Dois dias com os olhos presos na porta, há dois dias ela não tinha notícias de Mike.
Não era como se ela estivesse preocupada ou coisa parecida. O problema na realidade eram os lápis que ele havia deixo com ela. Tinha medo que ele pensasse que ela o havia pegado para si proposiltamente. No entanto já havia chego em uma decisão, se no dia seguinte Mike não aparecesse, entregaria o estojo para algum de seus amigos, o primeiro que lhe aparecesse.
Ela e Max estavam conversando um pouco melhor desde o dia em que ela conversou com Eleven sobre sua irmã.
Como El, Max não tinha amigos, não porque não queria, e sim porque ninguém se aproximava dela. Eleven pensou que seria cruel ser mais uma nessa lista de pessoas que a rejeitaram.
Tinham um relacionamento um tanto estranho. Max era hiperativa, alegre e falante, já Eleven por outro lado, sedentária, tinha estranhos desejos suicidas e apenas falava o que achava ser realmente necessário.
No momento Max estava lhe mostrando um CD de uma banda que gostava. Os olhos dela brilhavam a cada single que ela cantarolava apenas para El ter uma ideia de como era a música.
- O turbante que está usando hoje é bonito. Adoraria ter um igual.
- Acha que sua mãe poderia comprá-lo pra você?
- Não, ela não gosta de me comprar adereços. Diz que são coisas banais.
- Entendo.
- Veja este - Ela indicou um dos rapazes da capa do disco para Eleven - Chama-se Chris.
- Ele tem olhos bonitos.
- Oh, sim ele tem. Chris é todo bonito na verdade, eu o adoro.
- É perceptível - El deu um meio sorriso. Max também.
- Você tem um bom par de olhos também.
- Max, o seus são verdes.
- Eleven, os seus são castanhos e olhe seus cílios, são enormes! É incrível.
Eleven olhou para o céu, tentando disfarçar as suas bochechas avermelhadas.
- Quer muito ir pra lá, não é? - Max passou a olhar para o céu também. Às vezes ficava pensando buscando entender o porque do fascínio da amiga pelo céu, mas nunca chegava em lugar algum.
- Quero.
- Algum dia pode me explicar o por que?
- Posso pensar nisso.
- Eu sei que pode.
- Minha irmã gostava muito do mar, eu também não consegui compreende-la, por isso quero entender você.
- Está tentando ocupar o vazio de sua irmã, me usando? - Eleven perguntou, ainda com os olhos presos na imensidão azul logo acima.
- Não.
- Então o que?
- Você me lembra muito ela, Eleven.
- Isso deveria ser ruim.
- Bom, pra mim não é.
Eleven deitou-se contra o banco. Não buscava entender os pensamentos de Max e provavelmente nunca iria se preocupar, para ela estava bom daquele jeito.
Logo dera a hora de ir embora. Eleven aguardava por sua mãe em um dos bancos do pátio enquanto observava o restante dos alunos. A figura de olhos verdes que acompanhou o garoto de cabelos escuros estava olhando fixamente para ela. Como não havia muita coisa que pudesse fazer, cruzou seus braços a altura de seu peito e o encarou de volta.
Ele sorriu apesar dela não entender o porque.
Revirando os olhos, levantou-se caminhando até ele. O garoto parecia não esperar por aquilo.
- Pode me fazer o favor de parar de me olhar? É incômodo.
- Me pedoe, só estava curioso.
- Sobre?
- Você é uma aluna nova, entende? As pessoas terem curiosidade em relação a você, é a coisa mais normal do mundo.
- Sei disso.
- Que bom - Ele sorriu de forma doce.
- Você é amigo do garoto de cabelos escuros, não é? Eu lhe vi junto a ele no dia do incidente no bebedor.
- Está falando de Mike? É, sim, eu sou.
- Pode devolver seus lápis de volta?
- Me entregue amanhã, e eu levarei para ele.
- Oh, muito obrigada.
- Eu sou o Will.
- Eleven.
- Sei seu nome.
- Espero que seja por causa da chamada.
- Exatamente - Num olhar sutil a entrada da escola, Will esboçou um sorriso tímido - Acho que seu pai já chegou.
Ela olhou instantâneamente para o grande portão na entrada, buscando desesperadamente detectar alguma figura conhecida por lá. Henri estava apoiado a porta com os braços a altura de seu peito, seus olhos analisavam atentamente cada movimento de El.
- Preciso ir, até amanhã.
- Até amanhã.
