxima agora.

— Obrigada, m-m...mãe.

Ela não consegue conter o sorriso. Parece tão feliz pelo abraço, pela nossa proximidade. E está. Nós estamos. Aquela novidade é tão bonita para nós.

— Agora vá. Vou fazer algo para comer. Logo vai ficar escuro, e você precisa se aprontar, certo? — Assinto, e me preparo para sair pulando escada acima, como uma criança alegre. Está cedo, mas a ansiedade está ali e eu começo a me arrumar. Tomo um banho e depois, passo pelo menos vinte minutos só procurando uma roupa para vestir. Acabo escolhendo uma camisa azul bebê e uma saia preta, de couro. Não sabia se deveria me arrumar muito, já que era minha casa, mas queria colocar algo que eu me sentisse bonita, mesmo que ela não fosse ver. 

Arrumo meu cabelo, pensando em como estou me esforçando para arrumar minha bagunça. Arrumar tudo para que nada a assuste, ou ofenda. 

Recebo uma ligação quando a noite começa a cair. É claro que é Camila.

— Que horas eu devo ir? 

— E-Eu vou buscar você... Quer vir agora? 

— Eu adoraria, Lo. Estou ansiosa. 

— Estou indo. Não sei o quanto vou demorar, é tão distante...

— Oh, você fez uma piadinha! Estarei esperando. 

Ela encerra a ligação. É incrível como pode me deixar sorrindo para as paredes. Desço correndo, e aviso minha mãe sobre estar saindo para buscar Camila. Ela faz um sinal de positivo com a mão, concentrada no que cozinha. Me desejo boa sorte, respiro fundo, e saio. 

A noite está fresca, quase uma característica de Miami. E eu estou gelada, quase uma característica minha. Tento andar o mais devagar o possível, e tento não desmaiar no meio do caminho. Mas é difícil  prolongar a caminhada quando a casa é bem ao lado. Chego rápido, com as mãos tremendo. Ela ainda não está ali. Será que ela está bem? Será que esqueceu? Será que eu estou louca e o encontro nunca foi planejado? 

Quando estou prestes a bater na porta, ela se abre, revelando uma Camila sorridente em um vestido roxo. O tecido leve balança com o vento, e seu cabelo também. Não existe um adjetivo para descrevê-la. Só existe o choque. E meu coração batendo como louco. 

— Ei — Sussurro, ofegante. Ela sorri, e dá um passo a frente, chegando perigosamente perto. Mas Tia Sinu aparece de repente na porta, e eu quase empurro Camila para o meu lado. Graças a Deus ela não parece ver nada.

— Boa noite, querida. Está tudo bem? — Me pergunta, e eu só consigo assentir — Bem, acho que você sabe como é difícil. Cuide bem dela, certo? Por favor, tomem cuidado. Me liguem por qualquer coisa. Filha, avise a Lauren sobre qualquer coisa diferente que você sentir, certo?

Depois de mais uma lista de recomendações, nós nos despedimos e ela nos deixa ir. Camila segura em meu braço e nós vamos caminhando devagar até minha casa. Em silêncio, nossas respirações podem ser ouvidas. 

— Você está bem? — Pergunto, baixinho. Ela só assente, com um sorriso. Parece pensativa, não ouço sua voz desde que ela ligou. Mas decido não perturbar seus pensamentos, e seguir em silêncio. 

Quando nós chegamos, minha mãe acaba de descer as escadas depois de um banho. Nos cumprimenta e diz que quando o prato principal (e único) estiver pronto, será servido. Sorrio quando ela pisca para mim. É tão bonito como se importa agora. Não vou me acostumar tão cedo. 

Subo as escadas com Camila; ela parece um pouco mais cansada do que o normal, mas segue o meu ritmo. Quando entramos no quarto, assim que eu fecho a porta, ouço-a desabar no chão atrás de mim. O desespero me consome e eu me jogo no chão ao lado dela. 

— Camz, você tem que me contar o que está acontecendo. Por favor, fale comigo — Seguro suas mãos entre as minhas, tentando não falar alto demais. Tentando não piorar as coisas. Ela está sentada, com os olhos fechados, a respiração rápida. 

— N-Não ligue, L-Lo... Isso acon-acontece... Vamos, estou estragando...

— Não. Eu não posso ignorar o que você sente, de jeito nenhum. Eu te chamei para passar um tempo com você, Camz, não pense nisso como algo muito planejado. Converse comigo. 

Ela solta  o ar, como se estivesse segurando há muito tempo, e então sua cabeça cai em meu ombro, como se estivesse se rendendo. Fico de pé, e pego o corpo frágil sem muita dificuldade, carregando até a cama, onde é mais confortável e nós podemos conversar melhor. Então só espero que ela fale. 

— Me perdoe... Eu estava tentando... Tentando disfarçar os...

— O câncer não gosta de ser ignorado, Camz. 

