História Lados opostos - Fuckin Perfect!!

“ Made a wrong turn once or twice, dug my way out. Blood and fire, bad decisions, that's alright welcome to my silly life!! Mistreated, misplaced, missunderstood miss know it, it's all good It didn't slow me down...mistaken always second guessing underestimated. Look, I'm still around!!”  Pink – Fuckin’ Perfect

“Peguei o caminho errado uma ou duas vezes, cavei até conseguir sair. Sangue e fogo, decisões ruins, tudo bem...bem vindo à minha vida boba!! Maltratada deslocada, mal compreendida, senhora sabe tudo, tudo bem...isso não me fez ir devagar. Errática, sempre a segunda opção...subestimada. Olhe, ainda estou por aqui!!”  Pink – Fuckin’ Perfect

POV SELENA...

Acho que Dinah fez um percurso que eu faria em meia hora em dez minutos, eu não sabia se ela queria salvar Demetria ou se estava tentando morrer junto com ela, pois quase batemos em vários carros, furamos sinais, subimos no acostamento e por fim quase derrubamos um hidrante...agora eu entendia a expressão que elas falavam com tanto orgulho...piloto de fuga!!

Chegamos ao hospital com Demi ardendo em febre, já apresentava sinais vitais fracos e não mais falava ou andava, parecia já ter sido vencida pela infecção, que certamente avançava de forma assustadora. Como combinado anteriormente por Lauren, Dinah estacionou nos fundos do hospital particular da região da Baixada, lugar que até então eu só conhecia por nome. Uma equipe médica já estava aposta nos esperando, e o atendimento foi bastante rápido. Nos poucos minutos que esperamos eu fiquei me perguntando que rede de propina era aquela que fazia com que alguém que não podia andar muito pelas ruas, por ser caçada pela polícia, tivesse atendimento emergencial em um conhecido hospital privado do Rio de Janeiro. Dinah depois me explicou que isso acontece muito mais do que os humanos normais imaginam, e eu, patricinha ingênua, fiquei perplexa. Sim, lembrei da abusada da Demetria me chamando de patricinha e dei um sorriso bobo. Quarenta minutos depois que ela foi levada as pressas para a sala de emergência uma médica muito bonita, cabelos longos escuros, veio conversar com Lauren, que parecia já ser uma velha conhecida.

- Quanto tempo Lauren!! Uma pena a gente só andar se encontrando nessas situações. Acho que você tinha ficado de me ligar da última vez que nos encontramos, você lembra?! Disse a garota, que pude identificar pelo crachá chamar-se Jesy Nelson, e que parecia um tanto quanto “íntima” de Lauren.

- Oi Jesy. Sei que fiquei de te ligar da última vez que nos vimos e peço desculpas por não ter feito isso...confesso que a vida tá um inferno lá no morro, atividade geral!! Mas, desculpa a ansiedade, queria saber como está Demi?! Foi enfática Lauren, cortando a morena.

- Desculpas aceitas se você me prometer que não vai embora sem a gente conversar com mais calma, em particular. E sobre Demi, sou a médica do plantão e fiz os exames preliminares dela; o quadro é de infecção generalizada, precisamos operá-la o quanto antes Lauren, porque a cada minuto que passa as chances dela diminuem. Eu a sedei, coloquei ela no soro e tomando medicações, pedi que a preparassem para a intervenção cirúrgica, mas temos um pequeno problema. Falando isso a garota pegou Lauren pelo braço e foi se afastando, de forma que não pudéssemos ouvir a conversa. Dinah não se fez de rogada e, colocando seu lado barraqueira da favela em prática, deu um grito para a tal médica entender o contexto da situação, ou como Dinah mesmo disse, “o contexto da parada”.

- Não sei do se trata o segredinho das duas, se tem haver com o quadro de Demi ou com a putaria da senhorita com a minha irmã, mas preciso deixar claro o contexto da parada...a gente não tem segredo na família, e Demi é nossa família, então fala aqui ou eu quebro essa droga de hospital todo, entendeu doutora?! Já viu favelada quebrando hospital?! Não sobra nem a cara dos médicos!! Gritou Dinah, com as mãos nas cadeiras, o que me fez ter vontade de rir, nunca tinha presenciado uma “cena-barraco” daquelas!! Rapidamente a médica desistiu de conversar em particular com Lauren e voltou-se para todas nós, que aguardávamos sua fala, ansiosas.

