2020 – Coreia – Primeira linha de tempo de Hoseok
A sala de reuniões da Divisão 8 estava lotada com os melhores cientistas em diversas áreas, engenheiros e os dois diretores daquela fortaleza. Estavam todos observando a palestra daquele que conseguiu, em poucos anos, criar a Maquina do Tempo coreana, Jung Hoseok.
A primeira máquina do tempo eficaz, foi executada em 1989 nos Estados Unidos pelo mestiço cientista Neumann Namjoon. E nos registros que obtiveram, a máquina já vinha sendo elaborada há anos pelo avô e o pai daquele cientista, porém depois de uma série de erros, ela finalmente foi posta a prova dando o resultado de enviar uma simples mensagem ao passado. Antes a única coisa que conseguiam fazer era apenas envia pequenas mensagens e a cada enviada, consumia uma grande carga de energia, e o tempo máximo permitido para que as mensagens fossem enviadas eram de apenas cinco dias no passado. Namjoon havia conseguido criar um pequeno buraco de minhoca que desaparecia imediatamente quando os dados chegavam até o passado.
Com base nesses detalhes, o jovem Hoseok conseguiu construir uma igual, porém com uma carga energética muito maior, e estava apenas esperando os últimos dados e diagnósticos da Máquina para finalmente começarem os novos testes, mas estava claro para todos da D-8 que ela funcionava e muito melhor. Hoseok ia conseguir um intervalo de tempo maior para as mensagens, em torno de um ano ou mais. E com isso, os coreanos poderiam mudar vários detalhes trágicos do país que ocorressem dentro daquele período. Mas o intuito maior, era mudar fatos mais históricos e que envolvesse mais o domínio do governo.
Hoseok entrou para a D-8 aos cinco anos, e desde o início se destacou entre todas as crianças com sua grande inteligência. Logo conseguiu sincronizar-se perfeitamente com o Neu.AI02 e o neurocomputador junto de sua mente foram capazes de serem mais rápidos que os americanos. O pequeno tinha acesso a todas as informações e foi um dos principais cientistas a invadir o sistema secreto americano, conseguindo assim construir uma Máquina duas vezes melhor.
O garoto tinha apenas vinte e cinco anos quando estava para entrar para a história do mundo científico secreto pelo seu feito com tão pouca idade. Hoseok sabia se relacionar bem com todos, mas poucos conversavam com ele, sempre tivera uma mente misteriosa e mesmo com o belo sorriso e jeito galante, muitos o olhavam com desdém. Alguns o admiravam e outros o temiam. Afinal nos dias de folga, o garoto costumava passar o tempo dentro das academias de luta e tiro. Hoseok sabia ser bastante intimidador quanto queria.
— Senhor Jung, mas e se os buracos de minhoca não se fecharem após os envios das mensagens? — Um dos novos cientistas perguntou ao jovem. — Pelo que sabemos a nossa TM utiliza de muito mais energia e o tempo de envio de dados é maior, então não poderia acontecer algum erro nisso? Os testes que fizemos até agora foram satisfatórios, mas ainda sim… o que o senhor vem propondo parece arriscado demais.
O jovem passou a mãos no cabelos e sorriu.
— Claro que não. Eu já revisei o meu projeto milhares de vezes, e pelo que sabemos dos americanos e pelo óbvio, não teremos energia o suficiente para manter um buraco aberto por muitos minutos, afinal eles são acelerados na velocidade da luz. Não queremos causar nenhum blecaute no mundo, não é? — Disse, fazendo alguns homens importantes da sala rirem.
— Sim. E outra pergunta aqui, senhor Jung. — Outro cientista levantou o braço.
— Pergunte! — Disse Hoseok apontando para o cientista.
— Se vamos conseguir enviar dados para mais de um ano no passado, então nossa energia não seria capaz de enviar pessoas também?
— Pessoas? Impossível.
Ouviu o burburinho se formar dentro da sala.
— Sim pessoal, impossível. — Hoseok continuou, fazendo todos se calarem e voltarem as atenções a si. — Os buracos de minhoca são microscópicos, quando enviamos uma simples mensagem que praticamente não possuiu massa alguma, ela se comprime dentro do buraco e sai intacta do outro lado, agora enviar pessoas seria comprimir a sua massa microscopicamente dentro de um buraco que viaja na velocidade da luz, ou seja, a pessoa poderia chegar ao outro lado completamente derretida, se perder entre o corpo do buraco ou ter o corpo desfragmentado. E pessoalmente eu sou contra o uso de seres humanos em experimentos deste tipo.
— Mas sabemos que os americanos estão fazendo o mesmo. Estão pesquisando uma maneira de enviar objetos e com isso só podemos concluir que mandarão pessoas futuramente. — Outro cientista se manifestou.
— E sabemos também que eles não estão tendo resultados nenhum com isso. No nosso caso, poderemos conseguir sim, enviar alguns objetos, mas tudo com pouca massa, isso por enquanto. — Explicou Hoseok.
— Então podemos também cogitar a ideia de usar pessoas? — Mais outro cientista falou. — Ter viajantes no tempo iria ser formidável, fora que poderíamos mandar essa pessoa para dias atrás em qualquer lugar do mundo.
— Sim, seria formidável. E todos nós aqui sabemos que seria ainda mais formidável se conseguíssemos enviar pessoas para os tempos egípcios e descobrir como aquelas malditas pirâmides foram feitas, certo? — Disse, novamente fazendo todos rirem. E embora Hoseok compartilhasse daquele sorriso, aquela vontade era muito real em si.
Hoseok suspirou, sabia que a palestra levaria muito mais tempo do que imaginava. Embora ele também quisesse saber da possibilidade de fazer pessoas viajarem no tempo, não gostava de saber que muitas iriam morrer. Ele era jovem demais para crescer com vários corpos e famílias desoladas em suas costas. E mesmo que muitos homens ali insistissem em dizer: “Tudo bem que morram algumas pessoas. Quando conseguirmos fazer com que as viagens sejam seguras, é só voltarmos no tempo e salvar todos os mortos” o jovem se perguntava como aqueles homens poderiam ser tão espertos e terem aquele tipo de pensamentos. Hoseok era um cientista, mas possuía sentimentos.
Hoseok também sabia que o intuito daqueles que tanto patrocinavam suas pesquisam eram homens poderosos com alianças poderosas e desviadas. A Máquina do Tempo era uma ótima arma bélica, estava bem na cara isso. Mas o jovem realmente tinha sonhos de apenas conhecer o passado e não alterá-lo. Ou não alterar muito…
Passaram-se alguns dias após aquela reunião e a máquina seguia com seus testes de dados para mais de um ano. E a cada sucesso, mais conversas estranhas eram cochichadas nos corredores. E em uma noite sozinho em seu laboratório no subsolo da D-8, Hoseok resolveu fuçar os arquivos dos americanos, e mesmo que eles fossem aliados de alguma forma, a ciência da guerra fazia negócios com quem mais era interessante. E asiáticos e ocidentais tinham uma certa rixa.
Hoseok verificava os avanços do outro governo quando um arquivo surgiu em sua tela. Havia um nome ali “Uma verdade sobre as nossas Máquinas” e ao clicar nele, uma janela pequena e preta surgiu, e devagar, uma mensagem começou a ser digitada.
