Abriu os olhos devagar, pois a cabeça ainda latejava. E definitivamente, Hoseok ia parar de beber. Notou que estava sentando em uma cadeira e as lembranças dos últimos minutos de sua consciência voltaram a sua mente. Olhou preocupado para os lados, percebendo que estava em algum quarto de hotel. Ouviu passos se aproximando atrás de si e tentou se mover, mas os braços e pernas estavam amarrados. Não tinha pra onde escapar. Tentou controlar a respiração, sabia quem eram as pessoas e o assunto que se tratava. Tinha que ficar calmo para voltar inteiro pra casa.
— Finalmente acordou, Hoseok. — Escutou uma voz masculina atrás de si e a pessoa caminhou até a cama que estava a sua frente. — Se não tivesse tomado umas e outras antes que eu te apagasse, teria acordado mais cedo, e quem sabe, já teria até voltado pra casa.
Um jovem de pouco mais de vinte anos falava. O rapaz trajava um terno preto, muito bem alinhado. Diferente das pessoas da D-8. Mas sempre que algum deles saíam, costumavam se vestir como membros de máfias ricas. Ridículo, da percepção de Hoseok.
Hoseok olhou para a janela atrás do rapaz, e o dia já amanhecia. Ficou desacordado por muito tempo. Estava preocupado com seus pais e antes que pudesse perguntar sobre os mesmos, o rapaz o informou que eles estavam bem e que não sabiam de nada. Aqueles rapazes haviam pego seu celular e mandaram uma mensagem aos pais de Hoseok se passando por ele. Na mensagem Hoseok dizia que ia dormir na casa de Taehyung, aparentemente o amigo mais próximo e confiável do garoto, seus pais não iam desconfiar de nada. Mas só de ouvir aqueles dois pronunciarem o nome de Taehyung, Hoseok apertou os punhos, ainda tentando se controlar.
Fechou os olhos por alguns minutos ao ver uma maleta preta ser colocada na cama. Hoseok sabia o conteúdo dela. Medicamentos que o fariam apagar novamente e perder a memória de tudo o que dissesse naquela manhã. Era hora de virar aquele jogo.
— Podem começar a falar o que querem. — Falou um pouco mais tranquilo, encarando aqueles dois como se não fossem uma ameaça. E sua mudança brusca deixou os dois rapazes desconfiados.
— Não me parece assustado pra quem acabou de ser sequestrado.
Hoseok abriu um sorriso.
— Isso não é um sequestro. Vocês querem apenas informações, não é?
Os rapazes se espantaram dessa vez. Então de fato o garoto sabia o que eles queriam. Talvez Jungkook tivesse contado ao amigo sobre a D-8 e tudo mais. Hoseok apenas encarava seus rostos pálidos, tentando se recordar de algo pelos anos que passou na D-8. Então tentou usar de toda sua memória para saber como agir com aqueles a sua frente. Mas pelo visto, depois de tantos anos sua memória não era tão boa quanto a de Jungkook.
— Queremos o Jungkook. — Um dos rapazes decidiu ser direto. Afinal rodeios não foi o que o diretor pediu, e também ia terminar por apagar a memória do garoto depois que tivesse o que queria.
— Pode desistir. — Hoseok respondeu seco.
— Pelo visto ele deve ter enchido sua cabeça sobre nós.
— Ele não encheu nada. Eu sei muito bem quem vocês são e o que fazem. Mas tudo o que eu direi é que vocês nunca terão o JK.
O rapaz estreitou o olhar.
— Sei que o que ele pode ter dito, pode parecer que somos pessoas ruins, mas não somos.
— Vocês só fazem o certo por linhas tortas, e sinceramente, as linhas estão cada vez mais tortas. — Falou movimentando os braços para mostrar as amarras.
— Não queremos machucar ninguém…
— Estou vendo.
O rapaz levantou dando indícios de irritação.
— Por que não deixam o JK em paz? — Hoseok continuou.
— Ele tem informações demais dentro daquela cabeça. Coisas comprometedoras ao nosso país, aquele que vocês deixaram para trás. Por que decidiram vir logo para a América? — Perguntou encarando os olhos escuros de Hoseok que devolvia o olhar na mesma proporção.
— Temos direito de ir para qualquer lugar.
— O Jungkook te contou tudo mesmo?
Hoseok ficou apenas encarando o rapaz.
— Te contou o que tanto fazia nas nossas instalações, aquela que você esteve por um dia? Contou como saiu dizendo mentiras e o porquê de ter vindo justamente para cá?
