História Lamp - (Mileven) - Capítulo 10 - Final

Os barulhos das máquinas faziam com que Eleven passasse por constantes tremores internos. 

Mesmo que tivesse passo metade de sua vida enfornada no ambiente hospitalar, não era fã de permanecer em locais como aquele. 

Não fazia ideia de quanto tempo havia passo esperando porém saber também não era algo essencial no momento.

Tinha sua cabeça encaixada entre o espaço do pescoço e ombro de Mike. Ele havia ligado para sua mãe lhe notificando tudo que acontecera, felizmente ela concordou em deixá-lo ficar ao lado de Eleven até que Terry recebesse alta, desde que tomasse cuidado e que tentasse descansar um pouco.

- Parece que dessa vez, roubaram seu lapis de cor favorito - Wheeler quebrou o silêncio soando cansado. 

El sabia que o amigo estava dando tudo si para ajudá-la naquele momento e ela seria eternamente grata por isso.

- É - Usou a manga de seu casaco para enxugar seus olhos, estavam marejados.

- Esse tipo de coisa acontece o tempo todo por aí, você sabe. Sei que isto não soa tão reconfortante quanto deveria soar mas, a verdade às vezes demora para nos trazer o efeito de alívio.

- Aconteceu de novo, Mike - Soara quase como um murmúrio.

- Como assim? Isso já havia acontecido com Terry antes?- Ela balançou sua cabeça negativamente - Então, o que?

- Estive tanto tempo apenas focando em como minha vida foi ruim e complicada, que esqueci de pensar no lado da minha mãe. Sabe, deve ser frustrante ter uma filha problemática que vive constantemente doente e quando finalmente se tem uma oportunidade de ter a experiência de cuidar de uma filha saudável, ela simplesmente perde o bebê.

Pôde ouvir Mike suspirar de forma exasperada.

- Pare de se referir a si mesma como algo ruim ou cheio de problemas, sua mãe ama muito você, tenho certeza que ela nunca te viu como um problema ou um fardo.

- Mike, olhe para nós agora, você acha que é justo? Deus simplesmente deve odiar toda minha família - Abraçou a si mesma, frustrada.

- Eleven, você não deve se esquecer dos momentos bons também. Não jogue a culpa toda em Deus, entendo que esteja triste e irritada mas algumas coisas ruins acontecem para prevenir piores.

Ela levantou-se para encará-lo. Tinha um olhar distante. Num sorriso tímido ele estendeu seus braços ao ar.

- Oh, venha cá - Puxou-a pelas mangas de seu casaco, voltando a encaixar sua cabeça em seu ombro - Vou comprar uma nova caixa de lapis de cor para você, toda vez que lhe roubarem eles, te darei novos, não importa quantas vezes ou o quanto custarem.

- E se você não encontrar a cor que eu precise?

- Construo pra você. Não sei como ainda mas construirei para você - Ela fechou seus olhos, deixando suas lágrimas deslizarem por sua face, caindo contra o tecido do suéter azul de Mike.

Odiava toda aquela situação, o sentimento de estar vulnerável, ser uma bomba relógio, de estar constantemente perdendo tudo a sua volta.

Que tal irmos comer alguma coisa? - Disse Mike afim de distraí-la. Podia o sentir respirar contra seus cabelos raspados, estava olhando para o topo de sua cabeça.

- Não sinto fome.

- Já está anoitecendo e não a vi comer nada ainda, sabe, você precisa estar forte pra quando ela precisar de você.

- Sei disso porém nada parece descer bem agora.

- Tente ao menos uma barra de cereal ou até mesmo uma fruta, deve haver alguma na cozinha daqui.

- Logo verei isso, está bem?

O Wheeler entortou seus lábios não muito contente, já ela simplesmente suspirou. Um debate com ele seria desnecessário no momento.

Observou uma moça passando segurando um bebê em seu colo. A criança chorava bastante no entanto sua mãe parecia não se preocupar tanto. "Minha mãe saberia cuidar melhor", pensou. Fora um pensamento egoísta porém nada parecia iimportar mais, estava tudo perdido mesmo.

Hey, boa noite - Henri atravessou a sala de espera tomando cuidado para não trombar contra algumas  das enfermeiras que passavam por ali. Juntou-se aos dois no extenso sofá branco. 

Eleven retirou sua cabeça dos ombros de Mike, voltando a uma posição ereta afim de encarar diretamente o padrasto.

- Como ela está? - El perguntou, mais ansiosa do que gostaria estar.

- Dormindo - Sorriu - Terry está bem.

- E o bebê? - Mike interviu, o questionou. Sabia que no fim Eleven não teria coragem de perguntar.

- Tiveram que escolher entre o bebê e Terry. A criança não se formou completamente então não teria muito tempo de vida aqui conosco, ainda mais sem a mãe.

- Entendi - O jovem Wheeler engoliu a seco observando a feição amarga que a amiga esboçara em sua face.

- Hey, sua mãe está lidando com isso melhor do que pensa - Henri disse apertando seu ombro na intenção de reconfortá-la.