RM: Olá, eu sei que você está nesse momento do outro lado do planeta, invadindo meu sistema buscando informações sobre a TM-0, e não se assuste, por mais que eu tenha tentado bloquear meu sistema, você é muito bom, apenas você consegue saber sobre tudo isso o que lhe escrevo e queria dizer uma coisa: Desista da Máquina do Tempo. Pode parecer pretensioso demais da minha parte, afinal foi eu que a criei, não é? Mas ela é um fardo, muitas coisas têm saído errado, muitas pessoas têm morrido e os buracos de minhoca vem se tornando cada vez maiores. E temo que um dia um deles possa se desestabilizar e acabar por criar um buraco negro, assim destruindo a vida de todos nós…
Hoseok pensou um pouco no que fazer. Aquele sistema que ele estava invadindo era o de Namjoon, e como um tinha sido descoberto pelo outro, Hoseok resolveu entrando jogo. Começou a digitar uma mensagem e a enviou para a estranha janela preta.
HS: Desistir? Por que acha que eu o daria ouvidos?
RM: Porque nós temos uma previsão do futuro melhor que qualquer um, certo? Alias não use o teclado e sim o seu neurocomputador para me responder.
Hoseok se surpreendeu um pouco, mas obedeceu aquela ordem. Cruzou os braços e começou a enviar comandos de seu neurocomputador para a janela.
RM: Também acho melhor mudar o seu nome. Acho que não será bom se alguém descobrir que estamos conversando.
Hoseok piscou algumas vezes e algo surgiu na tela.
HP: Está querendo ser simpático comigo?
RM: Eu sei quem está aí. Sei que você não quer usar a TM para interesses políticos.
HP: E você? Qual o seu interesse com as TMs?
RM: O mesmo que o seu? Eu acho… Eu sempre ouvi histórias bonitas do meu pai e do meu avô, cresci fantasiando com uma máquina que poderia me fazer conhecer os dinossauros. Mas nós dois sabemos que não é assim que funciona, e que as pessoas que pagam pelas nossas brincadeiras querem apenas uma coisa: Guerra.
HP: E você não sabia disso quando seu pai e avô o contavam histórias? Era exatamente pra isso que eles trabalhavam.
RM: Eu sempre soube, mas nunca concordei. E HP, nós dois sabemos a magnitude que nossas TM são. Elas não deviam ser usadas para fins tão destrutivos e sim conhecimento.
HP: Onde quer chegar com essa conversa?
Hoseok já estava se sentindo incomodado, mesmo que concordasse com o outro cientista.
RM: Nós precisamos parar. Precisamos parar essas pessoas e parar as TMs.
HP: Não podemos.
RM: Podemos sim! Olha… As coisas por aqui começaram a ganhar um rumo muito perigoso. Temos usado pessoas…
HP: Por que está me contando isso?
Hoseok voltou a ficar nervoso. Ele sempre suspeitou que os americanos já estivessem nessa teoria de enviar pessoas pelo tempo, mas seus cálculos foram precisos demais em saber que, ao menos naquela época, enviar pessoas ao passado era impossível. Eles não tinham tecnologia o suficiente para fazer uma pessoa retornar viva e em sã consciência por uma fenda do tempo.
RM: Porque talvez você possa me ajudar. Nós dois podemos nos ajudar… Usar pessoas não é o mais grave desta situação, e sim o que duas máquinas do tempo, posicionadas em pontos distintos, podem fazer. Nossos buracos de minhoca podem se colidir muito em breve.
HP: Impossível! Eu pesquisei tudo, não há como os buracos ficarem abertos por tanto tempo pra causarem esse tipo de dano. A energia gasta por cada uma delas, para esse tipo de ação é enorme. Nem mesmo usando a energia solar seria capaz de tamanha coisa. Li seus registros, senhor Neumann, não pensa muito diferente de mim.
RM: Mas temos duas máquinas e a energia dos dois buracos poderiam gerar energia infinita para que elas continuassem a se expandir cada vez mais. E sabe, desde a primeira vez que invadiram o meu computador, eu guardei todas as minhas anotações sobre a máquina dentro de minha própria mente e em cadernos que mantinha dentro da minha casa. Tudo o que está escrito no meu computador e de todos dentro da ANSA, são informações quebradas. Só que mesmo assim, você ainda conseguiu criar uma máquina que funcionou perfeitamente.
HP: Eu sou um gênio, meu caro. Não iriam ser meias informações que me fariam deixar o projeto também pela metade. Não caio nessas mentiras contadas por vocês, americanos.
RM: … Você não faz ideia do é isso que temos em mãos. Eu só queria poder destruir esta máquina, mas como você deve saber, existem muitas pessoas dentro da ANSA que são “viajantes”.
“Viajantes” era o termo que os cientistas das máquinas do tempo utilizavam para as pessoas que tinham suas mentes ligadas aos neurocomputadores e as mudanças do tempo causadas pelas máquinas.
RM: Então, qualquer alteração que eu faça por aqui, nunca vai passar despercebida. Fora esse bando de gente que enfiaram aqui para monitorarem a TM. Isso também tem acontecido por aí, certo?
Hoseok não respondeu nada, e logo apareciam mais palavras na tela de seu computador.
RM: Assisti sua última palestra… as pessoas daí tem perguntado sobre o envio de humanos pelo tempo, certo?
Hoseok não pareceu surpreso por estar sendo muito bem vigiado por Namjoon. Mas a conversa não o agradava nem um pouco.
RM: Meu jovem, você é um gênio e eu sei que muitos da D-8 devem bater palmas pra você, mas vamos combinar que você está dificultando a vida para essas pessoas ao dizer que é impossível enviar humanos pro passado sendo que nós já estamos em testes quanto a isso.
HP: E isso quer dizer quê…
RM: Uma hora eles não vão precisar de você. Eles pretendem usar a Máquina com a mesma finalidade que os americanos e essas pessoas só pensam em guerras e ter vantagens sobre todos, não importa como o faça. Use seus dons de invadir sistemas de segurança e olhe os arquivos do seu querido diretor da D-8, e se depois de ler tudo, você quiser falar comigo, é só invadir meu computador que eu saberei que quer conversar. E Hoseok, eu não sou um inimigo. Quero apenas não causar um estrago irreversível no mundo, e infelizmente não posso fazer isso sozinho… Não posso tentar cuidar da TM que está aqui e deixar a sua livre. Nossas TMs precisam ser destruídas antes que todo mundo sofra terrivelmente.
Namjoon se desconectou e Hoseok teve que respirar fundo por não saber se acreditava ou não na conversa que teve com aquela pessoa. Ele ainda desconfiava que aquele podia mesmo se tratar de Namjoon, mas para sanar a curiosidade, Hoseok acabou vasculhando os computadores pessoais de Kangho. Mas ele era complicado demais para ser decifrado em uma única noite.
Depois daquela conversa com Namjoon, Hoseok voltou a se focar em seu trabalho e tentou esquecer sobre as possíveis ameaças que as TMs podiam causar. Mas, mesmo relutante consigo mesmo, Hoseok passou a analisar mais os parâmetros da Máquina e sua influência negativa sobre o ambiente. Sozinha, uma TM podia causar blecautes e até pequenos abalos sísmicos dependendo de sua carga. Os buracos de minhoca que uma TM abria era mínimos, mas se ocorresse um erro, realmente podia dobrar o espaço e tempo de um objeto ou lugar, e os relatos do projeto Filadélfia deixavam claro que aquilo podia acontecer.
Hoseok não queria que, em algum momento, uma pessoa aparecesse fundida a uma parede, ou que objetos caíssem do céu, ou que navios sumissem do mar e aparecessem no meio de uma cidade.
Suas pesquisas se tornaram detalhadas e o medo começou a assombrá-lo quando iniciou simulações de duas máquinas do tempo funcionando ao mesmo tempo. Muita coisa poderia dar errado.
