História Lady Lucky - Se você sorrir pra mim desse jeito...

Onze jovens acompanharam o instrutor no café da tarde. Kyungsoo arrastou HyeIn junto consigo para o refeitório, Yon seguiu junto de SookGi que veio seguida de Chen, Baekhyun e LuHan vinham conversando sobre um seriado que haviam assistido recentemente. SeungHee havia insistido que Yixing precisava se alimentar por ele estar usando constantemente o seu dom, JunJi veio concordando com a colega e Mika veio mais atrás conversando com JiHoon.

– Conseguiu pensar em algum motivo para o seu dom ter surgido? – O mais velho a questionou enquanto eles caminhavam para o refeitório/cozinha.

– Ainda não – a ruiva respondeu enrolando uma mecha do cabelo vermelho. – Só me lembro das vezes que queria saber o que as pessoas imaginavam de mim e eu me perguntando o porquê de elas estarem com a expressão que estavam – suspirou baixando os olhos. – Talvez tenha sido minha curiosidade...

– Sua curiosidade às vezes faz com que você entre na mente das pessoas? – O instrutor perguntou a olhando de lado.

A jovem corou ficando perto da cor de seus cabelos de tom rebelde, porém ela acenou de maneira afirmativa, o que fez com que o moreno mais alto risse do jeito dela.

– Pode ter sido esse um dos motivos sim – concordou. – Às vezes as coisas mais simples despertam nossos dons – contou dando uma piscada para ela que sorriu diante do outro. – O meu dom despertou porque eu queria que nevasse, era um dia de sol e fazia muito calor, não aguentava mais aquela quentura, desejei que nevasse e começou a nevar no meu quarto – riu se lembrando da confusão que foi.

– Vocês vão ficar conversando aí ou virão comer? – Era Baekhyun que aparecia emburrado na porta da cozinha chamando os dois que ficaram para trás.

– Estamos indo, Sininho – o instrutor brincou fazendo com que o menor fizesse uma careta e voltasse para dentro do cômodo.

Mika riu divertida e seguiu com o mais velho para dentro da cozinha onde se sentou ao lado de HyeIn e passou a comer conversando junto com os outros.

~EXO~

As semanas passaram sem que eles se dessem conta. Cada vez eles iam aprendendo mais e descobrindo que eram capazes de fazer coisas que iam além da imaginação. Mikaella tinha aulas diárias com o tio, porém não tinha avanços tão significativos quanto ela queria ter tido, mas contava com a ajuda dos amigos que havia feito e apoio do tio nas coisas que sentia mais dificuldade. No final das férias de verão veio a pergunta que fez com que ela pensasse mais do que queria naquela opção, faculdade ou continuar aprendendo as coisas na mansão?

Naquela noite, as árvores se agitavam anunciando a chegada do outono, fazia um pouco mais de frio e nuvens carregadas se aproximavam da mansão anunciando que viria uma tempestade daquelas, Mika ainda dormia, mas logo o estrondo de um trovão fez com que ela acordasse assustada e fizesse uma careta ao ver que vinha uma chuvona.

Levantou-se da sua cama, prendendo os longos cabelos vermelhos num rabo baixo e colocou uma jaqueta de moletom por cima do pijama. Resolveu descer as escadas, tomar uma água ou leite para acalmar-se um pouco. Ela odiava tempestades, isso lembrava o acidente que levou a sua mãe, mas desde antes ela tinha o medo bobo de trovões, podia admirar os relâmpagos, adorava ver o clarão deles, mas o barulho dos trovões fazia com que ela se encolhesse e procurasse ficar na presença de outros com a intenção de se distrair ou ligava a música alta nos fones como fazia quando queria dormir. E aquela era a primeira tempestade que lhe era presenteada desde que se mudou para a mansão do seu tio.

Ela seguiu para a cozinha pegando uma xícara, colocando leite e toddy, antes de pegar uma colher para mexer e bebeu logo em seguida, esperando que o leite gelado com chocolate a relaxasse. E então um relâmpago forte, seguido de um estrondo alto de um trovão, fez com que ela quase derrubasse a xícara, a assustando tremendamente e fazendo com que a energia acabasse.

Mika largou a xícara na pia e procurou se acostumar com a escuridão. Ia dar um jeito de voltar para o seu quarto, mas algo a distraiu no meio do caminho. Da sala de TV vinha uma forte luz, luz aquela que parecia ser de Baekhyun e ela se perguntou o que ele fazia acordado a essa hora... Piscou os olhos tentando se acostumar com a súbita claridade antes de forçar a sua mente para saber o que o outro estava pensando, grande erro.

