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História La Vie - Running with the time.


Escrita por: cabellsfairy97

Notas do Autor


Espero que esteja algo perto de bom. Agora as coisas vão ficar meio rápidas porque, tic-tac, o tempo está passando, e nós vamos correr com ele. Por favor me deixem saber o que vocês acham, eu amo tanto os comentários. E por favor, se quiserem, me mandem uma mensagem quando eu demorar. Se quiserem saber o motivo, qualquer coisa. Eu sei que é bem chato, mas às vezes eu não consigo escrever. Não quero fazer algo ruim.

Capítulo 29 - Running with the time.


Camila teve que dormir em minha casa aquela noite. Tentamos acordá-la, mas não funcionou, e minha mãe não quis que Alejandro viesse buscá-la.

"Elas sempre dormiram juntas. É como nos velhos tempos"  explicou, no telefone.

Só que agora era diferente. Nós ainda nos dávamos bem como antigamente, e essas coisas. Mas o que nós sentíamos era diferente. Dividir a cama com ela me tirou o sono. Deixou meu coração batendo rápido e minhas mãos suando, cada vez que ela respirava, e o ar quente batia no meu pescoço. E quando ela acordou, nós conversamos, baixinho, rindo de coisas bobas, como um casal recém casado. E então eu fui deixá-la em casa, flutuando, achando tudo bom demais pra ser verdade.

Aquilo deve ter sido uma preparação. Como um momento de paz antes do caos. Porque depois disso, tudo começou a desabar.

Começou com as fraquezas. Camila passou um dia inteiro deitada, com um sono que parecia não ter fim. Ela nem conseguia falar direito, mesmo tentando muito para não nos deixar preocupados, só balbuciava alguma coisa e voltava ao sono profundo. O sono continuou por mais um dia e meio, em que ela quase não conseguia comer sem cair deitada de novo. Mesmo sem sono, parecia estar cansada demais para fazer qualquer coisa. E as falhas de memória, oh, como elas nos faziam chorar. Mas aguentávamos firme, ao lado dela. Nesses dois dias e meio, minha mãe e tia Sinu se aproximaram, quase como antes, mas minha mãe ainda tinha algumas travas. Eu podia vê-la deixando todas elas, devagar. E Sinu era paciente com ela,  como Camila foi comigo.

Depois do meio dia, Camila se agitou um pouco, e saiu do quarto. Nós comemoramos - nós, porque eu e minha mãe estavamos quase morando com os Cabello - e ela sorriu como antes, adorável, fazendo meu coração doer. Passamos um tempo conversando com ela; Sofia não conseguiu soltá-la um minuto, de saudades. E nós não tirávamos nossos olhos dela, escutando as palavras lentas e a voz cansada. E eu espero que tenha se sentido amada naqueles minutos. Espero que tenha sentido o quanto importa pra nós. Espero que tenha sentido isso antes de desmaiar.

A próxima semana foi um borrão cinzento. Foi como se todos nós tivéssemos sido pegos desprevinidos por um furacão que arrastou nossas vidas para outro mundo, escuro e doloroso. Ver Camila de volta ao hospital, internada, me fazia pensar que se uma ampulheta representasse o tempo dela, era como se tivesse sido balançada com força, só para que o tempo passasse mais rápido. Eu vi as coisas ao meu redor se apagarem devagar enquanto ela estava no hospital, sendo observada e submetida a mil e um exames. Vi as piadas de Dinah desaparecendo. Vi a fé de Ally vacilando, e o sorriso de Normani também. Vi as olheiras nos belos olhos de Sinu, e também de Alejandro, e da minha mãe. E vi a pequena Sofia chorando e soluçando, tão alto que despedaçou meu coração.

Mas ele se reconstruiu de novo, e de novo. Todas as vezes que Camila sorriu pra mim e se esforçou para me dar um selinho de repente, eu me reconstrui, para tentar ser inteira e somar com seu inteiro. E nós, as pessoas que estavam em volta dela, nos reconstruíamos juntos. Nós nos demos as mãos para evitar que a tristeza nos leve. Nos ajudamos.