Hoseok começou a avisar os cientistas da D-8 sobre os perigos de testes mais elaborados, porém, Kangho desejava explorar mais do que eles tinham e por isso ignorou muito dos alertas do jovem cientista. Kangho sempre alegava que os americanos estavam avançando e eles precisavam se igualar. Ou uma máquina do tempo acabaria se sobressaindo a outra, mas Hoseok sempre os freava. E isso deu certo por um tempo, pelo menos até ele tirar alguns dias de folga.
Nesse período, muita coisa mudou dentro da D-8 e como Hoseok estava desconfiado, voltou a bisbilhotar os computadores de seu chefe. E o que encontrou ali não o agradou nem um pouco.
Nos arquivos secretos, constava que a D-8 iria retirar Hoseok de seu posto frente a Máquina do Tempo. O substituiriam por uma equipe mais especializada e inteiramente comandava pelo governo. Seus testes se estenderiam até a viagem humana e então, uma lista de eventos históricos passados seria afetado.
— Não… — Falou baixo enquanto lia mais alguns arquivos, e então pensou no que Namjoon havia falado. — Mas eles não podem me tirar do projeto. — Hoseok leu mais alguns arquivos e lá deixava claro que a D-8 faria questão de apagar suas memórias. Afinal, esse era o protocolo. No entanto, como Hoseok tinha um potente neurocomputador, os danos que sua mente teria com essa “exclusão de arquivos” poderiam ser irreversíveis. Hoseok poderia até entrar em um estado vegetativo com isso.
Não passaram muitos dias depois daquelas descobertas, e agora Hoseok precisava fazer algo antes que não tivesse mais autonomia alguma dentro daquela Divisão. Ele voltou a se comunicar com Namjoon em uma noite qualquer e agora precisava saber quais seriam seus próximos passos antes do fim.
RM: Você foi rápido, HP.
HP: Agora você vai me explicar porque está me dando todas essas informações e quais são seus planos.
RM: Você confia em mim?
HP: Estou aberto a ouvi-lo.
RM: Hmm… bom, preciso que a minha máquina do tempo desapareça, assim como a sua, então… preciso que use a sua TM para destruir a minha.
— O quê? — Hoseok acabou vocalizando o pensamento.
HP: Como assim?
RM: Precisamos fazer uma viagem no tempo bastante arriscada, e eu preciso muito da sua ajuda e confiança.
HP: Eu preciso de detalhes e rápido. Chega de enrolações, por favor.
RM: Existe uma forma de fazer uma pessoa voltar no tempo e mudar tudo sem que os outros viajantes saibam. Mas infelizmente eu não posso fazer isso comigo mesmo, pois precisaria voltar ao ponto onde eu não tinha relação alguma com a Máquina, e convenhamos que naquela época a nossa tecnologia era bastante precária. Mas você pode fazer isso, você e o seu neurocomputador.
Hoseok ouviu todo o plano e por mais que entendesse cada ponto dele, não conseguia acreditar que pudesse dar certo. E com medo do que podia acontecer consigo, Hoseok acabou recuando e fez o que Namjoon menos queria: Envolver a D-8.
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Novamente a sala de reuniões estava lotada, mas dessa vez ninguém sabia o porquê de Hoseok chamar todos ali. E assim que este entrou, causando alguns comentários dispersos, Hoseok começou a falar com aqueles que considerava mais próximos e também mais racionais ao tipo de situação que era ter uma Máquina do Tempo.
— Senhores. — Disse, acionando um computador na mesa que logo fez diversas janelas holográficas surgirem nas mesas de cada cientista daquela sala. — Os senhores entendem o que esses documentos querem dizer sobre a nossa TM? E principalmente o motivo de eu não concordar com testes mais avançados como o uso de seres humanos na máquina? — Hoseok mudou os arquivos das telas e fez com que aparecessem outros que ele havia roubado dos os planos de Kangho. — Kangho pretende me substituir do projeto da TM e colocar uma equipe nova do governo. E os senhores sabem que isso vai implicar também no trabalho de vocês, pois essa equipe vai acabar com a nossa autonomia aqui.
Aqueles cientistas acabaram se entreolhando, mas muitos estavam mais quietos do que o normal e aquilo começou a preocupar Hoseok. E durante sua reunião, Kangho acabou entrando naquela sala junto de alguns guardas. Não houve muita conversa, o diretor apenas pediu para que Hoseok fosse levado dali por seus seguranças. O jovem cientista ainda tentou fugir, mas assim que colocaram um dispositivo em sua cabeça que era capaz de anular as transmissões de seu neurocomputador, Hoseok só conseguiu pensar em Namjoon e em tudo o que ele disse em sua última conversa.
Hoseok sabia que corria risco dentro da D-8 e mesmo assim preferiu continuar ao lado daqueles homens que em um estalar de dedos substituíam qualquer um que não concordasse com eles.
Hoseok acabou sendo jogado dentro de uma das salas brancas acolchoadas. E mesmo achando que aquele era o seu fim, a pequena câmera de segurança no topo da sala o observava com uma atenção diferente.
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Dois dias haviam se passado e Hoseok estava sentado no quarto branco com as mãos algemadas atrás do corpo, assim como os tornozelos. A cabeça já doía, pois não se alimentava e tinha seus pensamentos entrecortados pelo interceptor em sua cabeça, mas se mantinha forte. Não sabia o porquê de não terem feito nada de ruim a ele, normalmente já teriam apagado sua memória, mas talvez o diretor estivesse o poupando porque talvez ele ainda fosse útil a D-8.
A luz que piscava em amarelo acima da porta apagou, e um guarda entrou trazendo consigo uma bandeja com algum alimento para jovem cientista. Assim que o depositou na mesa baixa, deu alguns passos para trás, encostando-se na janela espelhada. Hoseok encarou o homem que usava uma máscara preta, e seus olhos não indicavam nenhuma emoção. Hoseok sempre achou bizarro o jeito que as pessoas eram dentro daquele lugar.
— Já estava na hora de me trazer algo. — Hoseok falou como se estivesse em posição de dar alguma bronca. — Não vai soltar minhas mãos?
— Se vira. — O guarda respondeu.
Hoseok girou os olhos, tendo que se levantar e passar as mãos presas por debaixo das pernas, praguejando algo para si mesmo. Conseguiu pegar o copo plástico com água e bebeu tudo em um gole só. Seu corpo estava fraco e ele precisava se hidratar logo, mas não demorou até que Hoseok se sentisse bastante leve. Olhou para o guarda e o viu retirar a máscara com cuidado. Estranhou o gesto pois aqueles homens nunca revelavam seus rostos.
O guarda tinha um rosto bonito, mas o semblante era sério e dava medo, ele olhou para a câmera no topo da sala e esperou que a luz vermelha dela desligasse. O que não demorou a acontecer.
— Hoseok… — Começou a falar, já tirando as luvas pretas. — Me chamo Jin e estou aqui a mando do RM.
— Quê? — Hoseok acabou deixando o copo cair das mãos sem nem se dar conta, mas podia perceber que seus movimentos estavam lentos.
— Eu coloquei algo na sua água, caso não tenha percebido. — Aproximou-se do outro e tirou do bolso uma espécie de caneta digital que usou para tocar em alguns pontos do dispositivo da cabeça de Hoseok e o desligar. — Preciso que você relaxe para o que vai acontecer. — Retirou aquele aparelho e Hoseok teve uma outra dor de cabeça pelo neurocomputador voltar a funcionar.
— O que está acontecendo? — Perguntou um pouco zonzo. — Como você entrou aqui?
