História Laços do Passado - Capítulo único

     Olívia já não se sentia mais confortável em sua casa. Com o recente casamento de seu pai e a nova e insuportável madrasta, ela só queria sumir de lá o mais rápido possível. E conseguiu. Suas férias haviam chegado e sua mãe viria para salvá-la. Por ter se mudado para longe de sua mãe, a criança não a via com frequência, principalmente por causa do incidente. Mesmo assim, a menina amava esta tanto quanto amava o pai.

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     No dia combinado, a mãe de Olívia, uma senhora bela e conservada, foi buscá-la. As duas, assim que entraram no carro, começaram tagarelar coisas do tipo: “Como seu cabelo está longo!” ou “Onde você comprou essa blusa?”. E, assim, a viagem de horas se passou em segundos.

     Quando, finalmente, chegaram em casa, Olívia passou o resto da tarde correndo pela casa, lembrando e relembrando de todas as brincadeiras e trocas de carinho vividas na casa, afinal, a última vez que esteve naquela casa fora à seis anos trás.

     Haviam se passado seis anos, seis anos de saudade. Saudades de Laura, do seu amor, do seu carinho. Ao estar ali novamente, sentia como se ela estivesse ao seu lado e, por fim, deitou-se com essa sensação. Enfim, entendera porque sua mãe nunca deixara a casa.

     No dia seguinte, Olívia acordou com uma pequena agitação atrás da porta. Curiosa, levantou-se e abriu a porta. Congelou. A figura familiar parecia igualmente assustada.

     — Bom dia! Te acordei? — perguntou Laura, com o sorriso doce de sempre.

     Olívia estava tão estarrecida, que apenas fez que “sim” com a cabeça e voltou para o quarto. Como era possível? Laura havia morrido a seis anos atrás! Estaria louca?

     Ao olhar-se no espelho que havia atrás da porta, levou outro susto. Havia diminuído alguns centímetros, além de usar o mesmo vestido do Natal de sete anos atrás. Sem pensar duas vezes, abriu a porta novamente e correu até a cozinha, onde sua mãe passava a maior parte do tempo.

     Ao chegar lá, encontrou seus pais, sentados à mesa como se nunca houvessem se separado. Ignorando a figura do pai, Olívia abraçou sua mãe chorando e afirmou estar louca. Carinhosamente, esta a pegou no colo e perguntou-lhe o porquê. Olhando a cara de procuração do suposto pai, Olívia reconsiderou e apenas disse que tivera um sonho muito estranho.

     Ao decorrer do dia, Olívia percebeu que, não só a sua casa voltara no tempo, mas todos estavam iguais a como eram a seis anos atrás. Ela poderia salvar sua irmã. Ela podia evitar tudo aquilo.

     De acordo com o calendário de sua casa, estava no dia exato da morte de Laura. Guilherme, namorado e autor do assassinato de Laura, logo chegaria, e Olívia estava determinada a não deixá-lo cometer o mesmo erro de novo.

     Guilherme, como previsto, logo estava de mãos dadas com Laura. Não muito depois, os dois foram ao quarto, onde Laura daria seu último suspiro. Olívia os seguiu e, quando fecharam a porta, ela agachou-se atrás desta e logo conseguiu ouvir uma discussão. Com medo, Olívia abriu a porta e, ao ver Guilherme ameaçar Laura com uma faca, avançou de encontro com sua irmã. Gritou. Gritou para que seus pais a ouvissem e socorressem Laura, antes que o namorado, agora em estado de choque, pudesse tomar uma atitude.

     Quando seus pais chegaram, os olhos de Olívia já estavam pesados, e ela só teve tempo de ouvir Laura dizer, aos prantos, “te amo”.