História Lados opostos - Anjos e demônios podem se aproximar?!

“Who said I was an angel? Who said I was an angel? Oh, yeahWhen you look at me, what do you see?” Angel – Fifth Harmony

Quem disse que eu era um anjo? Quem disse que eu era um anjo?Oh, sim. Quando você me olha, o que você vê?” Anjo – Fifth Harmony

POV SELENA

Em questão de segundos aquela sujeita de olhos verdes penetrantes já havia assumido a direção do meu carro, se embrenhado pela contra mão em uma das avenidas principais do Rio de Janeiro e seguido em disparada, sabe-se lá para onde. Sentada no banco de trás com a mais clara deitada em meu colo enquanto pressionava o ferimento com sua própria camisa, não conseguia tirar os olhos dela...a pele era tão clara que em alguns momentos parecia possível ver sua artéria carótida, que saltava no pescoço alongado e tatuado...pare Selena, pare de ser médica o tempo todo...pare de olhar a carótida dela e pense em como se safar dessa situação louca em que você se meteu!! Disse para mim mesma enquanto percebia a que estava no volante me olhar pelo retrovisor.

- Posso saber pelo menos para onde estamos indo?! Quebrei o silêncio tentando entender o que aquela louca estava pensando.

- Para a favela, é claro!! O único lugar onde estaremos seguras para você cuidar dela!! Disse a menina, alternando os olhos no caminho e no retrovisor para me olhar.

- Você está louca?! Se quer sua amiga viva precisamos ir imediatamente para um hospital, ela está muito ferida!! Gritei apreensiva!! Aquela favelada não entendia a gravidade daquele ferimento, só podia ser uma anta mesmo!!

- Você que está louca, aprendiz de Cristina Yang!! Não podemos nem sonhar em ir para um hospital...em questão de minutos a polícia toda da cidade vai estar lá tocando o terror na gente!! Vamos subir o morro, não tem conversa!! Lá a gente tem uma base com algumas coisas que você vai poder usar, temos uma moradora sagaz que fecha com a gente e que fez enfermagem, ela vai poder te ajudar, e logo você vai poder voltar pra sua vidinha burguesa e tranquila, fica de boa!! É só a gente salvar a Demi e sua vida volta ao normal patricinha do asfalto!! Gritou a menina, nervosa no volante. Eu poderia estar enganada, mas ela tinha um afeto muito grande pela parceira, parecia transtornada com a possibilidade de perdê-la.

- Ok, mas eu não sei se terei como salvá-la se lá não tiver como avaliar o ferimento e fazer todas as intervenções necessárias, me entende?! Ela provavelmente precisará de um procedimento cirúrgico para retirada de bala, isso se eu conseguir achar a bala sem um raio X. Disse, meio desesperada com a possibilidade de morrer caso aquela garota morresse também.

- Vamos fazer o seguinte, você sobe comigo, avalia a situação dela e depois decidimos. Preciso minimamente de base e dos aliados pra descer de novo se precisar de um hospital para tirar ela dessa entende?! Faça o que for possível para mantê-la viva, essa é sua única função nesse momento garota...aliás, como é seu nome?!

- Selena...meu nome é Selena. Ela eu sei que é Demi...e você?! Perguntei, mas tinha medo dela me fazer mais alguma malcriação.

- Lauren, meu nome é Lauren. Ela é Demetria, mas chamamos de Demi porque ela fica puta se chamamos pelo nome verdadeiro. Disse dando um pequeno sorriso e olhando em direção a parceira, que permanecia desacordada, mas respirando.

- Eu sei que estou sendo dura com você, mas é como sou, como sei fazer em situações de perigo, de pânico Selena. Eu não posso falhar...não posso perder a Demi...ela é tudo que eu tenho além das minhas irmãs!! Depois que isso tudo passar você vai voltar pra sua casa sã e salva, eu prometo!! Disse com o semblante pesado.

Mais alguns minutos e o carro parou na subida de uma ladeira. Lauren desceu o vidro do carro e falou alguma coisa que não entendi para algumas pessoas que pareciam fazer a guarda da entrada do morro. Em alguns segundos subimos em disparada, agora com uma outra pessoa sentada no carona, que começou a conversar aflita com Lauren, mas sem se identificar.

- Assim que você mandou o watts eu desci em disparada, pedi para os lekes organizarem tudo no postinho lá em cima e vim te esperar. Como ela tá doutora?! Virou-se, olhando finalmente para mim. A menina aparentava seus vinte e poucos anos, pele clara, cabelos curtos, olhos claros lindíssimos.

- Eu estou tentando manter o ferimento fechado para ela perder o menos de sangue possível, mas ela seguramente já entrou em estado de choque. Você sabe me dizer o que temos disponível para que eu possa avaliar a extensão do ferimento dela e pelo menos mantê-la viva até vocês decidirem por leva-la a um hospital?! Perguntei decidida...se teria que manter a tal Demetria viva para poder viver também, eu faria o possível e o impossível.