— Eu entro em qualquer lugar, meu caro. — Jin tirou do bolso uma chave e abriu as algemas das mãos e pés de Hoseok. — E agora vou te tirar daqui.
— Me tirar da D-8? — Sorriu. — Só se for morto…
— É exatamente isso que vou fazer.
— O quê?
Jin não respondeu mais, guardou tudo em seus bolsos e logo outro dois homens disfarçados de guardas entraram ali e seguraram o cientista pelos braços, levando-o daquela sala para uma outra ao lado. Jin sempre seguia atrás, encarando todos os lados e também checando se as câmeras estavam todas desligadas. Mas ele nem precisava se preocupar tanto, sua equipe era sempre muito eficiente.
Hoseok foi deitado em uma maca e novamente seus membros foram presos. Aqueles homens injetaram algo em sua veia e Hoseok podia ver duas bolsas penduradas ali. Uma ele podia chutar ser soro, mas a outra… não fazia muita ideia.
— O que.. O que vocês vão fazer comigo?
— Vamos te levar até a TM daqui.
— O quê? — Levantou a cabeça, mas foi segurado e alguns eletrodos foram colocados em sua cabeça. — Vocês vão mesmo seguir com aquilo? — Hoseok começou a tremer. Estava com medo.
— É a única forma. — Jin estava sério. Mexia no celular mandando algumas mensagens. — RM está controlando esse lugar, mas não vai demorar até que a segurança do prédio perceba que tem alguém mudando suas câmeras. — Virou-se para os dois homens que terminavam de preparar Hoseok na maca. — Agora é a parte mais difícil. Vamos invadir a sala da TM.
— Essa é a mais… difícil?
— RM está confiante que te enviar ao passado será perfeito. Não tem motivo para ter medo Hoseok. Você não vai morrer. — Jin abriu uma maleta que estava embaixo da maca e dentro dela havia um computador embutido. — Apenas relaxe agora. Vou iniciar o seu backup.
Hoseok fechou os olhos sentindo seus sinais irem diminuindo. Colocaram uma máscara de oxigênio em seu rosto e começaram a empurrar a maca.
Jin abriu a porta e acionou um dispositivo em seu ouvido.
— Estamos em posição RM. — Retirou uma arma das vestes e os outros dois fizeram o mesmo. — Ótimo. — Acenou com a cabeça e seguiram para a Máquina do Tempo.
Assim que saíram do elevador, Jin pode ouvir a sirene de alerta tocar pelos corredores. E provavelmente todo o complexo estaria da mesma forma. Jin e os outros saíram correndo em direção as grandes portas de aço que faziam parte da primeira camada de proteção da TM. Haviam muitos guardas armados, mas todos deram passagem aquele grupo, terminado por se juntarem a eles. Jin tinha conseguido infiltrar muitas pessoas naquelas instalações.
Nos níveis seguintes, os tiros começaram. A equipe treinada conseguia avançar sem muitas baixas, e todos se preocupavam apenas em manter Hoseok vivo. O mesmo ainda podia ver alguns vultos e ouvir barulhos irritantes, mas Hoseok já não conseguia distinguir as coisas.
O grupo entrou finalmente na última sala, tudo monitorado por Namjoon que tentava conter as sirenes e as outras equipes de segurança da D-8 que circulavam todo o prédio. Namjoon via pelas câmeras que a quantidade de guardas que chegavam rapidamente desceriam até onde Jin estava e era bem óbvio para todos que ninguém sairia vivo dali. Mas torcia para que seu plano fosse um sucesso.
— ALTO! — Kangho gritou por trás dos guardas que formavam uma parede em frente a última porta que dava acesso à Máquina do Tempo. — Vocês, sejam lá quem forem, não vão passar daqui.
Jin apontou sua arma para frente.
— Devo discordar.
— Quem é você? — Kangho perguntou, mas Jin não diria nada. — É melhor largar a arma, sabe que assim que der o primeiro disparo, os meus homens farão picadinho de todos vocês.
— Não somos amadores, meu caro. — Disse, e gritos começaram a ser ouvidos dentro da sala da Máquina.
— O que é isso? — Kangho olhou para trás. Haviam alguns guardas do lado de dentro, mas também, haviam muitos cientistas. Todos os responsáveis pela máquina do tempo.
— Meus homens estão agindo. — Jin falou. — Tem muita gente infiltrada aqui.
— O quê? — Kangho acabou correndo para dentro da sala, e se deparou com seus cientistas caídos no chão. Dois guardas ali dentro estavam com suas armas apontadas em sua direção. Eram infiltrados. — Mas como?
— Não existem lugares impenetráveis meu caro. — Disse Jin com um pequeno sorriso.
— Merda! — Kangho praguejou.
Jin fez um sinal com a cabeça e mais alguns homens que estavam junto dos outros guardas parados a sua frente apenas se viraram e começaram a atirar nos outros. Eram outros infiltrados seus.
— Levem-no. — Disse para aqueles que empurravam a maca de Hoseok e assim que entraram na sala da Máquina, Kangho tentou chamar mais reforço pelo celular, mas acabou sendo atingido por alguns tiros da equipe de Jin. E agora que a sala estava limpa, eles podiam trabalhar. — Fechem todas as portas deste nível e vamos ao trabalho.
Todos correram para os computadores ligados e começaram a dar seus comandos. Jin também conectou Namjoon naquela sala e remotamente ele ligava a Máquina do Tempo.
Hoseok foi deixado perto daquela grande estrutura e todos estavam nervosos e apreensivos.
Jin se aproximou novamente e bateu algumas vezes no rosto de Hoseok, acordando-o um pouco.
— Ei, conseguimos entrar. Estamos preparando tudo para seu retorno.
— Meu… o quê? — Hoseok ouvia as palavras longe e tentava se manter acordado.
— Viemos até aqui e agora não tem mais volta. Sei que deveríamos te preparar melhor, mas não teve jeito.
— Eu vou… Eu vou morrer…
— Eu estarei lá com minha equipe preparada quando você voltar, Hoseok. Já disse que você não vai morrer. O seu backup está quase finalizado.
— Eu vou… ficar bem?
Jin sorriu de um jeito reconfortante pela primeira vez.
— Você viu todos os dados que RM te enviou, me diga o que acha?
— Faz sentido… mas é perigoso.
— Nossa vida é perigosa. — Olhou para o homem ao lado da maca e fez um sinal para que ele prosseguisse. — Agora durma, Hoseok. Nos vemos na sua infância.
Hoseok acabou fechando os olhos quando o corpo terminou de relaxar. Ele não via ou ouvia alguma coisa. Já Jin, corria com o plano e tentava terminar tudo antes que invadissem aquela sala. A Máquina foi usada e por culpa do que enviariam ao passado, a potência usada foi capaz de causar um blecaute em algumas cidades próximas dali.
Jin terminou de excluir todos os dados daqueles computadores e quando começou a ouvir batidas na porta, ele e os outros puxaram suas armas e esperaram que os guardas da D-8 entrassem, e assim que a porta foi arrombada, toda a equipe apontou as armas para as próprias cabeças. Jin olhou pela última vez para uma das câmeras de segurança dali e sabia que Namjoon olhava pra ele. Um sinal que apenas os dois conheciam começou a piscar nos computadores e aquilo indicava que o plano havia sido um sucesso.
Jin sorriu novamente. Eles não precisavam estar ali mais.
— Declaro este presente oficialmente exterminado. — Jin falou, e em seguida ele e os outros puxaram o gatilho.