Embora Jungkook nunca tivesse contado diretamente para Hoseok sobre tudo aquilo, Hoseok sabia de toda a verdade sobre Jungkook. Do que ele tinha passado dentro da D-8, de como a volta a vida normal tinha sido complicada. Lembrou-se de quando o conheceu, de como ele estava acabado e se escondia atrás de ódio e arrogância para manter todos a distância. E claro, o principal motivo de ir para os Estados Unidos. Jungkook buscava por uma vingança. E mesmo que soubesse de tudo, Hoseok não podia contar para o amigo. Não podia revelar sua verdade. Mas não podia deixar que aquelas pessoas o pegassem e o obrigassem a voltar para a Coreia. A D-8 usava de todos os meios para conseguir o que queria, e se pegassem Jungkook, a vida dele estaria acabada. Talvez nunca mais saísse de dentro da D-8, e se saísse, não seria vivo.
— Não me interessa os motivos dele, ele é meu amigo e eu não direi nada. — Falou enquanto mantinha os olhos fixos nos do rapaz a sua frente.
— Sabia que, quando Jungkook saiu da nossa Divisão por “inutilidade”, fizemos questão de destruir todas as informações dele que o ligasse a nós? Prezamos pela segurança dele perante as outras pessoas… — Fez uma pausa. Hoseok não esperava por aquilo, o rapaz estaria mesmo falando a verdade? — Se outras pessoas daqui descobrissem quem era a nossa chave para suas informações ultra-secretas, com certeza fariam coisas muitos piores que nós. E agora descobrimos que ele nos enganou e está morando aqui, nos Estados Unidos! Provavelmente ele quer um passe para a Agência de Segurança Nacional Americana, não é?
Hoseok desviou o olhar, de fato era aquilo o que o amigo queria. Ele mesmo tinha o dever de impedir que Jungkook fizesse o que tinha em mente. Brincar com o tempo era algo ruim, ninguém deveria ter aquele direito, mas não tinha o que fazer. Sentia-se mais preso em relação ao Jungkook do que com aquelas amarras na cadeira. E estava sendo mais uma vez egoísta, pensando apenas em si. Não sabia qual poderia ser a atitude do amigo se descobrisse o que ele fez. Talvez Jungkook fizesse coisas muito piores que a D-8 e a NSA juntos.
Jungkook tinha mágoas e ódio dentro de si, com certeza a verdade sobre Hoseok seria um estopim para o verdadeiro caos. E uma parte de si torcia para que o amigo não chegasse a ser aceito pela agência americana, e ainda faria o que fosse preciso para boicotar suas ações. Jungkook precisava ficar longe das máquinas do tempo de uma forma ou de outra, e de certa forma, contava com Jimin para isso. Queria poder ter uma vida tranquila ao menos uma vez. Estava agora formando uma banda com Taehyung, queria se recompensar do tempo que teve que esperar por aquilo.
— Olha… — Hoseok começou. — O JK só quer ficar em paz, sei que ele não fará nada contra a D-8. Ele não está fazendo nada, eu juro.
— Não podemos deixá-lo andando por aí como se não tivesse enganado seu país. Nós só queremos a verdade de tudo o que ele sabe, apenas isso.
O rapaz falava manso, mas ainda soava como ameaçador para Hoseok. E Hoseok sabia que não era só aquilo que eles queriam do amigo. Aqueles malditos ainda queriam criar sua própria máquina do tempo, sabia que se eles conseguissem, o mundo iria ser uma divisão infernal.
— Pode falar o que quiser. Eu não direi onde o JK está. — Falou firme. Aquelas pessoas podiam sim, descobrir o paradeiro de qualquer pessoa, mas o que eles não contavam era com Hoseok. Sem que Jungkook soubesse, o amigo servia como uma borracha em seu caminho. Tudo, por onde quer que Jungkook passasse, Hoseok eliminava todos os seus passos. Hoje, não havia mais nenhum registro seu no John Marshall. Para os arquivos da instituição, o jovem jamais havia estudado ali. Seus documentos, apesar de verdadeiros, não constavam no sistema de nenhum lugar. E até sua movimentação bancária era monitorada e “apagada” por Hoseok.