Ouvimos todos juntos o Doutor dizer "É só o tempo, fazendo o que faz. Iniciar um tratamento iria acelerar as coisas. Eu sinto muito, só podemos esperar." Choramos juntos. Era minha primeira vez em anos fazendo tanto junto com outras pessoas. Fazendo parte. E apesar da dor, eu me senti acolhida.

Fiquei próxima das meninas como nunca achei que ficaria. Elas me apoiaram e estiveram por perto o tempo inteiro. Ouvindo desde as novidades ao choro que parecia não ter fim. Elas eram um pedacinho de Camila e eram elas mesmas, me fazendo sentir melhor, menos solitária.

O tempo passou, e as férias acabaram. Camila não voltaria comigo, e isso me deixou desesperada por um tempo. Mas agora, não seria horrível como antes. E mesmo se fosse, eu teria amigas e um lugar nos braços de uma garota para voltar todos os dias.

E todos os dias depois da escola, eu voltei. Voltei para ela, deitada naquele quarto de hospital, impaciente, e trouxe uma margarida. Todos os dias. E ela sorriu como na primeira vez, e tocou meu rosto com delicadeza, como se eu fosse algo precioso demais para que ela conseguisse acreditar. Fui até lá entregar sua margarida até quando tive consulta, ou quando tinha tarefa de casa para fazer. Tudo para ver seu sorriso dizendo todas aquelas coisas que eu precisava saber.

Bem agora, eu estou do lado dela, no hospital, segurando sua mão. Minha cabeça está deitada em seu peito, onde eu posso ouvir seu coração batendo. É reconfortante. As meninas estiveram aqui há alguns minutos, depois da aula, mas se despediram e nos deixaram a sós. E desde então, nós ficamos em silêncio. Conectadas.

— Lo.

Ela chama, baixinho. Eu estou concentrada na forma que o seu coração bate. Devagar. Parece que o tempo parou.

— Lolo.

Seu corpo é quente como uma cama quentinha de manhã. Quero ficar lá para sempre, e não quero acordar. Me deixe ficar...

— Meu amor.

Um arrepio me desperta. Desvio meus olhos para os seus, e encontro amor.

— Você disse...

— Meu amor? É a verdade, não é? Você é meu amor — Fala sorrindo. Quer me matar. Olho para os seus lábios, esperando que fale mais — Eu. Amo. Você.

Tenho dificuldade de falar. De respirar. De me mover. Aperto sua mão uma vez e me aproximo. Acabo deitada na maca, ao seu lado.

— V-vou me acostumar com... essas palavras. Por enquanto, fico assim. Parada no tempo.

Ela ri, e então se aproxima tanto que é impossível não roubar um beijo. Nós rimos juntas, então.

— Lo... — Ela segura meu rosto e acaricia com a ponta dos dedos. Eu sei que está pensativa sobre algo, então a deixo falar — O tempo está correndo rápido demais...

Vejo o medo nos seus olhos de lua. Camila ainda é a mesma. Cheia de esperança e coragem. Mas ela está diante de um monstro. Diante do tempo. Isso assustaria qualquer um. Agradeço mil vezes por ter melhorado, por ter aprendido coisas com ela, antes de dizer.

— Vamos correr com ele, então.

Não espero seu sorriso imediatamente, porque sei que sua mente está cansada e não vai entender agora. Espero, enrolando um fio do seu cabelo em meu dedo.

— Correr com o tempo? Como?

— Seguir o ritmo, sem medo — Não acredito que eu estou falando isso. As palavras escapam — Há um tempo atrás eu nem queria falar com você, e agora, você sabe que eu te amo, e sempre amei. Com correr com o tempo, eu digo sentir todas as coisas que vierem como se fosse  última vez. Aproveitar o sentimento. Gritar sobre ele no topo da montanha mais alta. Dizer coisas que nós não teríamos coragem de dizer. Você sabe, Camz.

Ela sorri. Aquele sorriso Camila, bem aberto e feliz. Suas mãos seguram meu rosto, e me puxam para perto, e então ela sussurra:

— Eu te amo, e quero passar o resto da minha vida perto de você. Não importa quanto tempo eu ainda tenha.  É isso que eu quero dizer.

