História Labyrinth: My way to you - O Conselho

Após a cena horrorizante diante de si, ele não teve nem tempo de gritar, pois Jackson e Hoseok sumiram em um piscar de olhos, como se tivessem sido sugados por um buraco negro.

Taehyung não conseguia organizar os pensamentos em sua cabeça. Tudo se encontrava em uma paz tão repentina que ele até mesmo se questionava em sua mente se tudo apenas não tinha sido um sonho muito louco e ele ainda não tinha conseguido acordar, nem se beliscasse seu braço, mesmo que o corte em sua testa ardesse como fogo.

Só se escutava o barulho da areia cada vez se afundando ainda mais com o peso de seus corpos. Tudo havia acabado; tudo. O barulho das criaturas que antes ele ouvira não existia mais, a voz amedrontadora de Set não existia mais, só conseguia focar no som da respiração de Jungkook sobre ele. Jungkook estava ali, ele estava salvo.

Virou-se para olhar o moreno que ainda o apoiava pelas costas, seu rosto estava com alguns pequenos arranhões e sujo de poeira, e sua franja estava bagunçada. Ele era lindo. Porém, sua fresca lembrança de tudo que tinha acontecido e também da cena de Hoseok sendo esfaqueado sem piedade diante de seus olhos ainda era amedrontador, ele tremia em nervosismo.

“Jungkoo-” Foi interrompido de chamá-lo após ter seus lábios tomados pelo mesmo.

E depois de tanto tempo, sentir o beijo de Jungkook, mesmo que pelos lábios rachados, ressecados, o gosto metálico do sangue e a poeira em seus rostos sujos, era como flutuar direto para o paraíso.

Não podia evitar sorrir, mesmo com todo desastre acontecido, eles estavam juntos de novo. Jungkook mal podia segurar sua emoção, segurava com firmeza a cabeça de Taehyung para que seus lábios não se separassem mesmo que ele quisesse, umedecendo novamente sua boca desidratada. Acariciava o rosto dele, sentindo a areia esfolar levemente a pele bronzeada e charmosa, pegando com as pontas dos dedos os fios de cabelo que caiam de sua franja lilás. Ele sentia falta de cada parte de Taehyung, de todas elas.

“Eu te amo. Eu te amo, eu te amo demais. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo muito, Kim Taehyung. Eu te amo. Eu te amo mais que tudo. Eu te amo...”

Jungkook começou a repetir ao pé do ouvido de Taehyung depois de se separarem. Os braços fortes seguravam-no com firmeza em seu abraço apertado e o coração do Kim não podia se encontrar em outro estado a não ser o de sair de seu peito a qualquer momento. Ele devolveu o abraço, envolvendo a cintura do deus com os braços que escorriam sangue por alguns cortes. “Eu também, Jungkook. Eu te amo muito” respondeu. Porém, ele se sentia preocupado ao dizer essas palavras; não porque não sentia o mesmo, mas pelo medo daquela mesma necessidade entre eles que apenas crescia.

Taehyung sabia muito bem que eles ainda tinham coisas a enfrentar, tudo não estava magicamente resolvido. O que aconteceria se as coisas não dessem certo? O Conselho ainda estava de olhos neles afinal, e se esse não fosse o problema, ainda sobrava a sua transformação... Ele definitivamente não iria desistir disso, porém, o que aconteceria com seu chacal se tudo desse errado?

Sentia-se cansado, pois ultimamente sua mente apenas se mergulhava em dúvidas e mais dúvidas. Sua vida tinha se transformado em um grande ponto de interrogação e Taehyung apenas não aguentava mais isso; por esse mesmo motivo ele queria tanto se transformar. Isso era quase se sua liberdade a esse ponto, ele não teria mais dúvidas de nada, ele viveria para Jungkook e para a casa dos magos e mais nada além disso.

Segurou o rosto de Jungkook, puxando ele para trás e encarando seus olhos negros. Ele ainda se sentia assustado e no fundo, lá no fundo, sentia seu coração se remoer por ver Hoseok daquela maneira, afinal, tudo que ele queria no fim das contas era alguém para estar ao lado dele e Taehyung sabia muito bem como era esse sentimento. “O que aconteceu com ele?” perguntou franzindo as sobrancelhas em preocupação. Sua feição não podia desmentir sua mágoa e mesmo que pudesse Jungkook também o conhecia muito bem para saber o que ele queria dizer com apenas aquela simples pergunta.