Jungkook sempre achou que se escondia da D-8, mas Hoseok o fazia ser alguém invisível para o mundo. Ele podia até levar uma vida normal, mas para qualquer governo, ele nunca existiu. Exceto para a D-8 que ainda manteve suas antenas um pouco atentas, e claro que eles podiam pegar informações dos pais de Jungkook, coisa que Hoseok não tinha como impedir. E isso levavam aqueles dois rapazes até Los Angeles…
— É irmão, pelo visto o nosso amigo aqui não quer colaborar. — Disse o rapaz para o irmão que estava ao seu lado, sentado na cama. Eles vestiam as mesmas roupas, mas o terno de um era preto e do outro vinho bem escuro. — O que faremos?
O de terno vinho, e o caçula entre os dois, olhou de canto para Hoseok.
— O diretor pediu para não usar da violência… Devemos pegar outra pessoa da casa então?
Hoseok arregalou os olhos. Iriam atrás de seus pais?
— Ele ficou preocupado, não é irmão? — O mais novo falou. — Então você vai responder o que queremos? — Disse, se aproximando de Hoseok com um sorriso divertido na face.
Hoseok olhou bem nos olhos do rapaz, e agora estava claro que ele sabia de quem se tratavam aquelas pessoas. E para sua sorte, eles não faziam ideia de quem ele era.
— Lee Yangson e Lee Yangun?
Os dois jovens se espantaram. Hoseok sabia o nome deles?
— Você falou os nossos nomes, irmão? — O mais novo pareceu desnorteado.
— N-não. — O mais velho balbuciou.
Hoseok sorriu.
— Não ele não falou, Yangson. Eu simplesmente sei.
O mais novo encarou Hoseok confuso. Pelo que eles sabiam, Jungkook não tinha conhecimento sobre eles, não teria como ter falado sobre eles a Hoseok…
— Como você nós conhece?
— Simples… — Enquanto ele agora mantinha a atenção dos rapazes a sua frente, movimentava suas mãos devagar, tentando desatar o nó das amarras. Precisava sair dali o mais rápido possível. — Sou um viajante do tempo.
— Como? Isso é impossível. — Yangson respondeu. O mais novo era explosivo, como Hoseok se lembrava.
— Não, não é. — Agora o garoto movimentava os pés devagar, só precisava afrouxar as cordas que prendia as pernas nos pés da cadeira. — Você não tropeçou naquela escada do terceiro andar e acabou caindo em cima de uma das cientistas mais bonitas da D-8, Yangun? — Falou, encarando o mais velho que havia sentado na cama boquiaberto com aquele detalhe. Hoseok estava usando das coisas que eles haviam conversado anos atrás.
— Como sabe disso?
— Você veio se gabar disso pra mim, não lembra? — Abriu um sorriso. Estava conseguindo soltar as pernas.
— Claro que não, nem sei quem é você…
— Não?
— Só vim saber de você quando cheguei na América. — O mais velho sentiu o corpo congelar com o sorriso que recebia de Hoseok. Aquilo não estava nos seus planos, quem ele era?
— Pois eu sei quem é você, e seu irmão… — Virou o rosto para o mais novo. — Você é o melhor da sala de artes não é?
Yangson arregalou os olhos.
— Como sobe sabe dessas coisas? Nem mesmo o Jungkook nos conhecia. — Falou puxando a gola da jaqueta do loiro.
Hoseok apenas sorria, estava conseguindo os distrair por um tempo.
— Temos que informar isso ao diretor irmão. — Koji falou para o mais velho. — Ele sabe demais.
— Não se preocupe irmão. — O mais velho levantou ainda trêmulo, pegando a mala preta que estava na cama. — Nosso interesse maior é o Jungkook, e se ele não vai nos contar, vamos apagar a memória dele e pegar outra pessoa da casa. — De fato que não poderia deixar aquele grande detalhe passar despercebido da D-8, mas estava com medo de continuar com Hoseok. Ia apagar sua memória e conversar com o diretor, e depois resolveriam o que fazer com Hoseok.
E Hoseok não podia deixar que eles pegassem seus pais e precisava manter a D-8 longe de sua família de uma vez por todas. E pelo visto, aqueles dois irmãos pensaram que o garoto não ia representar nenhum perigo, pois deixaram as cordas frouxas demais, ou eram incompetentes em amarrar alguém. Soltou os pés e chutou o mais novo com força no estômago.
Yangson caiu apertando a barriga, sentindo uma breve falta de ar. Ao notar que Hoseok havia soltado as pernas, Yangun correu em sua direção, trazendo consigo uma taser. Hosoek levantou, puxando as mãos já livre das amarras e segurou a cadeira, jogando-a em direção do maior, que também caiu.