Em passos lentos ela caminhou até Henri. Não tinha ideia do porque ele estava ali, na maioria das vezes, quase sempre, era sua mãe Terry quem ia buscá-la em todos os lugares.
- Ela passou mal. - Ele disse quando julgou-a próxima o suficiente para que ela o ouvisse.
- O que aconteceu?
- Colocou pra fora todo nosso almoço, foi frustrante.
- Vamos logo então, quero vê-la.
Henri apenas assentiu, caminhando juntamente ao seu lado até que chegasse no carro.
Ao se ver totalmente dentro do automóvel, abriu sua mochila procurando por Benny. O urso estava prensado entre dois livros, um tinha a ponta de sua capa furando a barriga do pobre urso Benny.
- Como foi a aula hoje? - Perguntou observando-a alguns instantes pelo reflexo do retrovisor.
Ela dera de ombros.
- Chata - Disse com desinteresse.
- Fez algum amigo?
Ela revirou os olhos, abraçando Benny de forma suave.
- Aquele garoto não era meu amigo, Henri. Colega de classe, entende?
- Pensei que fosse seu amigo.
- Pra você ver como o que vemos algumas vezes podem ser meramente profanos - Seu padrastro gargalhou.
- Você é incrível, Eleven - Continuou gargalhando - Realmente incrível.
Sem saber o que responder, ela virou sua cabeça para a janela do carro, observando os passantes, casas e claro, o céu.
Toda vez que ela encarava o céu, sua cabeça automaticamente reproduzia uma canção como plano de fundo. Geralmente era a melodia de Fly on, ela tinha muito amor por essa canção.
O céu estava pintado de cinza-chumbo. Provavelmente uma tempestade cairia em breve.
- Minha mãe não tem nada demais, certo? - Seus olhos não o encaravam, permaneciam fixos no céu.
- Por hora, acho que sim. Se ela chegar a vomitar novamente teremos de levá-la a um hospital.
- Entendo.
- Não se preocupe - Ele sorriu de forma doce, mesmo sabendo que a garota não poderia ver - Terry é uma das mulheres mais fortes que conheço.
- Eu sei - Suspirou, fechando seus olhos.
Sua mãe estava dormindo quando chegou. Preferiu não incomodar e partiu para o seu quarto, falaria com ela logo cedo antes de ir para a escola.
Estava pensando sobre como havia sido seu dia, fora até agradável tirando a parte que sua mãe passara mal.
Um suspiro demorando deu lugar a um bocejo. Novamente, um dia cansativo.
Não gostava de acordar cedo, nem do fato daquela escola possuir 7 aulas diárias ao invés de 6. O fato era que aquilo consumia muito de sua energia e durante a tarde, a única coisa que poderia fazer era dormir até o dia seguinte, onde tudo acontecia novamente e acabava que tornando-se uma espécie de ciclo vicioso.
Deitou-se de barriga para cima, olhando para o teto.
Por mais estranho que soasse, gostaria de entender o que havia acontecido com Mike. Ele simplesmente desaparecera do nada, sem mais nem menos. Era algo que de certa forma, a intrigava.
No final de semana teria uma consulta com sua psicóloga. Chamasse Denise, e Eleven simplesmente a adorava. Apesar parte de ter que relatar a sua vida ainda parecer desencorajadora, Nise, como ela a chamava, conseguia tornar tudo um pouco mais simples.
Estava ansiosa para vê-la, queria tomar uma boa xícara de chocolate quente enquanto conversavam e riam das próprias desgraças do cotidiano e também alheias.
Fechou os olhos, ouvindo o vazio em sua volta, aquele sim era seu lugar, um quarto vazio e silencioso, e não uma escola hiperativa e barulhenta. Apenas esperava que os meses naquele lugar passassem bem rápidos.
- Bom dia - Terry mordeu uma maçã. Um pouco do suco da fruta escorreu pelo canto de seus lábios.
- Você parece melhor.
- Oh, eu estou sim, foi apenas um desses enjôos passageiros - Puxou uma cadeira aproximando-se da filha - O dia está tão lindo hoje.
- Acho que pra mim continua igual.
- Devia chamar seu amigo para passear no parque - Um sorriso inocente tomou forma nos lábios de Terry. Eleven apenas suspirou, cansada.
- Henri lhe deu informações erradas, sinto muito.
- Não era seu amigo então?
- Colega de turma.
- Isso vale algo? Por exemplo, vocês podem ir fazer um trabalho no parque.
