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História Lado Negro - Conversa com um desconhecido


Escrita por: Semideus4

Capítulo 12 - Conversa com um desconhecido


Allyson Angnel

O bendito sinal havia tocado há alguns minutos, mas a trouxa aqui se deu conta que esqueceu o livro na sala, então tive de voltar e pegá-lo. E quando finalmente passei pela grande porta de entrada do colégio, percebi que no portão lá em frente havia certo movimento de pessoas, e a maioria dos alunos ainda não tinha ido embora, como geralmente acontece. Desci os degraus, estava indo naquela direção para ver o que estava acontecendo, mas percebi Nathan escorada em uma árvore sobre o gramado a direita, e decidi ir até ele, que olhava tudo aquilo com despreocupação e até divertimento, pois havia algumas pessoas aparentemente assustadas. E suas caras, tenho de admitir, estavam engraçadas. Até o diretor estava lá, e falava no celular, enquanto algumas alunas gritavam com ele, aquele cara parecia estar tendo um ataque, as veias quase saltavam de seu rosto, contive o riso.

 – O que está acontecendo? – perguntei quando me aproximei de Nathan, que virou o rosto em minha direção.

 – Tem um cachorro enorme em frente a escola – ele riu, como se tudo aquilo fosse bobagem. – Um bando de medrosos...

 Eu parei para escutar, e era possível ouvir alguns latidos fortes do lado de fora sob todas as vozes das pessoas. Deduzi que o Sr. McGee – o diretor – estivesse falando com o controle de animais, que quase nunca fazem alguma coisa de útil, chegam só depois do problema resolvido e ainda levam a maior.

 – Bando de medrosos? E você que não ousou ir embora ainda? – cruzei os braços erguendo uma sobrancelha, e vi o garoto a minha frente dando um de seus meios sorrisos.

 Aquilo definitivamente o deixava ainda mais tentador. E eu o que estou pensando?

 Ele se descorou da árvore e pegou em meu braço, me puxando em direção as pessoas na volta do portão, chegando lá ele me soltou e vi que era um hot vailer preto com marrom e bem grande, eu o encarei por sobre o ombro de Nathan, e na verdade, ele não parecia tão ameaçador, embora estivesse mostrando seus afiados dentes que poderiam arrancar pedaços, mas não latia ou rosnava para ninguém, quer dizer, ele estava latindo, mas não era um latido exatamente ameaçador... Ata! Desde quando eu virei especialista de cachorros?

 Olhei para Nathan e ele olhou para mim, e então o doido foi em direção ao cachorro, tentei segurá-lo, mas desvencilhou-se de mim rapidamente e continuou seu trajeto, todos olhavam assustados para aquilo e inclusive eu, que estava com os olhos arregalados. Ele olhava diretamente para o animal, que parou de latir e agora rosnava, observando cada passo do ser que ia em sua direção, que quando chegou perto se agachou e começou a murmurar alguma coisa, sim, ele estava falando com um cachorro, que se calou e pelas expressões de Nathan, ele estava “repreendendo-o”. O animal simplesmente se sentou, colocou a pata sobre o joelho dele e choramingou, como se de alguma maneira estivesse pedindo desculpas ou algo do tipo, e lambeu a mão de Nathan quando ele lhe acariciou.

 Todos olhavam a cena pasmos, e inclusive o diretor, que agora estava em frente a todos, com a mesma expressão. Todos sabiam que aquele cachorro não tinha dono e perguntavam-se como estava completamente desbravado, comparada a braveza de poucos instantes atrás. Escutei o Sr. McGee falando ao celular novamente e tentando explicar que não passara trote algum, e entrou no colégio, sem nem demonstrar preocupação com os alunos perguntando se estavam bem.

 Observei novamente aqueles dois, Nathan retirava algo da pata traseira do animal, que pareceu mais contente depois que ele tocou um pedaço afiado de madeira para longe. Juro que o latido do cachorro poderia ter sido interpretado como um obrigado em “cachorrês”, e logo saiu correndo sobre suas patas pelas ruas, como se nem tivesse causado aquele tumulto todo.