— Eu tive que me preparar muito pro dia que vocês chegassem. — Disse Hoseok, trancando a porta atrás de si. — Agora… Se a Divisão 8 não vai parar de nos importunar por bem…
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Vários cadernos estavam abertos sobre a nova cama. A última mala que trouxera já havia sido guardada junto com todo os seus pertences. Jungkook tinha mania por arrumação, mas isso não se aplicava quando estava com seus pensamentos em códigos. Jungkook apenas os organizava no momento, ficaria um tempo sem mexer com eles. Já tinha se lembrando da maior parte, e agora teria que manter a mente focada na universidade. Mas inconscientemente os pensamentos iam para dois andares abaixo do seu, iam para Park Jimin, o idiota.
Não podia negar que nunca teve Jimin tanto em sua mente como estava tendo desde aquela tarde que passaram juntos. Se arrependia tanto daquilo. Daquele momento de fraqueza em que deixou ser guiado pelo corpo, e mais uma vez tinha cedido aos desejos do mesmo, beijando-o forçadamente no dia anterior, no elevador. Pensava que agora veria Jimin direto, tanto pelo Campus quanto no dormitório. Era muito azar para uma pessoa só. Talvez teria mesmo que sair fazendo novas “amizades” para se manter cem por cento longe de Jimin, pois parecia que tinha um ímã naqueles lábios que o fazia querer sempre beijá-los. E Jungkook não podia deixar aquilo acontecer. Sabia que acabaria por usar o outro… E Jimin não podia se tornar uma distração. Ou podia? Eles poderiam fazer algum acordo? Jungkook não se incomodaria em ceder a si mesmo para agradar Jimin, se ele assim quisesse. Jungkook nunca poderia oferecer sentimentos, mas … Passou as mãos nos olhos tentando afastar aqueles pensamentos.
Que tipo de pessoa Jungkook seria se fizesse isso? Não era Jimin quem ele queria usar, Jimin não tinha nada a ver com seus problemas e nem poderia ser uma solução fácil para quando quisesse relaxar a mente. Mas se eles conversassem, e Jimin aceitasse as condições…
— Não! — Falou a si mesmo. Sua cabeça parecia querer brincar consigo. Seu foco não era o seu corpo. Era a sua vingança, e o seu desejo pelo controle do tempo. Jungkook nunca mais seria visto se tudo desse certo. Seria um verdadeiro viajante do tempo. Queria ser capaz de andar entre o passado e o futuro pelo resto da vida, nunca parando no presente… Isso depois de destruir toda a Divisão-8.
Depois de organizar suas coisas, resolveu descer até o refeitório do dormitório. O lugar era bonito, de arquitetura antiga. Haviam alguns estudantes por ali, e todos já estavam em seus grupinhos. E por ele praticamente não ver nenhum outro asiático, sabia que não seria incomodado, o que era bom, mas o ruim era saber que poderia mesmo ficar sozinho em algum canto por ali. Americanos naturalmente não costumavam conversar com latinos, negros e asiáticos. Era da “cultura” do país, mas esperava que em um ambiente acadêmico como aquele as coisas fossem um pouco diferentes. Afinal, eles estavam na maior universidade do planeta. Pessoas de todas as partes do mundo se encontravam ali. E ele era um dos “protegidos” de Harvard. Os superiores do dormitório já tinham o conhecimento de sua pessoa, fizeram questão de fazer um certo alarde quando o aceitaram na instituição Jungkook já era considerado o novo gênio dali, e estranhamente, aquilo não alimentava o seu ego.
Jungkook estava entediado… isolado, na verdade. Estava apenas dois dias em Cambridge, e sentia falta de algumas coisas. Nunca pensou que ficar sem as conversas malucas do amigo durante o jantar o deixariam tão desanimado. Não tinha com quem conversar, e aquele detalhe o chateava bastante. Hoseok podia tanto estar ali…
Jungkook pegou uma bandeja e se serviu, e enquanto caminhava pelo lugar, procurando uma mesa para si, deparou-se com seu único conhecido do lugar.
Jimin estava sentado em uma pequena mesa mais ao fundo. Olhava para alguns papéis que pareciam ser seus horários e anotava algumas coisas em uma agenda. Ele já estava comendo, e parecia tão concentrado que nem mesmo notou sua aproximação. Jungkook sabia que podia comer em seu quarto, mas estranhamente sentiu falta de ver outras pessoas. E aquilo o preocupava.
Aproximou-se de Jimin, já sentando na cadeira a sua frente.
— Hã?