- Verdade? - Ela levantou seu olhar sustentando-o ao dele. Tinha total ciência de que estavam vermelhos, porém era apenas um detalhe, já não importava tanto.

- Sim, eles disseram que logo poderá vê-la - Sorriu incomodado, não era fã de ver pessoas chorando.

Pela primeira vez na noite, Mike pode observá-la sorrir por alguns instantes. Sentiu seus próprios lábios seguirem os mesmos passos dos dela, se comprimindo num sorriso também.

Por um momento ele passou a prestar atenção em cada um de seus movimentos. A iluminação refletia perfeitamente nas íris de seus olhos castanhos. Suspirou. Havia uma bonita mistura de cores entre o suposto branco ou talvez o amarelo das lâmpadas e o castanho de seus olhos, sentia quase como se Eleven fosse uma grande obra de arte ambulante, uma misteriosa obra de arte.

- Mike, ouviu o que lhe perguntei? - A garota virou-se diretamente para ele.

- Uh? Acho que não. Por um momento me distraí.

A garota revirou os olhos.

- Henri disse que minha mãe receberá alta amanhã, não foi tão grave.

- Isso e ótimo - Ele sorriu.

- É pode apostar que sim, isso me deixou de certa forma aliviada.

- Fico feliz por isso, de verdade.

- Sabe onde posso encontrar um telefone por aqui?

- Perto dos banheiros, só pegar aquele corredor ali - Usou seu dedo indicador lhe mostrando a direção - Seguir ele reto e então virar a esquerda.

- Certo, entendi.

Ele sorriu, ela apenas fizera o mesmo dando-lhe as costas seguindo as instruções do amigo. Alguns doutores passavam para lá e para cá trazendo pacientes em cadeiras de rodas, macas e até mesmo em seus braços. Ela teve de conter uma careta amarga, definitivamente não era fã de hospitais.

A espécie de cabine telefônica, estava mais um pouco adentro do corredor. Não era difícil encontrar, porém era cansativo seguir até lá.

Suspirou de forma demorada revirando seus olhos.

Forçou seu próprio corpo a seguir até lá. Quando finalmente se viu em frente a espécie de orelhão, iniciou um novo esforço contínuo afim de recordar-se da sequência de números correta.

Sentiu quase como se uma lâmpada imaginária surgisse sobre sua cabeça. Trêmula, usou seu indicador para digitar os números, verificando-os no discador algumas vezes para certificar-se de que estavam certos.

No quinto toque, a ruiva atendeu:

- Alô?

- Max, é Eleven - Ela pôde ouvi-la suspirar aliviada por alguns instantes.

- Vê o que faz comigo? Há dias não me dá um sinal de existência. Estava preocupada.

- Estou aqui agora, não? Tinha de resolver algumas coisas.

- Com seu amigo Wheeler, suponho - Ela riu.

Eleven não iria contar sobre o que estava acontecendo. Max se preocupava com muito facilidade, não era necessário outro motivo para deixá-la ansiosa.

- Hey, ainda está na linha?

- Oh, sim estou e respondendo sua pergunta, com ele mesmo.

- Sabia! Ele está te fazendo tão bem, até se comunica melhor comigo depois de ter o conhecido.

- Concordo em partes.

- Como assim em partes? Você era super reservada e veja agora, está prestes a me confessar que tem um tombo pelo garoto do lápis de cor.

- Eu não estou prestes a confessar nada.

- Admita - Max cantarolou.

- Não há o que admitir.

- Você pode fazer melhor que isso, vamos.

- Oh, Max às vezes você é tão chata - Eleven revirou seus olhos, olhando por um segundo para o corredor. Para sua sorte poucos doutores estavam passando por lá no momento.

- Talvez seja por isso que somos amigas, você não é lá essa doçura toda que imagina ser.

- Quem disse que imagino?

- Sei que em seu interior, você imagina sim.

- Podemos mudar de assunto? Não tenho muito tempo.

- Ora, por que?

- Tenho que terminar de arrumar algumas coisas aqui em casa.

- Você? Fazendo faxina?

- Sim, algum problema?

- Oh, claro que não, é só que pensei que sua mãe não gostasse de lhe ver fazendo esse tipo de coisa, sabe, se esforçando.

Eleven se viu olhando ao seu redor, pensando em qualquer atividade que não exigisse muito esforço. Era péssima em mentir.

- Só estou dobrando algumas roupas - Pigarreou.

- Certo, tudo bem então.

- Irei desligar agora, ok? Te ligo assim que puder.

- Okay, se cuide.

- Você também.

El encerrou a chamada. A coisa toda de ocultar era muito complicada, o melhor foi dar um fim antes que a amiga sacasse que algo estava errado (se é que já não havia sacado).

Ao voltar para a sala de espera, deparou-se com a seguinte cena: Michael com seus cotovelos apoiados contra seu joelho, sustentando sua face com a ajuda de seus pulsos, dormindo. Henri tinha seus olhos presos a tela de seu aparelho de telefone, provavelmente nem notara o garoto ao lado. Ela sorriu aproximando-se dos dois.