 Todos bateram palmas, e mandaram alguns vivas, principalmente as garotas. Ele não pareceu ligar para aquilo tudo e eu estava indo perguntar como ele conseguira tal feito, porém no momento que ia chama-lo, Nicole McGee (isso aí, mesmo sobrenome do diretor, igual á filha do diretor) se intrometeu na minha frente e foi falar com ele.

 – Nossa Nathan! Isso foi tão corajoso, imagine só se aquele bicho tivesse atacado alguém? – ela deu seu típico sorriso de conquista e levou sua mão ao ombro dele. – Só tenho a agradecer. E o diretor com certeza também, você deve saber que...

 – Ele é seu pai? Sei sim – ouvi-o responder.

Revirei os olhos e dei as costas, indo pegar meu carro no estacionamento. Eu nunca suportei aquela garota desde que ela começou a me infernizar na 7ª série, até hoje não sei porque ela me odeia tanto, sempre que me vê tem que fazer uma piadinha, claro que eu retruco, então sempre que nos cruzamos dá em discussão, eu evito ela ao máximo. Não a suporto, todo aquele ego maior que o Burj Khalifa¹, é uma completa irritante, não sei o que todos veem de atraente nela. Ta bom, confesso que ela é bonita, tem um corpo atlético, mas nunca admitiria isso. Nunca.

 Assim que saí com meu carro dirigi para casa, deixei estacionado em frente a mesma, pois de tarde teria de ir trabalhar no O’learys. Quando entrei chamei por Peter, porém não obtive resposta, tudo estava silencioso, o que era estranho porque á essa hora ele sempre está na sala assistindo Tv. Larguei minha mochila em cima do sofá e subi as escadas, quando ia entrar no meu quarto ouvi a voz dele vinda do seu. A porta em frente estava entreaberta, e pude vê-lo de costas com o celular no ouvido. E quando ia entrar no quarto, hesitei, ele parecia alterado com alguém.

 – Não posso! – negou ele. – Me pediram para que desse a carta apenas no dia! – teve uma pausa. – Você não entende? Eu prometi a mim mesmo que faria tudo como pedido. Devo isso a eles! – outra pausa, só que mais longa. – Eu sei, eu sei e estarei aqui, lutarei se for preciso! – ele passou a mão pelo cabelo escutando o que quem quer que fosse falava. – Não tenho medo do perigo, tenho medo de perdê-la, é como uma filha pra mim!

 Ele por acaso estava falando de mim? Quer dizer, pelo menos parecia, mas com quem ele discutia? Que perigo era esse? Tive vontade de me intrometer e bombardeá-lo de perguntas, mas a curiosidade de ouvir mais e descobrir mais me fez permanecer em silêncio, atenta a cada palavra.

 – Já suspeitava disso – respondeu. – Sei o que fazer, deixe comigo, eu resolvo – ele desligou o celular e quando se virou eu me esquivei, e andei de costas até a porta do meu quarto, me virei e entrei. Peter deve ter me ouvido fechando a porta, pois logo escutei algumas batidas vindas do lado de fora. Respirei fundo e peguei na maçaneta, por fim abri e sorri como quem não faz ideia de nada.

 – Não ouvi você chegar – disse ele. – O almoço já está pronto. Vamos descer?

 – Claro! Estou morrendo de fome. – Respondi.

 Fomos para a cozinha. Durante o almoço eu fiquei em silêncio absoluto, não sabia o que dizer. Será que ele estava metido em alguma coisa? Não, acho que não. O modo como ele falou... Não sei, parecia que o tópico daquela conversa era eu. Mas ele estava com medo de me perder para o que exatamente?