— Ah! Estava esperando alguém? — Jungkook perguntou debochado. E Jimin ficou em silêncio. — Foi o que pensei.
— Pensei que ia ficar no quarto de novo. — Jimin falou enquanto se concentrava em suas anotações. Tinha muita coisa para decorar por ali. Haviam horários demais também…
— Sentindo a minha falta? — Jungkook sorriu de canto.
— Você que parece sentir a minha. — Levantou os olhos de encontro aos do maior.
— Não se ache. Apenas não tenho com quem conversar aqui.
— E desde quando isso foi problema pra você? — Jimin tratou de comer um pouco do seu jantar, ainda encarando Jungkook que estava sério.
— É exatamente isso o que estou me perguntando.
Jimin parou o mastigar quando ouviu aquilo.
— Podia ter ficado em um quarto com alguém…
— Não.
— Tá… Então… o que faz sentado aqui?
— Apenas comendo. Podemos jantar juntos, mas sem nenhuma conversa.
Jimin deu de ombros, voltando sua atenção para o que fazia ali. Pelo menos aquela aproximação era melhor do que nada. E queria se socar por já ter gostado daquilo. Jimin não aprendia mesmo. Desde o dia em que ficaram juntos e recebera aquele belo fora de Jungkook, nunca mais se falaram como antes e Jimin até queria conseguir se manter longe, mas não adiantava. Seu burro e ingênuo coração teimava em brincar consigo.
Depois de jantarem em silêncio, acabaram por seguir juntos para seus quartos. Jungkook se sentia bem por ter jantado com alguém aquela noite, mas temia ter que repetir isso. Precisava mesmo conhecer outras pessoas, pessoas pela qual ele não se sentisse estranho e com vontade de beijar.
Durante toda a noite, Jimin tentava não encarar os olhos do outro. Pois, além de não saber decifrá-los, sabia que iria se deixar levar por algum olhar mais demorado e, mesmo querendo aquilo, sabia que o melhor jeito de chamar a atenção de Jungkook era o ignorando. E aquilo era claro no “relacionamento” dos dois. Quando um ignorava, o outro ia atrás. Mas até quando Jimin teria que ficar naquele joguinho? Jungkook simplesmente não daria o braço a torcer.
A porta do elevador abriu no andar de Jimin, e ele expirou o último ar de alguma esperança de seus pulmões. Deu alguns passos e parou na divisa da porta do elevador, não conseguindo se segurar. Virou-se para Jungkook que estava encostado na parede ao fundo, de braços cruzados, e enquanto Jimin estivesse parado diante os sensores das portas, elas não se fechariam.
Embora Jungkook quisesse dizer alguma grosseria por aquilo, preferiu se manter em silêncio. Jimin não sabia o porquê de estar parado ali. Estava claro que em seus olhos haviam um pedido para que o maior ficasse com ele, para que aquela brincadeira acabasse. Só queira mais uma vez dizer o que sentia e que estava mal por não ser correspondido… Queria dizer tantas coisas, mas ao olhar naqueles olhos frios, Jimin sabia que nada do que ele dissesse adiantaria. Só que mesmo assim ele continuava ali. E aquele estúpido sentimento chamado “esperança” insistia em gritar dentro de si. Insistia em dizer: “Vai em frente, seu babaca. Não desista, mostre pra ele tudo o que você sente que ele vai mudar… ele vai mudar.”
— Vai ficar parado aí até amanhã? — Jungkook não aguentou aquela demora e teve que falar alguma coisa.
Jimin abaixou o olhar.
— Já estou indo…
— Espera.
Jimin sentiu os dedos do maior lhe tocarem o braço, ficando confuso ao encarar aqueles olhos sérios.
— Não falei no sentido de você ir embora. — A voz de Jungkook soou mansa.
— Não? — Jimin ficou ainda mais confuso.
— Agora além de idiota é lerdo?
Fazia tempo que Jimin não ouvia o outro o chamar de idiota, e aquilo, de certa forma, não era uma coisa ruim no momento. Deixou Jungkook se aproximar perigosamente, selando os lábios nos seus mais uma vez. Fechou os olhos aproveitando daquele contato. Sentiu os dedos deslizarem devagar pelo seu braço, chegando até o pescoço onde o apertou devagar. A outra mão foi em direção a sua cintura apertando-a e o puxando para perto de si. Jimin continuava imóvel, apenas retribuindo o beijo, seus braços logo circularam o pescoço do outro, e assim, entraram novamente no elevador.