- Parece que está mais cansado que eu.

- Uh? - O homem levantou seu olhar para encará-la. Eleven indicou a direção de Mike com a ajuda de seu queixo. Henri sorriu - Ele é um bom amigo.

- Excelente, na verdade - Ela agachou-se em frente ao Wheeler, observando-o. Usou seus dedos para levar uma mecha dos cabelos negros antes grudada em sua face para trás de sua orelha.

- Gosta muito de você - O mais velho disse, mantendo seu olhar fixo nos dois.

- Eu sei - Sorriu - Também gosto muito dele.

- Enfim, que tal seguir o exemplo de seu amigo Mike e dormir um pouco? Amanhã poderá ver sua mãe.

A garota sorriu.

- Ok.

- Não costumava ser tão boazinha nem obediente.

- Cale a boca - A garota voltou a sorrir.

- Falei cedo demais.

- Boa tarde.

Terry sorriu observando a filha entrar um pouco sem jeito ao seu quarto.

- Olá querida, como passou sua noite?

- Mãe, é você quem está na cama hospitalar dessa vez. Eu quem faço as perguntas.

- Oh, okay. Desculpe - Terry gargalhou.

- Está tudo bem?

- É claro que está. Estou um pouco frustrada o que é absolutamente normal mas provavelmente não era a hora de lhe dar um irmão ainda.

- Entendo.

- Quando chegou aqui?

- Ontem ao entardecer.

- Henri lhe trouxe?

- Na verdade foi Mike.

Os lábios de Terry se alargaram num sorriso saliente.

- Oh, não faça essa cara!

- Não estou fazendo nada - A mulher rebateu.

- Está fazendo aquela cara.

Terry apenas sorriu.

- Eu adoro Mike, é um bom garoto.

- Ouvi isso a noite inteira se quer saber.

- Isto é bom ou ruim?

- Um pouco dos dois, eu acho.

- Certo. Bem, estive pensando em adotar-mos um cachorrinho, o que pensa a respeito?

- Não sei, não saberia como cuidar de um.

- Se não quiser basta dizer, querida.

- Certo, mãe.

Ela revirou os olhos, sentando-se ao seu lado. Apensar de tudo, aquela era sua mãe e por mais maluca que fosse, tinha muito orgulho de ser filha dela.

Não demorou muito para que a noite caísse. Como Terry voltaria para casa quando amanhecesse, Eleven resolvera voltar para casa juntamente de Michael, assim poderia lhe dispensá-lo para que ele pudesse ter um momento de descanso digno.

Os dois resolveram voltar caminhando. Permaneceram tanto tempo sentados que seus bumbuns estavam praticamente quadrados.

- Oh, acabei de me lembrar! Devíamos ter entrego as fotos do trabalho hoje, não? - Eleven exclamou surpreendendo o amigo. Ele apenas gargalhou num sorriso descontraído.

- Antes de ir buscá-la ontem, mandei as fotos para o e-mail da professora.

O sorriso nos lábios do garoto se alargou ao vê-la suspirar aliviada.

- Podia ter me avisado.

- Me esqueci, além do mais, não era importante.

- Claro que era importante! É uma atividade para nota, além disso teria me evitado de ter passo esse mico.

- Até que foi engraçado.

- Bom para você.

Ela fixou seus olhos no azul escuro do céu. Alguns pontos amarelos já começavam a aparecer.

- Algum dia vai me contar o porque gosta tanto do céu?

- Irei pensar no seu caso.

- Pense com carinho.

- Pode deixar.

- Lá está sua casa - Ele anunciou com pesar. Apesar de seu cansaço físico, adorava cada minuto que passava ao lado da garota.

- À partir daqui creio que posso me virar sozinha - Ela sorriu.

- Ah - Suspirou - Ok, então... boa noite.

- Boa noite.

Eleven o abraçou, partindo em direção a sua casa.

Ele a observou caminhar olhando para o alto, ainda admirando a imensidão logo acima.

Num impulso, jogou sua bicicleta para o lado correndo até ela. Eleven sentiu seu braço ser puxado para trás por Mike, trombando contra ele.

- Hey Mike, Isso doeu.

Ele a beijou. Ela simplesmente não tinha ideia do que fazer, então receosamente deslocou seus braços para sua nuca, os envoltando graciosamente.

O beijo não passava de um selinho demorado pois nenhum dos dois tomavam iniciativa de intensificar e talvez fosse melhor assim. Mike aos poucos desprendeu seus lábios dos de Eleven. Estava totalmente enrubescido.

- Quando tivermos mais idade, lhe darei um melhor - Ela sorriu.

- Estarei esperando - Agora era Mike que sorria sem jeito.

- Tenha uma boa noite.

- Você também.

Ele acenou um adeus, caminhando até sua bicicleta, virando-se a todo instante para verificar se ela ainda estava ali. Eleven acenou novamente até que ele saisse de seu campo de visão.