Estou paralizada. Meu coração bate rápido e eu não consigo segurar um sorriso. Chego mais perto dela, e nós nos beijamos sorrindo. É a melhor coisa do mundo.

...

1 semana de margaridas entregues depois, Camila saiu do hospital. Fui até a casa dela com as meninas arrumar uma festa de boas vindas. Era como se as coisas estivessem se repetindo, mas agora, eu não sairia correndo. E agora eu tinha uma mãe. Ela saiu do trabalho mais cedo, e foi nos ajudar com a comida. Sem enlouquecer sobre estar fora do trabalho ou perto de mim. Estava ali, de corpo e alma.

Quando alguém bate na porta, estamos jogadas no sofá. Sofi está deitada no peito de Dinah com os pés em cima de mim. Dinah está encostada em Mani e Ally deitada nas coxas dela. Pulamos do sofá imediatamente e corremos para arrumar o cabelo, rindo. Aqueles momentos entre amigos de verdade são tão especiais pra mim.

Quando abrimos a porta, não é Camila que está lá. São algumas pessoas da escolas. Pessoas legais que nunca me fizeram mal algum, mas que ainda me deixam nervosa. Dinah fica ao meu lado, cumprimentando as pessoas enquanto eu estou paralizada. Inclusive, Shawn Mendes. Minha respiração fica irregular.

— Ele implorou para vir. Você sabe, não podíamos negar.

— Está tudo bem. Eu só quero que ela chegue logo.

Minto. Estou ansiosa pelas pessoas, por Shawn e por Camila. Estou nervosa, só quero que ela chegue logo.

Os convidados não parecem desconfortáveis. Conversam entre si e riem, as três meninas entre eles. Não me esforço para socializar. Fico sentada, encarando a porta. Esperando. De repente, alguém tropeça para o meu lado. Meu corpo treme. Uma pessoa.

— Ei — Ela diz. Aceno, tentando olhar disfarçadamente. Eu já vi essa garota. Seria impossível não lembrar. É uma amiga de Camila. Tem o cabelo azul. Um azul forte e bonito — Lauren, né? Você tá legal? Se estiver só querendo ficar só, me avisa, ok? Sempre vem alguém perturbar.

Rio, quase sem querer. Ela é engraçada.

— Eu quero mesmo saber, ok? Ninguém me mandou aqui perguntar, e não estou tentando ser educada. Eu não faço coisas quando não quero de verdade.

— Oh, e... Qual é o seu nome?

— É Halsey. Não é meu nome mesmo, mas é mais legal e todo mundo na escola me chama assim.

— Halsey. Você sabe meu nome.

— É, sei. Quero saber como você está.

Penso, apertando uma mão contra a outra. Ela é amiga da Camila, e parece legal. Eu devo responder. Eu posso.

— Estou nervosa com o tanto de seres humanos nessa sala, e ansiosa pra que ela chegue.

Halsey ri baixinho e olha em volta. E então volta a olhar pra mim com um sorriso gentil.

— Eu também estaria. Mas eu os conheço. Todos ali são boas pessoas. Camila anda bem acompanhada. E logo, logo ela chegará. Podemos conversar sobre várias coisas enquanto isso!

Como eu pareço uma muda, ela começa a falar sobre música. Parece ser algo que ela gosta mesmo. Com a alma. Começo a falar porque meio que secretamente, eu gosto de música. Gosto de cantar para acalmar minha mente em uma noite de insônia. Quando estou sozinha. É uma companhia. Halsey tem muitas coisas legais para dizer, e escuta muito bem, também. Estamos conversando sobre nossas bandas favoritas, quando a porta se abre. Vou desmaiar.

Camila está usando o adorável vestido roxo que usou quando tivemos um encontro. Seu cabelo está solto, e meio bagunçado. Tão bonito. Ela é tão bonita. Olho em volta. Todos estão paralisados.

— Vamos, gente — Dinah sussurra. E então todos gritam "bem-vinda de volta!". Todos, menos eu, porque estou paralisada. Ainda sob o efeito de Camila Cabello.

— Oh, de novo! Eu amo tanto vocês. Ai, alguém me ajuda.

