História Lady Lucky - Vou te fazer sentir confortável, como uma amiga

– Eu posso te ajudar?

– Desculpa, mas só vai doer um pouquinho – Yon falou.

Ela não deu tempo da ruiva reagir, com a mão descoberta encostou os dedos no pulso dela, que se arrepiou toda e não conseguiu quebrar o contato, sentindo sua energia se esvair, entrando num mundo escuro da inconsciência.

A loira se desencostou da pele da que agora dormia se sentindo culpada pelo que havia feito, porém tudo ficou bagunçado e ela levou as mãos até a cabeça se sentindo incomodada ao ver tanta coisa ao mesmo. Tudo se misturou em sua mente, as lembranças de Mikaella, os pensamentos das mais diversas pessoas que se encontravam no avião e seus próprios pensamentos.

Vendo as reações de Yon, Chanyeol se levantou sendo acompanhado por JinAh e logo Baekhyun com Tao se aproximaram das poltronas, todos preocupados com a companheira.

“Está tudo bem.”

A voz conhecida na cabeça dos quatro fez com que eles arregalassem os olhos e olhassem assustados para a loira que parecia ter conseguido controlar os dons recém-adquiridos.

“Ela não é perigosa, apenas não tem controle desse dom. Está perdida e precisando de ajuda, e ela parece estar indo para o mesmo lugar que a gente, é a sobrinha do professor HyunShik.”

A loira falou de maneira rápida surpreendendo aos outros. Então a garota desacordada era a famosa sobrinha que HyunShik comentava ser uma telepata, porém que fugira junto da mãe por ter pessoas interessadas demais em seu dom... Naquela época, anos atrás, Kim SunHio fugiu da Coreia, se escondendo em um bairro afastado do centro de Los Angeles nos Estados Unidos para proteger a si mesma e a criança que despertava a atenção de seus semelhantes por ter um dom que era almejado por Jung HonBin. Um poderoso causador de dor que era capaz de fazer com que a pessoa sentisse dor extrema apenas com a mente, porém não conseguia convencer SunHio, mãe de Mikaella, a entrar na equipe dele e não lhe causava dor por conta de ela ter um extremo bloqueio mental. Mas o bloqueio mental, naquela época, funcionava apenas com a mulher, ela ainda não havia conseguido aprimorar bem seu dom para proteger sua filha e, por conta do súbito interesse de HonBin na menina, ela se viu sem escolha, fugindo para longe e apagando seu rastro da mente das pessoas que a viam, assim sendo quase impossível de encontra-las. E os cinco ali presentes sabiam dessa história, pois HonBin era famoso por querer pessoas com dons exóticos em sua equipe, apenas HyunShik conseguia ir contra o outro, protegendo assim as crianças que procuravam a sua ajuda, contando assim para eles quem era HonBin e como ele podia ser perigoso quando queria.

“Eu pensei que ela estivesse morta, pois o professor falava dela como se nunca fossemos um dia conhecê-la!”

JinAh pensou de maneira exasperada sabendo que Yon poderia ouvi-la.

“Também achava que essa história não passava de uma lenda, mas... Ela é real, real demais até!”

Ela falou olhando para a garota que ainda permanecia inconsciente.

“Devíamos tentar contato com o professor, se ele já não souber que estamos com ela, se isso já não foi premeditado.”

Tao pensou fazendo com que Yon concordasse com ele. Então a garota procurou no fundo da sua mente aquele contato que possuía com o grande telepata, sua mente vagou por um tempo até que se encontrou com a que procurava, aproveitando-se um pouco dos dons que roubara.

“Sei que estão com ela.”

Isso assustou Baekhyun, ele deu um pulo, pois observava a ruiva dormir, a surpresa dele fez com que o professor risse em sua mente, ele conversava com os cinco ao mesmo tempo, afinal tinha grande controle de seu dom.

“Ela não sabe sobre o meu dom ou sobre a mansão, por isso peço que não despejem tudo nela de uma vez, pode assustá-la.”

Pediu ganhando concordo dos outros.

“Tentem controlar os pensamentos de vocês como eu ensino, não a deixem ver muito, apenas deixem um pouco e tentem passar confiança apesar de que ela deve ser difícil de lidar como SunHio era, ela está desconfiada de tudo e todos, a mãe era o porto seguro dela, mas agora não o tem mais, ela deve estar se sentindo perdida.”

Deu um suspiro cansado ao se lembrar de como sentia falta da irmã e de como ela era difícil, a garota devia ter sofrido muito com a fatalidade e talvez tivesse um pouco o gênio teimoso da mãe.

“Ela está segura no avião, mas quando chegarem ao aeroporto eu vou estar lá, pode ser perigoso afinal HonBin já deve saber que SunHio deixou esse mundo, as notícias correm rápido...”

“Não se preocupe, professor HyunShik, ela ficara segura conosco e vamos tentar deixá-la o mais confortável possível.”