“Ele não está morto, você sabe. Ele apenas foi levado por Jackson para um lugar onde ele não vai conseguir escapar tão cedo. O Conselho não vai deixar acontecer o mesmo erro de soltá-lo em meio os mundanos de novo. Jackson irá aprisiona-lo e o enterrará no mesmo lugar onde Apófis se encontra, dessa vez, Taehyung, ele não irá voltar, nunca mais.” Jungkook suspirou pesado após dar a notícia.

“Mas ele...” Taehyung tentou falar. Ele queria pensar que havia outra maneira, que isso pudesse ser feito de outro modo, talvez Hoseok...

“Esqueça, Taehyung.” O moreno interrompeu seus pensamentos, lançando-o um olhar que tentava absorver sua mágoa por estar dizendo aquilo, mas era inevitável. “Eu sei como o seu coração é grande, doce e bondoso, meu amor, mas eu sinto muito, você não pode o salvar. Ninguém pode. Hoseok nasceu com o mal dentro de si, você não vai ser capaz de mudar isso, nem o pensamento dos deuses do Conselho...” Soltou outro suspiro antes de continuar. “Eu sinto muito.”

“Isso é injusto, é muito injusto...” As lágrimas começavam a deixar seus olhos. “Jungkook você sabe, você entendeu o que Hoseok queria, não é?” ele tentava segurar o choro, fazendo sua voz falhar a cada palavra. “Você sabe que ele só queria-”

“Eu sei.” Foi tudo que ele disse antes que o Taehyung encostasse sua testa no ombro de Jungkook, chorando toda a sua indignação; por não ter outra escolha, por ter pena de quem lhe causou toda aquela dor e também o porquê de Hoseok fazer tudo que fez, por não poder fazer nada, de novo...

Jungkook acariciava os cabelos de sua nuca, tentando acalmá-lo. “Escute,” ele começou “eu sei que você pode pensar que é injusto, porém, Taehyung, no Duat existem sim muito mais criaturas maldosas e deuses menores com más intenções. Hoseok foi longe demais, Tae. Ele não ameaçou só o Duat, mas você, a Casa do Brooklyn, todos os nomos, o mundo...”

Taehyung nada disse, ele apenas podia concordar, Jungkook estava certo afinal. No fim das contas, nada daquilo que foi feito podia ser esquecido, apagado. As feridas deixadas em Mark nunca iriam sumir, ele iria ter aquela cicatriz do rasgo em seu braço para sempre; uma terrível lembrança. Não há dúvidas que Jackson iria ter tanta sede em fazer Seth pagar pelo que tinha feito... Tudo que ele podia fazer agora era esperar que finalmente o resto se ajeitasse e todos pudessem estar com quem amavam.

E falando em pessoas que amavam: ansiosos e sentados alguns longos minutos descansando, eles esperavam por Jimin e Yoongi, que ainda se encontravam desaparecidos. Eles tinham ficado para trás para que segurassem as bestas e Jungkook pudesse ir ao seu encontro e pelo silêncio que se fazia Taehyung imaginava que eles haviam tido sucesso.

Mesmo assim não podia deixar de se preocupar, acima de tudo o barulho que as criaturas fizeram era possível de ser ouvido de dentro do palácio, como ele mesmo havia escutado quando ainda estava preso à cama de Set. O que significava que eles enfrentaram muitas bestas, apenas os dois, tudo por ele... Mas Taehyung confiava em seus amigos, confiava em Yoongi, no amor que ele sentia por Jimin e nos poderes do baixinho também, afinal, ele era um mago mais experiente que Taehyung no fim das contas.