O pesadelo a atingiu como uma lufada, as imagens chegaram nela fazendo com que sentisse vontade de chorar e não teve controle dos seus passos. Seguiu rapidamente para onde o outro se encontrava e se aproximou do sofá que o rapaz se encontrava meio encostado, ele fazia caretas e suor escorria por suas têmporas enquanto ele se agitava em meio ao sono. E Mika fez algo que não sabia ser capaz, sua imagem chegou à mente do outro, ela correu na direção dele no sonho, disse-lhe que tudo iria ficar bem, que tudo aquilo não passava de um sonho ruim, que eles se importavam com ele e que não deixariam que nada de mal lhe acontecesse. E então tudo simplesmente acabou. O desespero findou, o sonho ruim acabou, a luz se apagou...

A ruiva piscou os olhos buscando se acostumar com a escuridão, mas nem foi preciso, pois um clarão de um relâmpago a atingiu e ela viu a figura de Baekhyun a encarando com os olhos esbugalhados e os cabelos molhados de suor.

– Eu não queria... – Ela começou num tom baixo, se a luz estivesse acesa ele teria o vislumbre das bochechas dela coradas em sinal de vergonha por ela ter invadido a privacidade dele. A jovem suspirou nervosa antes de começar a contar o que a tinha levado até ali. – Eu estava assustada com a chuva, então resolvi vir até a cozinha tomar um leite e então vi a luz incomum que vinha daqui, vim ver o que estava acontecendo com você e acabei aqui – baixou a cabeça mesmo sabendo que ele nem repararia na sua atitude envergonhada. – Desculpe-me, não queria ter invadido a... – Calou-se ao ver que ele havia se levantado.

Baekhyun se aproximou rapidamente dela, não dando nem tempo da garota reagir quando ele se mostrou frágil e sensível demais. Ele a abraçou apertado e ela demorou um pouco para se dar conta do que acontecia, porém se sensibilizou com o rapaz não entendendo direito o porquê de ele estar daquele jeito, mas o consolou e o apertou ao sentir algo molhado pingar no seu pescoço... Ele chorava.

O castanho claro chorou por um tempo agarrado a ruiva, ela passou a acariciar os fios macios do rapaz na esperança de acalmá-lo. Quando se separaram do abraço, ele automaticamente acendeu a luz sem precisar mexer no interruptor e se sentou no sofá que estivera antes olhando para ela.

– Obrigado – ele agradeceu lhe dando um fino sorriso. – Fazia tempo que não tinha sonhos ruins, mas nesse dia sempre eles vêm – comentou dando um suspiro cansado e tirando o cabelo molhado da testa.

– Você está melhor? – Ela perguntou olhando preocupada para ele que fez um gesto afirmativo com a cabeça. – Eu não queria ter invadido sua privacidade é só que... Não resisti a curiosidade... – Falou baixando o olhar envergonhada por sua atitude.

– Tudo bem, você não tem problema – ele falou fazendo com que ela o olhasse surpresa. – Você sabe a maioria dos segredos de cada um daqui e mesmo assim não fica fazendo fofoca... Apesar de ser curiosa, você nunca conta nada ou comenta sem permissão – falou e novamente o fino sorriso estava lá.

– E você quer conversar sobre isso? – A ruiva arriscou fazendo a pergunta de maneira gentil e calma. O máximo que poderia receber era um não.

Ele lhe deu um sorriso e acenou negativamente.

– Eu vou ficar bem, não se preocupe com isso – garantiu e ela teve a certeza ao ver que ele não mentia. – Por mais que já tenha passado anos, o dia da morte dos meus pais, o dia que eu me lembro de tudo que me aconteceu, ainda me afeta de certa forma – deu de ombros.

– E o que você fazia aqui a essa hora da madrugada? – Mika o questionou se sentando em uma poltrona na lateral.

– Estava assistindo um episódio de um seriado – Baekhyun voltou o olhar para a tela da grande TV que estava desligada. – E devo ter dormido no meio, vou ter que assistir no computador depois – bufou se mostrando irritado consigo mesmo, fazendo com que a garota risse. – E você? O que faz essa hora acordada? – Questionou-a, porém a ruiva deu apenas de ombros, como se não quisesse contar para ele.

Entretanto, um relâmpago cortou o céu e logo veio o barulho do trovão, fazendo com que Mika pulasse na poltrona assustada e abraçasse as pernas com a intenção de se proteger. E o Byun, como não era burro nem nada, percebeu a ação da garota e sorriu.

– Não me diga que você tem medo...? – A pergunta dele ficou no ar por conta de mais um trovão e encolhimento da ruiva.

– Não ria – ela pediu já prevendo a atitude dele. – É bobo, eu sei, mas tenho medo desde que minha mão morreu, lembro do acidente porque sem querer vi na mente de um dos policiais o que aconteceu e... – E novamente mais um trovão que fez com que ela se encolhesse.