Era JinAh que prometia, se apiedando pela garota que havia perdido a pessoa que mais confiava no mundo.

“Vou quebrar o contato agora, nos vemos em algumas horas.”

E a mente de quatro deles ficou em silêncio, enquanto Yon voltava a sentir os pensamentos de todos, porém com menos força por conta dos dons estarem deixando de serem fortes e um tanto descontrolados demais.

– Minha mente está voltando ao normal – ela comentou se levantando do lugar de Baekhyun, por ter visto que o garoto queria ter certeza de que a sobrinha do professor estava bem. – Mas ela está demorando a acordar... – Deixou a fala no ar olhando preocupada para a ruiva.

– Eu acho que você exagerou um pouco – o castanho claro falou se sentando em seu lugar e tocando a testa da que ainda dormia. – Ela está gelada – constatou.

– Vou pedir algo pra comer e damos para ela quando acordar – JinAh falou se voltando para Chanyeol que concordou com a preto azulada.

E então Yon voltou seu olhar para a garota ruiva que parecia dar sinais de que ia despertar. Conseguia ainda ver um pouco dos pensamentos dos mais próximos, por isso foi a primeira a notar que ela parecia querer acordar do seu sono forçado.

Mikaella abriu os olhos num estalo quando sua consciência se lembrava da loira platinada que havia encostado em si e causado uma dor quase insuportável que provavelmente a fez apagar. Mas o que ela estranhou foi o silêncio, ouvia apenas a sua voz em sua mente dizendo para se acalmar e que estava tudo certo consigo, mostrando que não sentia mais dor ou incômodo nenhum, seu corpo estava bem. Ela voltou seu olhar para o lado se deparando com o garoto que havia esbarrado no aeroporto antes de entrar no avião e que descobrira estar sentado ao seu lado antes de ter aquele contato estranho com ele.

Forçou seus olhos e mente para a dele, o encarando demoradamente enquanto testava sua habilidade que odiava, quando não conseguiu escutar nada ela quase sorriu, porém seu olhar se voltou para os outros que haviam se amontoado nas poltronas traseiras. Encarou a loira platinada que havia lhe tocado e que agora a mirava como grande interesse, ela se afastou para a janela do avião num gesto de defesa, levando as mãos para frente do corpo assustada.

– O que você fez comigo? – A pergunta saiu num tom mais agudo e elevado, atraindo a atenção dos passageiros que estavam do outro lado do corredor.

“Suguei seus dons.”

Uma voz se fez presente na sua mente e ela arregalou os olhos olhando mais assustada ainda para outra que riu em sua mente. Ela encarou a loira se comunicando com a outra através de sua mente:

“Isso quer dizer que de agora em diante eu não vou mais escutar ninguém?”

“Por alguns minutos, se eu mantivesse encostada em você por mais tempo você podia sair machucada e isso não seria legal.”

Yon contou fazendo uma careta ao ver a ruiva sentir medo de si.

“Olha, eu precisei fazer o que fiz porque Baekhyun se assustou quando sua voz apareceu na mente dele. Ficamos com medo que você fosse perigosa, mas relaxe, nós também não somos perigosos, conhecemos o seu tio e ele pediu para que tomássemos conta de você.”

Ela se apressou em falar querendo passar confiança para Mikaella que parecia ainda sentir medo dela.

“Eu não queria assustá-lo, eu não tenho controle direito disso, minha mãe que me ajudava com isso, mas...”

Calou-se sentindo seus olhos encherem-se de lágrimas ao se lembrar que sua mãe já não estava mais consigo.

“Vamos te ajudar, HyunShik, seu tio, sabe como controlar isso, ele vai te ensinar. Para onde vamos, todos têm dons especiais e todos os aprimoram, você vai conseguir quase ter uma vida normal quando controlar, fora que é divertido estar com todo o pessoal.”

Enquanto falava do professor HyunShik e do lugar que a levariam, ela mostrava imagens em sua mente deixando que a ruiva visse um lugar que parecia ser confortável e dando a visão de várias pessoas que faziam coisas inimagináveis pela garota que agora tinha um olhar chocado. Mikaella voltou o olhar para os outros a sua volta, curiosa sobre o que eles faziam e Yon ia lhe mostrando em sua mente qual era o dom de cada um deles, diferente do que ela imaginava que a outra iria sentir, ao invés de medo, ela olhava para cada um maravilhada com as habilidades que via.

“Isso é incrível!”

A exclamação e expressão dela fez Yon rir achando graça do jeito da ruiva que parecia já estar se sentindo confortável na presença deles, porém o contato mental foi quebrado e a expressão de admirada dela foi substituída por uma de dor. A ruiva levou as mãos até a cabeça se encolhendo na poltrona do avião enquanto sentia uma dor de cabeça quase insuportável, soltou alguns gemidos como se agonizasse e tudo chegou até ela fazendo com que sentisse vontade de chorar e gritar por aquilo estar de volta em sua mente. Ela respirou fundo tentando baixar o som dos pensamentos que escutava sem querer, não dando atenção a nenhum deles e erguendo o olhar para os outros que a olhavam de maneira preocupada.