Taehyung já tinha se acalmado um pouco, enquanto ele e Jungkook descansavam escorados um no outro em meio ao deserto, no entanto, o cansaço, a sede e fome, tudo tomava conta de seu corpo, ele ainda era humano afinal. Já Jungkook parecia apenas abatido pelo cansaço, por usar tanta magia e por tantos machucados. Principalmente pelos que se encontravam em suas costas, os furos das lanças que antes estavam ali encravadas em sua forma de chacal; ele soube no momento que o abraçou e sentiu sua camiseta encharcada de algo que, com certeza, não seria água no meio do deserto.

Em seu rosto também se encontrava o arranhão cortando seu nariz de um lado ao outro; tudo que o afetava em sua outra forma o afetava como humano também, ele notara. Eles estavam acabados, tomar um banho era tudo que Taehyung pensava enquanto via as pequenas silhuetas de seu amigo e o deus surgirem na distância.

Quando chegaram mais perto Jimin sorriu para Taehyung e ele apenas o retribuiu, tinha certeza que pensavam o mesmo “Você está só o pó”. Jimin andava escorado no deus de cabelos verdes, provavelmente esgotado de sua magia, enquanto Yoongi tinha apenas alguns arranhões pelos braços extremamente pálidos e nos joelhos de sua calça rasgada.

“Vocês estão bem.” Disse apenas para que tivesse certeza para si mesmo.

“Taetae!” Jimin apenas saltou para os braços de Taehyung, praticamente caindo em cima dele e eles, até mesmo Jungkook, riram da situação, mesmo com as dores que sentiam. Era muito bom estar com todos de novo.

“Você me preocupou, seu anão.” Taehyung o apertou em seus braços, enfiando os dedos entre as madeixas alaranjadas e as bagunçando ainda mais.

“Você acabou de levar uma surra e já quer apanhar de novo?” ele respondeu os fazendo rirem mais uma vez.

Jungkook ergueu sua cabeça para encontrar o olhar de Yoongi que estava de pé ao lado, ele sorriu. O chacal nada disse, nem o deus pálido. Yoongi era uma pessoa de poucas palavras às vezes, mas seu coração falava em alturas inacreditáveis. Sabia que se ele ainda estava de pé ali, era porque Jimin e todos os outros tinham lhe dado força para isto. Ele sabia.

Nem tiveram tempo de falar mais nada, num instante Jin surgiu perto do grupo. Taehyung, Jimin e Jungkook se levantaram, limpando a areia grudada em seus corpos enquanto o deus em terno branco se aproximava do garoto chacal. Ele parou ao seu lado, colocando a mão em cima dos fios negros de sua cabeça. Taehyung não mentiria, ele tinha achado a cena fofa, como um pai elogiando seu filho por um bom feito. “Bom trabalho” disse seguido de um rápido sorriso de canto. Jungkook apenas soltou um riso pelo nariz, assentindo. “Vamos,” Jin continuou “eles estão esperando.”

O conselho os aguardava.

•••

Taehyung não pensou que naquele mesmo dia conseguiria ficar mais assustado ainda. Ele estava errado.

O Conselho ficava em um enorme salão, ele não sabia onde, pois Jin havia trazido todos por um portal. Como? Ele tinha se perguntado também, pois pelo que tinha sabido de Set, aquele lugar era de difícil acesso até para deuses. Por isso ele perguntou a Jungkook como aquilo era possível, “Sempre espere mais e mais de Jin, eu falo sério. Ele é um dos magos mais fortes afinal, nem mesmo eu sei do que ele é capaz.” era o que havia respondido.

O que fez Taehyung se perguntar então porque diabos ele não tinha os ajudado?! Mas a reposta era mais simples do que ele imaginava. “Ele é o deus da ordem, Taehyung. Maat não se meteria em algo assim, ele zela pela ordem e a paz, de qualquer forma que ela venha a acontecer. É por isso também que seu encanto, o “Ma’at”, é tão poderoso, ele poderia ter tirado a sua vida se eu não o parasse”. E isso só fazia o garoto se perguntar mais e mais se ele admirava ou temia Jin, com seu jeito quieto e recatado.

Porém, Jin ainda era muito, mas muito mais agradável do que os outros deuses, do qual ele estava cara a cara agora.

Os murmúrios daqueles sentados nas cadeiras à sua volta preenchiam a sala enquanto toda a atenção se direcionava ao Kim. Estava se sentindo como uma aberração de circo, sendo avaliado por todos os olhares daquele salão. Alguns amedrontadores, maus, outros curiosos, outros admiradores.