– O que te distrai? – Ele perguntou vendo que ela realmente parecia assustada.

– Eu costumo ficar escutando música alta nesses momentos, é quase como dormir, só fechar os olhos que não vejo os clarões de relâmpagos, apesar de gostar deles, mas eles me lembram do barulho que vem depois – fez uma careta. – Acho que voltarei para o meu quarto e farei isso, assim quem sabe eu consiga... – mas ela parou de falar ao perceber que o castanho claro tivera uma ideia, se levantando e indo próximo dela.

– Vem – ele estendeu a mão para ela. – Quero te mostrar uma coisa – sorriu retangular, o que fez com que a ruiva prestasse mais atenção no sorriso dele que nos seus pensamentos. – Vai te distrair – ele garantiu.

Mikaella olhou ainda um pouco receosa para Baekhyun, se segurando para não ver o que o outro pensava, porém ela aceitou a mão que lhe era estendida e ele a puxou para fora da sala de TV. Seguiram, de mãos dadas, pelos corredores da mansão. O lugar que ele a levava era no térreo mesmo, mas ela nunca tinha se aventurado por aquelas bandas por conta de estar centrada em seu treinamento de telepata.

A sala que entraram se mostrava escura de início, porém a animação do Byun era palpável, então logo que ele atravessou o umbral da porta, as luzes se acenderam mostrando uma bela sala de música. Havia alguns sofás de couro nos cantos e mais para o centro estavam diversos instrumentos, porém o que chamou a atenção dela foi o grande piano de cauda lustroso preto e foi para lá que Baekhyun se dirigiu. Ele sentou-se no banco estofado da mesma cor que o piano e tocou as teclas com carinho antes de voltar o olhar para ela e chamá-la para que se sentasse ao seu lado. Mika seguiu para perto do castanho claro olhando admirada para a sala e os instrumentos que ali possuía, havia até mesmo uma grande harpa toda dourada que mais parecia ser de ouro, alguns violões lustrosos colocados nos seus suportes, dois violinos, um violoncelo e também diversos instrumentos de sopro pendurados nas paredes, mas também havia alguns mais “modernos”. Um pouco longe do piano havia uma bateria vermelha brilhante, algumas guitarras, baixos e um teclado, aquela parecia ser a área do rock.

Mas foi no instrumento clássico e elegante que eles permaneceram. Mika se sentou ao lado de Baekhyun, que lhe sorriu fino uma última vez antes de começar a dedilhar dando início assim uma bela melodia. O som do instrumento era tão bonito que fez com que a ruiva nem prestasse direito atenção na tempestade e por conta da forte chuva, o som do piano não acordaria ou incomodaria nenhum dos moradores da mansão, nem incomodaria ninguém mesmo que não tivesse chuva, a sala tinha isolamento acústico, então era só fechar a porta que não incomodaria ninguém e eles podiam ficar a madrugada inteira por lá.

O castanho claro tocou até a tempestade se findar e a ruiva ficou o acompanhando, olhando encantada para as mãos que corriam pelas teclas do piano e prestando atenção no belo som que o instrumento produzia. Quando acabou, ela sentiu uma imensa vontade de abraçá-lo em forma de agradecimento por ele ter ajudado a espantar seu medo, a distrai-la, mas apenas sorriu feliz para o rapaz que desviou os olhos da expressão alegre dela, a achando muito fofa e corando por conta de seus pensamentos... Pensamentos? Ele se apavorou, a garota que estava ao lado dele era a última coisa menos normal, ela podia ler seus pensamentos e isso com certeza não seria algo bom naquele momento.

– Acho que agora consigo dormir bem – Mikaella falou quebrando o silêncio que se instalara no cômodo. – E também acabou a tempestade – voltou seus olhos para a grande janela.

– Não tem de quê – ele falou num tom brincalhão, porém sem olhá-la. – Eu ficarei um pouco mais aqui, subo depois – acrescentou dedilhando as teclas do piano.

A ruiva estranhou a atitude do rapaz, porém não o questionou. Fez uma referência junto de um “boa noite” e foi para o seu quarto cantarolando uma das sonatas que ficara em sua cabeça. Quando a garota saiu da sala, Baekhyun soltou o ar e deixou que sua mente se tornasse a confusão que estava. Era complicada a situação dele e não lhe agradava muito o fato da garota ter os dons que tinha, porém bloquear a sua mente não era tão fácil assim e pensar demais poderia ser ruim, se ela descobrisse a atração que ele sentia por ela, por mais ínfima que fosse, ainda sim estava lá e ele já era muito valente em admitir aquilo.

Talvez fosse a hora de se afastar ou então as coisas poderiam ficar estranhas e ele não queria isso de jeito nenhum.