– Voltou – ela falou num tom baixo e magoado. – Consigo sentir tudo de novo – acrescentou desviando o olhar para a poltrona a sua frente.

– Desculpe por isso – a loira pediu num tom culpado.

– Você pode fazer de novo? – A ruiva perguntou se voltando para ela e já erguendo a mão para tocar a outra.

– Não! – Baekhyun se alterou naquele momento ao perceber as intenções da garota que estava ao seu lado. – Você está fraca e ela não suga só os seus dons, suga sua energia também! – Baixou a mão de Mikaella que ainda olhava esperançosa para a loira platinada. – Você pode entrar em coma se ela fizer isso de novo – e Yon concordou lentamente com o castanho claro.

– Desculpe – ela pediu baixando o olhar.

Mikaella suspirou exasperada levando a mão para seu colo enquanto voltava a mirar o encosto da poltrona que estava a sua frente.

– Eu não quero invadir a mente de ninguém, mas isso não é algo que consiga controlar direito – reclamou não se sentindo a vontade e não querendo olhar nenhum deles.

– Mas no início é assim mesmo, para todos – o rapaz ao lado dela falou de maneira tranquila. – Chanyeol costumava deixar pegadas de fogo por onde passava, JinAh sempre acordava molhada e em nenhuma das vezes era outra coisa além de água, Tao estava perdido no tempo antes do professor, seu tio, encontrá-lo e trazê-lo de voltar a realidade, Yon mandou o primeiro namorado dela para o hospital quando ele a beijou e eu era uma luminária ambulante antes de aprender a controlar meu dom – ele contou se lembrando dos problemas que cada um teve até chegar no que eles eram agora.

A ruiva olhou curiosa para Baekhyun, vendo o que ele estava se lembrando de um dia que ficou irritado com o melhor amigo e ouve uma explosão de luz, fazendo com que acendessem todas as luzes da mansão que eles moravam. E não conseguindo controlar a sua curiosidade sobre o dom do que estava ao seu lado, ela fez uma pergunta idiota:

– Seu nariz fica igual ao do Rudolph?

O castanho claro corou com a pergunta, Chanyeol gargalhou tão alto que os outros passageiros olharam feio para ele, Yon levou a mão a boca tentando controlar o riso, JinAh acompanhou o Park de maneira mais discreta e Tao cantarolou uma musiquinha de natal antes de falar que Baekhyun podia ligar seu nariz agora.

– Pelo jeito vamos nos dar muito bem! – O mais alto exclamou ainda rindo e olhando para a ruiva que levou as mãos à boca ao perceber o que havia feito.

Envergonhada demais para dizer alguma coisa, ela apenas pensou e seu pensamento de desculpas chegou até a mente do que ainda estava corado ao seu lado.

“Desculpe.”

Ela pediu voltando o olhar para ele que a encarou quando ouviu a voz dela em sua mente.

“Não foi nada.”

Ele respondeu de volta ainda corado, porém com um pequeno sorriso gentil e cumplice ao repetir a frase que ela falara duas vezes naquele mesmo dia. A ruiva desviou o olhar, corando um pouco e ajeitando o gorro da blusa de moletom que vestia como se tentasse se esconder, não estava acostumada com gentileza demais. Os outros notaram o contato silencioso que os dois tiveram, Chanyeol apenas sorriu malicioso voltando o olhar para JinAh que o ameaçou com uma expressão fria, levando o dedo aos lábios e mandando ele ficar em silêncio.

Quando uma aeromoça passou pelo corredor com um carrinho de comida, JinAh comprou diversos chocolates e despejou tudo no colo de Mikaella que a olhou sem entender o porquê daquilo.

– Você precisa repor as suas energias, senão não vai conseguir levantar daqui – ela explicou para a outra. – Era bom que depois que comesse você dormisse um pouco, isso ajuda também – acrescentou voltando a olhar para Yon que fez um gesto afirmativo com a cabeça.

– Tudo bem – a ruiva deu de ombros se voltando para os doces e abrindo um deles.

Comeu lentamente, sem se importar direito com mais nada além do chocolate que tinha em mãos, procurando não prestar atenção em nada que viesse na sua mente. Relaxou por um tempo daquele jeito enquanto ouvia os outros conversarem sem entender o que eles falavam, quando quase comeu tudo que havia sido posto em seu colo que ela foi se dar conta de que nem tinha oferecido para o rapaz que estava ao seu lado. Ele não pareceu se importar com isso, pois o castanho claro estava apoiado em sua poltrona e parecia interessado em discutir algo com Chanyeol. A constatação que eles eram melhores amigos fez a ruiva sorrir se voltando a olhar para a janela. Resolveu dormir como JinAh sugeriu, ajeitando os fones em suas orelhas e ligando a música alta.