Ele se perguntava se os deuses não conseguiam escutar o ranger de seus dentes enquanto ele tremia de medo, mesmo que Jungkook segurasse sua mão com firmeza, encarando todos seriamente, sem medo. Ele se colocou à sua frente como se desse um aviso, “Eu não vou deixar vocês fazerem mal a ele. Fiquem longe.” e Taehyung o apreciava ainda mais por isso.

Enquanto isso, Jimin e Yoongi se encontravam logo atrás deles, parados e esperando pelo momento que tudo seria resolvido. Ele não havia encontrado Sejin nem Lily ao primeiro olhar naquela sala, mas também não esperava que eles estivessem lá, tudo devia estar o caos do outro lado também. Taehyung se encontrava cada vez mais curioso para saber como as outras estavam indo em seu mundo. Ele sentia falta da casa, da cidade, também de Daegu e sua mãe, esperava vê-la em breve.

Enquanto ouvia deuses menores, magos e alguns seres místicos estranhos cochicharem sobre o que tinha quase certeza que era ele, a atração principal daquele dia, Taehyung observava o lugar ao seu redor.

Como todos os lugares que ele já tinha conhecido ali no Duat, o salão do Conselho era incrivelmente lindo. Egípcios tinham bom gosto. Lembrava muito o salão de julgamento de Anúbis, a forma como as cadeiras da plateia ficavam em arquibancadas acima de onde ele estava.

A mesma estava lotada, e em meio a toda aquela multidão ele pode encontrar Namjoon sentando em uma das cadeiras da frente ao lado esquerdo do cômodo. Ele acenou para Taehyung sorrindo e o garoto retribuiu. No fim das contas ele tinha se apegado mais a Namjoon do que esperava enquanto ele tinha passado os dias no palácio de Anúbis curando o corpo de Mark.

O deus com hábitos felinos tinha se tornado um bom amigo, mesmo que Taehyung não esperasse isso de primeira, Namjoon era uma boa “pessoa”, tinha até mesmo se acostumado as suas lambidas aleatórias, mas enfim, ele estava ali para apoiá-los então Taehyung estava feliz por vê-lo.

Voltando seu olhar para os outros cantos começou a notar cada detalhe daquele lugar que era bem a cara de Jin. O salão era claro, todo feito de mármore branco, com variados detalhes em dourado pelo chão, as paredes e os pilares. Várias pinturas egípcias relatando histórias preenchiam a sala. Ele até mesmo diria que parecia estar em um pedacinho do céu, se não fosse irônico demais ele estar no “inferno”.

Um pigarro então chamou sua atenção; era Jin entrando no salão. Junto com sua entrada os murmúrios cessaram e tudo que se pode ouvir por meros segundos foram os passos dos sapatos do deus sobre o chão até que ele se encontrasse na frente de todos os quatro. Taehyung sentiu Jungkook aumentar o aperto em sua mão.

Iria começar.

“Sejin!” antes mesmo que ele dissesse qualquer coisa, alguém o chamou na plateia. “Isso é completamente ridículo! Você está brincando, não é?!”

Outro logo se pronunciou também.

“Ele tem razão. Anúbis e um humano juntos? Puff! Só pode ser algum tipo de piada, Maat.”

“Fiquem quietos!” O deus finalmente falou. “Estamos aqui para resolver isso da forma mais justa o possível, temos que ver pelo lado de Anúbis também e assim decidirmos qual será a conclusão final do que será feito com Jungkook e Kim Taehyung.”

“É claro.” Taehyung pensou. Jin não iria simplesmente ajudá-los de mão beijada apenas, de qualquer forma ele era o deus da ordem como o próprio Jungkook lhe dissera. Jin faria tudo de forma mais justa o possível, sem mais; o destino deles estava apenas nas mãos deles mesmos e também naqueles que se sentavam nas cadeiras ao seu redor.

“Kim Taehyung?” dessa vez uma voz feminina. Era a mesma deusa que ele tinha visto nos jogos, Sekhmet, a deusa leoa. “Ele é parente de Kim Hungsoo?”