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As luzes brancas ofuscavam seus olhos. O garoto ouvia zumbidos baixos e coisas de metal se batiam. Havia também um som de batimentos, mas ele não se dava conta do que estava acontecendo. Virou o rosto como pode e tudo o que viu foi uma pequena caixa térmica em cima de uma mesa e um pouco de sangue escorria dela. Depois disso sua visão apagou.
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2003 – Segunda linha de tempo de Hoseok
— Hoseok?
— Hoseok?
— Está me ouvindo?
Hoseok sentiu uma pontada na cabeça e finalmente acordou. Estava em um quarto claro e nada parecia familiar. Tinha uma pessoa em pé ao seu lado, mas ele não deu muita atenção, afinal um enjoo repentino veio, fazendo-o pular da cama para correr pro banheiro que tinha naquele lugar.
— Ei! Vai com calma.
Disse a pessoa atrás de si, e mesmo que quisesse vomitar, Hoseok não tinha nada no estômago. Ficou ajoelhado de frente pra privada e tentava controlar o enjoo e a dor de cabeça.
— Você precisa voltar pra cama e tomar alguns remédios. Logo essa sensação ruim vai passar.
— O que aconteceu? — Hoseok perguntou, e quando levou as mãos à cabeça, sentiu que ela estava enfaixada e doía em alguns pontos.
— Cuidado! — Disse aquela pessoa e segurou sua mão, fazendo Hoseok finalmente olhar para si.
— Jin? — Ficou espantado.
— Oh! Sabe quem sou. Isso é um ótimo sinal.
— Mas… — Hoseok olhava para o outro da cabeça aos pés. — Você está diferente…
— Mais jovem? — Jin sorriu. — Você também está. — Ajudou Hoseok a se levantar e o mesmo estranhou a grande diferença de altura deles. Jin o levou de volta pro quarto e quando o parou de frente para o espelho, Hoseok teve um choque. — Eu devo ter tido a você naquele futuro que as coisas iam dar certo, não foi?
Hoseok andou com cuidado até o espelho enquanto tocava no próprio rosto. Era ele refletido ali, mas era um Hoseok de seis anos.
— Vocês…
— Fizemos conforme o plano de RM. — Pegou o garotinho pelos braços e o colocou na cama. — Você precisa comer agora. — Depositou uma bandeja com um reforçado café da manhã. — Como você é criança, você vai se recuperar rápido.
— O que fizeram com a minha cabeça?
— Hã? — Jin piscou algumas vezes como se aquilo não fosse óbvio o suficiente. — Mudamos os seus cérebros. Tivemos que usar somente trinta por cento do seu cérebro adulto para adaptá-lo ao seu de criança, e como o seu neurocomputador era avançado o suficiente, ele facilmente se adaptou ao novo tecido e se ramificou para uni-los. O seu backup também me pareceu perfeito. Você está de volta, Hoseok.
— Vocês… fizeram o meu backup?
— É pra isso que os neurocomputadores servem. RM andou pesquisando muito sobre os diversos benefícios de se ter um neurocomputador. — Jin sorriu. Naquele passado ele parecia mais leve com as coisas. — Backups que possibilitam a viagem no tempo de uma forma como essa… Quem diria, hein?
Hoseok ficou imóvel por um tempo, olhava para a bandeja e não sentia fome.
— Coma Hoseok, precisa se recuperar logo e voltar pra casa dos seus pais.
— Hã? E onde estou?
— Em um lugar secreto por enquanto. Mas você vai voltar para a D-8, claro.
— Como?
Jin teve que respirar fundo. Pegou uma pequena pasta e a deixou na cama.
— É uma nova vida, Hoseok. Mas você voltar pra lá faz parte do plano. Mas dessa vez as coisas serão diferentes. Assim que terminar de comer, leia tudo o que está na pasta e assim poderemos prosseguir. Teoricamente já vencemos pela Máquina do Tempo coreana ainda não existir, agora só precisamos de tempo para interceptar a Máquina americana.
— Eu vou ter que voltar pra lá?
— Vai ser só por um tempo Hoseok. Mas com sua mente do jeito que está, tudo será mais fácil.
— E se não der certo?
— Eu posso cortar sua cabeça de novo. — Jin sorriu e saiu daquele quarto.
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Depois daqueles dias, Hoseok voltou a ser uma das novas crianças da D-8 a receber um neurocomputador. Ele passou por inumes testes, que Jin fazia questão de deixá-lo sempre a baixo da média e por isso, o garoto nunca foi usado por Kangho. Hoseok era um espião perfeito junto de Jin. Ambos conseguiam anular qualquer avanço que a D-8 tinha com sua máquina, mas em pouco tempo, alguns dos garotos foram ganhando destaque dentro daquela Divisão e logo um passou a ser o “brinquedinho” perfeito. Seu nome era Jeon Jungkook, e sua mente era maravilhosa.
Com os anos, Hoseok viu todo o projeto da TM ser retomado, e mesmo que tentasse interferir, tanto ele e Jin ficaram afastados. Jin precisou voltar a América por uma chamada inesperada de Namjoon, e com isso Hoseok teve que se virar naquele ambiente cheio de cobras. Hoseok sabia que aquele Jungkook podia ser melhor que ele, e o progresso da Máquina viria mais cedo ou mais tarde. No entanto, Jungkook era diferente.
Jungkook se rebelava contra a D-8. Estava sempre reclamando e chorando, e os cientistas iam perdendo a paciência. Jungkook ficava trancado nas salas acolchoadas e constantemente passava por torturas físicas e psicológicas. A Divisão 8 queria controlá-lo de algum modo, e a melhor forma de fazer isso, na visão deles, era a tortura.
Hoseok observava Jungkook de longe, e achava tão estranho nunca ter visto aquele garoto em seu tempo como cientista. Como Jungkook entrou ali e como tinha uma mente tão incrível como a sua?
O garoto teve que esperar notícias de Jin para agir, e foi com pesar que soube que Namjoon tivera sido preso por conta da relação dos dois. Jin era um agente que tinha saído sabe-se lá de onde. Todas as informações que Hoseok possuía dele era que Jin era alguém da confiança de Namjoon. Um agente duplo ou até mesmo triplo, quem sabe… O fato era que, a ANSA descobriu que Namjoon trabalhava com uma equipe suspeita que estava envolvida com as Máquinas do Tempo. Ele foi considerado traidor e teve que ser preso em segurança máxima. Jin precisava se esconder por um tempo e seu último contato pedia apenas que Hoseok limpasse o que fosse preciso para não deixar que a D-8 concluísse, mais uma vez, a Máquina do Tempo.
Hoseok entendeu que teria de ficar de olho em Jungkook, ou até mesmo mais que isso.
Os dias passaram até que Hoseok decidiu ir atrás da nova grande mente juvenil da D-8. O garoto já não tinha mais dados sobre Jungkook, mas conseguia ouvir nos corredores que os cientistas estavam tendo avanço com algo “histórico”. Hoseok fazia parte dos níveis mais superficiais daquele complexo e por isso sua espionagem estava se tornando cada vez mais limitada. Ele não tinha Namjoon e nem Jin para ajudá-lo, e era por isso que estava levando tempo para conseguir se aproximar do seu novo alvo. Mas como todo o local era bastante conhecido por sim, afinal ele já viveu naquele lugar por quase vinte anos, Hoseok sabia que certas coisas não iam mudar, e isso se aplicava a senhas e manias de cada funcionário dali.
Em primeiro lugar, Hoseok teve que roubar alguns crachás, e depois usar algumas senhas pessoais para acessar alguns andares no subsolo. Hoseok sabia onde as câmeras não filmavam e sabia construir um dispositivo que congelava a imagem de algumas outras.