Os lábios de Jungkook foram descendo pelo queixo de Jimin, indo logo depois em direção a lateral do pescoço. Jimin jogou a cabeça para o lado oposto dando mais espaço para que Jungkook aproveitasse mais daquela região. E Jungkook descia devagar por aquela pele macia, molhando-a um pouco com seus beijos. E quando chegou na clavícula, subiu todo aquele trajeto com a língua. Jimin sentiu a gravidade reclamar em cima de seu corpo, fazendo- perder as forças que tinha nas pernas naquele instante e, se Jungkook não o estivesse segurando, com certeza teria caído.
Jungkook abriu os olhos, estava mais uma vez se sentindo dominar por aquele garoto a sua frente. Não conseguia ficar longe dele, longe daquela pele, daquela boca. E voltou a tomá-la com desespero. O elevador subiu, e quando as portas se abriram novamente, ouviram algumas vozes pelo corredor. O que os obrigou a se afastarem. Sairam do elevador, deixando que as outras pessoas o pegassem. Caminharam um pouco, seguindo em direção ao quarto de Jungkook, e ele não sabia mais se continuava com aquilo ou se parava.
Jungkook respirou fundo tentando trazer a sanidade de volta a sua mente. Se perguntava o que é que estava fazendo afinal. Passou a mão na testa tentando organizar as ideias, precisava ser mais forte que o corpo. Então sentiu um toque leve em sua cintura. Jimin o olhava com aquela típica cara de cachorrinho sem dono.
— Já chega por hoje. — Respondeu, virando o rosto.
— Ainda não…
— Para… Nos dois sabemos muito bem que eu não quero isso.
— Quer sim… — Virou-se de frente para Jungkook. — Dá pra ver isso nos seus olhos.
Jungkook sorriu. Jimin não fazia ideia que ele podia ser capaz de demonstrar qualquer tipo de sentimentos com os olhos ou com sua expressão corporal. Tinha aprendido a ser daquele jeito há muito tempo. Talvez estivesse apenas mostrando algum olhar que Jimin gostaria de ver, mas que não era verdadeiro. Porém, em nenhum momento pensou que estava fazendo aquilo. O que indicava que, o que ele mostrava, era algo verdadeiro. Algum tipo de sentimento? Não podia ser possível…
Tudo ali era carnal, tinha que ser…
Jimin não esperou por uma resposta e juntou novamente as bocas que não demoraram em aprofundar o beijo. Jungkook mais uma vez decidiu deixar a mente parar naquele momento. Se era algo que o outro queria e ele não estava fazendo nada no momento, por que não se deixar levar? Seria bom para os dois.
Jungkook começou a andar, segurando a cintura de Jimin e o prensou contra a porta do seu quarto. Tirou a chave do bolso e, sem largar os lábios do menor, tratou de abrir a porta como conseguiu, chutando-a para que se abrisse logo. E foi como se fossem dois animais ali dentro, se agarrando, puxando as roupas um do outro. Jimin também chutou a porta para que ela fechasse, e assim rolaram pelas paredes até se jogassem na cama.
Jungkook não estava tão “carinhoso” como da primeira vez. Assim que Jimin caiu ali, puxou suas roupas para fora, quase rasgando-as por sua pressa e necessidade. E Jimin já se sentia tão excitado que nem ligava para como o outro poderia deixar suas roupas.
Jungkook engatinhou em cima de Jimin, atacando seu pescoço mais uma vez. E era tão bom já saber que aquela região fazia Jimin arrepiar e gemer baixo. E aquilo o excitava. Jungkook enfiou a mão por baixo da blusa do menor, apertando a pele que encontrava no caminho que fazia. Jimin o puxava para junto de si com força, já movendo o quadril para aumentar o atrito de seus membros ainda cobertos pelas roupas, deixando escapar alguns suspiros necessitados. E ao terminar de subir toda a blusa cinza de Jimin, Jungkook teve que parar com o que fazia apenas para joga-la em algum canto.
Voltou a beijar aqueles lábios fartos de Jimin, deixando que suas línguas se embrenhassem como bem se conheciam. Dessa vez, Jungkook não pensava muito, apenas agia como seu corpo mandava. Todas as boas impressões daquele ato estavam gravadas em seu subconsciente, e o desejo por mais era ainda mais selvagem dessa vez. Jimin também tirou sua camiseta e começou a abrir sua calça, e seus dedos o apertavam tanto ali, que Jungkook acabava mordendo os lábios para não gemer.