“Sim.” Após a resposta de Jin os murmúrios voltaram. Taehyung sabia que seu avô era uma pessoa importante que fora próxima dos deuses, mas ele era muito mais importante do que aparentava. Seu neto com certeza se orgulhava disso como nunca.

“Eu o apoio, Anúbis.” Ela dissera, tirando algumas expressões surpresas de algumas pessoas ali presentes.

“Muito obrigada, Sekhmet.” Jungkook agradeceu e Taehyung acenou sua cabeça a ela como gratidão, não falava nada, não ousava. Ele se sentia como um gatinho amedrontado escondido atrás das costas de Jungkook, procurando proteção.

“Primeiramente,” Jin ergueu o tom de sua voz para que todos voltassem a prestar atenção em si. “Jackson levou Seth para onde Apófis está e o aprisionou lá. Hoseok quebrou todas as regras do Duat e está destinado a ficar preso até o fim dos tempos, quem ousar libertá-lo pagará o mesmo preço.” Todos permaneceram em silêncio, como um sinal de acordo. Era mesmo impossível que alguém gostasse de Hoseok, nem mesmo entre os deuses ele era bem-vindo pelo que o Kim pode notar das expressões de vitória que cada um guardava em seus rostos.

“Por outro lado,” Maat continuou “agradeçam a todos os quatro, Taehyung, Jimin, os bravos magos da Casa do Brooklyn e também a Anúbis, Osíris e Hórus que não está presente no momento. Se não fosse por eles, nosso mundo e os nomos ainda estariam sendo destruídos. Recebemos notícias, todos se livraram das bestas que os atacaram, tudo voltou ao normal apesar dos danos causados as casas e a alguns magos, porém nenhuma morte.”

O deus sorriu para o grupo parado em meio ao salão. “Obrigada, Jin.” Agradeceu mentalmente. Era bom saber que tudo estava bem e que todos estavam salvos. Assim, Yoongi deu alguns passos a frente, ficando ao lado do chacal e logo após todos se ajoelharam.

De novo Taehyung pensava em como ele não conseguia se acostumar em pensar que Jungkook era alguém tão importante no mundo dos deuses. Pessoas chamando-o de “Senhor”, “Anúbis”, “Senhor Anúbis”! Era apenas estranho demais, Taehyung só conseguia ver um garoto, seu namorado, um simples adolescente com algumas centenas de anos e um rosto de bebê, o deus da morte mais adorável. Os dois deuses apenas ficaram sérios, enquanto ele se sentia completamente estranho e vulnerável e olhando para o rosto de Jimin atrás de si ele não parecia diferente.

Assim que todos se levantaram novamente Jin voltou a explicar, dessa vez, sobre o motivo deles estarem ali. O que na verdade todos já sabiam, pois como ele próprio já sabia, eles andavam de olho em Anúbis e sua relação com Taehyung, como o moreno mesmo havia dito.

“Não sei por que você ainda nos trouxe aqui para este debate, Maat. As regras são claras e você sabe disso. Nada de relacionamentos entre deuses e humanos, eles podem trazer desordem ao nosso mundo.” Um homem do lado direito se levantou, ele tinha a pele coberta por escamas, como um lagarto, seus olhos verdes brilhavam como esmeraldas.

“É isso mesmo!”

“Ele está certo!”

“O que está acontecendo com você, Maat?!”

Alguns começaram a gritar, fazendo com que a bagunça tomasse conta do local novamente.

“Não!” Jungkook tentou se pronunciar “Esperem!”, mas nada do que ele dizia era ouvido pelos espectadores, aliás, ele sabia que não estava certo até aquele momento, realmente havia infringido algo importante para as leis daquele mundo, mas havia um motivo para tudo isso. Porém, como era de se esperar, um certo deus felino resolveu pular para o centro do salão chamando a atenção.

“Fiquem quietos, seus selvagens!” Namjoon gritou. Taehyung quis rir do blazer com estampas de gatinhos fofos que ele usava. “Se isso fosse tão simples é claro que ele não os chamaria aqui!” As pessoas em volta começaram a se acalmar prestando atenção no que ele dizia. “Eu sei que vocês estão não só de olho em Anúbis como em Osíris também.”