- O quadro dela é muito mais grave do que esperávamos...além de todo um aparato cirúrgico e de um médico que não está no nosso quadro de funcionários, vamos precisar de sangue, e nosso hospital não está preparado para esse tipo de urgência.  Sai da sala de emergência e conversei com o diretor pelo telefone...ele me disse que consegue pagar um dos melhores médicos do Rio de Janeiro por fora, e ele até já fez contato, em questão de minutos ele chega, mas vocês precisam autorizar isso. E quando digo autorizar, quero dizer que o valor que foi negociado com você Lauren, ficará muito maior do que lhe foi repassado, praticamente o dobro. Além disso, vocês vão precisar mobilizar o máximo de pessoas possíveis para a doação de sangue, porque isso nós não conseguimos em tão pouco tempo.

- Eu trouxe o dinheiro que o diretor do hospital me exigiu, e não foi pouco!! Mais do que isso eu não tenho como conseguir tão rápido Jesy. O dinheiro que entra na boca vem aos poucos, não guardamos dinheiro em banco, e além do mais temos que ficar pagando arrego o tempo todo para a polícia deixar a playboyzada subir o morro em paz para comprar o produto...tudo isso faz a gente viver de caixa baixo. Não tem como fazer a cirurgia e a gente pagar isso depois?! Você sabe que sempre cumprimos com nossa palavra, não vai ser agora que a gente vai arregar mano!! Disse Lauren, já nervosa.

- Lauren, por mim faria agora, mas são ordens do diretor, eu não tenho como passar por cima dele. Para que esse médico venha preciso do pagamento feito. Espero vocês pensarem um pouco, vou ver Demi e daqui a pouco volto. Dizendo isso a tal Jesy saiu e nos deixou ali, sentadas e apavoradas.

- Quanto foi cobrado Lauren?! Perguntei no impulso e na esperança de que fosse um valor dentro daquilo que estava no meu orçamento de filhinha de papai, mas que usava o cartão conjunto com a família.

- Cinquenta mil reais Selena. Eu urrei pra juntar essa grana em tão pouco tempo em todas as nossas frentes, não consigo mais cinquenta mil a tempo de salvar Demi. Disse Lauren, com o rosto entre as mãos, já chorando. Ally e Dinah a abraçaram, sem saber muito bem como agir, o que fazer para conseguir aquela grana toda em tão pouco tempo.

Cinquenta mil reais...eu não tinha essa grana, muito menos conseguiria passar ela no meu cartão. Meus pais sequer sabiam onde eu estava, não tinha como ligar e dizer “pai, preciso de cinquenta mil pra salvar a vida de uma traficante que me sequestrou hoje cedo, libera ai!!” Comecei a entrar em pânico, eu precisava salvar Demi, e nem sequer sabia porquê, mas precisava...

- Calma, eu acho que sei quem pode nos ajudar. Se preocupem em mobilizar a favela para a doação de sangue, vou tentar conseguir essa grana e depois vocês se viram e pagam, ok?! Disse tirando o rostinho de Lauren de entre as mãos...confesso que já tinha aprendido a gostar daquela tirada. Sem pestanejar Ally pulou no meu pescoço e Dinah me deu um puta beijo na bochecha, me deixando vermelha e sem graça.

- Patricinha eu não sei quem é você, mas se você descolar essa grana pode ter certeza de que a gente paga e ainda faz um baile no morro em sua homenagem!! Vai tocar proibidão por 24 horas em sua homenagem!! Disse Dinah, toda feliz!! Peguei o telefone e sai das dependências do hospital, precisava da única pessoa em quem confiava...Karla Camila Cabello Estrabao, ou a famosa “magrela da minha vida”!!

- Camila, preciso de você amiga!!! Disse assim que ela atendeu!!

- Pensei que você não ia ligar mais, já estava pensando em mobilizar o exército e invadir essa porcaria desse morro dentro de um caveirão, Selena do céu!! Onde você tá, já te liberaram de ser médica de bandido ou vou precisar ir ai terminar de matar essa tal de Demetria?! Tua mãe tá achando que você tá comigo magrela, eu já não sei o que dizer quando ela manda mensagem perguntando porque você não atende o telefone.