Sem demora os garotos tiraram a calça um do outro, e depois de mais alguns beijos ardentes, mordidas e arranhões sempre embalados pelos sons de gemidos, terminaram de tirar a última peça de roupa que impedia o contato por completo de seus corpos suados. Enquanto Jungkook lambia e mordiscava o lóbulo da orelha de Jimin, este mordia seu ombro. Os movimentos de seus quadris já tinham um ritmo sincronizado, os membros se tocavam e ambos tentavam segurar os gemidos que aquele simples contato os causava.
Jimin tentava não pensar no final daquele momento, tentava não pensar que em cima de si estava uma pessoa que não sentia absolutamente nada por ele. Se prendia ao momento e a pessoa de desejo. Era com ele que Jungkook estava afinal, não tinha mais ninguém que pudesse aproveitar daquele instante dos dois. Jimin era de Jungkook e Jungkook era de Jimin. Ele precisava apenas saber daquilo, saber que, apensar de tudo, era ele quem fazia Jungkook tremer, suar e gemer daquele jeito. Se apegava aqueles detalhes e aquilo o fazia se sentir especial para o outro. Ele era especial…
Os lábios foram separados e Jungkook virou Jimin de uma vez. Aquele gesto assustou um pouco o menor. Jungkook umedeceu os dedos na própria saliva, colou a barriga nas costas do outro e adentrou logo dois dígitos no interior do menor. Jimin deixou um baixo gemido de dor escapar.
Pensava que aquilo estava diferente, Jungkook estava diferente. Agora não teria nem mesmo o contato visual que queria pela posição em que se encontrava. Em pouco tempo sentiu mais um dedo entrar em si e não conseguiu ficar quieto, reclamando que aquilo estava rápido demais e doía. E percebendo o que fazia, Jungkook começou a beijar suas costas, subindo para a parte traseira do pescoço, levando a outra mão de encontro ao membro esquecido de Jimin, fazendo alguns movimentos para deixá-lo mais relaxado. Podia sentir pela pressão em seus dedos que Jimin estava nervoso. Talvez pela mudança brusca de posição que o deixava completamente vulnerável?
E assim que os dedos de Jungkook o abandonaram, Jimin novamente estremeceu. E quando começou a senti-lo lhe invadir, acabou abafando os gemidos no travesseiro. Havia doído da última vez, mas, com certeza, não sentiu tanto desconforto como sentia naquele momento.
Jungkook se movia devagar, dessa vez ele não teve todo o cuidado de antes por estar bastante necessitado, mas ainda sim, parecia que estava fazendo algo errado. Aquele momento não podia ser assim, não podia apenas forçar a sua vontade mesmo que o outro ainda tivesse algum interesse.
— D-desculpe… — Foi tudo o que conseguiu dizer próximo ao ouvido do outro, que afundou mais o rosto no travesseiro. E com esses simples gestos, Jungkook derretia o coração de Jimin.
E Jimin se sentia tão idiota por continuar a se prender em mínimas coisas… Mas Jungkook tinha um coração de todo modo, escondido dentro daquele grande bloco de gelo que ele era.
— Só… vai devagar. — Pediu, e Jungkook atendeu a ele.
As mãos de Jimin apertaram os lençóis quando voltaram a se mover. O incomodo ainda estava ali, mas aos poucos o prazer voltava e fazia sua cabeça esquecer de tudo. Seus corpos ganharam ritmo e Jungkook ia cada vez mais forte, cada vez mais fundo, fazendo com que Jimin levantasse mais o quadril sem nem se dar corta. Jungkook olhava pra baixo, olhava para aquele belo corpo que ele dominava. Jimin era lindo e seus gemidos afinados o davam tamanho prazer que praticamente marcaria aquela cintura e o quadril pela forma como o segurava firme. A cama rangia, e alguém ia acabar ouvindo tudo aquilo. Mas eles não se importavam…
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Os dois irmãos acordaram zonzos e olharam em volta notando estarem dentro de uma sala branca acolchoada. Se entreolharam confusos, com medo um do outro. Por trás de uma grande janela com vidro fumê, o diretor dá D-8 encarava os rapazes que começaram a gritar e bater nas paredes macias. Passou uma das mãos no rosto, limpando as poucas gotas de suor que ali estavam. O semblante cansado de Kangho era visível. Sentou-se em uma das cadeiras mais afastadas da janela e seus assistentes o encararam preocupados. O diretor segurava uma folha branca com algumas coisas escritas em coreano.