- Temos coisas que você nem imagina doutora, posso te dizer que base para uma cirurgia simples nós temos. Quando se tem envolvimento no mundo do crime e não se pode descer para o asfalto a gente investe em segurança e em cuidados para o grupo...aqui um cuida do outro!! Meu nome é Cyrus, sou formada em enfermagem e vou te auxiliar em tudo que for possível pra salvar a chefe. Disse firme a menina loira, e a sua última palavra me assustou...a chefe!! Eu estava com a vida da chefe do morro nas mãos...meu Deus!! Comecei a imaginar o que aquele rostinho angelical não fazia sendo chefe de um morro e por alguns segundo pensei que poderia deixa-la morrer, de forma “inevitável”...livraria o mundo de mais um monstro desses que saem pelas ruas pra matar ou morrer, faria um favor para a sociedade, como meu pai sempre falava. Olhando mais alguns segundos para a pele clara, o cabelo preto levemente ondulado, as tatuagens espalhadas pelos braços e mãos tive certeza que não conseguiria fazer o que pensava, por ela, pelo juramento que faria quando me formasse, por mim...precisava salvá-la!!

Logo chegamos ao tal postinho que Cyrus havia mencionado na conversa com Lauren, alguns homens e mulheres já nos esperavam e rapidamente tiraram Demetria do meu colo e a levaram para dentro do local. Era pequeno, mas realmente parecia bem equipado, em nada se parecia com as unidades de saúde caindo aos pedaços que costumamos ver nos bairros pobres da cidade pela TV. Olhava assustada enquanto colocava uma blusa e um short que Lauren me disponibilizou, afinal eu estava de saída de praia. Higienizei minhas mãos e Cyrus cortou a camisa de Demi, que permanecia desacordada...era hora de colocar as coisas que aprendi até a metade da universidade em prática, mas não sem antes admirar o corpo escultural que se mostrava a minha frente...barriga tanquinho, seios grandes e modelados, braços torneados de quem praticava algum tipo de exercício nas horas vagas...mas bandido tinha hora vaga?! Espantei os pensamentos e me concentrei novamente.

Pedi que Cyrus a sedasse levemente com anestesia local, não podia correr o risco de perdê-la por falta de oxigênio. Caso ela parasse precisaria de um milagre e eu não tinha muita fé em Deus para esperar isso dele naquele momento. Ela sentiria dor, mas eu precisava abrir a lateral do local onde a bala havia entrado e torcer para que tivesse sido um tiro de raspão. Logo comecei a percebi que ela tinha espasmos de dor, o que me deu pena por alguns minutos...ela sedada e de olhos fechados parecia inofensiva, embora eu soubesse que não era. Ficamos por cerca de uma hora vasculhando algumas partes do corpo e tentando não atingir nenhum órgão vital...era um jogo de xadrez procurar uma bala sem operá-la propriamente dito, e eu sou uma exímia jogadora!! Depois de quase exausta eu achei a bala alojada em sua costela, escondidinha entre algumas de suas cartilagens costais. Um alívio tomou conta de mim por não precisar, pelo menos naquele momento, tirá-la da favela.

Fizemos a retirada de parte da bala, que tinha se espatifado quando penetrado seu corpo, era o que dava para fazer naquelas condições. Fechamos o ferimento e nos olhamos...Cyrus sabia que era um paliativo, e que mesmo com medicamentos sendo ministrados ela precisaria de um hospital o quanto antes, porque logo viria a infecção, que levaria ela a morte fatalmente. Lauren manteve-se firme ao nosso lado todo o tempo, e quando viu que havíamos terminado suspirou e perguntou:

- Essa demônia vai ficar bem?! Disse, com um pequeno sorriso nos lábios.

- Essa demônia vai ficar bem por horas, talvez dias. Mas ela tem parte da bala alojada entre as costelas, não podemos tirar sem fazer uma cirurgia mais delicada, que aqui não será possível. Ela precisa ser sedada, entubada e só depois operada. A medida que as horas forem passando ela começará a sentir frio, febre alta e entrará em choque de novo, irá morrer se você não tirar ela daqui Lauren. Respondi com um nó na garganta, sabia que a menina dos olhos verdes esperava outra resposta.

- Como assim a interna de Greys Anatomy me chama de demônia e você deixa parça?! Disse em voz baixa, com um pequeno sorriso, uma Demi meio grogue pela sedação. Eu e Lauren viramos juntas quando percebemos que ela havia escutado a conversa, e Lauren imediatamente alojou-se ao seu lado, passando a mão levemente em seus cabelos.

- Vey, depois que você sair dessa eu mesma vou te matar Demetria demônia!! Disse uma Lauren sorridente, vendo que Demi começava a reagir após a pequena intervenção cirúrgica.

- Relaxa minha fêmea favorita, eu não vou morrer como a pirralha ai falou, eu sou forte, você sabe disso...quantos tiros eu já levei e não parti dessa pra melhor?! Olhou para mim, meio que desdenhando do meu parecer.