“Sim! É isso mesmo! Ele anda muito grudado mesmo com esse mago de cabelo laranja!” disseram.

“É verdade! Olhe só que patético, até mudou a cor de seu cabelo por ele!” alguns deram risada.

“Mas isto tem um motivo!” Namjoon voltou a defendê-los. Permaneciam quietos apenas a observar. Yoongi inclusive sorria de canto, pensando o que viria agora de Bastet. “Vocês sabem. Os magos escolhidos e os deuses patronos. Esses quatro, eles tem laços fortes demais. E muito aqui podem querer distorcer o que eu direi agora, mas vocês tem inveja de quem tem esse tipo de relação, não é? Querer ter alguém com quem possam contar, que queiram seguir seu caminho ao seu lado. Vejam como Anúbis e Hórus foram longe por seus magos! Vocês desejam isso! Assim como Set desejava! E agora que a comunicação entre deuses e magos se tornou tão mais acessível depois que Kim Hungsoo nos abriu os olhos e criou a casa em Nova York, vocês querem acabar com tudo por uma mera regra? Vocês mesmos sabem, principalmente aqueles que passam o dia em Nova York junto de seus magos, como é ter alguém assim...”

A sala se encheu em silêncio e por meros segundos Taehyung sentiu seu peito doer em gratidão por Namjoon ter dito aquilo, ele com certeza tinha acertado no ponto fraco de muitos que se sentavam naquela sala.

“Não é apenas uma mera regra, seu gato de rua.” Um outro deus se levantou, este era exageradamente gordo e se vestia em uma túnica branca que Taehyung podia jurar que era o lençol de sua cama. “Eles realmente podem desestabilizar o Duat, principalmente se estiverem no reino dos mortos e o próprio Osíris sabe muito bem disso. Se eles entrarem em contato com almas? Tudo vira uma loucura. Isso não é possível de ser aceito, Jin.”

Todos voltaram seus olhos para Jin, enquanto isso, Namjoon caminhou até o lado de Taehyung, acariciando seus cabelos. Ele o lançou um sorriso agradecido e o deus gato voltou a subir para a arquibancada depois de sussurrar um “Boa sorte” em seu ouvido. Jin então voltou a falar.

“Osíris?” Foi tudo que ele perguntou, fazendo com que a atenção, a tensão e a expectativa se virassem para Yoongi a espera se sua resposta. Taehyung já mal conseguia roer mais suas unhas e no rosto de Jungkook ele podia ver o quanto ele se encontrava agonizado para tentar dar-lhes uma chance com os deuses.

“Espere!” foi interrompido “Também, temos a questão mais óbvia de todas, que mais cedo ou mais tarde, Taehyung virá à morte. Como vai resolver isso, Anúbis?” O mesmo deus de olhos verdes voltou a falar e alguns concordaram entre cochichos.  

“Eu sei sim.” Yoongi voltou a falar, dando uma má encarada ao outro de pé. “O que Amon disse está correto e o que eu posso dizer em minha defesa é: Sim, eu estou me relacionando com Jimin, mas nós ainda estamos nos resolvendo, por isso, minha intenção ainda não é trazê-lo para o Duat. Assim como os outros magos, ele ficará na casa, por enquanto. Porém,” voltou seu olhar para o moreno “eu acho que Anúbis, sim, tem algo importante a dizer.”

Yoongi sorriu para Jungkook que o retribuiu e Taehyung não pode evitar fazer o mesmo. Ele admirava a relação de confiança entre os dois. Mas o que mais importava agora, finalmente, ele iria falar. Entrelaçou os dedos nos de Jungkook, fazendo com que ele o encarasse e acenou para ele, transmitindo-lhe confiança. O chacal engoliu seco antes de encarar a multidão e então finalmente se explicar.

“É sim, óbvio que a questão de Taehyung morrer é indiscutível, porém, não é segredo para nenhum de nós que há uma maneira. Uma que resolveria tudo e eu finalmente poderia ficar com Taehyung, sem nenhum problema...” Jungkook pausou após falar, dando tempo para que todos conseguissem entender do que ele estava falando.