Em pouco tempo chegou até o corredor onde normalmente ficavam as crianças superdotadas. As cabeças de ouro, e bom, era bem óbvio que o número dessas crianças era contado nos dedos. Hoseok já estava com doze anos naquele tempo, e como ele era bem parecido com uma das crianças que estavam sendo usadas, foi fácil andar mais livremente nos ambientes restritos.
Hoseok procurou por Jungkook nos lugares que achava que poderia encontrá-lo, mas por ele ser o mais especial dali, imaginou que vivesse enfiado nos laboratórios que antes, eram frequentados por si. Com anos sendo torturado, era bem capaz que o garoto tivesse se rendido aos caprichos da D-8 e virado um fantoche nas mãos daquela Divisão. Mas o que Hoseok encontrou, o chocou bem mais.
Enquanto ele seguia para outro elevador privado, ouviu o som de passos e procurou se esconder dentro de uma das salas que estavam abertas naquele corredor. O garoto fechou a porta e olhou pela pequena janela da mesma o que se passava lá fora. Ele podia ouvir o som de uma corrente sendo arrastada do chão e estranhou, mas quando finalmente viu o que estava acontecendo, sentiu um calafrio.
Haviam dois guardas arrastando um garoto pelos braços. Ele estava algemado tanto nos pulsos quanto nas pernas, seu rosto estava virado para o chão e Hoseok até mesmo podia dizer que ele estava inconsciente, mas assim que os três entraram no elevador, viu que estava enganado. Jungkook estava de olhos bem abertos, mas não havia brilho algum neles.
Pouco tempo depois uma conhecida cientistas andava a passos rápidos em direção aqueles elevadores. Era Anya… Hoseok conhecia bem aquela mulher perversa. Ele fechou a cara no mesmo instante em que a viu passar com o telefone em mãos.
— Ele está sendo levado para os quartos brancos. — Disse a cientista. — Ele continua a dar dores de cabeça, senhor. Não acho que podemos prosseguir com ele. Sim, sim, eu sei, mas temos outros aqui eu podem nos servir melhor. O Jungkook não quer cooperar…
Hoseok estranhou ouvir aquilo. Depois de seis anos Jungkook ainda dava problemas a Divisão?
Ele esperou alguns minutos dentro daquela sala até ir ao elevador e descer até as salas acolchoadas. De toda forma, Jungkook cooperando ou não, a D-8 ainda podia usar o seu cérebro para seguirem com o projeto da TM. Talvez a melhor coisa que Hoseok pudesse fazer, era eliminar o garoto e dar um pouco de paz para aquela mente tão maltratada.
Com muito cuidado e até sorte, Hoseok conseguiu chegar até a “cela” de Jungkook. Usou de seus pequenos computadores e sua “mente” para desligar todas as câmeras daquele andar e deixar que imagens repetidas circulassem nas telas da sala de vigilância. Ele conseguiu abrir a porta e assim que entrou ali, viu Jungkook deitado no chão. Hoseok não entendia o porquê da D-8 tratar um gênio daquela forma. Se Jungkook era tão útil a eles, por que estavam acabando com o seu físico?
Se aproximou mais e pode ver vários curativos pequenos na cabeça do outro. Estavam introduzindo coisas em seu cérebro por acaso? Que tipo de novos testes eram aqueles? Hoseok fechou os olhos e tentou fazer o seu neurocomputador se conectar com o sistema dali. Pegou o celular e todos os dados que recebiam iam direto pra ele. E foi com espanto que viu que… a D-8 estava bem mais avançada do que ele podia imaginar.
— Que merda aconteceu aqui? — Falou baixo, encarando os arquivos chamados de Neu.AI02-TCD. E de acordo com eles, a intenção da D-8 era passar as mentes com neurocomputadores para os próprios computadores. Fazer o backup de pessoas para as máquinas e assim, poderiam descartar seus corpos. Aquele tipo de projeto ia favorecer e muito as viagens no tempo em um futuro bastante próximo. Aquele era o melhor jeito de fazer pessoas viajarem no tempo sem se preocuparem com o problema da massa corporal. — Mas que… — Hoseok sempre achou que projetos de transcendências levariam muito mais tempo para serem testados. O que tinha acontecido com aquela linha de tempo afinal?
— Ah…
Hoseok se levantou na mesma hora quando ouviu o gemido de Jungkook. Ele precisava fazer alguma coisa antes que mais testes com aquele garoto pudessem ser feitos. Puxou de dentro das vestes um pequeno revolver com um silenciador. Hoseok sempre soube que teria que matar alguém em algum momento, e depois de tudo o que descobriu, era bem óbvio que Jungkook não podia ficar vivo.
Deu mais uma última olhada no outro garoto, reparando em muitas manchas roxas nas partes em que podia ver. Seus braços, pescoço e até mesmo nos pés tinham marcas. Até onde aquela Divisão iria daquele jeito? Hoseok negou com a cabeça e quando mirou a cabeça de Jungkook, encontrou com seus olhos virados para si. Jungkook estava visivelmente acabado, não havia vida em seus olhos. Ele estava magro e maltratado… era triste de se ver.
— M-me… — Jungkook começou a falar devagar e baixinho, ele estava exausto e drogado, mas conseguia ver uma arma apontada para si. — Me mata…
Hoseok arregalou os olhos com o pedido estranho. Jungkook queria morrer? Seu rosto tinha muitas marcas também, seus lábios estavam rachados e sangravam… E do jeito que ele vivia naquele lugar, talvez não fosse tão surpresa assim pedir para morrer.
— Me… mata logo… — Jungkook continuou com o pedido, e Hoseok começou a tremer a mão que estava com a arma. — Se veio fazer isso… que faça de uma vez. — O garoto já não se importava com muitas coisas, e mesmo que estivesse planejando sair da D-8, uma solução mais rápida como a morte também parecia ser boa. Tudo acabaria ali, daquele modo. Jungkook sabia que não teria coragem para tirar a própria vida, mas também nunca imaginou que alguém dali de dentro fosse o fazer esse favor.
— Quer morrer? — Hoseok perguntou com a voz trêmula.
— Eu não… aguento mais… — Jungkook ia ficando com a voz ainda mais fraca. Estava tão dopado que nem mesmo conseguia usar seu neurocomputador para chamar alguma ajuda. E aquela era uma das falhas da D-8. Deixar Jungkook drogado podia garantir certas coisas aquela Divisão, no entanto, Jungkook se tornava um alvo fácil como naquele momento.
Seu neurocomputador estava em um nível tão avançado que Jungkook conseguia manipular qualquer coisa que tivesse ligação com a internet. Praticamente já havia transcendido em um corpo humano. Porém, a D-8 o enchia de drogas para que sua mente humana continuasse a ser manipulada. E as torturas físicas ajudavam no processo. Enquanto Jungkook não fosse capaz de controlar a própria mente, os cientistas o usavam como bem queriam. E esses abusos eram tantos que hoje o garoto mal conseguia segurar uma colher para comer de tanto que suas mãos tremiam.
Hoseok apontou a arma mais uma vez para a cabeça do outro e respirou fundo. Jungkook era perigoso, era alguém que Hoseok não conhecia e estava preocupado com aqueles novos projetos dentro da D-8. Aquela linha de tempo tinha se modificado demais.
Jungkook manteve os olhos abertos e, mesmo que pedisse silenciosamente para que Hoseok puxasse logo aquele gatilho, Hoseok não conseguia. Ele já foi um cientista bastante frio, mas matar era algo que nunca tinha feito. E Jungkook não era um alvo que parecia merecer aquilo. Ele estava tão debilitado e completamente incapaz de se defender que fazia Hoseok se sentir um monstro.