— Eu sei, e eu o odeio tanto — A primeira lágrima desce solitária. A luz da garota está vacilante, e eu fico em silêncio. É o momento dela — Eu odeio não poder ver a vida, ou seus olhos. Odeio não ter forças para correr, e fazer tudo  que eu quero fazer. Odeio não ter tempo. Deus, me desculpa, eu não deveria estar dizendo isso pra você, eu só... 

Ela desaba em lágrimas. Deixo que descanse a cabeça no meu peito, e acaricio seu cabelo, sentindo os soluços contra meu corpo, o corpo frágil tremendo. Fico pensando em todas as vezes que eu desabei, e ela esteve lá por mim, me segurando. Essa deve ser a minha vez de fazer o mesmo. Minha vez de ser forte, de ser como um Smurf. 

— Você está evoluindo tanto... Está melhorando, e eu não vou estar aqui pra te ver ficar bem — Ela lamenta, chorando. As lagrimas chegam aos meus olhos também. Agora aquilo me atingiu com  força. 

— Você ainda tem tempo...

— Eu estou me esquecendo das coisas, Lo. Estou cada vez mais fraca. Essa coisa está tomando conta de mim e eu tenho medo que me tire a vida. Não literalmente. Você sabe... É tão difícil. 

— Quase tão difícil quanto estar apaixonada por você e te ver assim.

Estou chorando quando digo aquilo. Ela quase fala algo, mas para de repente, e chega mais perto, me abraçando. Estamos tão envolvidas na nossa bolha que não importa o que eu disse. O sofrimento está ali. Não consigo nem começar a dizer o quão difícil é amar alguém que logo vai desaparecer. Sumir sob meus pés. Pensar nisso me faz chorar mais e mais até que eu esteja soluçando com ela. Não tenho muita experiência, mas creio que não é bem isso que pessoas fazem em um encontro. Mas dane-se, porque ela está ali, e nós estamos juntas, e isso é mais especial do que eu posso pensar. 

Depois que o choro passa, nós ficamos em silêncio. Eu acariciando seu cabelo, e ela deslizando os dedos por meu rosto, como se estivesse tentando decorar os traços. Depois de  um tempo, começa a sorrir. 

— O que? — Pergunto, feliz por ver o sorriso. 

— Estou vendo você. 

— É?

— Cada detalhe. Você é muito, muito bonita — O tom de voz vai abaixando, abaixando, até tornar-se um sussurro entre um sorriso —  Uma coisa sobre ser cega: eu posso ver por dentro. O essencial é invisível aos olhos, huh?

Lá está ela, um Smurf de novo. Meu coração bate tão forte que dói.

— Aqui dentro não está tão bonito...

Ela sorri como se fosse o sol, e se aproxima mais ainda. Meu coração nem existe mais. 

— Bem, parece que eu me apaixonei mesmo assim — Sussurra. Fico gaguejando, mesmo já tendo recebido essa informação e não consigo falar nada. Meu rosto esquenta, e ela sente, porque sorri mais ainda — Ora, não aja como se fosse surpresa! Estava claro desde o dia em que eu coloquei meus olhos em você. Não sentiu? Nós éramos crianças, e lá não estávamos exatamente apaixonadas. Mas não sentiu que, de alguma forma, nossas almas se puxavam para perto?

Assinto, devagar, hipnotizada pela forma que ela fala. Com a alma. É tão verdadeiro...

— Deve ter sido isso que aconteceu. Nossas almas se apaixonaram antes mesmo que nós soubéssemos o que isso significava. 

Fico com vontade de chorar de novo, subitamente. Chorar de emoção, porque ela está ali, dizendo aquelas coisas, pertinho, fazendo meu coração acelerar. Apesar da dor, eu sinto que devo aproveitar aquele momento, vivê-lo e sentir todas as coisas. Lauren ansiosa não pensaria isso, mas só por hoje, eu sou a Lauren apaixonada. 

Que gay.

Como não consigo falar nada, faço um carinho em sua bochecha, e me aproximo até que ela consiga sentir minha respiração. Nossos narizes se tocam, delicadamente, como um pedido silencioso para que os lábios façam o mesmo. Mas então ouvimos batidas na porta, e temos que nos afastar. Para não perder o costume.

— Meninas? Está na mesa.

É a voz da minha mãe. Respondo um "já vamos" com dificuldade, já que meu rosto está pegando fogo. Camila voltou a ser exatamente como antes, porque se levanta da cama rindo como uma criança. 

— Eu imagino sua cara agora, Lo. 

— Cara nenhuma. Deixa eu arrumar seu cabelo, vem. 

Arrumo os fios castanhos com carinho, querendo mesmo é beijá-la. Ela também quer, mesmo que seja mais controlada, eu vejo a forma que morde o lábio. Mas conseguimos descer sem cair em tentação.

Minha mãe está em algum lugar na cozinha, mas grita para que nós nos sentemos. Parece tão alegre. Me deixa ainda mais feliz. 

— Então, o que acham de... — Ela vem trazendo algo escondido por uma tampa — Torta de banana! 