Por alguns segundos tudo ficou quieto, até que novamente o barulho das vozes se ergueu. E tanto Taehyung quanto Jungkook não esperavam outra resposta.

“Não pode ser, pode?”

“Anúbis enlouqueceu, conte a todos no Duat.”

“Ele vai matá-lo.”

“Eu apenas quero ver no que isso vai dar.”

Alguns até mesmo riam descaradamente, mas nenhum deles tinha mais nada a perder há aquele ponto. Pelo menos não para Taehyung...

“Eu vou transformar o Taehyung, com a divisão da alma.” Jungkook finalmente revelou.

Os sustos foram ouvidos de todos os lugares, porém Jungkook não parou amedrontado, ele continuou, encarando o rosto de Jin, que sorria. “Assim eu vou poder ficar com ele aqui, não é?” completou.

“Transformá-lo?!”

“Você ficou louco?!”

“Quer apostar um vinho que ele não fica vivo?”

“Bem, vamos aos fatos” disse Jin. “Quanto a Osíris, eu vou lhe garantir que está tudo certo por enquanto, contando que Jimin fique no Brooklyn.”

Yoongi assentiu e Jimin não se contendo se jogou em suas costas animado. Alguns deuses em volta olhavam assustados e até mesmo tampavam seus rostos como se aquilo fosse algo abusivo aos seus olhos. Mas Taehyung? Ele estava adorando, muito!

“E sobre Anúbis: A decisão fica toda por conta e risco de Taehyung. Então, se ele estiver de acordo em se transformar, está tudo certo. Anúbis terá que assumir toda responsabilidade do que irá acontecer a seguir. Se eles concordarem com isso, nada será afetado no Duat. Estão de acordo?”

“Sim.”

“De acordo.”

“Pode ser.”

Taehyung estava feliz em ouvir tantas pessoas concordando em deixá-los resolver isso por si mesmos, mas a face de Jungkook o preocupava. Alguns “Ele está completamente louco”, “Ele vai o matar”, “Isso é suicídio”, ainda podiam ser ouvidos pelo salão, mas Taehyung tentava ignorar, ele não havia lutado até aqui para nada, não mesmo!

“E vocês, Jungkook, Taehyung?” Jin os encarou, assim como Jimin e Yoongi e todo o resto ali presente.

O silêncio reinou e Jungkook se virou para Taehyung, olhando no fundo de seus olhos, cansados, mas tão cheios de amor por ele. No olhar do chacal ele pode notar que até mesmo naquele último momento Jungkook ainda fazia questão de ter uma última certeza e questioná-lo mentalmente, “Você tem certeza?”, porém, Taehyung nem mesmo deixou que ele desse a bendita resposta.

Era claro, óbvio e mais certo que nunca que tudo que ele queria, que eles queriam, era ficarem juntos. Sem mais dúvidas, sem mais “mas” para atrapalhar. O garoto de cabelos lilás foi ousado, mas era de amor. Ele puxou a blusa rasgada de Jungkook, ali, na frente de todos os deuses, magos intrometidos e criaturas que tentaram separá-los e simplesmente juntou seus lábios nos do deus da morte.

Beijou-o sem pressa, sem culpa. Era o “Sim” mais extravagante que ele poderia dar.

“Está decidido então.” Ouviu Jin confirmar enquanto ele ainda saboreava o gosto do beijo do deus, que apertava sua cintura nervoso, mas agradecido pelo o que ele tinha feito. Alguns se levantaram da cadeira e iam embora, outros puxaram o ar em surpresa, mas ao fundo, depois que se separou de Jungkook, ele viu Sekhmet os olhando com carisma e Namjoon chorava secando as lágrimas em um lenço bordado cor-de-rosa.

Ele riu.

Olhou para Jungkook que, como sempre, o matava por dento, com aquele sorriso estonteante.

“Eu te amo.” Foi o primeiro a dizer desta vez.

“Eu te amo.” Ele respondeu.

Agora, tudo que faltava era fazer algo ainda mais importante que debater em um conselho de deuses poderosos: falar com sua mãe!

E é claro, um banho!