- Camila cala a boca e me ouve, não faça perguntas e tenta me ajudar, pelo amor de Deus!! Eu preciso de você aqui, mas não estou no morro, estou na Baixada Fluminense em um hospital particular. Demi está aqui e precisa com urgência ser operada...a questão é que o valor da operação, cinquenta mil reais, está muito além do que a família dela pode pagar, e eu preciso que você me ajude com isso. Disse tudo de uma vez, antes que ela me interrompesse.

- Pera...miga, você quer que eu pague cinquenta mil pra sua sequestradora ser operada?! Quer salvar a mina que te sequestrou?! Você já ouviu falar de uma doença chamada Síndrome de Estocolmo, que é um estado psicológico em que uma pessoa, submetida há um tempo prolongado de intimidação, prisão, e até tortura passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor perante o seu agressor?! Não que eu esteja sendo psicóloga com você, mas é essa a sensação que você está me passando, de que tá curtindo ter sido levada por essa louca traficante ai!! Disse atropelando as palavras, confusa com meu pedido.

- Camila eu não quero discutir, sei que você é a única pessoa que posso confiar para pedir isso e sei que você vai poder me ajudar porque o limite do seu cartão é astronômico. Então vou te mandar o endereço pelo watts, pega essa porra dessa bolsa e se joga pra cá, aqui eu te explico tudo que tá acontecendo. Você confia em mim amiga?!

- A única coisa que posso dizer é que você deve estar drogada...mas mesmo assim eu confio cegamente em você amiga!! Passa essa porra desse endereço que tô indo ai salvar a drogadinha sequestradora!! Disse decidida...não importava o que tivesse que fazer, ela faria pela melhor amiga!!

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POV LAUREN...

Sentada do lado de fora da clínica eu fazia contato pelo celular com toda a favela....aquele morro todo ia descer, ou eu não me chamava Lauren Jauregui de Jesus!! Logo a rede estava formada, um amigo falava pra outro amigo, que ligava ou mandava mensagem para outro, que arranjava um carro e iria descer. Em questão de minutos eu, Dinah e Ally já tínhamos mobilizado os grupos dos parceiros do baile, do charme, da associação comunitária, até do grupo de terceira idade da favela...se era pra salvar Demi com sangue, a gente ia lotar o banco de sangue de doadores. O mais engraçado era que eu não tinha dimensão de como a gente era querida naquele morro...uma senhorinha ligou para meu celular em determinado momento e disse: “eu não aprovo o que você e a menina Demetria fazem, mas eu sei que tua mãe vai dar um jeito em vocês duas depois que saírem dessa, então vou com meu neto doar sangue!!” Eu nunca tinha imaginado que Demi tinha esse afeto das pessoas, e tenho certeza que nem ela fazia ideia disso, o que talvez fizesse com que ela fosse menos dura, menos amarga em algum momento...ela precisava sair dessa para entender isso e eu ia fazer tudo que pudesse para isso!!

Depois que Selena me falou que conseguiria o dinheiro com uma amiga me concentrei em articular a doação de sangue, e isso a gente conseguiu muito rápido, em questão de minutos foi chegando gente, chegando gente e aos poucos a Baixada estava tomada...era tudo nosso!! Fiquei ali fora com meus pensamentos, enquanto Ally e Dinah organizavam as pessoas, e só me assustei quando um mercedes preto lindo estacionou na entrada do hospital...dele desceu o que posso chamar de “tchutchuca linda do baile” , ou, como diria o Mc Marcinho, a princesa!!

Logo percebi que não era uma doadora de sangue, mas sim a tal amiga de Selena com quem eu havia falado mais cedo na chamada de vídeo...a tal Camila Cabello!! A mulher simplesmente parou a entrada do lugar, todos a olharam perplexos com sua beleza e eu não consegui me conter, precisava falar com ela. Assustada com a movimentação de moleques de bermudão da cyclone, gurias de sainha e senhoras da pele negra sofrida pelo trabalho, percebi que ela não sabia muito bem o que fazer, e fui logo me oferecer como “acompanhante”...

- Se não é a famosinha Camila, amiga da patricinha de Greys Anatomy?! Não sabia que ela tinha feito contato com você e te chamado pra doar sangue também. Disse, meio acanhada.