Camila dá um grito assim que ela revela a torta. Minha mãe sorri mais ainda. 

— Eu não acredito nisso, Tia Clara. Não consigo acreditar. Ohh, o cheiro. Eu lembro das suas tortas, a senhora cozinha como ninguém. Oh, Lo, me deixe comer tudo sozinha. 

Nós rimos. A garota dá um abraço apertado em nós duas, e aquilo significa tanto. Minha mãe sorri, emocionada e orgulhosa. Eu sei o quanto ela ama Camila, desde sempre. E sei o quanto ama cozinhar. Sei que o seu trabalho não é tão pesado porque ela gosta do que faz. E sei também como a doença da garota a afeta. Sei que as lagrimas em seus olhos não são só pelas coisas boas. Também são porque a adorável Camila não merece nada daquilo. 

Mas ela parece tão determinada quanto eu a não deixar a ansiedade consumir essa noite. E então sorri, e corta uma fatia de torta para a garota empolgada como uma criança. 

— SE TIA CLARA EXISTE, GRAÇAS A DEUS PORQUE EXISTE — Camila berra com a boca cheia assim que dá a primeira mordida. Nós rimos até a barriga doer. Minha mãe me serve, e então se prepara para sair, mas eu insisto que fique — A senhora não pode ir embora antes de me dar a receita. Fique sentadinha aí — Murmura a louca da banana, pegando o segundo pedaço. 

— Vai com calma, Camz. Você vai poder levar o resto pra casa! 

Ela não me obedece e continua comendo. Só aguento um pedaço (coisas da depressão) e ela chega até o quarto. Minha mãe também só aguenta um, então todo o resto fica para os Cabello. Nós tomamos suco  de laranja depois, e ficamos conversando sobre coisas leves, como Sofia ou a receita da torta. É tão bom estar ali, que eu nunca quero que acabe.

O telefone da sala toca, e minha mãe atende. Tia Sinu parece apenas querer saber como a filha está, mas logo começam a conversar sobre todas as coisas que mães conversam. Eu e Camila ficamos nos olhando na mesa, até percebermos que a conversa seria longa. E então nós corremos. 

Corremos para deixar os pratos na cozinha e então corremos para o quarto. Corremos como nossas pequenas versões corriam para o esconderijo, para ficar mais tempo juntas. Mas foi então que eu percebi mesmo que não éramos mais nossas pequenas versões. 

Percebo quando nós nos beijamos, assim que fechamos a porta. É algo inapropriado para nossas pequenas versões, algo que faz meu rosto queimar ao pensar que havíamos crescido e nossos corpos haviam mudado. Isso é o que nós fazemos agora. 

Uma das minhas mãos escorrega do rosto macio para a cintura. Sinto o corpo desenvolvido vibrar nas minhas mãos, e acho que aquela é a primeira vez que nós encaramos o desejo. Já haviamos encarado a saudade, o amor, a preocupação, mas nada como o desejo; aquele que aumenta nossa temperatura e nos faz sentir que não estamos perto o suficiente.

— Controle-se... — Sussurro, mais pra mim mesma, mas ela se afasta com os olhos fechados e um sorriso carregado de sarcasmo. 

— Cuide das suas mãos primeiro, Jauregui.

Rio baixinho quando percebo que minhas mãos estão loucas como eu. Direita, perdida entre os fios castanhos de cabelo, segurando como se precisasse disso. Esquerda, espalmada nas costas dela, só que um pouco mais embaixo. Meu rosto pega fogo. 

— Você sentiu? — Ela fala baixinho, a cabeça cai em meu ombro. 

— Foi bom...

— Foi. E pareceu tão certo...

Nós escorregamos juntas, encostadas na porta. E então ela está deitada em meu ombro, e eu estou segurando sua cintura e fazendo cafuné da forma mais suave. Somos assim. Repentinas. De um momento de fogo para um momento como aquele. Onde só nós existimos. Só nós. 

Beijo sua testa. Sei que ela está prestes a pegar no sono, e vou ter que levá-la de alguma forma para casa, mas não quero abrir seus olhos agora. Não quero que ela saia de perto de mim, que sua respiração suma dali. Só agora, o tempo não existe. 

— Lolo — Chama, na sua voz de pequena Camz. E tem toda a minha atenção quando diz: — Eu te amo.

É como se o universo inteiro, as estrelas, os planetas, todas as outras galáxias e os seres fantásticos escondidos nelas; como se tudo, cada planta, gota de água ou grão de areia; tudo, todo o universo tivesse parado, apenas para ouvi-la dizer aquelas três palavras. Na verdade, foi como se o próprio universo tivesse dito "eu te amo."

Não consigo responder antes que ela durma. Quando volto ao mundo, ela já está longe. Então eu apenas espero que ela saiba. Eu a amo. Eu a amei antes mesmo de saber o que é amar. 


Notas Finais


Alerta de capítulo gay. Eu gostei de escrever esse. Vocês gostaram? Ele tem um monte de detalhes importantes. Me deixem saber o que vocês pensam!


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