Quando o carro estaciona, eu fico ao lado de Sinuhe enquanto Alejandro ajuda a filha a sair do carro. Ela ri sobre alguma coisa mencionando sua festa de 15 anos, a mesma que eu recebi um convite e não apareci. Abaixo a cabeça com essas lembranças.
— É muito bom tê-la por perto novamente, Lauren. Camila sentiu sua falta, e nós também — A mulher fala baixo, sorrindo — Como está sua mãe?
Como está minha mãe? Cansada. Com olheiras. Triste. Profundamente e indubitavelmente triste.
— Um pouco cansada — Respondo em uma respiração só, olhando para a casa ao lado. Ela estaria fora o dia todo de novo. Eu gostaria de acelerar minha formatura apenas para conseguir um emprego digno e ajudá-la. Eu gostaria de acelerar as coisas até que a dor passasse. Acelerar.
— Que bom que Clara tem você para cuidar dela, Lauren.
O peso do universo cai sobre mim quando assinto. Ela não me tem. Eu sou mais como um desperdício de espaço. Sempre pensei que ela ganharia alugando meu quarto, ou vendendo a casa, indo para um lugar menor. Mas fica ali, naquela casa, porque eu não sei dizer adeus. Não consigo dizer adeus, não consigo arrancar o band-aid. Mas assenti, mentindo de novo.
— Lolo? — Camila chama, estendendo uma mão enquanto fazia o caminho até sua casa. Toco o ombro de Sinu como que me despedindo e corro para perto de Camila, mas não pego sua mão. Às vezes, sua pureza me faz sentir nojo de quem eu sou — Oi, botas. Onde está você? Hmmm..
Em um movimento rápido, ela alcança meu pulso, e desliza sua mão entre as minhas. Tento enviar algum comando para o cérebro. Não ficar nervosa. Não ficar nervosa. Não... ELA ESTÁ SEGURANDO MINHA MÃO APESAR DE TUDO. Ugh, Lauren. Pare de pensar.
— Vem, Lo. Eu tenho que descobrir o que... oops — Ela tropeça e eu seguro sua cintura nervosamente, olhando para seus pais e provavelmente parecendo um tomate. Fica pior ainda quando ela olha em minha direção com um sorriso malicioso — Huh, eu tenho sentido seus braços em volta de mim várias vezes ultimamente.
— Deus, Camila, shh.
—Você tá com vergonha? Bochechas vermelhas, aquela cara de eu-estou-tentando-ficar-brava. Eu quase posso te ver, Lo.
Ela ri e eu apenas bufo porque eu quero matá-la e morrer de nervosismo porque EU ESTOU SEGURANDO A CINTURA DELA. Ugh. Parece que minha mente tem vida própria.
— Espera, nós estamos quase lá. A porta está na sua frente — Eu aviso um pouco tarde. Ainda é difícil pra mim entender que preciso avisá-la sobre as coisas.
—Posso bater? — Ela estende a mão cuidadosamente e alcança a porta. Toc, toc, toc. Nada.
— Não está trancada?
—Não, Mama me disse que Sofi estaria esperando por mim. E eles tem uma SURPRESA pra mim. Eu tenho certeza de que ela... — Camila bate de novo, mais forte dessa vez.
—Você pode abrir, querida, esta é sua casa — Srta. Cabello diz atrás de nós. Camila desliza a mão pela madeira da porta até achar o trinco, e no momento em que ela abre a porta, talvez mesmo antes, todas as pessoas perto da mesa farta e dos balões coloridos grita, em harmonia.
—BEM VINDA DE VOLTA!
Ela fica parada ali, sorrindo. As garotas que eu conheço como Dinah, Normani e Ally vem correndo para abraçá-la, e eu nem mesmo tenho tempo de sair daquele abraço desde que eu ainda estou segurando sua cintura. Ally me puxa mais pra perto do abraço e eu não sei o que diabos devo fazer. Eu não abraço pessoas com frequência.
— Sentimos tanto a sua falta, Mila — A bela Normani diz, quando as garotas se afastaram um pouco. Camila acaricia seu rosto, olhando bem em sua direção.
— Eu senti muito a falta de vocês, Mani.
—Bom pra você ter voltado. Eu juro que estava indo até aquele hospital para sequestrar você — Dinah diz com os braços cruzados, parecendo querer proteger sua amiga, como sempre. De repente, Camila chega mais perto de mim.
—Nah, Lo não deixaria.
E droga, ela joga a bola para mim. Droga, todo mundo está olhando para mim, e para meu braço, em volta da sua cintura. Droga, ela é engraçadinha demais.
—E-Eu te ajudaria, sério. O hospital não é o melhor lugar no mundo para se estar — Eu respondo, meio nervosa, soltando a cintura de Camila. Eu não teria como não ficar nervosa perto de Dinah Jane. Ela é tão Dinah Jane.