Dinah corre até ela, para levar até as pessoas. É quase como na primeira vez, mas agora, Camila é minha alguma coisa, e eu tenho amigos. Halsey me puxa pela mão e me faz levantar, para que nós entremos no bolo de pessoas. Dinah então me vê. E seus olhos brilham.

— Ei, pequena. Quer tentar advinhar quem é? — Dinah sugere.

— É um jogo? Eu quero — Ela sorri, sua criança interior parece saltitar. As pessoas se afastam um pouco, e Dinah vai até uma garota chamada Ella. Camila advinha apenas por tocar os cachos. Mais três pessoas são escolhidas, e isso me faz aprender alguns nomes. Quando estou concentrada em aprender o nome  e pronunciar direito de uma garota do sorriso bonito chamada Ashlee Juno, Dinah vem até mim, pega minha mão, e eu não tenho nem direito de reclamar. Em segundos, eu estou de frente para Camila. Tremendo. Ela estende a mão, e toca meu ombro. Sua mão desliza por meu braço, e quando toca a pulseira, sei que já descobriu. Mas por algum motivo, ela continua. Os dedos da outra mão acariciam meu rosto, deslizam por minha bochecha, e ela para ali.

— Eu reconheceria você sem nem tocar, só pelo quão rápido meu coração começou a bater — Falou, baixinho, o que fez algumas pessoas se aproximarem para ouvir melhor. É agora que eu desmaio — Minha Lolo.

As pessoas cochicham atrás de nós, eu estou tremendo. Mas também estou morrendo de felicidade por vê-la ali, de pé, em casa. E então eu puxo seu corpo para perto, e nós nos abraçamos. Com força, e é como se trocassemos energias, e ninguém mais existisse além de nós.

Por alguns segundos.

— Galera, acabou a brincadeira. Elas não vão se soltar hoje — Dinah anunciou. Pude ouvir Mani rir, e Ally pedindo silêncio. Mas logo tivemos que nos afastar. E eu olhei para todas aquelas pessoas com expressões confusas ou encantadas, e senti que deveria correr ou me esconder. Mas Camila segurou minha mão com força. E me fez querer ficar.

— Todo mundo se calou por que? Vamos comer agora? Quero.

Todo mundo começa a rir, e eu respiro aliviada. O ar não é pesado ali. Camila e eu andamos de mãos dadas por aí, ela conversa e come, mas não sai de perto de mim. Mas em algum momento, a garota chamada Ashlee a puxa pela mão para tirar foto com algumas pessoas. E em um segundo, Halsey está ao meu lado.

— Finalmente vocês descobriram que são um casal. Depois de todo mundo ter descoberto — Sussurra. Quase pulo em um susto.

— Eu... Ah, eu... Como você...

— Todo mundo daqui sabe. Todos ouviram ela suspirar por você alguma hora. E alguns te pegaram olhando pra ela. A gente shippa secretamente, esperando vocês assumirem. Digo mesmo.

Fico paralisada, com a boca aberta, olhando em volta. As pessoas estavam alheias à aquela conversa, rindo e tirando fotos com Camila.

— Todo esse tempo? Achei que me odiassem..

— Não posso falar pelos outros, mas eu sempre soube que você só estava perdida por um tempo. Mas o jeito que você sempre olhou para ela... Era como se quisesse se certificar de que seu lar ainda estaria lá quando você voltasse.

Aquilo é tão verdadeiro, tão poderoso e forte, que eu só suspiro e sorrio, não conseguindo tirar os olhos de Camila. A paz não se vai, nem mesmo quando vejo aquele garoto, Shawn Mendes, a abraçando pela cintura e beijando sua bochecha para tirar uma foto. Eu senti bem quando ela disse eu te amo. Minha Camila não seria capaz de mentir sobre isso. Nenhuma insegurança e nenhum medo poderiam algum dia arruinar o que parece ter o nome "destino" assinado.

Nada poderia.

...

Depois de algum tempo cantando karaoke e tirando fotos, Camila me encontra.

— Eu quase beijei duas garotas sem querer. Ashlee me trouxe aqui porque viu que eu estava desesperada. Uma droga ser ceguinha às vezes.