— Atira… — Jungkook falou, mas já fechava seus olhos pelo cansaço daquele dia. E mesmo que parecesse mais fácil atirar sem precisar encarar sua vítima, Hoseok terminou por abaixar a arma e sair dali. Ele não podia fazer aquilo.
Depois daquele dia, Hoseok continuou apenas observando Jungkook de longe e viu crescer naquele lugar. Mas seu estado físico e mental estavam tão ruins que um pouco depois de completar vinte anos, ele não aguentou e sua mente apagou de vez. Jungkook acabou sendo declarado como uma falha e quando o laudo de morte cerebral saiu, Hoseok não sabia se sentia raiva ou alívio. Jungkook foi entregue a um hospital qualquer onde a família iria decidir por sua “vida” e isso fez Hoseok parar de se preocupar com ele. A D-8 ainda se desenvolvia e ela era o seu trabalho. No entanto, esquecer Jungkook foi um erro.
Depois de um ano em coma induzido, Jungkook voltou. O tempo parado foi o suficiente para que seu neurocomputador se recarregasse e o regenerasse por completo. Jungkook fugiu do país e foi para os Estados Unidos onde começou a planejar sua vingança.
Ele entrou para a ANSA por seus próprios méritos e truques, e aos poucos foi ganhando espaço dentro daquela Agência perigosa. Hoseok o descobriu e achou que seria melhor ir atrás para espioná-lo melhor. E mesmo que seu intuito fosse apenas esse, depois de alguns anos morando nos EUA, Hoseok acabou se envolvendo com outras pessoas, e uma delas foi Taehyung.
Hoseok tentava manter uma vida bastante discreta, mas quando precisava relaxar, ia para alguns bares e boates, ou qualquer lugar onde tivesse tanta gente que ele jamais seria notado. No entanto, em um desses dias, um certo cantor amador acabou chamando sua atenção depois de uma apresentação calorosa junto de sua banda em uma boate mais alternativa. Os dois acabaram se esbarrando ali depois do show e entre uma conversa e outra, já estavam aos beijos e dali a noite seguiu para o apartamento de Hoseok onde dormiram juntos.
Hoseok sabia que se envolver com alguém na situação em que estava era bastante complicado, mas depois daquele dia foi inevitável não trocar mensagens com Taehyung e assim começar algo entre eles. Só que, enquanto Hoseok tentava ter uma vida um pouco normal, Jungkook ia acelerando o projeto da TM americana. Pouco tempo depois Jin voltou a entrar em contato e Hoseok foi obrigado a desaparecer da vida de Taehyung quando perceberam que o tempo deles havia se esgotado.
Sozinho, Jungkook foi capaz de concluir o projeto de transcendência com seu neurocomputador e assim, praticamente se tornar uma máquina humana. A ANSA cresceu assustadoramente e a Máquina do Tempo chegou a um nível capaz de realizar grandes saltos no tempo.
Em 2031 daquela linha de tempo, Jungkook abriu uma fenda em toda a região onde se encontrava o complexo da Divisão 8. A fenda temporal, que muito foi utilizada no Projeto Filadélfia, distorceu o espaço e tempo de uma área do tamanho de quatro campos de futebol, causando uma espécie de buraco magnético que estava desfigurando tudo. A fenda fechou depois de algumas horas, mas o estrago foi tanto que era impossível de ser ignorado pela mídia que rapidamente instaurou o pânico no mundo todo.
Hoseok, Jin e sua equipe foram atrás de Jungkook que praticamente dominava a ANSA. Eles não sabiam mais quais seriam os próximos planos de Jungkook e por isso tentaram interceptá-lo diversas vezes, sofrendo inúmeras baixas por isso. Jungkook até mesmo chegou a invadir o sistema de segurança militar dos EUA e usar de seus mísseis teleguiados para destruir boa parte da equipe de Jin e de várias outras que se voltaram contra o país depois do incidente na Coreia. Uma guerra se anunciou depois disso e os meses seguintes foram de terror mundial.
Com muito custo Hoseok e Jin conseguiram encontrar uma maneira de bloquear Jungkook e assim destruir aquele futuro que se encaminhava cada vez mais rápido para o fim. No entanto, Hoseok percebeu que tudo o que vinha acontecendo não era de toda culpa de Jungkook, e sim de seu neurocomputador que praticamente havia se tornado uma inteligência artificial baseada nas emoções mais negativas do dono. Jungkook, que teve uma infância e adolescência marcadas por torturas físicas e psicológicas, havia dado ao seu computador neural informações suficientes sobre o medo, a raiva, vingança e destruição. E ele por si só, dentro daquele ano em que Jungkook ficou em coma, criou um centro de proteção baseado em ataques.
Hoseok lembra de quando conseguiu se aproximar de Jungkook em sua sala na ANSA. Todos os sistemas estavam desconfigurados, os alarmes soavam e toda a rede de internet do país precisou ser desativada para que o neurocomputador de Jungkook parasse de funcionar. E foi assim que Hoseok teve certeza que aquele homem de pouco mais de trinta anos, agachado debaixo de uma mesa com as mãos na cabeça era uma vítima de tudo o que sofreu na D-8 por conta de uma mudança de tempo.
Hoseok viu Jungkook não conseguir controlar a própria mente, e esta, mesmo que quisesse apenas protegê-lo, havia se tornado a pior arma já vista no mundo. E Hoseok se sentia culpado por aquilo.
— Faz isso parar… — Jungkook pedia enquanto apertava os dedos na cabeça que doía. Era como se algo quisesse sair de dentro dela. Ele podia sentir algo aquecer em seu cérebro e sabia que era aquele maldito computador tentando se conectar a algo. — Faz parar!
Hoseok ainda tentou ajudar Jungkook, mas ele acabou roubando sua arma e se afastou gritando que queria que tudo aquilo acabasse de vez. E depois de anos sendo dominado pelo próprio neurocomputador, Jungkook aproveitou o momento lúcido para apontar a arma para a própria cabeça e disparar.
Hoseok ficou em choque. E aquele sofrimento e desespero de Jungkook mexeu tanto consigo que ele se viu obrigado a alterar o tempo mais uma vez. Tanto por eles, quanto para aquele mundo que estava sofrendo por uma guerra sem sentido.
E foi por isso que Hoseok acabou pedindo para que Jin repetisse o método feito anos atrás e fizesse seu backup e enviasse seu neurocomputador para ser reimplantado em sua mente jovem. Só assim ele acreditava que o futuro pudesse ter uma nova linha sem grandes tragédias.
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2003 – Terceira linha de tempo de Hoseok
— AH!
— Ei! — Jin falou quando viu o garotinho quase pular da cama assim que acordou. — Hoseok? Tudo bem? — Aproximou-se da maca, vendo Hoseok apoiar as mãos na cabeça enfaixada que doía um pouco.
— Jin? — Olhou pro lado e tudo estava dando voltas horríveis em sua cabeça. Tanto que ele não aguentou e saiu cambaleante até o banheiro para colocar tudo pra fora.
— Oh! Sabe quem sou. Isso é um ótimo sinal.
— Isso não é um bom sinal… — Disse, terminando de limpar a boca. Hoseok sentou no chão e encarou Jin que parecia confuso. — Isso já aconteceu…
— Como assim “já aconteceu”?
— Eu… acordando aqui.
Jin ficou em silêncio encarando o garotinho que parecia abalado demais.
— Não deu certo daquela vez Jin. Mas creio que agora pode.
— Não? O que aconteceu? Ou melhor… de que ano exatamente você veio?