 Após comermos o ajudei com a louça. Pouco depois me despedi e peguei meu carro, em direção ao O’learys. Chegando lá coloquei a camisa do uniforme e fiquei do outro lado do balcão conversando com Matt enquanto esperávamos que o movimento começasse realmente. Assim que ele foi atender alguém vi Nicole passando pela porta dupla, olhei ao redor e amaldiçoei-me em silêncio por ser a única a não estar ocupada com um cliente. A loira se sentou em um dos bancos altos e me olhou com um sorriso, mais falso impossível. Fui até ela e a encarei.

 – Vai querer o que? – perguntei formalmente.

 – Humm... – ela pegou um cardápio e o olhou lentamente, provavelmente só para me irritar, fez até algumas caras feias. – Vocês não sabem o que é comida de verdade?

 – O que você quer dizer com isso? – tentei permanecer calma, mas só a presença dela já me deixava incomodada.

 – Uma salada ou quem sabe um sanduíche natural? Só há coisas que engordam aqui... – ela fez uma cara de nojo.

 – Então porque veio aqui? – ergui as sobrancelhas. – Aliás, vai pedir logo ou ficar enrolando?

 – Isso são modos de tratar um cliente? Pois bem, me traga um suco natural de laranja – exigiu pegando um canudo e ficou “brincando” com ele enquanto eu anotava e entregava o pedido na cozinha, que era em uma porta no fim da extensão daquele balcão. 

 Quando voltei havia outra garota ao lado de Nicole, ela tinha cabelos castanhos pouco abaixo dos ombros, seus olhos eram verdes foscos e o rosto tinha um formato delicado, embora usasse uma maquiagem escura e suas roupas fossem no estilo rocker. E estava bastante séria. Em fim, anotei seu pedido e fiz o mesmo trajeto.

 De início havia pensado que Nicole e essa garota fossem amigas – embora muito diferentes –, mas parecia não se conhecerem, o que era bom, imagina se ela fosse tão chata quanto a outra. Aí eu me obrigaria a me matar. Os pedidos delas chegaram, e aquela garota desconhecida por mim não parava de me olhar, eu já estava me sentindo sem graça com aquilo, até que ela decide falar.

 – Você é a Allyson, não é? – perguntou limpando a boca com um guardanapo.

 – Sim... Como sabe meu nome? – franzi o cenho.

 – Ouvi por aí... – deu um pequeno sorriso e esticou sua mão para mim. – Elisabeth – eu apertei sua mão como a pessoa educada que sou. – Mas me chame de Lisa, por favor.

 – Patético – ouvi Nicole murmurar, ou deveria dizer, ouvi a vaca mugir? Com certeza a 2ª opção faz mais juízo a ela. Fuzilei-a com o olhar, mas ela parecia entretida demais com seu celular e o suco que nem notou. Revirei os olhos e percebi Elisabeth... Lisa, fazer o mesmo. Sorrimos uma para a outra.

 – Você não estuda no Emerald, estuda? – qual é, eu estava curiosa, nunca a tinha visto por aqui antes.

 – Não, já tenho 19 anos – disse como se desse graças a Deus, quem dera eu ter essa idade e já ser responsável pelo próprio nariz, sem ficar dependendo de ninguém, isso seria realmente muito agradável por assim dizer.

 Eu ia falar algo, mas apareceu outra pessoa para atender. Atendi o cliente e quando me voltei na direção a onde era para estar Lisa, não havia ninguém. Estranho. Apenas o dinheiro, que guardei no caixa. E para meu azar Nicole ainda estava ali, sem parar de mexer em seu celular um minuto. Bem, pelo menos ela não estava me irritando como normalmente acontece. Recordei-me daquela “conversa” do Peter com um desconhecido, ele devia ter alguma explicação sensata para tal coisa... Pelo menos eu espero por isso, estou cheia de mistérios.


Notas Finais


¹ Burj Khalifa pra quem não sabe é um arranha céu, atualmente considerada a estrutura mais alta feita pelo homem.


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