- Quantas balas ficaram alojadas em você depois que levou esses tantos tiros senhorita Demetria?! Perguntei com tom de irritação, aquela faveladinha estava duvidando do meu parecer de “semi-médica”. Demi me olhou séria, pensou algo e não falou. Olhou para Lauren e foi enfática...

- Eu não vou te deixar sozinha viada, prometi pra tua mãe que ia cuidar de você e das tuas irmãs até o fim, e uma promessa minha é dívida eterna...eu vou viver para ver Dinah se formar e virar minha advogada quando estiver em cana, e pra saber que Ally largou aquele namorado bundão e se casou com um cara sangue bom!! Vou estar viva para ver você tomar uma surra daquele monte de piranha que você pega sua safada!! Disse esticando a mão para aquela que eu já tinha percebido ser sua fiel amiga. Lauren pegou sua mão e segurou firme, meio que dizendo silenciosamente...vamos seguir juntas!!

- Manda o bonde se organizar, juntar uma boa grana e preparar tudo pra gente descer quando der, sabe que temos passe livre naquele pequeno hospital particular da Baixada...já que a médica tirada disse que eu vou morrer se não for operada, vamos descer e resolver isso. Disse me olhando dentro dos olhos, agora mais decidida, menos inofensiva do que quando estava quase morta. Lauren logo se retirou para organizar o que ela havia ordenado, e quando me aproximei para reforçar a atadura que estava em torno do ferimento, ela me olhou mais uma vez, agora um olhar mais demorado e profundo...

- Obrigado por me manter viva por mais algumas horas doutora de Greys Anatomy!! Disse dando um sorriso lindo e encantador. Paraaaa Selena...como pode achar essa desconhecida linda e encantadora, ela deve ser desses “manos loucos” que saem por ai tocando o terror em pessoas como você!! Disse minha mente bagunçada por aquelas última horas.

- Meu nome é Selena. Eu ainda não sou médica, ainda não me formei, mas fiz tudo que acredito que um bom e ético médico faria no meu lugar Demetria. Disse seca, tentando não manter contato visual com ela.

- Demi, me chame apenas de Demi, Selena. Mesmo não sendo médica tenho que te agradecer, afinal você salvou minha vida, mesmo que temporariamente. Disse colocando a mão sobre a minha, que terminava de reforçar a atadura. Uma onda magnética passou por todo o meu corpo assim que ela me tocou, uma mistura de choque elétrico conduzido pela sua pele me fez estremecer, era assustador e enigmático ao mesmo tempo. Seus olhos castanhos repousaram nos meus sem desviar, e eu simplesmente não sabia o que fazer...era intenso e desesperador ao mesmo tempo. Nossos olhares só foram cortados quando uma louca entrou porta adentro , praticamente se jogando sobre minha paciente e beijando seus lábios...

- Amor, só agora eu fiquei sabendo que você tinha chegado baleada no morro...o que você aprontou senhorita Demetria Lovato da Conceição?! Disse a loira folgada e sem noção, atropelando as palavras e ao mesmo tempo enchendo a garota deitada de beijos pela boca, bochecha, testa. Afastei-me a contra gosto, e confesso que com um pouco de irritação, quem era aquela menina sem noção que entrava assim na minha sala de cirurgia improvisada?!

- Calma Perrie, já está tudo bem. Foi um único tiro de raspão e eu vou ficar bem. Disse Demi, meio sem jeito, me olhando de lado. Virei os olhos de nojo e notei que ela percebeu, logo retirando a loira de cima dela. Que menina escrota sem noção!!  Chegar assim e se jogar em cima de alguém que havia acabado de tomar um tiro e passado por uma pequena cirurgia era normal naquele fim de mundo?! Estava visivelmente irritada e já começara a organizar os instrumentos que usei na pequena cirurgia para me retirar.

- Demi, acho que você não precisa mais de mim. Vou ajudar Cyrus a organizar tudo e depois posso pedir que alguém me guie até a saída do morro?! Perguntei fria, quase uma pedra de gelo, olhando em direção a ela e a tal Perrie, que agora acariciava seus cabelos.

- Calma, deixe Lauren voltar que eu quero que ela mesma te leve de volta em segurança Selena. Nada vai te acontecer aqui, pode ficar calma. Termine de organizar as coisas e logo você retornará para sua vidinha burguesa do asfalto, patricinha. Disse, agora uma Demi irônica e sarcástica. Logo me virei bufando e fui em direção a Cyrus, que em outro cômodo do local, limpava alguns instrumentos cirúrgicos, com um sorrisinho no rosto.

- Acho que você acabou de conhecer a primeira dama do Morro, não é mesmo Selena?! Disse Cyrus, olhando minha cara de irritação tanto com a loira folgada, quanto com a postura irônica de Demetria...que garotinha irritante!! Queria minha casa, meu namorado, minhas amigas, minha família...

Meus Deus, eles deveriam estar loucos atrás de mim...eu havia simplesmente evaporado à caminho da casa de Camila!! Precisava fazer contato urgente e explicar tudo que acontecera naquela manhã fatídica de domingo!!