- Oh, mãe por favor pare com isso. Eu definitivamente, não vou ao parque fazer essas baboseiras com esse garoto, eu mal me lembro seu nome.
- Hmm, podemos ir para o próximo, me ajude a lembrar como você o chama - Ela a encarou parecendo concentrada - Alguma coisa como garoto do estojo ou algo assim.
- Ah, está falando de Mike - Eleven fingiu uma falsa animação, Terry mordeu os lábios.
- Ao menos sabe o nome deste, chame-o para ir parque.
- Meu Deus mãe! Será que podemos terminar nosso café da manhã sem falar de chamar alguém para sair?
- Filha você precisa tomar um ar vai te fazer bem.
- Pode até fazer mas, estou ali a apenas 4 dias. É quase impossível ter arranjado um amigo para "levar ao parque".
- Ele não é seu amigo então?
- Colega de classe.
- Este está um pouco melhor que o outro, já que sabe seu nome.
- Olhe, mesmo que por um momento de surto psicótico meu, eu resolvesse chamá-lo ou me interessar em chamar, seria impossível.
- Por que?
- Ele está sumido a praticamente 3 dias seguidos.
- Isso quer dizer que?
- Que não tem como chamar ele.
- Ele não vai ficar desaparecido para sempre!
- Hey, não vai acontecer ok? Aceite. - Eleven levantou-se, deixando a mesa - É melhor irmos ou vamos nos atrasar.
- Certo, vá escovar os dentes, logo desço.
- Ok.
Eleven acabou rindo. No final das contas, adorava sua mãe.
Como de costume, chegou cedo em sua sala. Não havia praticamente ninguém além da professora com nome estranho e um ou dois alunos. Max também não havia chego ainda, por essa razão simplesmente sentou-se em seu lugar e passou a encarar a porta, como sempre fazia.
Hoje estava decida em se livrar do bendito estojo de lápis de cor. Se ele não viesse, entregaria para o menino do dia anterior e torceria para que ele realmente devolvesse.
Não demorou muito para mais alunos aparecerem tomando conta de ocupar o lugar, porém até mesmo o garoto que a encarou no dia passado, não havia dado as caras ainda.
Isso por mais estranho que parecesse estava à irritando. Ela só queria se livrar daquela droga de estojo, apenas aquilo.
- Bom, vamos iniciar nossa aula então? Hoje é o ultimo dia para entregarem seus desenhos.
- Hey professora! - O vizinho da esquerda do garoto de cabelos escuros gritou assustando a todos, inclusive a Eleven - Nos perdoe pelo atraso, houve um congestionamento no caminho - Disse ofegante, apoiado a parede.
- Sem problemas. Há mais alguem vindo?
- Sim, os meninos. Eles foram beber água, já estão vindo - Ele olhou para o corredor.
A sala de aula estava aludida, observando a toda situação em silencio.
- Oh, olá professora! - O de cabelos cacheados surgiu, sendo seguido pelo de olhos verdes, e então, para sua a surpresa de Eleven, Mike.
Ele entrou na sala sorrindo, e por um curto espaço de tempo, teve a impressão de que estava sorrindo para ela. Os três não enrolaram muito para tomarem seus lugares, já que estavam atrasados, o melhor era evitar atrapalhar ainda mais o andamento da aula.
- Hey, bom te ver - Virou-se, mantendo fixo nos lábios o mesmo sorriso convidativo.
- Seus lápis - Eleven estendeu o estojo na direção do garoto. Estava a tanto tempo em sua bolsa que jurava que criaria teias.
- Pegue para você.
- Como assim?
- Comprei novos - Apenas fechou os olhos contando internamente até 20. Realmente havia passo por toda aquela perturbação para nada? Ela não conseguia acreditar.
- Olhe, não quero mesmo. Passei 3 dias agoniada querendo lhe devolver, faça-me o favor e pegue-o de volta.
- Oh, okay - Pegou o objeto de suas mãos e num sorriso gentil estendeu de volta para ela.
- O que está fazendo?
- Eu os peguei de volta não peguei? Agora eu estou dando eles pra você. Saiba que posso ficar nisso o dia todo, então o melhor é encerrar logo isso.
Suspirando ela tomou o objeto em mãos.
- Boa garota.
- Isso soa como se estivesse me chamando de cadela.
- Você é sempre tão radical, devia relaxar - Ele deu de ombros.
Ignorando-o, abriu sua pasta procurando pelo desenho. Ele por outro lado, sorrirá por uma última vez antes de virar-se novamente para frente.
É, Mike, também fora bom te ver, pensou.
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