Rio com ela. Camila parece tranquila, e feliz. As bochechas estão coradas de vergonha e sua testa está brilhando de suor. Enxugo com a palma da mão.

— Está indo devagar? Eu não... Não quero que passe mal de novo.

— Sim, mommy. Estou bem. Estou viva.

Seu sorriso. Será que algum dia eu encontrarei a cura para o frio na barriga? Espero que não.

— Nem a maldita doença pode parar você, não é? Nada pode...

— Nada, nada... Uh, está tudo bem se eu beijar você aqui?

Sorrio involuntariamente. Ela sempre fala exatamente o que quer, e sempre me faz quase desmaiar.

— Seus amigos estão aqui, e eles vão gritar.

— Não me importo, Lolo. E você?

Eu me importo?  Essas pessoas estudam comigo. Depois disso, elas saberão. E qual é o problema?  Percebo que aquela é a ansiedade, tempestuando as coisas. E eu, Lauren Jauregui, quero beijar essa garota.

— Não dou a mínima, na verdade.

Respondo antes de segurar seu rosto e beijá-la delicadamente. A ansiedade não queria demorar muito, mas ela apoia as mãos em meu ombros e me puxa mais para perto. Faz durar. E isso é correr com o tempo. Eles podem saber. Podem pensar o que quiserem. Porque nós não fazemos ideia do que vai acontecer amanhã, e hoje, nós queremos estar juntas.

É engraçado quando nos separamos, porque as pessoas tentam disfarçar o silêncio e os olhares, e voltam a conversar e a fazer barulho. Camila sente isso. E começa a rir de repente.

— Eu os conheço. Daqui a pouco vão vir me perguntar se nós estamos namorando. Estamos no ensino fundamental.

— Bem, Camz... Nós estamos se você quiser.

Ela fica em silêncio por pelo menos cinco minutos. Abre e fecha a boca. Respira fundo umas oitocentas vezes. E então, quando eu me preparo pra ouvir um discurso, ela diz.

— Se isso foi um pedido, meu amor, foi o pior.

— Eu juro que o de casamento será bem melhor. Vou te fazer chorar. Mas eu só estou dizendo que você pode dizer isso pra eles, apesar de eu ainda não ter pesquisado no Google "como ser uma namorada" e apesar de ainda não estar curada. Eu estou dizendo que eu quero correr com o tempo, com você, assim — Aperto suas mãos entre as minhas, e ela exibe um sorriso tímido  — apesar de todas as coisas, Camz. Quero estar com você e parece simplesmente impossível fugir disso.

Camz sorri, um sorriso bem aberto e brilhante. E então se aproxima, docemente, adoravelmente, me envolvendo em um abraço apertado. Deixa um beijo carinhoso em minha bochecha antes de sussurrar:

— Vou contar os dias para o pedido de casamento. Amo você. É bom ter uma namorada para correr com o tempo.

— Me deixe ao menos pesquisar sobre o que significa estar namorando. Eu acabo de ficar apavorada, eu...

— Você me trouxe margaridas todos os dias no hospital, mesmo que eu não pudesse vê-las. Você esteve comigo mesmo não sabendo o que dizer. Você me amou, e aceitou meu amor que já estava ali desde o princípio, esperando por você. E agora, eu sou sua, e você é minha, por todo o tempo que ainda tivermos para correr juntas. Isso é amar. Namorar é só um título. Um título que soa muito bem.

Ficamos em uma bolha por mais alguns minutos, até que ela diz que precisa ir ao banheiro. Decido procurar minha mãe, e a encontro afastada da multidão, conversando com tia Sinu. Elas estão tão envolvidas em uma conversa, que eu deixo. Só olho por alguns segundos para minha nova mãe, se recuperando. Talvez ela também esteja correndo com o tempo.

...

O refeitório da escola se encontra lotado, e isso representa 90% do meu pavor da escola. Vários olhos, várias avaliações. Neste momento, eu os sinto queimando minha pele. Estou sentada na mesa que fica no centro, com os amigos de Camila, porque Dinah me colocou ali. Não é horrível, eles são legais. Mas é impossível não sentir os olhares. Quase escuto os pensamentos. "Ela é tão quieta", "O que são essas marcas no seu pulso?", "Camila e você...". Talvez eu mesma esteja imaginando isso, pelo nervosismo.