— Pessoal, isso não é sobre estar em um hospital ou em um spa. Se minha mente é um bom lugar, eu estarei bem! — Camila diz, com um sorriso genuíno, aquele que pode salvar alguém.
—Você ilumina minha alma, Mila. Eu sou tão abençoada de te ter como amiga — Ally diz, quase chorando e indo para perto da amiga para abraçá-la. Sem uma cintura para segurar, eu realmente não sei o que diabos fazer com minhas mãos, então eu as coloco em meu cabelo, tentando agir como uma pessoa normal que sabe lidar com situações sociais. A verdade é que eu me sinto estranha. E deslocada.
As coisas ficam piores quando Dinah e Normani puxam Camila para falar com sua família e alguns amigos. Eu quero fugir enquanto Allyson Brooke está me olhando.
— Eu estou realmente feliz com o que você está fazendo. Sabe, voltando para a vida dela.
Eu não sei se estou voltando para a vida dela. Eu não sei se eu tenho estabilidade emocional o suficiente. Mas eu assinto para Ally, porque quero ter. Em algum lugar dentro de mim, eu quero reunir todas as forças e gritar "BEM VINDA DE VOLTA À MINHA VIDA, CAMILA". Mas lá está o medo, e a insegurança. E eu não consigo dizer.
Ficamos em silêncio. O silêncio com ela não é desconfortável, porque nós estamos apenas ocupadas observando Camila sendo doce com todos, e perguntando a cor dos balões em que esbarra. De repente, uma figura para em frente à ela e eu fecho o punho quase que automaticamente. Eu lembro dele. Era apenas um garoto de 11 anos quando eu e Camila tínhamos 12. Ela estava voltando para a escola. Não estávamos nos falando porque eu não conseguia lidar com a imagem dela naquela ambulância e com o sentimento de impotência que vinha todas as vezes que a via. E ele estava lá. Tentando com todas as suas forças ficar por perto dela, puxar algum assunto sobre algo que ela não queria ouvir, mas ouvia com sorriso, porque era Camila. E ele era Shawn. O garoto que eu observava de longe, tentando proteger Camila mesmo de longe quando ela precisasse da minha proteção. Mas ela não precisou. Dinah esteve lá. Normani esteve lá. Allyson esteve lá. Eu continuava impotente. Uma criança impotente vendo a ambulância se afastar, levando seu pai, levando sua melhor amiga.
Shawn beija a bochecha dela. Eu quero fechar os olhos como se essa fosse uma cena grosseira. Talvez seja. Ela sorri e cumprimenta-o com um abraço apertado. Dinah e Normani riem entre si, mas não parecem achar aquilo grosseiro. Não parece machucar. Não como parece me machucar.
Deixo a festa mentalmente antes mesmo de deixar fisicamente, minha mente viajando para o passado sem que eu pudesse ter controle.
Mais tarde, em mais uma das incontáveis noites solitárias em que minha mãe se atrasou para voltar e o jantar sobrou, o telefone da sala toca. Eu odeio o toque daquele telefone apesar de quase nunca ouvir, então me apresso para atender.
— Lolo?
Tiro o telefone do ouvido. Achei que isso acontecesse apenas em filmes, mas eu realmente sinto a necessidade de tirar o telefone do ouvido para que ela não ouça minha respiração irregular.
Volto depois de alguns minutos. Ela ainda está ali.
— Ei — É tudo que eu consigo dizer.
— Você foi embora. Está tudo bem?
— Ahã. Eu só estava... hm, cansada.
Aquele seria o momento em que ela ficaria cansada de fingir que se importa e desligaria... se não fosse uma pessoa tão extraordinária.
— Você está cansada de segurar minha cintura? Você acha que Leonardo Di Caprio teve o direito de simplesmente ficar cansado de segurar a cintura da Kate Winslet em Titanic? É seu dever estar aqui para isso agora, Lauren.
Eu não posso acreditar que estou rindo, e respirando aliviada ao mesmo tempo. Ela continua a mesma apesar de tudo. Eu não preciso ter medo.
Ficamos em silêncio quando terminamos de rir, abaixando o volume gradativamente. E então algo parece diferente. Sua respiração é totalmente irregular antes que ela diga as próximas palavras.
— Você quer vir até aqui amanhã?
Respiro fundo. Ir até aquela casa não era uma das tarefas mais fáceis, e eu não era a melhor enfrentando coisas difíceis. Mas talvez seja isso que ter Camila de volta em minha vida signifique. Enfrentar meus medos. E há algo sobre passar um tempo com ela... conforto. Como estar em um abraço acolhedor por horas.
— Eu... quero, Camz — Falo baixinho, e quase posso vê-la sorrir.
—Bem vinda de volta, Lolo. Vou esperar por você amanhã de manhã.
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