— 2031…
— Eu estava esperando uma cabeça de 2020…
— Ela veio e fomos mais longe, só que tudo se tornou ainda pior depois disso.
— Se ficou pior…
— É por isso que voltei. Eu sei o que devemos fazer agora. — Hoseok levantou do chão e encarou Jin bastante sério. — Precisamos ir atrás de um garoto chamado Jeon Jungkook.
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2010
Era final de tarde e Hoseok caminhava tranquilamente pelas ruas de Seul enquanto seguia pra casa depois de mais um dia de aula. Ele estava com treze anos e parecia um pouco entediado com seus fones de ouvido que tocavam uma de suas bandas favoritas. O garoto cantarolava enquanto ajeitava nas costas a mochila pesada e o case de guitarra na mão. E mesmo que em sua mente a sua idade o fizesse se sentir velho para tantas coisas, a liberdade de ser um jovem sem preocupações o fazia levar a vida calma que nunca pensou que teria.
E sua tranquilidade se dava por acreditar que, tanto o Jungkook quanto a própria D-8 daquela linha de tempo não o incomodariam mais.
Depois que Hoseok se readaptou ao próprio neurocomputador e teve o backup completo de suas lembranças como adulto, ele foi atrás da D-8 para boicotar seus planos com os outros neurocomputadores. Hoseok criou uma trava inquebrável que conteria qualquer um daqueles computadores mesmo que fossem instalados em mentes incríveis como a de Jungkook. Depois disso, Hoseok e Jin continuaram a monitorar a D-8 e seus avanços com a máquina coreana, assim como Namjoon tentava retardar o uso da americana. Eles precisavam manter a descrição mesmo que ambas as agências continuassem com aqueles projetos. O intuito era apenas não deixá-las avançar, e Hoseok estava certo que podia manter tudo sob controle.
Ele também espionava Jungkook e ficou bastante feliz quando viu o garoto sair da D-8 bem mais cedo e sua mente não parecer tão afetada, mas para ter certeza, resolveu ficar próximo dessa vez. Tratando de estudar no mesmo colégio que o outro, por exemplo.
E naquele dia em que Hoseok voltava do colégio, acabou vendo uma cena que o preocupou bastante.
Mais a frente estava um grupinho de garotos “idiotas” de sua escola. Eles mexiam com Jungkook, provocando-o por alguma razão. Derrubaram seus livros e puxavam sua mochila enquanto riam sem parar. E quando pegaram uma pasta e começaram a espalhas todas as folhas pelo chão, Hoseok teve que apressar o passo para afastar aqueles “suicidas” de perto do garoto.
— Ei vocês! — Chamou a atenção de todos. — Deixem ele em paz!
— Ah! Suma daqui! — Um dos garotos grandes se colocou a frente de Hoseok tentando intimidá-lo. Mas depois de tudo o que passou, Hoseok não deixaria que um simples adolescente ficasse no seu caminho.
— Suma você, seu idiota. — Hoseok fechou a cara e acertou a case da guitarra no rosto do grandão com toda sua força., quase o derrubando. E naquela hora os outros foram para cima dele, mas não tiveram a menor chance. Hoseok tinha treinamento avançado em defesa pessoal e lutas variadas. Ele sabia como fazer um idiota duas vezes maior que ele beijar o chão.
E em pouco tempo, todos os babacas acabaram saindo correndo depois que um deles foi nocauteado e os outros ficaram com medo das coisas piorarem já que Hoseok estava com um olhar de quem poderia matar alguém.
— Idiotas… — Falou, e tentou se acalmar um pouco. Não podia perder o controle mesmo com pessoas como aquelas. Olhou para trás e viu Jungkook terminar de recolher todas aquelas folhas. — Ei! Deixa que eu te ajudo.
— Não precisa me ajudar. — Jungkook respondeu seco.
— Não precisa ficar assim… — Hoseok tentou ser cauteloso, mas quando pegou uma daquelas folhas e reparou em seu conteúdo, sentiu um calafrio.
— Me deixa em paz! — Disse quase arrancando a folha da mão do outro. — Não pedi sua ajuda pra nada.
— Ei! — Hoseok tentou se manter calmo. Nas folhas havia códigos encriptados referentes a um certo projeto. Mas Hoseok não podia demostrar que sabia o que estava acontecendo. — Se… Se eu não tivesse feito nada, aqueles garotos ainda estariam aqui te perturbando.
— Não era problema seu. — Jungkook apenas se virou e começou a andar. E Hoseok não sabia se ia atrás ou não, mas era melhor ficar quieto.
No dia seguinte, Hoseok resolveu tentar um abordagem mais direta, mesmo que fosse contra a vontade de Jin.
— Olá! — Disse Hoseok sentando ao lado de Jungkook no refeitório. E isso acabou o rendendo um olhar de ódio em resposta. — Meu nome é Jung Hoseok. — Estendeu a mão, esperando que Jungkook fizesse algo, mas ele nem mesmo se mexeu. — Tudo bem eu não vou machucar você. — Sorriu simpático, mas o outro não aliviou nem um pouco. Jungkook girou os olhos e voltou a dar atenção ao seu livro de física quântica. Deixando Hoseok confuso se aquele garoto a sua frente era o mesmo que viu em linhas de tempo passadas. — Você não tem educação não? — Abaixou a mão e cruzou os braços. Nunca que aquele garoto seria o mesmo depressivo e psicologicamente afetado que viu antes.
— Você poderia se retirar do meu lado, ou melhor, dessa vida, por favor? — Jungkook respondeu ironicamente sem tirar os olhos de sua leitura.
E Hoseok sentiu vontade de bater naquele garoto. Mas precisava saber o porquê dele escrever códigos da TM e andar com eles por aí. Por isso continuou a se aproximar como podia. Tentava sempre puxar alguma conversa ou apenas cumprimentá-lo normalmente. Mas sempre que avançava, Jungkook o repelia, e aquele comportamento assustado e agressivo era muito preocupante. Hoseok não podia deixar que aqueles sentimentos crescessem no outro. Mesmo com a trava em seu neurocomputador e a aparente invalidez do mesmo, Hoseok não deixava de se preocupar. E não era apenas por aquele garoto ter sido uma ameaça em outra linha de tempo, e sim porque o viu tirar a própria vida por culpa de sua mudança no tempo.
E depois de muita insistência, um dia Jungkook entregou a Hoseok uma folha com alguns códigos. E eles passaram a se comunicar apenas daquela forma por um tempo. Jungkook pareceu relaxar e deixar que o outro se aproximasse, e assim começarem uma amizade.
Jungkook se sentia animado por finalmente conseguir conversar com alguém que era inteligente o suficiente para entendê-lo. Eles passaram a andar juntos e Hoseok fazia de tudo para ter cada vez mais a confiança de Jungkook. O ensinou a tocar alguns instrumentos e até mesmo a lutar para se defender. Passaram-se alguns meses e os dois se tornaram inseparáveis, tanto que Jungkook se mudou junto com Hoseok e a família para a América.
Os anos passaram e Hoseok achava que tinha tudo sob controle. Tanto que desistiu de viver em função de seu trabalho e decidiu seguir com um velho sonho de infância. Mas agora Jungkook tinha novos motivos para seguir com o projeto da Máquina do Tempo, e mais cedo ou mais tarde um futuro de destruição poderia se repetir. A mente de Jungkook estava se sobrecarregando de sentimentos ruins, e seu neurocomputador continuava uma incógnita mesmo travado.
E era por isso que Hoseok abandonou tudo mais uma vez e agora seguia para Washington atrás de Jungkook.
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