Abro o bilhete que Camila havia me dado para qualquer hora difícil longe dela por baixo da mesa. A letra cursiva, desorganizada por ela não poder enxergar enquanto escreve, mas ainda dela.

"Para você eu poderia dizer que você deve saber que já ocupa meus olhos, que eu carrego sua risada incrustada em minhas artérias, que não há lugar no meu corpo que não se encaixe o seu sofrimento, que quando você não tiver um lugar para voltar, pense que tens abertos todos os meus poros. Para você eu poderia dizer que se um dia você se sentir perdida dentro de si mesma, darei a solução ao teu labirinto, abrindo o meu peito e te colocando diante dele, justo no lugar onde falo tanto de ti, que não custará esforço reconhecer-te e voltar a se encontrar. Para você eu poderia dizer que, para mim, qualquer lugar é minha casa se é você quem abre a porta."

Suspiro porque é inevitável. Suspiro sorrindo, ignorando o fato de estar cercada de pessoas, e sorrio até uma voz penetrar na minha felicidade silenciosa.

— Uh, Lauren. Tudo bem? — É Shawn Mendes quem pergunta. Todos olham pra ele e para mim. Ele não espera a resposta — Então, eu sei que pode parecer indelicado e nada a ver mas todo mundo quer perguntar e ninguem tem coragem. Então, hã... Você e a Mila estão, tipo, juntas?

Dinah parece se preparar para voar no pescoço dele ao meu lado, mas eu toco sua mão para dizer que está tudo bem. Está mesmo. Aquele bilhete havia deixado meu coração aquecido e me preparado para qualquer coisa. Eu a tenho, e voltarei para ela no fim de cada dia.

— Desde antes de sabermos disso.

— Tipo...namoradas?

Abro um sorriso tímido com o olhar de todos em mim. Coragem, Lauren. Isto é algo para se orgulhar.

— Se você preferir esse termo... Ela gosta de almas entrelaçadas, e eu gosto de correndo com o tempo de mãos dadas. Mas é mais fácil de falar, eu entendo. Então é. Tipo namoradas. 
Respiro fundo depois de falar tudo. Deus, eu falei na escola! Meu rosto esquenta. Estou queimando e quero sair correndo. Mas antes que eu possa começar a chorar, sinto uma mão em meu ombro, e quando levanto os olhos, todos estão sorrindo. Algumas pessoas estão com os olhos brilhando, cheios de lágrimas. E Shawn sorri também. Um sorriso tímido, afetado, eu sei que ele gosta dela, mas eu vejo em seu olhar que ele sabe, e entende. Nós nos pertencemos. Não há como mudar isso. Nem mesmo o tempo.

...

Encontro com Camila antes mesmo de entrar em casa. Ela está esperando por mim do lado de fora, sentada na grama, adorável em um vestido florido. Me aproximo por trás, devagar, tentando não assustar, e passo a nova margarida por sua bochecha suavemente. Ela suspira.

— Onde você acha tantas dessas?

— É segredo. Talvez eu as invente, só pra te trazer.

Ela prende o ar. Rio baixinho no seu ouvido e então nossas peles se arrepiam ao mesmo tempo. É uma conexão. Sento na grama, ao lado dela, e largo a mochila de qualquer jeito do outro lado. Ela deita a cabeça em meu peito, perto do coração saltitante, e olha para o céu, como se pudesse ver os tons alaranjados.

— Por favor, volte para mim assim, todos os dias.

Sua voz parece veludo. Entrego a margarida em suas mãos e beijo sua cabeça.

— Eu sempre acabo voltando pra você, Camz — Falo baixinho, serena, como ela me deixa. Estou tão apaixonada — M-Meu lar. Meu lugar sempre foi em você. 

Nos afogamos juntas no silêncio. No amor. Deixamos que ele nos envolva devagar. Lar é onde seu coração está. Meu coração está nela, e está muito bem. 



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