Haviam se passado alguns dias desde o último contato daqueles dois irmãos… E agora, aquilo…
— Não há o que se possa fazer por eles? — Perguntou em uma voz derrotada para um dos antigos cientistas que trabalhava ali.
O homem apenas balançou a cabeça, negando.
— Sinto muito…
Kangho assentiu, voltando a fitar as palavras daquela folha que já estava amassada. E não conseguia entender como tudo aquilo havia acontecido.
“Senhor Kangho, isso é o mínimo que eu posso fazer. Não sabe mais com quem está lidando e se voltar a importunar qualquer pessoa que vive aqui, a Divisão-8 será eliminada.
Odiosamente, Viajante do tempo.”
Kangho suspirou. Quem teria feito aquilo com os rapazes? Jungkook? Hoseok?
Os irmãos Lee voltaram em um voo particular. Ficaram desacordados durante todo o trajeto, e por mais que os pilotos tivessem sido interrogados pela D-8 nenhum deles sabia quem de fato os havia contratado para aquela viagem. E apenas transportaram aqueles rapazes, pois haviam muitas ameaças envolvidas. A D-8 teve que abafar todo o caso, e mesmo com inúmeras tentativas de recuperar a memória daqueles irmãos, nada foi possível. E agora o diretor pensava em como teria de explicar a família deles o que ocorrera.
Até onde Jungkook seria capaz de ir em sua vingança?
— O que faremos senhor? — Anya perguntou irritada.
Kangho balançou a cabeça.
— Apenas nos proteger. Esqueçam o Jungkook.
— Como?
— Não quero perder mais ninguém dessa forma.
— Não é dessa forma que agimos aqui na D-8. Não devemos ter medo de ninguém senhor.
— Estou muito cansado, Anya. E agora não sabemos com quem ele pode estar envolvido. Se descobrirem sobre a D-8 estaremos perdidos e tudo o que levamos anos para construir, e as pessoas que vivem e trabalham aqui… — A única coisa que o preocupava no momento era a segurança de sua nação e, atacar alguém que poderia estar envolvido com o governo dos Estados Unidos seria um tiro no próprio pé. — Por hora… — Começou a falar para os presentes ali. — Deixaremos Jungkook livre.
Anya fechou a cara não querendo aceitar aquilo. Mas se ninguém dali conseguia rastrear aquele garoto, era melhor dar um tempo. Mesmo que sua vontade fosse de expor Jungkook aos americanos, sabendo que eles sim fariam um serviço bem mais duro, o final daquela história seria a descoberta da D-8. Por hora, Jungkook havia conseguido vencer.
— Mas vamos continuar as investigações por nossa conta. Somos capazes disso e temos que trabalhar juntos. — Kangho continuou a falar. — Temos jovens demais aqui que podem ser compatíveis com o Neu.AI-02. Vamos prosseguir com os nossos trabalhos. — Disse por fim saindo da pequena sala.
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Era noite em Los Angeles. Hoseok estava em seu quarto e olhava para a janela, reparava nos carros que passavam em sua rua e como os dias iam passando e nada de suspeito acontecia, achava que o seu recado tinha dado certo.
Isso até seu celular começar a tocar e na tela aparecer o indicativo de um número anônimo. Ele sabia que aquilo não era um bom sinal, não depois do que fez. Atendeu a chamada, e a voz do outro lado da linha era bastante conhecida.
— O que transforma o mundo? — Perguntou a outra pessoa.
— Hope. — Hoseok respondeu, ouvindo um riso baixo.
— Quanto tempo viajante…
— Não muito assim.
— Sabe o motivo da minha ligação?
— Sei. Usei recursos demais dessa vez, mas foi necessário. Eles se aproximaram bastante e quase colocaram em risco a minha missão.
— E está fazendo a sua missão, viajante Hope?
— Estou… — Hoseok apertou um pouco o celular na mão.
— Ótimo. Só faça de um jeito que não chame tanto a minha atenção. Isso complica as coisas para os nossos dois lados.
— Entendo. Não precisa se preocupar com isso, Jin.
— Também não quero me preocupar. Boa noite.
A ligação foi encerrada, e Hoseok teve que abrir o celular e tirar o chip dali. Precisaria dar fim aquele aparelho, mesmo que não tivesse nenhum registro daquela ligação para ele, era sempre o melhor a se fazer. Receber ligações de Jin sempre o deixavam nervoso. Era melhor evitar se expor muito ou expor o seu pessoal. Só torcia para que Jungkook estivesse bem.
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