- Bom, não sabia que a sequestradora e traficante também precisava de sangue...eu vim pagar a conta dela, isso sim!! Você deve ser a marrentinha que falou comigo pelo telefone mais cedo...Lauren não é mesmo?! Disse Camila, com um tom arrogante, me medindo de cima em baixo, parando nas tatuagens do meu braço. Senti um certo ar de prepotência na mina, e resolvi baixar a bola dela.

- Sim, sou eu mesma...em carne, osso e beleza, mais carne do que osso e mais beleza do que carne!! E sim, a minha parça precisa também de sangue, mas acho que de você vamos precisar só da grana, e por poucos dias, pode ficar de boas que a gente não atrasa dívida com credor!! Disse virando as costas para ela e saindo....garotinha nojenta!!

Em questão de segundos que tinha me afastado ouvi ela gritando meu nome e fui obrigada a olhar na direção de novo. Um babaca do grupo dos meninos do baile tinha se aproximado dela e a estava chavecando, passando a mão em seus cabelos...cara sem noção!! Aproximei do vacilão e só olhei, peguei ela pelo braço e resmunguei om o babaca...

- Vai dar ideia na mulher dos outros meus irmão?! O vacilão arregalou um olho do tamanho dos olhos das minas quando sentiam que eu tinha pinto, e saiu vazado. Sim, eu sou intersexual, e não, não sei muito bem lidar com isso. Consigo conversar sobre isso com Demi, com minhas irmãs, mas fora elas, evito expor-me, só deixando claro isso na hora H, com as minas. A maioria delas se assusta, porque eu tenho um “menino” muito bem dotado, então eu sou aquela sujeita que dá ideia nas garotas e quando a coisa esquenta saio fora...ainda é minha forma de lidar com isso!! Mas voltando para a patricinha arrogante...assim que peguei ela pelo braço senti que deu uma estremecida, acho que de medo, mas levei-a direto para a parte interna do hospital, já que a mina era a dona da grana eu tinha que pelo menos manter ela em segurança. Confesso que quando me aproximei e senti o perfume dela entendi porque Demi gostava tanto de pegar patricinhas, elas realmente tem um cheiro avassalador, tirando que a guria era de parar o trânsito...não, para Lauren, ela não é para o seu bico!!

- Selena Gomez, como você faz com que eu venha parar nesse fim de mundo para salvar a favelada sequestradora traficante?! Estou começando a querer conhecer essa sujeita, afinal em menos de 24 horas ela já te convenceu a me fazer gastar cinquenta mil reais!! Gritou Camila com Selena, que ficou com a cara vermelha quando viu a menina entrando esbaforida pelo hospital e a abraçando forte.

- Camila comporte-se, estamos dentro de um hospital. E logo que Demi ficar bem você vai conhecê-la, ela vai pagar esse dinheiro a você, sua linguaruda!! Disse Selena, abraçando a amiga.

- Amigaaaa...que lugar bizarro, que gente bizarra, mas aquela antipaticazinha ali até que é bonita...e deu uma pegada no meu braço lá fora que eu não sabia se ela era uma mocinha ou um bofinho, não sabia se eu sentia medo dela me levar pra favela também ou se dizia que era pra ela apertar mais...tem pegada a sujeitinha!! Sussurrou no ouvido de Selena, rindo da constatação.

- Camilaaaa...para de safadeza, a situação aqui não está boa. Todas essas pessoas que você viu lá fora vieram doar sangue para Demi, e Lauren, o bifinho ali, é a melhor amiga de Demi, então trate de trata-la com respeito, ela me tratou como uma rainha o tempo todo.

- Sei Selena...essas história de ser tratada como rainha você vai ter que me explicar direitinho, afinal você já parece até rainha do baile de tão íntima das pessoas aqui. Disse a patricinha arrogante, puxando Selena para um canto mais próximo a administração do hospital. Pareciam muito mais que amigas, pareciam irmãs se reencontrando. Camila fazia mil perguntas, e Selena ia respondendo calmamente enquanto a outra passava o cartão para autorizar a cirurgia de Demi. Perguntava tudo da nossa quebrada, do sequestro, da forma como Demi havia sido baleada...eu fiquei de longe com Dinah e Ally observando aquelas duas, e embora pedantes e arrogantes, já tinham ganhado nossos corações simplesmente pelo fato de nos ajudarem sem sequer nos conhecerem por mais de 24 horas.